Por Fernando Castilho
Os grandes impérios foram, com o tempo, reduzindo em tamanho devido às revoluções pela libertação levadas à cabo pelos países colonizados, mas um certo ar de deboche persiste quando Charles exibe uma coroa com essas pedras.
Charles, o primogênito de Elizabeth II, enfim, conseguiu se tornar Charles III.
A
cerimônia de coroação reuniu milhares de pessoas admiradoras ou não da família
real, como costuma acontecer em eventos como esse.
A
coroa, o símbolo maior da realeza de Charles, possui, entre outras joias, um
enorme diamante chamado de “Pedra da África”.
Essa
pedra não só simboliza a realeza, mas também o imperialismo britânico que
dominou e explorou boa parte do continente africano. Países como África do Sul,
Egito, Sudão, Gana, Nigéria, Somália, Serra Leoa, Tanzânia, Uganda, Quênia,
Malawi, Zâmbia, Gâmbia, Lesoto, Maurícia, Suazilândia, Seicheles e Zimbábue
foram colonizados pelos antepassados de Charles que não se preocuparam somente
em impor sua cultura, mas, principalmente, saquear suas riquezas e colocar
esses povos de joelhos. A Pedra da África é uma dessas riquezas saqueadas.
Os
grandes impérios foram, com o tempo, reduzindo em tamanho devido às revoluções
pela libertação levadas à cabo pelos países colonizados, mas um certo ar de
deboche persiste quando Charles exibe uma coroa com essas pedras.
O
fato me fez lembrar de outro império que soçobrou, o japonês.
O
Japão, durante a 2ª Grande Guerra, espalhou seus tentáculos por Hong Kong (na
época um protetorado britânico) e as outras regiões nas Filipinas. Kuala
Lumpur, Singapura, Birmânia e Indonésia.
Quando
chegou à China, o bicho pegou porque Estados Unidos e a própria União Soviética
trataram de barrar o avanço imperialista.
O
Japão planejou avançar sobre território manchu e pleno e rigoroso inverno. O
cálculo do estado-maior nipônico previa que, por ser o japonês um ser superior,
cada soldado deveria destruir um tanque inimigo com coquetéis molotov.
É aí
que entra o depoimento de meu ex-sogro, um imigrante japonês que lutou nessa
guerra. Na TV passava uma notícia dando conta da morte do imperador Hirohito.
Sempre achei que todo súdito japonês tinha o mandatário como uma divindade na
Terra, mas meu ex-sogro avançou em direção à TV xingando Hirohito e quase
quebrando o aparelho, tamanha a sua fúria.
A
cena me assustou. Esperei o homem se acalmar e perguntei o porquê daquilo.
Daí
me contou que ele e seus companheiros saíram para o território manchu com uma
mochila de alimentos, a farda e alguns cobertores finos. A neve chegava quase
ao joelho.
Os
soldados conseguiram avançar até certo ponto quando os víveres acabaram e o que
sobrou para comer eram gravetos, pequenos insetos e até cobra.
O
frio os congelava e vários deles não aguentaram e sucumbiram.
O
Japão foi derrotado, o imperador perdeu sua divindade e meu ex-sogro voltou
para casa totalmente arruinado e depressivo. Por isso, o ódio.
Conto
essa história individual, mas não podemos esquecer também as atrocidades
cometidas pelo exército japonês que, ao chegar numa aldeia ou cidade, o
primeiro crime que cometia era o estupro seguido de assassinatos de homens e
crianças.
Esse
é o imperialismo que também a Grã-Bretanha praticou não só na África, mas
também na Ásia e que nunca deveria ser valorizado.
Mas
o povo inglês que sabe que foi beneficiado pela exploração feita no passado, ainda
comparece em massa para assistir a coroação de um homem que nunca deu duro na
vida e que herda o produto da crueldade cometida pelos seus antepassados.