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terça-feira, 4 de julho de 2023

Ponto final para Bolsonaro?

Por Fernando Castilho




Nenhuma alma compareceu com camiseta amarela ou bandeira enrolada no corpo, em frente ao tribunal para se manifestar, protestar ou exigir sua absolvição. 


Bolsonaro foi tornado inelegível por 8 anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e muita gente comemorou como se fosse seu fim político. E talvez realmente seja.

Raciocino.

Uma coisa que todos os não bolsonaristas concordam, é que o capitão nunca gostou de ser presidente do Brasil. Quando digo presidente, quero dizer, mandatário efetivo, cumpridor de suas obrigações como o mais importante funcionário público do país, que trabalha para melhorar a vida dos que mais precisam.

Por várias vezes Bolsonaro manifestou seu tédio pelo cargo e sua preferência era pelo “cercadinho”, onde recebia apoiadores (muitos deles, pagos), pelos palanques que usava para atacar a democracia e pelos passeios de jet-ski, enquanto milhares de pessoas morriam ou ficavam desabrigadas pelas chuvas. Ah, e como gostava das motociatas!

Quem, como eu, costumava verificar a agenda presidencial, pôde constatar que na maioria dos dias seus compromissos se resumiam a uma ou duas reuniões com ministros, coisa de três horas, somente. Ou seja, Bolsonaro é uma pessoa que adora o poder, mas detesta governar, por isso, terceirizou sua administração para Paulo Guedes e, mais tarde, para Arthur Lira. Tempos bons eram aqueles em que, enquanto deputado, podia ocupar a tribuna da Câmara para despejar seu ódio e preconceito contra as minorias. Com as rachadinhas completando seu orçamento.

Na última sexta-feira, 1º de julho, dia dos votos dos ministros do TSE, que lhe impuseram uma inelegibilidade de 8 anos, nenhuma alma compareceu com camiseta amarela ou bandeira enrolada no corpo, em frente ao tribunal para se manifestar, protestar ou exigir sua absolvição. Não houve quem patrocinasse. Bolsonaro sabe que deixou de ser mito.

Quem votou em Bolsonaro em 2022 só para derrotar o PT, ou quem não é bolsonarista-raiz, se decepcionou quando o capitão fugiu para Orlando deixando gente acampada por dois meses em frente aos quartéis, utilizando banheiro químico, enquanto ele morava numa mansão cedida por um lutador de MMA. Mais gente se decepcionou quando foi revelado o esquema para roubar as joias do Estado brasileiro e a falsificação da carteira de vacinação. Mais decepção ou revolta virá quando a CPMI provar que ele foi o mentor do golpe de 8 de janeiro.

Já há movimentação na grande mídia e entre parlamentares visando escolher o próximo mito ou herói brasileiro. Para eles, infelizmente, Sergio Moro já não veste mais o figurino. Querem encontrar outro para contrapor a Lula.

Bolsonaro não deseja apoiar Tarcísio ou Zema em 2026, pois isso não significaria sua volta ao poder. Se não puder ser ele, só sobrará Michelle.

Caso Michelle decida disputar com Lula ou com quem ele indicar e, numa hipótese distante, consiga vencer em 2026, o capitão ficaria numa posição bastante cômoda. Teria o nome Bolsonaro de volta à ribalta e poderia utilizar sua esposa como títere para suas pautas de costumes e para a continuidade do esquema de rachadinhas sem precisar trabalhar.

Outra possibilidade não excludente da anterior é, como ele mesmo cogitou, se candidatar a vereador no Rio de Janeiro. Salário, possibilidade de continuar a falar asneiras e, claro, rachadinhas.

Todas essas elocubrações, porém, caem por terra, caso seu Jair seja condenado e preso.

Embora haja sempre no Brasil uma tendência a se afrouxar decisões como essa, que alguns já começam a classificar como muito pesadas, é o que devemos exigir de nossa Justiça.

Sem Bolsonaro, o bolsonarismo, dependendo do sucesso do governo Lula, poderá até seguir porque se tornou sinônimo de extrema-direita e de fascismo, mas o tempo para o capitão terá acabado.


sexta-feira, 30 de junho de 2023

O ministro do TSE, Raul Araújo, libertaria Adélio Bispo?

Por Fernando Castilho

Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE

Por que Raul Araújo construiria seu voto utilizando tantos malabarismos e se expondo tanto ao ridículo se não objetivasse algo em troca?


O ministro do TSE, Raul Araújo, durante seu voto contrário à inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, alegou que, embora na reunião com os embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto em 18 de junho de 2022, o então mandatário tenha mentido ao afirmar que as urnas eletrônicas não eram confiáveis e que, por isso elas seriam fraudáveis, isso não interferiu nas eleições porque o tribunal foi eficiente em neutralizar sua fala.

O ministro que votou na sequência, Floriano Azevedo, feliz em sua crítica a Araújo, indagou se seria aceitável que se inocentasse um incendiário somente porque os bombeiros chegaram a tempo de debelar o fogo iniciado por ele em um prédio.

Pergunto eu, se todos aqueles que tentaram cometer um crime que não se consumou porque a polícia chegou a tempo de impedi-los, ou que falharam em seu intento criminoso, devam ser libertados da prisão?

Raul Araújo poderia começar libertando Adélio Bispo, aquele que teria tentado matar Jair Bolsonaro às vésperas da eleição de 2018, mas não conseguiu.  

Agora a pergunta é: por que o ministro do TSE, Raul Araújo se propôs a dar um voto que o expôs tão fortemente ao ridículo no afã de defender o ex-presidente?

Como fica, daqui pra frente, sua relação entre seus pares do poder judiciário, sejam do TSE, sejam dos tribunais regionais ou sejam do STF?

O que ficou visível não só para juízes, mas também para as pessoas que acompanharam seu voto, é seu “notável” saber jurídico.

Entende-se por detentor de notável saber jurídico, aquele que é admirado e reconhecido pelo seu conhecimento do arcabouço jurídico brasileiro. Porém, nesse caso em particular, pode-se entender que notável tenha uma conotação de algo que chama a atenção, que não passa desapercebido. Nesse caso, Araújo, realmente não passou desapercebido.

Também não passou desapercebida sua dificuldade para ler seu voto, dando aqueles "tranquinhos" típicos de alunos do ensino fundamental que ainda não dominam a fluência na leitura.

Mas por que o ministro construiria seu voto utilizando tantos malabarismos e se expondo tanto ao ridículo se não objetivasse algo em troca?

Especulo.

O ministro pode ter pretensão de chegar ao STF um dia e é claro que durante o governo Lula 3 ou, quem sabe, Lula 4, suas chances são zero.

Raul Araújo só poderia ser indicado por uma pessoa, justamente Jair Bolsonaro.

Mas o capitão não poderá se candidatar a cargos eletivos durante 8 anos!

É preciso lembrar que Nunes Marques será o próximo presidente do TSE e Bolsonaro conta com ele para tentar anular a decisão que o tornou inelegível, embora isso seja extremamente difícil, porém, não impossível.

Mesmo que Bolsonaro não consiga reverter essa decisão, é possível que se candidate em 2030 e não se pode descartar uma vitória. Caso isso aconteça, Jair poderá indicar alguém para o STF. É com a gratidão que Araújo conta.

Convém lembrar que o capitão não é dado a gratidão, mas é conhecido por abandonar aliados pelo caminho, caso precise para alcançar seus objetivos. É a lógica da guerra em que soldados estão ali para morrer mesmo.

Os ministros que se aposentarão após o pleito de 2030 serão Gilmar Mendes (2030), Edson Fachin (2033) e Luís Roberto Barroso (2033).

Portanto, hipoteticamente, Bolsonaro, numa possível volta em 2030, teria a possibilidade de indicar 3 ministros para o STF. Raul Araújo pode estar sonhando ser um deles.

Até lá, ele terá que se humilhar muito mais, pois há ainda 15 processos contra seu mito.

Será que ele aguenta?