Por Fernando Castilho
O capitão começa a ser espremido, moído, triturado, até restar um bagaço inútil cujo fim será a prisão e a lata de lixo da história.
Observo
na feira. O vendedor de caldo de cana passa o caule uma vez por entre as
engrenagens e o suco escorre generoso para a vasilha.
Não
satisfeito, o homem decide dobrar o que sobrou e passar mais uma vez. Agora sai menos, mas ainda sai.
Pela
terceira vez o caule é espremido até sobrar só um bagaço que é jogado no lixo.
Recentemente
o presidente Jair Bolsonaro (PL) começou a ser espremido pelo surgimento de
denúncias de corrupção em seu governo.
Veio
o vazamento do discurso do então ministro da educação, Milton Ribeiro em que
afirma que recursos do MEC eram repassados a dois pastores para que eles os
ofertassem a prefeituras, segundo critérios próprios, por orientação do
presidente. Em troca de propina.
O fato
gerou investigação da Polícia Federal, que culminou na prisão preventiva de
Milton Ribeiro. Então apareceu o delegado Bruno Calandrini, indignado com os
privilégios recebidos pelo ex-ministro enquanto preso.
Outro
áudio que veio a público revela, antes da prisão, uma conversa telefônica entre
Ribeiro e sua filha. Nesse diálogo, o ex-ministro diz que Bolsonaro lhe
telefonou dizendo que havia tido uma premonição sobre a prisão preventiva,
revelando o medo que sentia de que a ação também o atingisse.
Imediatamente
senadores da oposição se mobilizaram e conseguiram assinaturas suficientes para
a abertura de uma CPI do MEC.
O
defunto ainda não estava frio, quando cinco servidoras da Caixa Econômica Federal
vieram a público denunciar que o presidente do órgão, Pedro Guimarães era
especialista em assédio sexual dentro e fora do ambiente de trabalho durante
viagens.
Um
grupo maior de servidoras fez protesto em frente à sede da Caixa exigindo a
saída de Pedro.
O
fiel seguidor de Bolsonaro, teve que deixar a presidência.
As
denúncias contra um governo que vinha enchendo o peito para bradar que nele não
havia corrupção, agora o desnudam.
O
capitão começa a ser espremido, moído, triturado, até restar um bagaço inútil cujo
fim será a prisão e a lata de lixo da história.
E
isso, faltando três meses para as eleições, em um ambiente desfavorável devido
à larga vantagem de Lula nas pesquisas.
Se
servidores – no caso, da PF – e servidoras – no caso da Caixa - tomaram coragem
para mostrar que o presidente está envolvido em escândalos e que um dos homens
fortes do governo é um assediador sexual, podemos esperar que mais gente da
máquina tome atitudes semelhantes?
Foi
a segurança da impunidade que fez a turba que governa o país se descuidar e não
se preocupar com o que servidores veem todos os dias.
Há
todo tipo de servidor. Existem os que têm preferência política por Bolsonaro e
agem segundo essas convicções, mas também há os que estão descontentes com esse
governo e votarão em Lula. Há um terceiro grupo menos político que se preocupa
com a probidade administrativa e que deve estar indignado e revoltado, tamanho
o desrespeito com a res publica.
O
crescimento exponencial das revelações de corrupção poderá ter o efeito de
encorajar cada vez mais servidores a denunciá-las. Seria o fim das pretensões
eleitorais do capitão, se ficarmos somente na expectativa do respeito às urnas
e ao estado de direito.
É o
que uma premonição me revelou.