terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Bolsonaro será mesmo preso?

Por Fernando Castilho




Ministros do STF, não identificados, já estariam conformados e trabalhando com a hipótese de que Jair Bolsonaro nunca será preso?


Na semana passada o portal Uol publicou uma matéria em que a articulista dizia, genericamente, que “ministros do STF consideram difícil a prisão de Bolsonaro, mas têm como quase certa sua inelegibilidade”.

Sempre que surge uma matéria como essa, a pergunta a se fazer é: quais foram os ministros que se posicionaram dessa forma e como essa informação foi obtida?

Se foram Nunes Marques e André Mendonça, não há nenhuma novidade, já que eles sempre votam a favor do ex-presidente. Mas, confesso que é inevitável desconfiar da veracidade da informação que, se verdadeira, transfere a Alexandre de Moraes a árdua tarefa de se ver isolado na defesa da democracia e do estado de direito.

Segundo a colunista, Bolsonaro, agora entregue à justiça comum, poderá ter seus vários processos se arrastando por muitos anos até o trânsito em julgado de uma possível sentença condenatória devido à falta de materialidade, de provas e aos recursos que impetrará. O capitão, de 67 anos, estaria muito idoso quando, enfim suas sentenças definitivas de seus 28 processos forem confirmadas.

Sobre isso, o jurista Walter Maierovitch afirmou que, se procedente a afirmação dos ministros, seria a falência da justiça. E seria mesmo.

Caso os ministros tenham se esquecido, Bolsonaro foi, durante 4 anos, mestre em produzir provas contra si próprio.

Só no caso da pandemia da Covid-19 foram várias, ou alguém não se lembra de quando o ex-ministro da saúde, general Pazuello, anunciou a compra da vacina Coronavac? No dia seguinte, ao ser indagado por repórteres sobre a compra, Bolsonaro reagiu rispidamente dizendo que quem mandava era ele e que a vacina só seria comprada se passassem por cima de seu cadáver. Em seguida, apareceu ao lado do sorridente general que disse que um manda e o outro obedece, confirmando que, a mando do presidente, acabava de cancelar a aquisição. Quantas mortes aqueles sorrisos maldosos causaram devido ao atraso na compra de imunizantes que só acabou ocorrendo depois de muita pressão popular, da mídia e de parlamentares?

Existe um sem-número de provas de crimes, mas, se apenas esse único episódio não servir como prova de que deliberadamente o capitão boicotou a vacina, não sei o que mais serviria. Aliás, a CPI da Covid-19 encontrou vários indícios de crimes que acabaram nas mãos do PGR, Augusto Aras que os ignorou e varreu para baixo de seu tapete.

Neste país das contradições, é particularmente notável que o senador eleito, Sergio Moro, esteja justamente neste momento, buscando aprovar seu projeto de trânsito em julgado de sentenças condenatórias após a segunda instância, o que poderia fazer, caso não fosse inconstitucional, com que seu ex-inimigo, agora reconciliado, Jair Bolsonaro, fosse enviado ao xilindró mais rapidamente.

Mas, além das contradições, este é um país em que se procura o tempo todo perdoar a quem nos tem ofendido. Antigamente se chamava de “jeitinho brasileiro”.

Sérgio Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil, afirmou que o brasileiro é um homem cordial, ou seja, pensa mais com o coração (“cordial” vem de “coração”) do que com a razão. No passado já distante, a atriz comediante norte-americana, radicada no Brasil, Kate Lyra tinha um famoso bordão na TV: “brasileiro muito bonzinho”.

A justiça frequentemente esquece a gravidade de crimes cometidos e dá uma segunda chance ao meliante, mas só se este for poderoso, caso da recente liberação de Sérgio Cabral que, acumulando 436 anos de pena, cumpriu 6 e voltou para casa com uma tornozeleira.

Caso diferente, mas com a semelhança da impunidade, foi o de Paulo Maluf. O ex-prefeito de São Paulo, ao longo de décadas foi conseguindo protelar o trânsito em julgado de sua sentença, usando e abusando de recursos. Quando, enfim, esgotaram-se todos, foi enviado para casa com tornozeleira devido à idade avançada e à saúde fraca.

Portanto, caso os processos contra Bolsonaro se arrastem por muitos anos, como sugerem os ministros, teremos mais um caso em que o crime terá compensado.

E o pior de tudo é que Bolsonaro, mesmo inelegível, ao final, rirá da cara de Alexandre de Moraes e de todos nós. Com a certeza da impunidade, continuará a atuar politicamente para causar ainda mais males ao povo brasileiro.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

O editorial de O Globo e seus indisfarçáveis objetivos

Por Fernando Castilho





O contrato do Válter chegara ao fim e Seu Durval foi convidado a voltar para salvar a empresa, enquanto o larápio fugia para não ser preso pelas falcatruas que cometeu. O chefe, Irineu, pôs toda a culpa no Válter e recebeu cinicamente Seu Durval com um grande abraço.

Seu Durval ficou assustado com o que encontrou. As finanças todas fora de ordem, planilhas inconsistentes ou faltando, documentos extraviados, fluxo de caixa zerado, enfim, um caos.

 

Seu Durval, um autodidata e gênio da contabilidade, trabalhou por anos numa grande empresa onde teve a oportunidade de levantar suas finanças e fazê-la crescer e prosperar. Era um homem que se fez por seu próprio esforço.

Um dia, sentindo que já tinha cumprido sua missão, decidiu que era hora de se retirar.

Sua sucessora, Matilde, alguns anos depois, acabou sendo demitida devido a uma trama de seu subordinado puxa-saco, que assumiu seu lugar. Ele não ficou muito tempo no cargo e acabou sendo substituído pelo Válter, numa trama urdida por Irineu, o chefe.

Seu Durval ainda tentara voltar, pois sabia que a empresa ia mal das pernas, mas o Irineu, que nunca gostara dele, empenhou-se pelo Válter. Na verdade, ele sempre desejou que um amigo próximo, totalmente sem experiência, assumisse o cargo, porque assim, ele poderia comandá-lo como a um fantoche e mandar no caixa da empresa. Poderiam juntos combinar certos esquemas que não seriam possíveis com Seu Durval.

Sem Seu Durval na parada, chegara a hora do Válter ser admitido no cargo.

Como era inexperiente, incompetente e totalmente inepto, o chefe passou a disfarçar os balanços escondendo os prejuízos, mas sempre levando algum por fora.

A diretoria, aos poucos, começou a perceber o mal que o Válter causava à empresa, mas ele era autoritário e ligado a elementos perigosos e isso intimidava a todos.

Mas o contrato do Válter chegara ao fim e Seu Durval foi convidado a voltar para salvar a empresa, enquanto o larápio fugia para não ser preso pelas falcatruas que cometeu. O chefe, Irineu, pôs toda a culpa no Válter e recebeu cinicamente Seu Durval com um grande abraço.

Seu Durval ficou assustado com o que encontrou. As finanças todas fora de ordem, planilhas inconsistentes ou faltando, documentos extraviados, fluxo de caixa zerado, enfim, um caos.

O trabalho de reparação dos males causados pelo Válter demoraria vários meses e a diretoria foi informada disso.

Porém, Irineu, ainda sonhando com a volta do Válter para retomarem os esquemas de falcatruas, começou a atacar Seu Durval cobrando-lhe resultados.

“Onde estão os lucros? Não era para levantar a empresa que você voltou?”

Seu Válter tentou explicar que o caos que encontrara era maior do que pensara e que mudanças profundas teriam que ser feitas. Além disso, havia um amigo do Válter, o Campos, no departamento financeiro, que sabotava as medidas que precisava tomar.

Irineu, então, bradou: “Em vez de ficar reclamando, você deveria apresentar resultados! Saiba que o cara de quem você reclama atua de maneira independente dentro da empresa!

“Você deveria fazer avançar a agenda de crescimento pro[1]metida quando assinou contrato!”

Seu Válter estava há apenas 40 dias no cargo e sabemos que é concedido aos novos funcionários um prazo de 3 meses para experiência, mas o chefe não quis nem saber disso. Queria seu protegido de volta ao cargo porque assim manteria seus lucros.

A última frase entre aspas proferida por Irineu está no editorial de hoje, 08/02, de O Globo.

 


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Falhou mais um plano infalível do Cebolinha

Por Fernando Castilho




O plano de Bolsonaro, Daniel Silveira, Braga Netto e Augusto Heleno para dar um golpe mais se assemelha a um dos inúmeros planos infalíveis do Cebolinha.


Todo mundo sabe que a Mônica é a dona da rua e que o Cebolinha está sempre engendrando um golpe para conquistar esse poder.

Como não consegue fazer isso sozinho, sempre busca a ajuda do amigo, Cascão.

Para este último plano, Cascão achou melhor procurar o apoio logístico do Louco. Como todos sabem, o Louco é um personagem com personalidade conturbada e cheio de maluquices. O ideal para a missão.

Como era de se esperar, mais um plano que não deu certo. O Louco acabou revelando-o à Mônica e os três acabaram sendo surrados por ela, que continua a ser a dona da rua.

Fim da história infantil. Vamos para o assunto que é muito sério. Ou infantil, como veremos mais adiante.

Dois outros planos infalíveis cujos mentores provavelmente foram Jair Bolsonaro, Augusto Heleno e Braga Netto, também não deram certo: os atentados à bomba antes da diplomação de Lula e a depredação dos edifícios dos três poderes em 08/01.

Não vou gastar linhas aqui contando toda a história na cronologia apresentada pelo senador Marcos Do Val, por demais já conhecida de todos, mas comentarei algumas possíveis incongruências e esquisitices.

A história contada pelo senador à Veja colocava o ex-presidente Jair Bolsonaro na chefia direta do golpe, como o autor da coação que teria sofrido para participar da “missão”, como Do Val chama a incumbência que lhe foi dada.

Após ter sido pressionado pelo senador Flávio Bolsonaro, Do Val mudou a versão. O capitão não o teria coagido, limitando-se a ficar calado durante a reunião de planejamento do plano que o recolocaria no poder. Só no final teria dito que aguardaria sua decisão em ser o protagonista principal da “missão”.

Foi essa a versão apresentada à coletiva de imprensa e ao depoimento à Polícia Federal.

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, confirmou a veracidade do que Do Val apresentou à PF na conversa que tiveram.

O senador, ao ser procurado pelo então deputado Daniel Silveira para participar de uma reunião com ele e o presidente, segundo suas palavras, optou por primeiro consultar Alexandre de Moraes se deveria ou não comparecer ao encontro. Moraes teria dito que sim.

Ora, o senador ainda não tinha conhecimento da proposta que lhe fariam. Poderiam conversar sobre qualquer assunto. Então, por que consultar o ministro?

Do Val se diz especialista em inteligência e repetiu isso várias vezes durante sua coletiva. Mas, nessa condição, não seria ele uma pessoa mais apropriada que Silveira a propor um método para tentar captar alguma fala que pudesse ser usada contra Moraes?

Por que, passados quase dois meses, só agora decidiu levar o caso a público?

Não resta dúvida de que a reunião golpista existiu. Se foi Bolsonaro que a convocou e a conduziu, como foi afirmado à Veja, já há motivos claros para sua prisão.

Na nova versão, o capitão teria deixado Silveira conduzir a reunião e propor a “missão”, mas é óbvio que isso não o isenta de responsabilidade, uma vez que, pelo seu cargo, deveria ter encerrado a conversa logo no início e ter dado voz de prisão ao então deputado.

Não há como Bolsonaro se safar desse planejamento golpista. Ele não pode dizer que foi chamado ao encontro sem saber do que se tratava. Seria uma reunião secreta para conversar sobre futebol?

Felizmente, Do Val, em depoimento à PF, não negou a presença do capitão na reunião. Se o fizesse, uma simples convocação do motorista do carro presidencial e dos funcionários presentes no palácio (estranhamente o senador disse que não sabe se o evento ocorreu na Granja do Torto ou no Alvorada) bastariam para confirmar sua presença.

A partir da revelação de Marcos Do Val, fica mais fácil ligar essa reunião à minuta de golpe descoberta na casa do ex-ministro da Segurança, Anderson Torres. Uma pisada na bola de Moraes, segundo o raciocínio de Bolsonaro e Silveira, serviria para tornar a minuta, oficial e dar o golpe.

Só que as coisas não funcionam assim. E, por isso, o plano é infantil.

Mesmo que Moraes confidenciasse alguma impropriedade, não seria suficiente para um golpe. E sabemos muito bem como o ministro é cuidadoso. Ele não cairia numa armadilha ridícula, como ele mesmo se referiu à tentativa de golpe.

Resta considerar a participação de Augusto Heleno e Braga Netto, já que Silveira, em mensagem, citou 5 partícipes. E ainda soltou uma frase enigmática: “cinco estrelas”. Provavelmente em alusão aos 2 generais da reserva.

Moraes precisa pedir que a PF convoque Silveira e Bolsonaro para depor, mesmo que a fala do capitão seja tomada por vídeo conferência.

O ministro chamou o plano de golpe Tabajara e Gilmar Mendes afirmou que “estávamos sendo governados por gente do porão”.

Nada mais apropriado para descrever mais um plano infalível frustrado do Cebolinha.

Cebolinha não pode ser preso, mas Bolsonaro, sim.