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domingo, 17 de setembro de 2023

Ao lado das medalhas, uma mancha indelével nas fardas verde-oliva

Por Fernando Castilho

Foto: Fernando Souza/AFP

Por que e como os acampamentos dos golpistas em frente aos quartéis foram permitidos? Quem articulou?


Em meu texto anterior, O relatório da CPMI poupará os parlamentares golpistas?, defendi que o relatório da senadora Eliziane Gama na CPMI do 8 de janeiro incluísse, além do indiciamento dos militares envolvidos, uma moção de repúdio ao exército por dar apoio à súcia golpista, destacando que a democracia no Brasil só não foi destruída porque no momento mais crucial, naquele fio da navalha em que o novo governo se encontrava, Lula não solicitou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que era somente o que as Forças Armadas estavam aguardando.

Por que essa punição, ainda que branda?

O exército, como instituição, não pode ser indiciado em sua totalidade. Somente aqueles militares que participaram direta ou indiretamente da intentona poderão ser condenados.

Porém, refletindo um pouco mais sobre como os acampamentos foram sendo montados em frente aos quartéis, podemos especular sobre como isso foi possível.

Todos sabemos – e isso foi explicado na última sessão da CPMI – que o exército não permite que nenhuma pessoa pare um carro ou permaneça por mais que alguns segundos em frente a um quartel porque o local é designado como área de segurança nacional. Se alguém ousar desobedecer, imediatamente soldados armados com fuzis poderão executar a prisão.

As pessoas inconformadas com a derrota de Jair Bolsonaro começaram aos poucos a montar acampamentos em frente aos quartéis, notadamente o de Brasília, sem que fossem incomodadas.  Pensando nisso, imagine a primeira pessoa que chegou com um carro para descarregar barracas e mantimentos. Ela deveria ter sido retirada dali no mesmo instante em que parou o carro, certo?

Mas, por que isso não aconteceu?

Só há uma possibilidade. Os soldados de plantão já tinham ordens para permitir a montagem dos acampamentos e os acampados já sabiam disso. Ou seja, já havia uma combinação prévia para que isso acontecesse.

Se essa suposição for verdadeira – e acredito que seja – os organizadores já tinham se reunido com o Alto Comando do Exército ou com o ministro da defesa, General Paulo Sérgio.

Quero dizer que essa combinação se deu entre o comando dos golpistas, muito provavelmente Jair Bolsonaro ou seus prepostos, generais Braga Netto e Augusto Heleno. Vale lembrar que os dois faziam parte do grupo que foi montado e que se reunia diariamente numa casa alugada para definir as estratégias após a vitória de Lula, enquanto Bolsonaro se refugiava nos Estados Unidos.

É a isso que a CPMI tem que chegar.

Uma vez permitidos os acampamentos, o exército forneceria água e energia elétrica e permitiria que empresas contribuíssem com alimentos, criando condições para que esses grupos fermentassem durante dois meses seu ódio e ousadia para que no dia 8 de janeiro agissem como ponta de lança do golpe, invadindo a Praça dos Três Poderes e implantando o terror.

Em seguida, num plano muito bem elaborado, diante da gravíssima situação, um presidente atônito e apavorado que havia tomado posse há somente 7 dias, não hesitaria em decretar a GLO.

Porém, o ministro Flávio Dino e Lula, escaldados que são, perceberam a armadilha.

Lula conclamou governadores e ministros do STF para se juntarem a ele para a defesa da democracia e nomeou um interventor para debelar os atos golpistas.

A essa altura, não foi possível mais insistir no golpe, já que as Forças Armadas como um todo a ele não aderiram, preferindo cumprir as novas ordens emanadas pelo interventor Capelli.

Lula parece ter hoje as forças sob seu comando, por isso, é fundamental que seja feita uma limpeza nelas.

Cabe à Polícia Federal indiciar militares golpistas como Braga Netto, Augusto Heleno e o general Dutra e cabe à CPMI indiciar todos e dar uma lição de moral que maculará para sempre a honra do exército através de uma moção de repúdio por ação e omissão por uma tentativa de golpe que colocaria de novo no poder um arruaceiro.

Ao lado das medalhas, uma mancha indelével nas fardas verde-oliva.

 


domingo, 16 de abril de 2023

A intentona golpista de 7 de setembro de 2021

Por Fernando Castilho



Bolsonaro, se nascesse guerreiro viking, mijaria nas calças diante de qualquer inimigo.


Não consigo me esquecer daquele 7 de setembro de 2021, um dos dias mais tensos que vivi.

Bolsonaro, abertamente e em plena luz do dia, utilizou as comemorações do Dia da Independência para tentar dar um golpe no país e se perpetuar no poder. Isso, bem antes das eleições de 2022!

Para isso, convocou, pelas redes sociais, caravanas de todo o Brasil e mobilizou centenas de caminhoneiros para ocupar a esplanada dos ministérios.

Os discursos, tanto em Brasília quanto em São Paulo foram fortes e golpistas incitando veladamente a população presente a promover a mesma quebradeira que iria acontecer em 8 de janeiro de 2022. Só faltou a palavra de ordem. E só não enxergou quem não quis.

À certa altura Bolsonaro teria consultado seu ministro da defesa, Fernando Azevedo e Silva, perguntando se as Forças Armadas estavam prontas. Azevedo teria respondido que elas não estavam coesas para isso e que as coisas poderiam dar errado, o que provocaria ao fim da intentona, sua prisão.

Bolsonaro, então tremeu de medo. Ainda mais depois de ter xingado o ministro do STF, Alexandre de Moraes em seus dois discursos. Temia também que Moraes retaliasse começando pela prisão do ponto mais fraco da família, o filho Carlos que, por ser vereador, não possuía foro privilegiado.

Não houve saída a não ser rogar ao ex-presidente Michel Temer, padrinho de Moraes no STF, que redigisse uma carta em seu nome pedindo desculpas.

Bolsonaro, se nascesse guerreiro viking, mijaria nas calças diante de qualquer inimigo.

Escapamos do golpe nesse fatídico dia. Se tivesse dado certo, Lula provavelmente estaria preso agora, o país afundado numa crise sem precedentes, gente armada pelas ruas e uma iminente guerra civil. Adeus, democracia.

Mas por que o capitão morte não foi preso por tentativa de golpe de estado naquele 7 de setembro de 2021?

A resposta está em Augusto Aras, o Procurador Geral da República, que não considerou o ocorrido como uma ameaça, impedindo o STF de iniciar um processo.

Agora que Bolsonaro não possui mais foro privilegiado, não é preciso que se ouça a PGR.

Poderia ser uma bela oportunidade de prender esse golpista.

 

 


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dois longuíssimos meses até a volta da esperança

Por Fernando Castilho




O que resta ao ocupante da cadeira presidencial nesses próximos dois longuíssimos meses?


O tempo é relativo.

Para quem, em frente ao coqueiro verde, já tinha fumado um cigarro e meio e nada de Narinha chegar, o tempo parece uma eternidade.

Para quem está desenganado pelos médicos, dois meses passam num piscar de olhos.

Para Lula, que tem a real possibilidade de vencer as eleições presidenciais em 2 de outubro, dois meses é tempo longo demais, pois nesse período relativamente curto, reviravoltas são possíveis, mas não prováveis.

Considerando que já há mais de dez meses as posições de primeiro e segundo colocados permanecem praticamente inalteradas, somente um acontecimento totalmente fora da curva pode arrancar a vitória de Lula.

Além disso, há um empenho pessoal do capitão em ser derrotado. Até seus aliados mais próximos perceberam, ainda que tardiamente e já se desesperam.

O discurso golpista durante o lançamento de sua campanha assustou a elite que correu a assinar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito! (assine aqui)

O capitão não falou de controle da inlação, recuperação da economia e do emprego ou de crescimento do país.

Por isso, até Febraban e Fiesp, dois dos alicerces que congregam o filé do empresariado brasileiro, se fizeram presentes.

Restou ao mandatário da nação, apressadamente, desdenhar da iniciativa e, mais tarde, escrever ele próprio um manifesto com as únicas ferramentas que tem à mão: 27 palavras e o Twitter.

Se em 2018 essa elite apoiou decisivamente sua campanha, agora, preocupada com as consequências econômicas de um golpe, desembarca solenemente dela. O que será que o capitão imaginava? Que dariam apoio a essa aventura?

Além disso, o secretário de defesa norte-americano, Lloyd J. Austin III, em reunião com o ministro da defesa brasileiro, general Paulo Sérgio, manifestou sua confiança nas urnas eletrônicas, sugerindo que nenhuma ousadia golpista teria o apoio de seu país.

Com isso, as Forças Armadas, enquanto instituição, não deverão apoiar uma ruptura, embora haja alguns focos que permanecerão isolados, mas sem muita força.

O resultado é que o capitão está ficando só.

Não vence no voto e não consegue dar um golpe, embora continue a seguir na tentativa.

O que resta a ele, afinal?

Se Lula vencer em primeiro turno, imediatamente o capitão se transformará em cachorro morto.

As traições, que já estão acontecendo principalmente no Nordeste, aumentarão exponencialmente, afinal, para que ficar do lado de quem já não distribui mais recursos de orçamentos secretos?

A partir de janeiro próximo as denúncias de crimes de responsabilidade, que já somam mais de 40, começarão a gerar enxurradas de processos na primeira instância, já que o capitão perderá o foro privilegiado.

Na grande maioria deles, o então ex-presidente será condenado e, dependendo da celeridade das instâncias superiores, será preso daqui a pouco tempo, quando se esgotarem os recursos em terceira instância e não em segunda, como ele sempre defendeu.

É o futuro de quem desde cedo se propôs a entrar para a lata de lixo da história.

Enquanto isso, seguimos aguardando esses longuíssimos próximos dois meses.


sexta-feira, 13 de maio de 2022

Ele tentará o golpe

Por Fernando Castilho


Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo



Bolsonaro é burro, mas não tanto a ponto de insistir em ficar mais 4 anos no poder pelo voto. Vai perder e até o general Heleno, tão burro quanto ele, sabe disso


É difícil tentar não ser mais do mesmo, mas é inevitável que, devido aos movimentos dados nos últimos meses pelo presidente Jair Bolsonaro, os militares mais próximos a ele e parlamentares que lhe dão sustentação, que tenhamos certeza de que o golpe será tentado, embora não signifique que terá êxito. Provavelmente não terá.

O capitão é um homem despreparado e totalmente incapaz de planejar qualquer coisa, sobretudo uma ruptura institucional dessa envergadura.

Não basta querer romper com o processo eleitoral, é preciso estruturar o antes, o durante e o depois.

No último 7 de setembro, Bolsonaro, guiado somente por seu ímpeto, sem nenhum planejamento, tentou o golpe, mas teve que refugar porque o apoio com o qual ele contava não veio. Foi preciso se humilhar diante do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ou seja, não planejou o antes e o durante.

Imaginem planejar o depois. Imaginem ter que segurar as pontas da inflação e do preço da gasolina. Imaginem governar após um golpe sem apoio da população, da imprensa e da elite econômica e financeira que verá os investimentos no Brasil serem cortados. Nem os EUA apoiam o golpe.

Mas os meses passaram e as eleições se aproximam cada vez mais. E com elas, as manifestações insanas do capitão sugerindo a possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas e deixando claro que não aceitará nenhum outro resultado que não sua vitória.

Ao mesmo tempo, o atual ministro da defesa põe as manguinhas pra fora ao exigir ser o representante das FFAA na Comissão de Transparência das Eleições, atribuição que constitucionalmente não compete à instituição.

O ministro do TSE, Edson Fachin reagiu rejeitando novas sugestões dos militares ao processo eleitoral, embora seja o grande responsável por essa barafunda ao incluir a caserna entre aqueles que poderiam contribuir para o aperfeiçoamento das urnas. Ora, se há 100% de segurança, se há a possibilidade de auditoria dos votos e se o hackeamento é impossível, por que pedir às FFAA uma verificação do sistema?

Já faz 6 meses que Lula e Bolsonaro mantém praticamente os mesmos índices nas pesquisas e o mesmo distanciamento. O único fato novo significativo e com algum poder de alterar esse estado de coisas é o evento de lançamento da pré-candidatura Lula/Alckmin ocorrido no sábado com sucesso tão grande que pode dar a Lula mais alguns pontinhos.

Bolsonaro é burro, mas não tanto a ponto de insistir em ficar mais 4 anos no poder pelo voto. Vai perder e até o general Heleno, tão burro quanto ele, sabe disso.

O capitão não quer dar um golpe, somente. Ele precisa dar um golpe para continuar no poder e não ser preso. Quase todos os ministros já deixaram o governo para tentar um cargo legislativo porque sabem que podem ser presos em caso de derrota do capitão, mas todo aquele pessoal que ainda está com ele vai embarcar na aventura.

Resta saber se ele terá forças para a tentativa.

O 7 de setembro deve ter servido de lição. Muito possivelmente já haja um bom contingente de milicos a apoiá-lo, mas ainda não deve ser a maioria dos quartéis.

E é isso que pode causar um confronto extremamente perigoso. Será que Bolsonaro planejou o depois?

Vai fechar o STF e o Congresso?

Como lidar com a resistência que deverá vir?

Quais seriam as consequências do ato impensado?

Mais um monte de mortes?

Diante dessa grande ameaça, vamos fazer como muita gente fez antes do golpe contra Dilma Rousseff? Vamos duvidar e confiar nas instituições e no Estado de Direito?

É preciso que os partidos que se uniram à chapa Lula/Alckmin, os sindicatos, os movimentos sociais e a sociedade civil fortaleçam o apoio ao TSE e ao STF, hoje as primeiras trincheiras da resistência contra a ameaça de ditadura que está se desenhando.

É também imprescindível uma conversa e uma costura com setores das FFAA que não fecham com Bolsonaro para tentar neutralizar qualquer movimento mais arrojado da ala golpista.

Interlocutores há para isso, como o ex-ministro da Defesa durante os governos Lula e Dilma, Nelson Jobim, o ex-ministro da Defesa durante o governo Dilma, Aldo Rebelo e o ex-ministro da Defesa durante o governo Temer, Raul Jungmann. Todos eles têm bom trânsito entre os militares.

É preciso que as forças que defendem a democracia não esperem, mas que se antecipem.

Em tempo: nossa grande imprensa, que depende da democracia para manter a liberdade de expressão, imprescindível aos jornais, embora certamente não apoie o golpe, parece não ter compreendido ainda a ameaça que está por vir. Faz ares de quem quer ostentar uma neutralidade político-partidária que só favorece sua futura destruição.

Se a ficha não cair logo, será apontada no futuro como cúmplice de mais um período sombrio e cruel de nossa história.


Também publicado no Jornal GGN:

https://jornalggn.com.br/opiniao/ele-tentara-o-golpe-por-fernando-castilho/

Também publicado em Piauí Hoje:

https://piauihoje.com/blogs/e-o-que-eu-acho/ele-tentara-o-golpe-401161.html

Também publicado em Construir Resistência:

https://construirresistencia.com.br/ele-tentara-o-golpe/

Também publicado em Medium:

https://medium.com/@fernandocastilho/ele-tentar%C3%A1-o-golpe-f770f16a8c11



segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Militares baterão continência a Lula?

Por Fernando Castilho


A Folha noticiou hoje que o comandante da Força Aérea Brasileira, Carlos de Almeida Baptista Junior, em entrevista afirmou que os militares baterão continência caso Lula ou qualquer outro candidato assuma o lugar de Bolsonaro no ano que vem. Observem que ele fala em nome de todos os demais.

O colunista Josias de Souza apressou-se em dizer que a afirmação seria pleonástica e que por isso mesmo deve ser ouvida com cuidado.

Carlos de Almeida é tido como um dos militares mais bolsonaristas da Aeronáutica. Suas redes sociais estão repletas de postagens de Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e tantos outros.

Para Josias, a afirmação, antes de nos assossegar, provoca desassossego pela obviedade.

O que o colunista teme?

Será que era de se esperar uma revolta nos quartéis e um golpe para evitar que qualquer outro que não Bolsonaro tome posse em janeiro de 2023?

Será que os militares embarcariam numa aventura golpista?

O Capitão Morte bem que tentou um golpe em 7 de setembro último, mas não obteve o apoio imaginado das Forças Armadas e recuou.

Hoje se sabe que, além de divididas, boa parte dos militares já acenam para Lula porque já têm indícios suficientes de que ele tem reais possibilidades de vender a disputa.

Não há dúvida de que foi durante os dois governos do ex-presidente que as Forças Armadas receberam maior volume de recursos e se reequiparam.

Carlos de Almeira poderia ter desconversado e deixado de responder à pergunta da Folha, mas preferiu dizer o que acha sobre o papel dos militares quanto ao resultado das eleições porque essa deve ser a atual postura dos generais, exceto os que estão mamando nas tetas do governo, recebendo altos salários acumulados com seus soldos da caserna.

De qualquer forma, seria interessante que Lula intensificasse a interlocução com os mais importantes representantes das Forças Armadas para tentar pulverizar o ranço que alguns sentem por ele.

Partindo de um militar bolsonarista, a entrevista, antes de desassossegar, nos assossega. E desassossega o presidente

Será que essa entrevista ocorreu antes ou depois do episódio do frango com farofa?