Por Fernando Castilho
INTRODUÇÃO DE DILMA – A Sangria Estancada
“O Inferno está
cheio de boas intenções”
Samuel Johnson
“Não quero o
impeachment, quero ver a Dilma sangrar.”
Aloysio Nunes
Ferreira
“Tem que
resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa
sangria.”
Romero Jucá
Um movimento
contrário ao aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus na cidade de São
Paulo deu início às chamadas jornadas de junho de 2013.
Começou aos
poucos e foi crescendo até se espalhar por todo o Brasil enquanto, qual
camaleão, ia assumindo nova identidade e novos propósitos.
Enquanto o
Movimento Passe Livre, de origem proletária, reivindicava aquilo que lhe parecia
justo na época, meu coração e minha mente naturalmente a ele se juntaram,
sabedores das agruras com que as pessoas pobres deste país tão desigual, que
necessitam de transporte público para trabalhar ou estudar, enfrentam todos os
dias.
Mas, também aos
poucos, fui percebendo com estranheza que, no espaço de alguns poucos dias, a
grande mídia, grandes jornais e revistas impressos e as redes de televisão e
rádio, que no início apressaram-se em criticar e condenar o movimento, através de
colunistas e editoriais, começaram a mudar de opinião acrescentando ao caso uma
conotação mais política e ampliando o foco que antes era localizado, para todo
o país.
Surgiu a figura
do gigante adormecido que acordou indignado, ao mesmo tempo simbologia e senha
que tomou as redes sociais de maneira avassaladora, como a querer nos mostrar
que estávamos errados em conferir aprovação de quase 60% ao governo Dilma
Rousseff somente um mês antes, segundo pesquisa Datafolha.
A conclamação a
protestar contra o governo era difusa e artificial, pois nos ordenava a, como
zumbis, sair às ruas com pautas confusas e genéricas como maior liberdade, fim
da corrupção, reforma política etc.
No governo Dilma
a liberdade nunca deixou de existir porque é o cerne da democracia. Nenhuma
manifestação foi reprimida pela presidente.
É justo exigir o
fim da corrupção, mas Dilma nunca foi corrupta, como as intensas investigações,
a imprensa e o tempo comprovaram. A Polícia Federal e o Ministério Público
sempre tiveram por parte de Dilma a autonomia necessária para investigar quem
quer que fosse, inclusive o ex-presidente Lula.
A reforma
política estava no Congresso, o responsável por aprovar as leis.
Mas então, o que
queriam?
Dilma chegou a
se pronunciar em rede nacional de televisão se mostrando favorável às
reivindicações e se colocando ao lado dos que protestavam, mas, mesmo assim, as
panelas batiam ruidosas em protesto.
Mas quem era
essa presidente que de uma hora para outra passou do paraíso para o inferno?
Nossa primeira
presidente mulher é uma figura com personalidade complexa. Ainda jovem,
insurgiu-se contra a ditadura militar, ingressando na Vanguarda Armada
Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Passou quase três anos em
reclusão, de 1970 a 1972, período em que foi brutalmente torturada.
Graduada em
economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ingressou no Partido
Democrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola.
Foi Secretária
da Fazenda na Prefeitura de Porto Alegre, em seguida, Secretária de Energia,
Minas e Comunicações do governo Alceu Collares, e mais tarde do governo Olívio
Dutra, ambos no Rio Grande do Sul.
Durante o
governo Lula foi ministra de Minas e Energia.
Como se vê,
Dilma Rousseff não era nenhuma neófita quando foi escolhida para ser a
sucessora de Lula e isso foi demonstrado em seu primeiro mandato considerado
exitoso, de 2010 a 2014, mas isso não impediu que ela fosse chamada a partir de
2015 de ignorante, burra ou anta. Chegaram à grosseria de vaiá-la e xingá-la
com palavrões em pleno Itaquerão lotado quando da abertura da Copa do Mundo,
viabilizada por ela, contra todos os prognósticos negativos da mídia e dos
partidos de oposição que já se articulavam para o golpe de estado que a derrubaria.
Dilma também
errou. Dona de uma personalidade de característica mais técnica que política,
não ouviu Lula e seus conselheiros mais próximos quando estes a alertaram do
risco do golpe que se avizinhava, mantendo-se inflexível em sua postura
republicana, acreditando que, por não ter cometido crime algum de
responsabilidade e por não ser corrupta, o processo de impeachment que já se
tramava não prosperaria na Câmara dos Deputados.
Foi no início de
2014, ano eleitoral em que a presidente e seu projeto de continuidade com os
projetos sociais iriam ser postos a prova, que cerca de 380 textos analíticos,
dos quais 89 compõem este livro, começaram a ser escritos. Esses textos foram
publicados em blog próprio, em outros blogs de esquerda e também nas redes
sociais.
Naturalmente,
alguns geraram debates intensos e relativa repercussão.
Neles há
análises que incluíram previsões que se realizaram e outras que não. A maioria sim.
Por exemplo, quando já antes das eleições de 2014, este escriba era voz quase
solitária a defender que haveria golpe de estado. Ou quando, muito antes de se
aceitar o fato, falava da prisão de Lula num texto contestadíssimo pela
esquerda republicana que confiava piamente nas instituições.
Em 2016 já
aventava a possibilidade da eleição de Jair Bolsonaro em 2018, embora a
descartasse como certa porque seu adversário seria Lula e este, naquele momento
era imbatível. O tempo mostrou que com Lula preso e com um atentado a faca
ainda nebuloso que provocou comoção nacional, o capitão aproveitou para ser
eleito.
Os textos foram aqui
reunidos sem artificialismos destinados a corrigir ou atualizar as análises
feitas na época, portanto, a não ser por revisões de eventuais erros de português,
são originais.
Logicamente, não
compareço aqui como visionário, mas tão-somente como uma testemunha ocular de
um período de nossa História cujos detalhes temos a tendência de esquecer. Em
cada um deles houve empenho na pesquisa, olhar arguto e capacidade de análise.
O livro é quase
um diário. Foi escrito quase que diariamente e se colocasse aqui todas as
palavras, o número de páginas seria muito grande. Preferi, por isso, publicar apenas
os textos mais significativos. Alguns poderão ser acessados através de leitura
de QR Code.
Na maioria das
análises acrescentei ao final comentários que remetem aos dias atuais a título
de comparação, o que permite iniciar reflexões sobre os desdobramentos dos acontecimentos
passados e explicitar a evolução surpreendente dos fatos iniciados naquele ano
de 2014 que culminaram na eleição de um governo de características fascistas
destinado a destruir todos os avanços civilizatórios construídos não sem
esforço durante muitos anos, tentar um retrocesso de volta a ditadura e
contribuir decisivamente para a morte de mais de 700 mil pessoas pela Covid-19.
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