Foto: @MídiaNINJA |
Leis foram criadas para defendê-los.
E eles passaram a ter esse Direito.
E chamaram a isso de direito divino à propriedade.
Ano
10000 a.C. Um dia de sol.
Um
Homo Sapiens saiu rotineiramente para coletar e caçar quando se
deparou com uma área de vegetação abundante, fértil. Lá havia
tubérculos, verduras, frutas e até trigo.
Resolveu
dar um tempo em seu nomadismo e ficar por ali mesmo.
Logo
percebeu que naquele solo bastava jogar algumas sementes ou cavar
alguns buracos e enfiar umas mudinhas que em pouco tempo tudo se
multiplicava.
Estava
inventada a agricultura. E com ela, a propriedade.
Logo
em seguida forasteiros iriam querer comer daquilo que ele plantara.
Era natural para eles, afinal, a terra nunca tivera dono.
Mas
o Sapiens que cercou a área reagiu com violência.
Começava
aí um período difícil para a Humanidade.
Se
antes não havia porquê brigar, afinal, não havia posses, agora era
uma guerra de todos contra todos.
Foi
preciso que um terceiro elemento fosse criado para intervir nos
conflitos: o Estado. O leviatã.
Ao
longo do tempo, até os dias de hoje, o Estado ficou do lado daqueles
que, como o primeiro Sapiens, cercou um pedaço de terra e se afirmou
como proprietário.
Leis
foram criadas para defendê-los.
E
eles passaram a ter algo que foi chamado de Direito. Direito à
propriedade. Direito divino à propriedade.
Não
há dúvida de que, quem nasce hoje, praticamente já tem em seu DNA
esse conceito pronto.
Ensinamos
isso aos nosso filhos.
O
sistema ensina isso aos nossos filhos.
E
eles também lutarão por esse direito.
E
defenderão esse direito. Afinal, ser contrário a esse direito é
ser comunista, lhes ensinamos.
E
ficarão do lado de quem tem esse direito.
Mesmo
que essa pessoa não plante nada na terra.
Mesmo
que essa pessoa não crie nenhum animal nesse terreno.
Mesmo
que essa pessoa não construa nada que possa de alguma forma
contribuir para a Humanidade nessa propriedade.
Mesmo
que a terra permaneça vazia por 30 anos. Sem uso.
E
quando aqueles que, como o antigo Sapiens, não conseguiram cercar
nenhum pedacinho de terra para plantio, constroem um barraquinho
nesses terrenos são expulsos violentamente pelas forças da Lei.
E
quando outros que haviam há décadas construído suas moradias em
terrenos que um dia cercaram nos rincões distantes do Brasil,
acabaram expulsos de lá por gente poderosa e tiveram como única
opção construir seus barracos em um terreno não ocupado durante 30
anos, foram desalojados de lá pela polícia que defende o direito de
propriedade.
Homens,
mulheres, crianças, bebês de colo, idosos, doentes, deficientes, mais de 3000 pessoas, todos jogados nas ruas de São Paulo como lixo humano, escória de
uma sociedade que se julga eugênica, mas ela própria, a verdadeira
escória cheirosa.