Casablanca, de Michael Curtiz |
Enquanto
o avião decola, chega o Major Strasser, comandante nazista disposto a prender Lazlo, mas Rick atira nele quando ele tenta intervir.
Quando a polícia chega, o capitão Reanult salva a vida de Rick ordenando
"prender os suspeitos de sempre''.
Zé
Dirceu é um dos ''suspeitos de sempre''.
Nesse
caso, embora o ex-ministro seja o inimigo público número um, já
parece forçação de barra. Dá a impressão de que Dirceu era um
polvo com tentáculos a roubar compulsivamente em todas as frentes
possíveis ao mesmo tempo.
Delação
de Alberto Youssef.
Jânio
de Freitas em sua coluna de hoje na Folha, intitulada ''Youssef sem fantasia'', entre outras coisas diz que ''há muitos 'ouvi dizer',
contradições e meias informações a granel, no que transborda do
inquérito''.
Sim,
as delações premiadas, tanto de Paulo Roberto Costa, quanto de
Alberto Youssef, e mais recentemente de Pedro Barusco, que deveriam
estar sendo colhidas em sigilo de justiça, vazam quase todos os dias
à imprensa. E os vazamentos invariavelmente citam o PT. Ilegalidade
cometida dentro de um órgão que deveria combatê-la a todo custo.
Aliás,
de acordo com a Lei, esses vazamentos, seletivos ou não, seriam
motivo para que os depoentes perdessem o benefício da delação
premiada.
Dentro
de uma máquina bem azeitada, com várias peças funcionando em
harmonia nos setores vitais da Nação, como Câmara dos Deputados,
partidos de oposição, Ministério Público, Polícia Federal,
Judiciário e grande mídia, lentamente a Petrobras e a presidenta Dilma
Rousseff vão, aos poucos, sendo moídos e triturados.
Da
Petrobras (que ganhou recentemente o prêmio Offshore Technology
Conference 2015)
querem
arrancar seus adjetivos mais importantes como ''orgulho nacional'' e
''maior empresa petrolífera de capital aberto do mundo'',
desvalorizando-a ao máximo para extinguir o regime de partilha do
Pré-Sal, transformando-o de volta em concessão, ou, pior ainda
(para nós), vendê-la a preços módicos como fizeram com a Vale do
Rio Doce.
De
Dilma querem o mandato. Se não der através do impeachment, como
parece que não dará mesmo, será através de sua sangria e do
controle parasitário de seu governo, aproveitando-se de seu letargo
em reagir.
A
urdidura está sendo bem feita.
E
a presidenta e os deputados de seu partido colaboram decisivamente
para isso, não esboçando reação alguma. Vemos mais deputados de
outros partidos, como Jandira Feghali, defendendo o governo do que os
do PT...
O
instituto da delação premiada, também conhecido como extorsão
premiada, encontra muitos críticos de peso, como Miguel Reali Jr.
que se posiciona contrariamente à maneira como o juiz Moro anda
usando o instrumento: através de prisões preventivas estendidas por
tempo indeterminado, para forçar os presos a colaborarem.
E
esse longo tempo de exposição à mídia é muito conveniente para a
sangria de Dilma.
Mas
quem é esse Alberto Youssef?
Nada
mais nada menos que um crápula, um bandido que, segundo seu advogado
Antonio Figueiredo Basto, que tem o doleiro como cliente desde 2000,
quando negociou também a delação premiada no caso Banestado
(Youssef poderia pegar 478 anos de prisão e saiu, segundo Basto,
“zerado”, sem pena a cumprir), está ajudando a desvendar a
corrupção na Petrobras.
É
portanto, a segunda vez!
Um
dos requisitos para que se usufrua da delação premiada é ser réu
primário. Como Youssef saiu ''zerado'' do processo do Banestado, ele
preenche essa condição, mesmo sendo reincidente!
Cabe
saber se a palavra do doleiro merece credibilidade.
Tudo
o que ele e os outros envolvidos falam agora para ser vazado na
imprensa, nos depoimentos por escrito, tem que ser provado.
O
ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, outro beneficiado pelo
instrumento, declarou que o PT recebeu 200 milhões do esquema. A
mídia se apressou em bradar a notícia aos 4 ventos, dando como
verídica a declaração, e omitindo que ele disse que trabalhava no
esquema desde 1997, quando o presidente era FHC.
O
ônus da prova pertence ao acusador e não ao acusado.
Na
acusação a Zé Dirceu, também.
Bem,
então podemos nos sentir confortados? A Justiça prevalecerá,
falará mais alto, e os culpados (os verdadeiros, mas não ''os
suspeitos de sempre'') serão presos?
No
caso do julgamento da Ação Penal 470, o chamado ''mensalão'', não
funcionou assim.
Embora
a maioria das pessoas acredite piamente que justiça foi feita (e
falar o contrário sempre é um risco), o fato é que naquele
julgamento, Zé Dirceu foi condenado (e execrado, primeiro pela
mídia, depois pelas pessoas) com base na chamada Teoria do Domínio
do Fato, criada pelo alemão Claus Roxin para que se pudesse prender
criminosos da Segunda Guerra. Esta teoria está obsoleta nos dias de
hoje, e foi aplicada, segundo Roxin, de maneira equivocada no caso.
Pela
teoria, Dirceu teria que, por ser ministro chefe da Casa Civil,
obrigatoriamente ter conhecimento dos desvios.
Que
desvios?
Desvios
denunciados como sendo de dinheiro público, mas que na verdade eram
recursos do Fundo Visanet, privado.
O
julgamento foi totalmente midiático, conduzido por um juiz vaidoso e
implacável, mais ou menos como o juiz Moro, agora...
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