Por Fernando Castilho
Reconstruir uma xícara que se espatifou no chão para deixá-la como era em seu estado inicial seria equivalente a voltar ao passado.
É inevitável.
De vez em quando surge alguém nas redes sociais com dúvidas ou perguntas
frequentes sobre o que seria exatamente o tempo. E invariavelmente alguém faz
um comentário no estilo terraplanista em que vale muito mais sua opinião, mesmo
que dissociada dos artigos científicos, das pesquisas e de todo conhecimento já
acumulado pela humanidade até hoje.
O
tempo é uma dimensão fundamental que usamos para ordenar e medir eventos e
mudanças no universo, na verdade, a quarta dimensão que se junta ao espaço,
composto das outras três: largura, comprimento e profundidade. É uma parte
fundamental de nossa experiência cotidiana e nossa compreensão do mundo ao
nosso redor. Porém, não é de todo compreendido ainda.
Na
física, ele é considerado uma dimensão contínua e unidirecional, representada
no espaço-tempo como uma seta que só aponta no sentido do futuro. É impensável
vermos um relógio cujos ponteiros se deslocam no sentido anti-horário.
O
tempo é parte integrante da teoria da relatividade restrita de Einstein.
Segundo o físico alemão, o tempo pode ser afetado pela velocidade e pela
gravidade, o que leva a fenômenos como a dilatação temporal, em que passa mais
devagar em regiões de maior gravidade ou em velocidades próximas à velocidade
da luz. Se alguém teve a oportunidade de assistir ao filme Interestelar,
percebeu como o personagem principal, próximo ao horizonte de eventos de um
buraco negro, quase não envelheceu, enquanto sua filha, na Terra, já estaca
idosa.
Além
da relatividade de Einstein, podemos especular que o tempo também é relativo do
ponto de vista emocional. Quando se está esperando ansiosamente a pessoa amada,
o tempo parece que não passa. Os minutos se arrastam longamente. Mas quando se
está com a pessoa amada, o tempo parece passar de maneira muito rápida. Aquelas
horas tão agradáveis, parece que se esvaem em minutos.
A
natureza exata do tempo é um tópico complexo e desafiador. Filosoficamente, tem
sido objeto de discussão há séculos. Há debates em várias disciplinas sobre se
o tempo é uma entidade real e objetiva ou apenas uma construção subjetiva da
mente humana. O filósofo Santo Agostinho escreveu que o passado não existe
porque já aconteceu, o futuro não existe porque ainda não aconteceu e o
presente também não existe porque no instante em que estamos vivendo nele, já
virou passado.
Na
física quântica, há perspectivas que sugerem que o tempo pode ser emergente de
outras propriedades fundamentais do universo, como a mecânica quântica e a
teoria dos campos.
A
impossibilidade de viajar ao passado está fundamentada principalmente nas leis
da física, como a Segunda Lei da Termodinâmica, com a entropia e a teoria da
relatividade. A Segunda Lei da Termodinâmica estabelece que a entropia de um
sistema isolado tende a aumentar com o tempo. Quando do início do Universo, sua
entropia era zero e, desde então, vem aumentando cada vez mais. O aumento da
entropia está diretamente associado à seta do tempo. O clássico exemplo é o da
xícara que, digamos, logo após ser fabricada teria muito pouca entropia, mas
com o passar do tempo, vai ficando cada vez mais desgastada. Um dia, a xícara
cai ao chão e se parte em inúmeros pedacinhos. Reconstruir a xícara para deixá-la
como era em seu estado inicial seria equivalente a voltar ao passado.
A
teoria da relatividade de Einstein é outro pilar que sustenta a ideia de que a
viagem ao passado é improvável. De acordo com ela, a velocidade da luz é uma
constante fundamental e nada pode viajar mais rápido do que ela. Além disso, a
teoria também indica que eventos que ocorrem no espaço-tempo estão sujeitos a
uma estrutura causal bem definida, onde a causa precede o efeito e não o contrário.
Há
quem diga que, se atravessarmos um buraco de minhoca (buracos de minhoca são
formulações teóricas que levantam possibilidade de nos deslocarmos muito
rapidamente por distâncias muito grandes, impossíveis de alcançarmos de acordo
com as leis da física. Assim, se dobrarmos o tecido do espaço-tempo,
conseguiremos um atalho para isso), poderemos chegar a uma estrela distante,
por exemplo, um bilhão de anos-luz de nós. Como sua luz levou um bilhão de anos
para chegar à Terra, o que vemos no céu à noite é uma estrela que existia há um
bilhão de anos atrás e que pode até nem mais existir.
Se
conseguirmos chegar a essa estrela, será que voltamos ao passado de um bilhão
de anos atrás? Não, porque nos deslocamos pelo espaço para chegar lá. Portanto,
chegaremos a essa estrela no tempo presente dela. E também no nosso.
Isso
é muito diferente de voltarmos ao passado sem nos deslocarmos pelo espaço, por
exemplo, na nossa rua.
Segundo
nosso entendimento atual da física, a viagem ao futuro é considerada
teoricamente possível. No entanto, existem algumas considerações importantes a
serem feitas.
De
acordo com a teoria da relatividade, o tempo não é absoluto, mas sim relativo
ao observador e à sua velocidade em relação a outros observadores. Isso
significa que o tempo pode passar mais devagar para um objeto em movimento
rápido em relação a um objeto em repouso.
Um
exemplo prático disso é o chamado "paradoxo dos gêmeos". Se um dos
gêmeos embarcar em uma nave espacial e viajar em velocidades próximas à
velocidade da luz por um período de tempo, enquanto o outro gêmeo fica na
Terra, quando o gêmeo viajante retornar à Terra, ele terá envelhecido menos em
comparação ao gêmeo que ficou. Portanto, do ponto de vista do gêmeo que viajou,
ele "saltou" para o futuro em relação ao gêmeo que permaneceu na
Terra. Lembram-se do exemplo de Interestelar?
No
entanto, é importante notar que esse tipo de viagem ao futuro está limitado a
efeitos relativísticos e a velocidades extremamente altas. Além disso, a viagem
ao futuro não permitiria retornar ao passado e alterar eventos passados, uma
vez que a estrutura causal do tempo permanece intacta.
Atualmente,
não temos tecnologias que nos permitam viajar ao futuro de forma prática e
controlada. As velocidades necessárias para experimentar efeitos significativos
de dilatação do tempo são extremamente altas e atualmente inatingíveis para a
tecnologia humana. No entanto, teoricamente, não há nenhuma lei fundamental da
física que impeça a viagem ao futuro.
Deve-se
ressaltar que a teoria da relatividade ainda não foi completamente unificada
com a mecânica quântica, e a física nos limites extremos próximos aos buracos
negros é objeto de intensa pesquisa e debate. Portanto, as possibilidades de
viagem ao futuro perto de buracos negros são especulações teóricas que ainda
precisam de investigação adicional.
Além
disso, atravessar um horizonte de eventos de um buraco negro é um
empreendimento extremamente perigoso e atualmente está além das capacidades
tecnológicas da humanidade. Portanto, a viagem ao futuro por meio de buracos
negros permanece no reino da especulação teórica.
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