sábado, 31 de dezembro de 2022

ACABOU, PORRA!

Por Fernando Castilho




Restou ao capitão fazer uma derradeira live para cometer mais um crime enquanto mandatário da nação. Declarou que as manifestações em frente aos quartéis são legítimas. Não são, pois constituem crime e ele é cúmplice e prevaricador.


Desde o dia 30 de outubro bolsonaristas inconformados com a derrota de seu mito genocida, preconceituoso, misógino e vagabundo, acampam em frente a quartéis aguardando sinais para concretizar um golpe de estado.

Como os sinais não vieram, passaram a tentar interpretar o silêncio de Bolsonaro como uma senha para que não desistissem e prosseguissem, de forma que, a cada 72 horas de ultimato ao STF, seguiriam mais 72 horas e assim por diante.

Enquanto isso, o capitão tentava desesperadamente convencer os comandantes das Forças Armadas a romper com a democracia, mas estes julgaram a ação muito difícil, trabalhosa e perigosa, afinal, estariam se contrapondo à vontade da maioria da população que depositou seu voto em Lula. Jair se viu sozinho e sem forças.

Quando os caminhões de mudanças começaram a retirar as tralhas do Palácio da Alvorada, essa deveria ter sido a senha para que os bolsonaristas tomassem juízo e voltassem para suas casas, mas os mais radicais não se atentaram a isso, se impacientaram e incendiaram carros e prepararam bombas para explodirem e matarem muita gente.

A segunda senha foi o anúncio da viagem aos Estados Unidos. Se houvesse mesmo a possibilidade de golpe, o ainda presidente ficaria no Brasil para comandar a aventura. Mas nem isso souberam interpretar direito.

Restou ao capitão fazer uma derradeira live para cometer mais um crime enquanto mandatário da nação. Declarou que as manifestações em frente aos quartéis são legítimas. Não são, pois constituem crime e ele é cúmplice e prevaricador.

Condenou atos terroristas, talvez porque o bolsonarista preso por colocar uma bomba junto a um caminhão de combustível declarou que agiu por influência dele, o que pode implicá-lo como mentor.

Por fim, como não poderia deixar de fazer, mentiu sobre o que Lula pretende fazer com o PIX, aproveitando ainda para criticar a escolha dos novos ministros. Segundo ele, o critério adotado por Lula foi o de empossar ministros com perfil político, enquanto os seus eram técnicos, o que é outra mentira.

É preciso lembrar que, ao embarcar para os Estados Unidos num avião da FAB, sem agenda internacional, o capitão pode estar prevaricando por desvio de finalidade. A ver.

Bolsonaro tentou deixar o governo de maneira a deixar acesa a chama do não conformismo com o resultado das eleições, mantendo seu cercadinho unido em torno dele, mas o que conseguiu na realidade foi sair fechando uma porta que o impedirá de voltar de cabeça erguida um dia.

Foi incapaz de reconhecer a derrota, exibiu uma fraqueza que sempre escondeu sob o disfarce de inbroxável, revelou-se mau perdedor e assumiu uma pequenez ainda maior do que a que sempre o caracterizou, ao não passar a faixa a Lula.

Para muitos acampados que perderam empregos e cônjuges por causa dele Bolsonaro não passará de um traidor.

Para outros ainda será preciso cair a ficha, mas a fuga para os Estados Unidos revela um ser totalmente incapaz de liderar uma extrema-direita que acabou de emergir.

Enquanto isso, Tarcísio de Freitas, o futuro governador do mais importante estado da federação, começará a ocupar o vácuo deixado pelo seu criador podendo cultivar a ambição de se cacifar para a presidência nas próximas eleições.

Lula precisa fazer o melhor governo possível, sob pena de passarmos mais uma vez por uma disputa extremamente difícil em 2026.

Um feliz 2023 para todos que acreditaram na vitória da democracia e que acreditam que o melhor que pode ser feito no próximo ano será feito.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Não são empresários bolsonaristas. São terroristas!

Por Fernando Castilho


PCDF - Reprodução


É público e notório que se trata sim de terrorismo contra o Estado. E a imprensa tem a obrigação de dar os nomes certos aos bois.


Nossa grande imprensa, entre o dia da eleição do primeiro e do segundo turno, fez clara campanha a favor de Lula e contra Bolsonaro.

Após quase quatro anos de muito tato no tratamento do capitão, temerosa de seus ataques e chiliques, próprios de sua personalidade autoritária, percebeu na reta final que, se reeleito tinha planos de instalar uma autocracia duradoura no país. Para quem trabalha com jornalismo, as ameaças sempre são intranquilizadoras e, como sabemos, os bolsonaristas têm se esmerado nisso. E para quem é dono de jornal, a ameaça da censura é por demais perigosa.

Com a vitória de Lula e, praticamente assegurada a volta da democracia (praticamente, porque ainda há manifestações golpistas), as lupas e os canhões voltam a ser apontados para aquele que, apesar de ter apanhado muito em seus dois primeiros mandatos, sempre respeitou a liberdade de expressão da imprensa e que, por isso mesmo, não representa risco algum para nenhum colunista.

Aos poucos Lula foi montando seu gabinete de transição e as críticas começaram a pulular (sem trocadilhos) simplesmente porque elas tinham que pulular.

Nosso futuro presidente está acabando de montar um corpo ministerial de grande diversidade e qualidade, procurando alocar as pessoas certas nos lugares certos e representando os vários setores da sociedade.

Quase concluído esse processo, começam a aparecer tentativas de atentados visando a criar o caos para impedir a posse de Lula e procurar justificar a entrada em cena dos militares para restabelecer a ordem.

Como sempre, a grande imprensa utiliza nomenclaturas que lhe convém no momento.

O terrorista que armou uma bomba junto a um caminhão-tanque repleto de querosene perto do aeroporto de Brasília, com poder destrutivo de matar muitas pessoas, está sendo tratado como empresário bolsonarista suspeito de provocar um suposto atentado.

Embora a literatura jurídica brasileira ainda anacronicamente insista em não classificar esse tipo de ação como ato terrorista porque faltam alguns elementos técnicos que não o definem, é público e notório que se trata sim de terrorismo contra o Estado. E a imprensa tem a obrigação de dar os nomes certos aos bois.

A leniência com que os órgãos policiais vêm tratando os criminosos que pregam o golpe já durante quase dois meses em frente aos quartéis sem que os militares não reprimam, mas também não adiram é que acaba por encorajar gente disposta a perder tudo para prorrogar a estada do capitão no Alvorada.

E se as autoridades não tomam nenhuma atitude, é obrigação da imprensa, enquanto representante da sociedade, se insurgir contra esse estado de coisas e chamar empresários bolsonaristas de terroristas, que é o que eles são, na verdade.

Lula está exposto.

Não é possível que ele desista da cerimônia da posse por questões de segurança, afinal, é o anseio da maioria da população vê-lo desfilar e subir a rampa do Palácio do Planalto mais uma vez.

Mas também não é possível que isso aconteça sem segurança completa.

Uma força-tarefa executando vigilância constante e pente fino em todo o entorno do evento de posse deveria estar sendo posta em prática já. O grande problema é que o quase ministro da Justiça, Flávio Dino, ainda não tomou posse, portanto, não tem a prerrogativa de comandar as polícias federal, civil e militar. Isso está a cargo do atual ministro de Bolsonaro, Anderson Torres, para quem, tanto faz como fez e do governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha.

Aquele espírito democrático que moveu a imprensa por quase dois meses, deveria retornar para cobrar das autoridades a garantia de uma posse tranquila e sem problemas, mas, infelizmente, nossos colunistas estão mais empenhados em denunciar que faltam mulheres nos ministérios de Lula, ou que o mercado fez careta porque Aloízio Mercadante será o presidente do BNDES.

Os próximos dias que antecedem a grande festa serão de muita tensão.

Quem diria que iria ser assim?


Ainda vale a pena falar sobre Bolsonaro?

Por Fernando Castilho




Está quase na hora de Jair já ir embora, mas não sem antes ter tentado, há alguns dias, uma cartada final para virar o jogo.


Com a vitória de Lula nas eleições, o relatório da equipe de transição divulgado, a PEC da transição aprovada e os ministérios quase que preenchidos, passaremos a falar muito do novo ocupante do Alvorada e menos do antigo.

Mas não há mais o que falar sobre Jair Bolsonaro?

O ainda presidente fez uma espécie de renúncia branca após sua derrota em 30 de outubro e, por isso, quem já começa a governar de fato é Lula, haja vista a aprovação da PEC da transição levada a efeito por ele.

Está quase na hora de Jair já ir embora, mas não sem antes ter tentado, há alguns dias, uma cartada final para virar o jogo.

O capitão se reuniu com os generais golpistas Villas Boas e Braga Netto, numa última tentativa de convencer as Forças Armadas a impedir a posse de Lula, baseada no entendimento torto das linhas retas do Art. 142 da Constituição Federal.

Ouviu dos comandantes um não. Primeiro, porque perdeu o timing, já que o novo governo se consolida a cada dia. Segundo, porque a maioria dos generais da ativa sempre foi contra a ruptura.

A verdade é que, excetuando-se os aloprados patriotários que vinham acampando em frente aos quartéis e que agora receberam a ordem de deixar esses locais, ninguém quer golpe. Aliás, o Datafolha apontou que 75% dos brasileiros são contrários aos atos antidemocráticos. Aconteceu o mesmo de 7 de setembro de 2021 quando Jair tinha a certeza de que o exército o acompanharia em seu discurso golpista. Ficou isolado e teve que mandar uma cartinha de desculpas ao ministro Alexandre de Moraes.

Porém, ainda há gente que sacrifica sua própria liberdade para tentar criar um clima em que seja necessário que o exército intervenha para controlar o caos e impedir que Lula tome posse.

É o caso de George Washington de Oliveira Souza, o bolsonarista que, numa ação frustrada, colocou uma bomba próxima ao aeroporto de Brasília, com a intenção de explodir um caminhão-tanque de querosene. Agora está preso e será indiciado como criminoso. É, contudo, óbvio que não agiu sozinho. Deve haver financiadores por trás dele. 

Mas agora não há o que fazer. Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno e muitos outros vão ter que aguardar a Polícia Federal visitá-los em breve.

A depressão e consequente choro do capitão decorrem do fato de que ele, alimentado por puxa-sacos, como costuma acontecer com chefes autoritários, acreditou piamente que seria reeleito. Não poupou esforços para isso, desde a farta farra do orçamento secreto, até a generosa liberação de verbas para Auxílio Brasil, Auxílio Gás, Auxílio Caminhoneiro e Auxílio Taxista. E nada feito. Perdeu.

Meses antes, das eleições, houve quem lhe sugerisse que se candidatasse a senador ou que até mesmo voltasse para a Câmara dos Deputados. Venceria facilmente e voltaria ao ócio do qual desfrutou no Congresso por 28 anos, continuando a ter foro privilegiado e garantindo sua liberdade.

Mas a vaidade e a certeza de impunidade falaram mais alto.

Bolsonaro não passará a faixa presidencial a Lula porque não quer se humilhar diante do grande vitorioso.

Mas a maior humilhação já aconteceu quando Lula, mesmo sem ser ainda presidente, conseguiu a aprovação da PEC dentro do governo Bolsonaro.

O choro é livre.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Enfim, o entulho está sendo retirado do Alvorada

Por Fernando Castilho


Foto: Folha de São Paulo


Enfim o entulho está saindo do palácio e logo mais uma boa faxina deverá ser feita, não faltando sequer os incensos para afugentar de vez toda a maldade que se instalou por lá há 4 anos.


Nos últimos dias os jornais têm noticiado as várias idas e vindas de caminhões de mudanças no Palácio da Alvorada.

Enfim, parece que Jair Bolsonaro aceitou, embora com revolta, rancor e melancolia, sua derrota nas eleições presidenciais.

Mas o que impressiona não é a quantidade de presentes que ele recebeu ao longo de 4 anos de mandato, muito pequena se compararmos aos mimos oferecidos ao presidente Lula quando governava. É a qualidade que chama a atenção.

Enquanto Lula possui sob sua guarda uma infinidade de lembranças de importantes mandatários de outros países, dada sua importância no cenário mundial, os presentes que o capitão recebeu se restringem praticamente a obras doadas por admiradores brasileiros que visam reforçar a figura do mito, tão cultivada por ele.

Enquanto o presidente eleito coleciona várias obras de arte de todos os tipos, os mimos de Bolsonaro nada têm a ver com arte. São de um mal gosto extremo.

Não há como não se lembrar de pinguins sobre a geladeira.

Há quadros horrorosos mostrando a família, uma pintura ridícula do artista radicado em Miami, Rogério Brito, uma moto de madeira com rodas tortas e até uma estátua, também de madeira que retrata, pasmem, o presidente.

Não há nada mais vaidoso e feio que esse acervo.

É muito simbólico que esses presentes possuam esse caráter de mal gosto que satisfaz a Bolsonaro e sua família.

Para entender, é preciso analisar o perfil dos doadores.

Os bolsonaristas que consideram o capitão um mito são pessoas que negam obras de arte, livros e toda análise e informação mais séria e aprofundada sobre ele.

São aqueles que perceberam com a eleição do capitão em 2018 a oportunidade da revanche contra a intelectualidade, vista por eles como gente que nada produz de útil em suas salas refrigeradas e ganham muito dinheiro enquanto eles ralam pela sobrevivência.

Os artistas são aqueles que se beneficiam da mamata da Lei Rouanet, escrevem, pintam e compõem coisas incompreensíveis.

Essa visão vai ao encontro do propósito inicial de Bolsonaro, conforme ele próprio revelou, de destruir. A ideia sempre foi a de acabar com tudo que pudesse significar civilização para que, num segundo mandato, ele pudesse edificar sobre os escombros sua maneira autocrática, preconceituosa e cruel de ver o mundo. Por isso, seus ministros se empenharam tanto em fazer exatamente o contrário das políticas públicas próprias de cada ministério.

Enfim o entulho está saindo do palácio e logo mais uma boa faxina deverá ser feita, não faltando sequer os incensos para afugentar de vez toda a maldade que se instalou por lá há 4 anos.


sábado, 17 de dezembro de 2022

O Bushidô na seleção de futebol do Japão

Por Fernando Castilho


Foto: Adidas


Enquanto o Brasil ainda disputava o título da Copa, as notícias davam conta de que Neymar havia concluído a negociação para a compra de um terceiro avião para sua frota.


A torcida da seleção japonesa de futebol novamente surpreendeu o mundo ao fazer faxina no estádio após os jogos de seu time. Mas não para este articulista que viveu por vários anos no país do sol nascente.

A equipe, chamada de Samurai Blue, embora tenha perdido o jogo para a Croácia, não decepcionou os japoneses. Pelo contrário, seus jogadores foram recebidos como heróis.

Para compreender o gesto é preciso voltar séculos no tempo. O tempo dos samurais.

Esses guerreiros seguiam um rígido código de conduta moral chamado de Bushidô (o caminho do guerreiro) que acabou por influenciar a maneira de viver da população em geral.

Com o fim da classe samuraica e a importação de valores ocidentais no começo do século 20, o Japão entra numa crise moral que desestrutura a sociedade até o fim da Segunda Grande Guerra.

Para se proceder ao “milagre” japonês de reconstrução do país foi necessário resgatar os valores do Bushidô, principalmente os que dizem respeito preponderância do bem coletivo ao individual, o respeito às leis, às autoridades e ao outro.

Mas foi preciso que o Estado desse o primeiro exemplo para conquistar o coração do povo japonês. Esse grande exemplo foi tomar medidas para proporcionar alimentação para todos através de uma ampla reforma agrária que tirou as terras produtivas das mãos de uma minoria que controlava os preços do arroz e do trigo e possibilitando que milhares de pequenos agricultores começassem a produzir em grande escala barateando assim esses alimentos básicos.

Além do Bushidô, o espírito de Gambaru se sobressai no povo japonês desde a tenra idade. Gambaru não tem uma tradução que consiga transmitir com exatidão a força do termo, mas podemos dizer que se trata de dar o melhor de si, numa entrega às vezes até dolorosa.

Assim, quando uma criança sai para ir à escola, seus pais lhe dizem: “gambatte!” (forma imperativa). Ou seja, “dê o melhor de si!”

Esse termo é usado no início de uma jornada de trabalho, quando um soldado sai em uma missão, quando um executivo tem que expor um projeto para a empresa ou quando a seleção de futebol entra em campo.

A torcida também entra nesse espírito. Basta ver que ela não para um segundo de entoar seus cânticos, principalmente o “Nippon, Nippon, Gambarê Nippon!” (Japão, Japão, vamos japão!)

Os jogadores japoneses são como os brasileiros. Jogam em clubes da Europa, gostam de luxo, carrões e roupas caras e são celebridades em seu país. Mas as semelhanças param por aí.

Uma vez convocados para o Samurai Blue, o foco é total nas vitórias e nas conquistas. Não há notícia de jogadores japoneses flagrados em restaurantes comendo carne revestida de ouro. Eles ficam concentrados.

Enquanto o Brasil ainda disputava o título da Copa, as notícias davam conta de que Neymar havia concluído a negociação para a compra de um terceiro avião para sua frota.

Vinícius Jr. Havia iniciado uma batalha judicial com a Nike, sua patrocinadora para encerramento de seu contrato porque a empresa lhe fornecia chuteiras de um modelo ultrapassado.

Todas essas questões extracampo não existem para os jogadores japoneses.

Isso explica o motivo de nossa seleção não ter sido recebida com grande entusiasmo na volta para o Brasil. Ficou aquele gostinho de que poderia ter feito mais, pois é nos momentos de derrota que certos fatos são rememorados como erros na convocação e nas substituições, preparo técnico para suportar a pressão de um adversário no final do jogo, preparo técnico e psicológico para cobrança de pênaltis e ostentação em restaurantes enquanto grande parte da população passa fome.

Quem assistiu e acompanhou o desempenho do time japonês certamente percebeu que ele lutou muito e só perdeu porque não era o melhor. Mas cada jogador deu o melhor de si e, por isso, todos foram recebidos como heróis.

É esse o Bushidô e o espírito de Gambaru.


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Hoje, um novo dia de um novo tempo

Por Fernando Castilho


Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO


A intenção de Bolsonaro e sua gangue era, além de roubar e destruir o país, perpetuar-se no poder. Por isso, desde maio de 2019, o capitão tratou de insuflar as massas contra o Congresso nacional e o STF para preparar um golpe.

Enfim, acabou o pesadelo e o Brasil entra numa nova era.

Após as jornadas de junho de 2013, há nove anos, ainda no governo Dilma Rousseff, o país começou a entrar num poço e mergulhar cada vez mais fundo, impulsionado pela trama norte-americana que visava nosso pré-sal.

A deposição irregular de nossa presidenta com a anuência do Supremo Tribunal Federal, a ascensão golpista do vice Michel Temer e a prisão injustificada do ex-presidente Lula levada a efeito por um juiz oportunista de quinta categoria, causaram um vazio institucional preenchido por uma gangue que se organizou sob o comando de um capitão expulso do exército que cometeu vários crimes como rachadinhas e nomeações de funcionários fantasmas, sob a proteção de sete mandatos na Câmara dos Deputados.

A gangue, inicialmente composta pelos 3 filhos com mandatos parlamentares, precisou que Lula fosse preso, além de uma facada ainda duvidosa que causou comoção nacional.

Eleito, Jair Bolsonaro e sua camarilha familiar logo trataram de juntar todo tipo de escroques, negacionistas, conspiracionistas, ultradireitistas de ocasião e fundamentalistas religiosos para, cada qual com um ministério, tratar de destruir a organização estatal e solapar as bases institucionais e civilizatórias que custaram tanto a ser construídas desde o fim da ditadura.

Houve de tudo, desde a transformação da Fundação Palmares em uma instituição que celebra a branquitude, até o desmatamento e garimpo ilegais na Amazônia, incluindo a tentativa por parte do ministro do meio-ambiente de venda de madeira ilegal aos Estados Unidos, passando pela perseguição por parte da ministra da Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, a uma menina de 10 anos, estuprada que pretendia fazer um aborto.

Há que se lembrar do tratamento dado à pandemia por um ministro general que deixou cerca de 400 mil pessoas morrerem enquanto em seu gabinete negociava-se propina de um dólar por dose de vacina.

A intenção de Bolsonaro e sua gangue era, além de roubar e destruir o país, perpetuar-se no poder. Por isso, desde maio de 2019, o capitão tratou de insuflar as massas contra o Congresso nacional e o STF para preparar um golpe.

Na reticência das Forças Armadas, o governante foi sendo obrigado a disputar as eleições, mas para se precaver de uma derrota para Lula, procurou incutir em seus seguidores a certeza de que as urnas eletrônicas eram fraudáveis.

Lula, que começou a campanha Há quase um ano com um índice altíssimo nas pesquisas, foi aos poucos perdendo pontos e chegou ao primeiro turno com sua vitória indefinida.

No segundo turno, Bolsonaro só não levou porque revelou ter tendências pedófilas e porque a deputada bolsonarista-raiz, Carla Zambelli fez a besteira de perseguir com uma arma um homem negro às vésperas da eleição. É possível que ele vencesse se não fossem esses dois fatores.

O uso descarado e desmedido da máquina pública com dinheiro sendo distribuído sem nenhuma preocupação com o dia seguinte quase propiciou sua vitória.

A imprensa, acostumada desde sempre a bater em Lula, viu-se, de repente, na necessidade de negar o projeto bolsonarista porque enxergou nele a ameaça de sua própria sobrevivência, afinal, sem democracia, não existe imprensa.

A certeza de vitória de Bolsonaro era tanta que, após o anúncio de sua derrota, entrou em depressão e se calou por mais de um mês. Esperava que esse gesto insuflasse a massa que ainda o apoia a exigir uma intervenção militar, mas os generais, embora, de maneira inédita, que permitiram acampamentos em frente aos quartéis, não se moveram.

Até o último instante, bolsonaristas ameaçaram a diplomação de Lula, mas esta aconteceu sem problemas.

Lula fez discurso de estadista, como sempre. Chegou, embora não o desejasse, às lágrimas mais uma vez, como em 2002 e mostrou que veio para recuperar o país e fazê-lo crescer, com ênfase no tratamento dos mais pobres.

Bolsonaro perdeu o foro privilegiado e agora, certamente o STF enviará seus processos e pedidos de investigação para a justiça comum que certamente o condenará pelos seus crimes.

É possível que a prisão de seu filho Carlos ocorra mais rapidamente. Esse é um dos grandes medos do pai.

É imprescindível, fundamental, que não se conceda a Bolsonaro nenhum tipo de benesse ou tratamento diferenciado, sob pena de ele voltar a nos assombrar em 2026, embora particularmente ache que o nome da extrema-direita que crescerá seja o de Tarcísio de Freitas por ter o estado de São Paulo, o mais rico da nação nas mãos.

O ministro Alexandre de Moraes, em seu discurso durante a diplomação, garantiu que não haverá complacência nem impunidade. Esperamos que ele cumpra a promessa.

Mas, vamos comemorar porque daqui pra frente os dias amanhecerão mais ensolarados sem as nuvens escuras que nos atormentavam desde 2019.

Lula saberá governar.


domingo, 4 de dezembro de 2022

Lula e o eterno mimimi da indústria nacional

Por Fernando Castilho




Por que apoiar um governo que desdenha para a indústria e não se importa com o fechamento delas? Síndrome de Estocolmo?


Após forte campanha da Confederação Nacional da Indústria (CNI) pela reeleição de Jair Bolsonaro, eis que a entidade, como não poderia deixar de ser, aceita o resultado das urnas e apresenta propostas ao novo governo Lula que se aproxima.

O documento Propostas da Indústria para um país mais forte elenca um conjunto harmônico de objetivos estratégicos de longo prazo, com propostas para subsidiar as ações dos primeiros 100 dias do próximo governo eleito, diante dos desafios do desenvolvimento industrial. A iniciativa leva em consideração as políticas industriais e os desempenhos das principais economias do mundo, que estão cada vez mais ativas ao estimular investimentos e assegurar competitividade global de seus produtos e suas tecnologias.

O setor industrial chegou a ser responsável por 48% do PIB brasileiro na década de 1980. A expansão do setor foi resultado da adoção de políticas públicas que incentivaram investimentos do governo e da iniciativa privada em setores estratégicos como energia, transportes, comunicação, siderurgia, mineração e petróleo. Essas políticas foram decisivas para o crescimento e a consolidação do parque industrial brasileiro que, atualmente, está entre os mais modernos e diversificados do mundo.

Mas, por que a indústria apoiou tanto o governo Bolsonaro?

O ministro da economia, Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, ainda no início do governo, deu o tom do que ele imagina para a política industrial do país. O Brasil, segundo ele, possui vocação agrícola, é um mero produtor e exportador de commodities, não possuindo qualquer vocação industrial.

A afirmação não causou a devida revolta que esperávamos. Ao contrário, parece que nossos capitães das fábricas se conformaram. Tanto é que viram seus números de produtividade e seus lucros baixarem sem nenhuma reação.

Só neste ano, no acumulado de 12 meses o setor apresenta percentual negativo de -2,8%!

O setor industrial está com desempenho 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 18% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, no primeiro governo Dilma que a CNI considera desastroso.

Vimos, durante o período Bolsonaro, indústrias importantes deixarem o país gerando milhares de desempregados.

Segundo a Central Única do Trabalhadores (CUT), inúmeras empresas como Ford, Sony, Roche, Eli Lily, Nike, Fnac, Nikon, Brasil Kirin, Häagen-dazs, RR Donnelley, Lush Cosméticos e Kiehl’s se retiraram do Brasil, sem que uma única providência tenha sido tomada pelo governo brasileiro para tentar mantê-las. A Mercedes-Benz também fechou sua unidade de fabricação de automóveis leves.

É preciso lembrar que quando uma montadora do porte da Ford cessa suas atividades, toda uma cadeia de fornecedores é grandemente impactada, gerando milhares de desempregos.

Por que apoiar um governo que desdenha para a indústria e não se importa com o fechamento delas?

Haveria, então, uma síndrome de Estocolmo?

O governo de transição de Lula tem enfrentado grande resistência do mercado que exige responsabilidade fiscal e não se importa com milhões de pessoas passando fome no país.

São rentistas que sofrem calafrios toda vez que os índices da bolsa caem devido a alguma fala de Lula que não se encaixa em seus dogmas.

Mas, pergunto, quando a indústria cresce e a economia vai bem, a bolsa não sobe?

Será que se habituaram a índices sem nenhuma base, sem nenhum lastro? Números virtuais que não refletem crescimento econômico algum? Uma dança de números embasada em nada real?

A indústria, que nunca se preocupou em exigir de Guedes e Bolsonaro medidas que propiciassem seu crescimento, agora apresentam propostas a Lula.

É lógico que o presidente eleito, afeito à negociação e conciliação, não deixará de considerar as propostas, mas, desde cedo, é preciso que se sente à mesa com a CNI e lhe diga as verdades que precisam ser ditas.

Ocorre-me agora uma frase dita pelo então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mário Amato, lá pelos idos de 1989 quando Lula disputou pela primeira vez a presidência do Brasil: “se Lula for eleito, 800 mil empresários deixarão o país.” Isso ilustra muito bem o ranço que parte do setor industrial tem contra o presidente eleito, apesar de auferir altos lucros nos oito anos de seu mandato.

Mas o governo está mudando, o país voltará a crescer a médio prazo e um ar fresco de esperança impregnará todos os brasileiros, mas é preciso que a indústria volte a reconhecer qual seu caminho e sua participação em nossa economia.

Mais uma vez, como nos outros dois governos Lula, essa gente encherá as burras de dinheiro, mas mesmo assim, continuará com seu eterno mimimi?