Por Fernando Castilho
Como pode uma pessoa sacrificar todo um país de 213 milhões de habitantes para satisfazer sua ambição pessoal em conseguir um cargo vitalício de excelente remuneração e prestígio? A pergunta já é uma resposta
Geraldo Brindeiro exerceu o cargo de Procurador Geral da República (PGR) nos governos Fernando Henrique Cardoso.
Por não dar andamento às denúncias de corrupção no governo,
teve que conviver com o apelido de engavetador geral da República e poderia ser
chamado também de Geraldo Blindeiro (com L) porque blindava FHC de tudo quanto
era acusação.Foto: Alan Marques - Folhapress
Os tempos avançaram e agora temos mais um engavetador, o senhor Augusto Aras, que poderia ser chamado de Augusto Oras porque a cada denúncia de possíveis crimes contra o presidente Jair Bolsonaro, é como se ele dissesse: oras, pra que investigar isso? Oras, deixa pra lá.
Quando Aras completou seu primeiro mandato de dois anos e estava blindando o capitão de quaisquer acusações, imaginava-se que o motivo seria o pleito que fazia junto ao presidente para que fosse ele o indicado à vaga do ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Mas a indicação recaiu sobre André Mendonça, o mais terrivelmente evangélico. Bolsonaro já havia indicado Nunes Marques anteriormente, outro terrivelmente evangélico, para o lugar de Celso de Mello, preterindo Aras.
Como já havia perdido a vaga, o PGR passou a lutar para ser aprovado na sabatina feita pelo Senado para um segundo mandato à frente do órgão.
Lá, naquela casa, para alguns senadores oposicionistas, Aras mostrou-se disposto a mudar de postura. Não mais pediria para arquivar tudo contra o presidente porque já não mais poderia contar com a vaga no STF. Para outros, favoráveis ao presidente, entretanto, prometeu continuar como era antes, afinal, muitos têm o rabo preso também.
E para a PGR voltou Augusto Aras.
A esperança voltou depois que o Capitão Morte anunciou que, se reeleito, indicará mais duas pessoas ao STF para as vagas de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que se aposentarão em 2023. Por que não ele?
É por isso que Aras cumpre seu papel como cãozinho obediente todos os dias.
Como pode uma pessoa sacrificar todo um país de 213 milhões de habitantes para satisfazer sua ambição pessoal em conseguir um cargo vitalício de excelente remuneração e prestígio? A pergunta já é uma resposta.
Os ministros do STF têm, por norma e costume, submeter quaisquer pedidos de investigação ou notícias-crime ao PGR para ele se manifeste e, só depois, de acordo com o retorno, levar adiante os processos ou não.
Ultimamente, principalmente Alexandre de Moraes e Rosa Weber, têm manifestado contrariedade com os pedidos de arquivamento de Aras. Moraes, inclusive, já driblou um desses pedidos.
Mas, em nome da Constituição que todos os ministros juraram defender, as opiniões de Augusto Aras têm que começar a ser ignoradas, se quisermos que Bolsonaro comece já a responder por seus crimes.
Até os resultados da CPI da Covid-19 que foram enviados à PGR ainda não foram levados adiante, num total desrespeito aos senadores.
É por isso que o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, está reunindo assinaturas para abertura de processo de impeachment contra Aras.
Dará certo?
Não sabemos, mas servirá, ao menos, para dar uma sacudida no STF e escancarar a prevaricação que o PGR comete quase todos os dias.
Foto: Pedro França - Agência Senado