Por Fernando Castilho
Eles tocam Get Back, Don’t Let Me Down e daí começa um jogo de imagens para dividir a tela e mostrar simultaneamente o show e o que acontece na rua
Há 10 câmeras espalhadas por toda parte! Todas analógicas! Cinco no telhado, uma na cobertura de um prédio em frente, três na rua (uma delas nas mãos de um repórter que entrevista as pessoas) e uma última escondida na recepção do prédio da Apple. Michael Lindsay-Hogg parece que desconfiou que policiais poderiam tentar entrar no edifício e quis filmá-los.
Ringo usa uma capa de chuva vermelha, George um casaco preto grosso sobre uma calça verde, Paul vai de blazer preto e um par de old brown shoes. John veste um casaco de pele emprestado de Yoko que lhe fica curto nos braços.
O show enfim começa e mostra os Beatles com uma desenvoltura surpreendente para um grupo que se mostrava inseguro apenas alguns dias atrás. Mas é revelado que até a hora de subir, eles resistiam a ideia.
Eles tocam Get Back, Don’t Let Me Down e daí começa um jogo de imagens para dividir a tela e mostrar simultaneamente o show e o que acontece na rua.
À certa altura John reclama que seus dedos estão doendo por causa do frio.
As pessoas começam a chegar na hora do almoço. Há muitos funcionários de escritório, mas também senhoras aposentadas.
O repórter pergunta se sabem quem está tocando. Claro que todos sabem.
O que estão achando? A grande maioria está gostando muito, mas um homem, possivelmente um empresário ou chefe de departamento diz que naquele horário o show atrapalha os negócios.
Outro senhor mais idoso diz que gostaria que sua filha namorasse com um dos Beatles porque eles eram ricos.
Dois policiais chegam ao prédio da Apple e dizem na recepção que o barulho está incomodando e que era preciso parar sob pena de começarem a fazer prisões. Não sabem que estão sendo filmados. A recepcionista diz que os Beatles estão gravando um filme. Um funcionário aparece para dizer que vai ver como resolver o caso.
John reclama que seus dedos doem por causa do frio.
Passa-se algum tempo e aparece na recepção Mal Evans, o faz-tudo do grupo. Conversa com os policiais para enrolá-los ao máximo. Sai para ver como pode resolver a situação enquanto os policiais aguardam na recepção. Mais tarde, já com o show no fim, os leva para o telhado.
Um sargento. muito educadamente, pede para entrar.
Com os policiais já no telhado, Mal desliga os amplificadores, mas George os religa.
O show, enfim, termina.
Uma coisa que não sabia é que algumas músicas foram repetidas algumas vezes, como Get Back (3 vezes) e Don’t Let Me Down (2 vezes), o que acaba sendo um tanto cansativo para quem vê o documentário, mas já para quem está na rua, as músicas são novidade. Em Don't Let Me Down, John errou a letra e todos riram, menos Paul. Dali em diante um dos auxiliares se ajoelha segurando as letras das músicas.
Algumas delas receberam também a legenda “esta é a versão que aparece no álbum Let it Be”, cumprindo assim o propósito de um álbum gravado ao vivo, ou quase. É por isso que as músicas eram repetidas. Precisavam encontrar a melhor performance.
Terminado o concerto, restava ainda gravar no estúdio as faixas que não foram tocadas no telhado. George perguntou se havia uma lei que proibisse shows como aquele e profetizou que dali pra frente todos os grupos de rock de Londres iriam fazer shows em telhados. Certo, U2?
Por fim, depois que Glyn falou que ficou tudo muito bom, Paul convoca todos a tentar mais uma gravação.
Só o Paul mesmo.
A ideia do concerto foi genial e agitou a sisuda e cinzenta Londres na hora do almoço.
O intuito de promover o novo álbum funcionou, mas o projeto de gravá-lo integralmente no terraço foi frustrada, pois os Beatles precisavam de mais tempo para tocar, impedidos que foram pelos policiais.
A imagem em 4K permite uma definição muito boa não parecendo que o show foi gravado há 53 anos!
É preciso falar também do som, excelente, mesmo se tratando sda tecnologia analógica de apenas oito canais da época. Logicamente Peter Jackson trabalhou também para digitalizar as músicas.
Não sei se Michael Lindsay-Hogg teve a intenção ou não de “esconder” Billy Preston durante o concerto, mas o fato é que o espectador desavisado dificilmente o notará. Billy deveria naquele momento aparecer como um quinto beatle pois foi ele quem motivou o grupo a continuar e emprestou seu talento para que as músicas ficassem realmente boas.
Enfim, para encerrar, fica um documento com sabor de quero mais. Surpreende quem é fã desde aquela época e pode empolgar novas gerações que não conheceram os Beatles e sua obra fantástica.
Não há como, para alguém como eu, que vivenciou o auge e o fim do quarteto de Liverpool e que tinha assistido ao filme Let It Be algumas vezes, tentando decifrar como se dava a criação de suas músicas, não se emocionar com os detalhes que Michael Lindsay-Hogg captou tão bem e que Peter Jackson condensou nassas quase oito horas de documentário.
Que venha mais!
Agradeço a todos por acompanhar esta série de análises e comentários. É graças a isso que me sinto motivado a escrever cada vez mais.