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sábado, 11 de março de 2023

O perigo do plano "Política Nacional de Longo Prazo" de Bolsonaro

Por Fernando Castilho

Imagem: Revista Piauí

A certeza de vitória de seu Jair e de seus comparsas nas eleições de 2022 era tão grande que até um plano de governo de 36 anos, elaboraram, vejam só.


No segundo semestre de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro e seus aliados militares estavam preparando um documento intitulado “Política Nacional de Longo Prazo”. Em suas 65 páginas, às quais a revista Piauí teve acesso, o plano não citava o combate a fome, nem políticas para mulheres, negros ou indígenas, enfim, nada voltado à melhoria de vida das pessoas.

A intenção de parte dos militares não era somente vencer as eleições presidenciais, mas se perpetuarem no poder através do governo de seu fantoche, Jair.

Seriam 36 anos, nove mandatos consecutivos, pelo menos.

Mas, caro leitor, não pense que para isso Bolsonaro teria que vencer nove eleições consecutivas. A ideia era, já no segundo mandato, apresentar projeto de lei em uma Câmara majoritariamente bolsonarista, de continuidade no poder, baseado na tal ameaça comunista que só o capitão teria força para enfrentar, na ameaça da ideologia de gênero que transforma nossos jovens em trans e na vontade de Deus. O projeto poderia ser aprovado.

A certeza de vitória de seu Jair e de seus comparsas nas eleições de 2022 era tão grande que até um plano de governo de longo prazo elaboraram, vejam só.

Para isso, não mediram esforços. Bilhões de reais de dinheiro público foram gastos com motociatas, cartões corporativos, orçamento secreto em redutos eleitorais, etc. Não hesitaram em mobilizar a Polícia Rodoviária Federal para impedir eleitores de Lula a votar. Um vale-tudo que pode custar a inelegibilidade do capitão por oito anos.

Apesar de todo esse escândalo, Bolsonaro não venceu.

Lula venceu e, logo que começou a governar, revelou ao Brasil e ao mundo o genocídio que vinha sendo cometido contra os Yanomami. Se Jair vencesse, certamente, já neste ano os Yanomami poderiam estar em franco processo de extinção. Ao longo de nove mandatos, não só eles, mas todas as etnias indígenas poderiam não mais existir, com o garimpo ilegal tomando todas as reservas. Era um programa de governo.

O governo Lula descobriu também que não foi deixado dinheiro para combate a tragédias. Foi preciso grande mobilização de recursos para tentar minimizar a dor e o sofrimento do povo pobre do litoral norte. Se reeleito, Bolsonaro estaria passeando de jet-ski enquanto as enchentes aconteciam.

Agora descobriu-se que o capitão tentou por nove vezes recuperar joias no valor de 16,5 milhões de reais que ficaram retidas na alfândega quando do retorno do então ministro Bento Albuquerque da Arábia Saudita.

Essas joias teriam sido um presente do país e deveriam passar a integrar o acervo da presidência da República, mas Bolsonaro entendeu que deveriam pertencer a ele.

Dois dias antes de fugir para os Estados Unidos, Jair empreendeu sua última tentativa de roubo de patrimônio público, mas não conseguiu êxito.

Outro estojo, porém, conseguiu passar pela alfândega e se encontra no poder do capitão, possivelmente em Orlando.

Trata-se, portanto, de pilhagem feita por um presidente da República. E isso é crime gravíssimo.

Como todo o staff de governo tinha a mais absoluta certeza de reeleição, esse escândalo pode ser apenas a unha de um elefante. Agora que o capitão perdeu o poder, é bem possível que muitos outros casos semelhantes venham à tona.

O método de seu Jair faturar nunca foi o tradicional dos que ocupam o poder executivo, as fraudes nas licitações e o atendimento à grandes empresas. A gatunagem e a pressão são alguns dos métodos típicos das milícias e, por que não dizer, das máfias.

O Brasil se salvou de sua quase extinção, pois, caso a tal Política Nacional de Longo Prazo fosse implementada após a reeleição de Bolsonaro, certamente teríamos uma gatunagem oficializada como nunca se viu.

É imperioso agora que haja punição severa contra essa corrupção oficializada para que nunca mais volte a acontecer.


sábado, 12 de novembro de 2022

Em 2026 o nome da extrema-direita não será Bolsonaro

Por Fernando Castilho

Foto: Caio Guatelli/AFP


Bolsonaro falhou em ser o líder da extrema-direita no Brasil. Não foi competente em comandar as Forças Armadas para deflagrar um golpe. Nem em 7 de setembro de 2021, nem agora.


Ao longo de quase quatro anos de governo, Bolsonaro, além de trabalhar muito pouco ou quase nada (vide agenda presidencial), fez e falou muita bobagem.

Terceirizou a economia para Paulo Guedes, seu posto Ipiranga e demonstrou que nunca esteve preparado para governar.

Na terrível crise da pandemia da Covid-19 expôs seu lado mais sombrio e psicopata ao negar a existência do vírus, receitar medicamentos inócuos, sabotar a compra de vacinas e debochar de quem morria ou perdia seus entes queridos. Ele é o responsável por pelo menos 400 mil mortes.

Durante as enchentes que mataram e deixaram muita gente desabrigada e, Pernambuco, Paraná, São Paulo, Bahia e Rio de janeiro, preferiu se esbaldar de jet-ski.

Por quase quatro anos viveu de fake news enquanto fazia campanha com dinheiro público.

Imaginou, doentiamente, que seu cercadinho era seu palco e que as motociatas representavam mais que os dados dos institutos de pesquisa. Nunca procurou ampliar sua base, preferindo sempre proferir asneiras e mentir.

Revelou-se capaz de praticar canibalismo e, num ato falho, acabou admitindo ter inclinações pedófilas.

Bolsonaro só perdeu a eleição por culpa dele mesmo, pois é tosco, burro, ignorante e despreparado.

Agora, ao perder as eleições para Lula, não vem a público reconhecer sua derrota, mantendo alguns inconformados às portas dos quartéis pedindo intervenção militar.

Sobre isso, devemos atentar que os aloprados não pedem anulação das eleições ou que o resultado contemple seu ídolo, Bolsonaro.

Esse é o sinal de que o presidente falhou em ser o líder da extrema-direita no Brasil. Não foi competente em comandar as Forças Armadas para deflagrar um golpe. Nem em 7 de setembro de 2021, nem agora.

Valdemar da Costa Neto, o dono do PL, vai tentar manter a chama acesa, conferindo a Bolsonaro um cargo no partido para que ele lidere a oposição a Lula e se cacife para 2026.

Mas Bolsonaro não está à altura disso. Seu negócio é incendiar o país. O Costa Neto, pragmático que é, acabará por abandoná-lo.

O capitão incompetente já deveria ter reconhecido a derrota e começado a preparar sua oposição.

Observem que ele só obteve esse grande número de votos graças ao antipetismo, pois seus seguidores-raiz não passam de 30% da população, seu cercadinho ampliado.

O atual presidente enfrentará inúmeros processos por seus crimes cometidos e certamente será inelegível para 2026.

Mas a extrema-direita não desaparecerá do país. O capitão não será mais seu mito. Aparecerá outro a ocupar seu espaço.

O nome com que devemos nos preocupar é Tarcísio de Freitas, o governador eleito para o estado mais importante da federação.

Tarcísio é um Bolsonaro bem mais refinado. Apesar de ter mentido muito nos debates, não fala muita bobagem, é astuto e articulado, portanto, mais palatável àquela parcela antipetista da população.

Possivelmente, será ele que substituirá o capitão.

É preciso que nos preparemos a isso.


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Peixinhos dourados num aquário lindamente decorado

Por Fernando Castilho




Sim, o risco de uma ruptura institucional, caso Bolsonaro seja reeleito, é muito grande e muitas pessoas, principalmente os gratiluz, não estão percebendo, confortáveis em seu mundo particular criado exatamente como uma redoma que lhes traz segurança.


Inicio reproduzindo um trecho de uma postagem que o amigo Jarbas Capusso compartilhou no Facebook. Depois explico.

“Esse ser é constituído de: 10% tofú, 10% de beringela orgânica e 80 de Ky. Ou seja, o gratiluz é um vaselina existencial. Não quer saber de conflito, muito menos embate, então vive de fazer vínculo do jacaré com a lontra. Esta foi minha versão lúdica. Ok. Vou meter o Datena: o gratiluz quer azeitar o convívio da barbárie com o civilizatório. Da bala com o discurso. Estivesse na Alemanha nazista, transitaria, fácil, fácil, entre Auschwitz e o quartel da SS.”

Vamos à explicação.

Capusso vai direto ao ponto, sem meias palavras, para falar de pessoas, às vezes chamadas de nem nem. Para elas, a quem ele chama de seres gratiluz, não há no país nenhuma disputa entre a civilização e a barbárie. Não há nenhum embate entre a verdade e a mentira ou a tolerância e o preconceito para com o outro. Parecem transitar ao largo dos graves acontecimentos que afligem o país.

Serei menos incisivo e usarei mais eufemismo para falar da mesma coisa.

Algumas, de acordo com sua religião (e não há aqui nenhuma intenção de criticar a crença de ninguém), acreditam que é normal passarmos por tempos atribulados para mais tarde experimentarmos a bonança. É sério.

Conversei há algum tempo com uma dessas pessoas. Perguntei sobre os horrores da Segunda Guerra e ela me respondeu que foi necessária, pois em seguida, com o fim dos conflitos, a humanidade pode desfrutar de um longo período de bem-estar.

Esse tipo de visão nos remete ao pensamento aristotélico.

Aristóteles imaginava o Universo, a que ele chamava de Cosmos, como algo perfeito e ordenado.

Cada coisa e cada um de nós temos um lugar determinado dentro dele. Somos peças que o compõem.

Desta forma, tudo o que acontece já está determinado, sejam as grandes catástrofes, sejam os períodos de felicidade.

Não há como o ser humano intervir criar sua própria história ou mudar o estado das coisas.

Consequentemente, não existe também o livre arbítrio. Tudo está escrito nas estrelas.

Mas isso foi escrito há mais de 1400 anos!

A Ciência, já há cerca de 500 anos, sabe que o Universo não é ordenado, pelo contrário, é caótico, não só pelas observações, mas também pela Segunda Lei da Termodinâmica que traz em seu bojo o conceito de entropia. Graças a Boyle, Hooke e Carnot!

À título de ilustração, neste exato momento em que escrevo, bem acomodado em uma cadeira, um asteroide pode se dirigir à Terra ou um terremoto de grandes proporções pode dar fim a esse conforto. É a imprevisibilidade. É a tendência ao caos.

Em minha vida passei por pelo menos três grandes momentos históricos de definição do futuro de nosso país: o movimento das Diretas Já em 1983, a eleição de Lula em 2002 e agora, o segundo turno do mais importante pleito nacional que definirá se voltaremos a retomar o processo civilizatório e a democracia ou iniciaremos um longo período de ditadura.

Sim, o risco de uma ruptura institucional, caso Bolsonaro seja reeleito, é muito grande e muitas pessoas, principalmente os gratiluz, não estão percebendo, confortáveis em seu mundo particular criado exatamente como uma redoma que lhes traz segurança. Pelo menos é o que eles imaginam.

O peixinho dourado dentro do aquário nada pra lá e pra cá observando a paisagem de plantas e pedras dentro do aquário, alimentando-se de vez em quando, tomando um pouquinho do Sol que entra pela janela da sala, alheio ao mundo conturbado lá fora.

Nada o tira do sossego de seu mundo particular.

 

 

 

 

 

 

 


sábado, 8 de outubro de 2022

É democracia ou ditadura: O que você quer para os seus filhos e netos?

Por Renato Rovai





É hora de olhar para o seu filho e seu neto e dizer, eu não vou deixar você viver numa ditadura. E depois do dia 30 poder se orgulhar de contar essa história para ele, que você fez de tudo naquela eleição que tirou o Brasil das mãos de um déspota. E venceu.


A grande batalha da nossa geração é aqui e agora. Isso acontece a cada 50 anos, às vezes 100 num país.

Há pessoas que vivem sem ter contato com um momento histórico tão delicado, grave e angustiante. E que às vezes no fim se torna exultante.

No Brasil, quem viveu o golpe de 64 sabe do que estou falando. Quem era vivo na 2ª guerra mundial, ainda restam alguns, também.

É aquele período onde parece que estamos decidindo um século.

Imaginem por exemplo o que seria do mundo se a Alemanha tivesse vencido aquela guerra. Seríamos um mundo dominado pelo nazismo por quanto tempo? Estaríamos nós filhos e netos daquela geração ainda sob os domínios do Reich?

Pode parecer exagerado o que vou dizer, mas o Brasil está do ponto de vista da sua história vivendo um momento semelhante, que não parece ter potencial para afetar a vida de muitos outros países, mas afetará com certeza umas décadas da nossa história enquanto país. Mudará o destino de ao menos uma geração.

Se Lula vencer a eleição, muito provavelmente ele só fará um mandato de quatro anos, cumprirá a Constituição, terá um governo de centro na economia e mais à esquerda nas questões sociais. Seu destino é sair da política em 2026 e ir para casa curtir a vida com a sua atual companheira Janja.

Nas eleições de 2026 teremos algumas candidaturas que apoiaram seu governo e provavelmente um Bolsonaro ou um bolsonarista disputando pela extrema-direita com menos força porque não contará com o aparelho do Estado para usá-lo eleitoralmente.

E se Bolsonaro ganhar, o que teremos? Um governo despótico que mudará a Constituição tirando todas as suas conquistas em áreas ambientais, da infância, dos direitos humanos, das liberdades individuais, entre outros pontos. Uma mudança na conformação do STF que passará a ter 15 ministros e que será uma extensão do executivo. Muito provavelmente também teremos a cassação de ministros como Alexandre de Moraes e a mudança da legislação eleitoral voltando à urna com cédulas que permitem mais fraudes e a reeleição por tempo indeterminado. Sim, Bolsonaro, se reeleito, não se contentará em ficar apenas até 2026. Seu projeto é de se tornar um ditador que vai conquistando pelo voto, com fraudes, mandatos indefinidos. Temos exemplos disso no mundo, tanto de governos mais à esquerda, mas principalmente à direita. Viktor Orbán é sua referência. Pesquisem sobre o que acontece na Hungria para terem uma visão mais concreta do risco que estamos correndo.

Mas o que fazer quando se está diante de um cenário desses? Resmungar no Instagram, Facebook ou grupos de WhatsApp? Ficar xingando aquele familiar que fica repetindo que o Lula é ladrão? Se encolher e dizer que você já achava que Bolsonaro podia vencer as eleições?

Não, amigas e amigos. Não podemos cair nessa armadilha. É hora de arregaçar as mangas e enfrentar o desafio colocado para a nossa geração com todas as forças. É hora de cada sindicato, ONG, Centro Acadêmico, movimento social, organização de bairro se transformar numa daquelas igrejas evangélicas onde o pastor faz jejum com seus fiéis e fica orando na noite da eleição. É hora de tirar férias do trabalho, de tirar da agenda outros compromissos sociais, de deixar aquela viagem pra depois do dia 30 e ir pra rua e para as redes trabalhar de forma incansável.

É hora de organizar nossa tropa e parar de chororô porque o Datafolha deu 6% de frente para o Lula. Sim, para o Lula. Imaginem se fosse ao contrário. Além de a Quaest ter dado 8% e o Ipec 10%.

O favoritismo ainda está do lado da democracia e faltam 22 dias para este pesadelo acabar. Vamos ganhar bem no Nordeste e podemos empatar ou virar em São Paulo e Rio de Janeiro. O Datafolha de ontem, por exemplo, deu 46% a 44% para Bolsonaro em São Paulo. É um resultado espetacular. Haddad está perdendo de 50% a 40%, mas tem capacidade para demolir Tarcísio nos debates. Será que isso não pode melhorar seus índices? Será que não dá tempo de criar uma onda?

Evidente que é razoável estar preocupado com o cenário de demolição que a vitória de Bolsonaro enseja. Mas a preocupação não pode virar nem medo nem pessimismo. Ela precisa nos tirar da zona de conforto. Dos nossos papos de bares com os mesmos amigos de sempre. Precisa nos fazer entrar em coletivos de campanha e ir disputar votos em todos os cantos das redes e das ruas que tiver ao nosso alcance.

Vamos combinar uma coisa também, não reclame da campanha até dia 30. Faça campanha. Depois teremos novembros, dezembros, janeiros e muito tempo pra fazer avaliações. Tem coisa errada, claro que tem. Mas Lula teve 48,5% dos votos no dia 2 de outubro e ainda está na frente. Deixem o desespero para o lado de lá. É hora de lutar por nós e pelos que precisam de nós. É hora de olhar para o seu filho e seu neto e dizer, eu não vou deixar você viver numa ditadura. E depois do dia 30 poder se orgulhar de contar essa história para ele, que você fez de tudo naquela eleição que tirou o Brasil das mãos de um déspota. E venceu.

 


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O rebaixamento da inteligência coletiva brasileira


Por Domenico De Masi


Foto: Ricardo Stuckert


Neste momento, vocês estão nas mãos de um ditador.

 

Esta ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante esta pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito maluco. Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota em um país muito inteligente. Porque é isso que fazem as ditaduras. 

Este me parece um fato tão óbvio que às vezes nos passa despercebido. Quando o país é comandado por pessoas tão tacanhas, a tendência é o rebaixamento geral do nível cognitivo da sua população. 

É fácil entender por quê. Sob Bolsonaro, Damares, Araújo, Pazuello, Salles, Guedes & Cia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades. 

Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo. 

Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido. 

É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terra ou a demonstrar eficácia da vacinação. Ou defender, outra vez, a necessária separação entre Igreja e Estado, mais de 230 anos depois da Revolução Francesa. 

É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade.

À parte a necessária luta política para nos livrarmos o quanto antes dessa gente, entendo que existe uma luta particular e que depende de cada um de nós: a luta para não emburrecer.

Manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música. Assistir a bons filmes para contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais.

Enfim, mantermo-nos íntegros e fortes para a reconstrução futura do país. Não podemos ser como eles. Não devemos imitá-los em sua violência cega. Não podemos nos deixar contaminar por sua estupidez. Eles passarão. E estaremos aqui, para recomeçar.

Provavelmente, o que leva a esse rebaixamento é o ódio e o ressentimento por levar as pessoas a se sentirem, no fundo, perdedoras (é o caso de todos os bolsonaristas que conheci mais de perto) e ter de encontrar bodes expiatórios para culpá-los. A cultura competitiva, que estabelece, com critérios perniciosos, o que é ter sucesso, faz com que quem entra nesse jogo perverso, sinta-se, no final das contas, sempre um perdedor.