Por Fernando Castilho
Nenhuma alma compareceu com camiseta amarela ou bandeira enrolada no corpo, em frente ao tribunal para se manifestar, protestar ou exigir sua absolvição.
Bolsonaro
foi tornado inelegível por 8 anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e
muita gente comemorou como se fosse seu fim político. E talvez realmente seja.
Raciocino.
Uma
coisa que todos os não bolsonaristas concordam, é que o capitão nunca gostou de
ser presidente do Brasil. Quando digo presidente, quero dizer, mandatário efetivo,
cumpridor de suas obrigações como o mais importante funcionário público do país,
que trabalha para melhorar a vida dos que mais precisam.
Por
várias vezes Bolsonaro manifestou seu tédio pelo cargo e sua preferência era pelo
“cercadinho”, onde recebia apoiadores (muitos deles, pagos), pelos palanques
que usava para atacar a democracia e pelos passeios de jet-ski, enquanto
milhares de pessoas morriam ou ficavam desabrigadas pelas chuvas. Ah, e como
gostava das motociatas!
Quem,
como eu, costumava verificar a agenda presidencial, pôde constatar que na
maioria dos dias seus compromissos se resumiam a uma ou duas reuniões com
ministros, coisa de três horas, somente. Ou seja, Bolsonaro é uma pessoa que
adora o poder, mas detesta governar, por isso, terceirizou sua administração
para Paulo Guedes e, mais tarde, para Arthur Lira. Tempos bons eram aqueles em que,
enquanto deputado, podia ocupar a tribuna da Câmara para despejar seu ódio e
preconceito contra as minorias. Com as rachadinhas completando seu orçamento.
Na
última sexta-feira, 1º de julho, dia dos votos dos ministros do TSE, que lhe
impuseram uma inelegibilidade de 8 anos, nenhuma alma compareceu com camiseta amarela
ou bandeira enrolada no corpo, em frente ao tribunal para se manifestar,
protestar ou exigir sua absolvição. Não houve quem patrocinasse. Bolsonaro sabe
que deixou de ser mito.
Quem
votou em Bolsonaro em 2022 só para derrotar o PT, ou quem não é bolsonarista-raiz,
se decepcionou quando o capitão fugiu para Orlando deixando gente acampada por
dois meses em frente aos quartéis, utilizando banheiro químico, enquanto ele
morava numa mansão cedida por um lutador de MMA. Mais gente se decepcionou
quando foi revelado o esquema para roubar as joias do Estado brasileiro e a
falsificação da carteira de vacinação. Mais decepção ou revolta virá quando a
CPMI provar que ele foi o mentor do golpe de 8 de janeiro.
Já há movimentação na grande mídia e entre parlamentares
visando escolher o próximo mito ou herói brasileiro. Para eles, infelizmente,
Sergio Moro já não veste mais o figurino. Querem encontrar outro para contrapor
a Lula.
Bolsonaro não deseja apoiar Tarcísio ou Zema em 2026, pois
isso não significaria sua volta ao poder. Se não puder ser ele, só sobrará
Michelle.
Caso Michelle decida disputar com Lula ou com quem ele
indicar e, numa hipótese distante, consiga vencer em 2026, o capitão ficaria
numa posição bastante cômoda. Teria o nome Bolsonaro de volta à ribalta e poderia
utilizar sua esposa como títere para suas pautas de costumes e para a
continuidade do esquema de rachadinhas sem precisar trabalhar.
Outra possibilidade não excludente da anterior é, como ele
mesmo cogitou, se candidatar a vereador no Rio de Janeiro. Salário,
possibilidade de continuar a falar asneiras e, claro, rachadinhas.
Todas essas elocubrações, porém, caem por terra, caso seu
Jair seja condenado e preso.
Embora haja sempre no Brasil uma tendência a se afrouxar
decisões como essa, que alguns já começam a classificar como muito pesadas, é o
que devemos exigir de nossa Justiça.
Sem Bolsonaro, o bolsonarismo, dependendo do sucesso do
governo Lula, poderá até seguir porque se tornou sinônimo de extrema-direita e
de fascismo, mas o tempo para o capitão terá acabado.