Por Aquiles Marchel Argolo
Nos
anos 90, o cantor Lulu Santos desabafou no programa do Faustão sobre como os
sertanejos e a agromúsica ajudaram a eleger Fernando Collor. Como prêmio ele ficou
anos na geladeira da emissora, só que ele estava certo e a coisa hoje é pior.
Acontece
que esse estilo de música não domina as rádios, as paradas do Spotify à toa.
Ele faz parte de um projeto do agronegócio para fazer sua boa imagem por meio
da indústria cultural e sua maior arma é fazer acreditar que o agro é pop por
meio do sertanejo universitário.
Nos
anos 90 as duplas sertanejas dominaram as paradas e foram símbolo da era
Collor, com os mais pobres perdendo suas poupanças, enquanto grandes latifundiários
continuaram enriquecendo ao som de Leandro e Leonardo e Zezé Di Camargo e
Luciano.
Nos
anos 2000, novas duplas surgiram e com a saturação do estilo romântico pop,
apareceram os universitários, que traziam roupagem mais pop, próxima ao rock e
eletrônico e cooptava o visual vaqueiro mas jamais falando sobre as agruras do
homem do campo.
Na
verdade, o sertanejo pop romântico e o universitário sempre negaram pautas que
seriam de interesse do homem comum do campo, como reforma agrária, grilagem de
terra, morte de pequenos agricultores e focou a produção em falar de amores
alcoólatras e sexo.
A
pauta sempre foi não ter pauta e ser uma arma de alienação em massa.
Já
repararam na quantidade de rádios sertanejas que existem? Não é como se
houvesse escolha. Esses artistas são forçados goela abaixo, muitos ganhando
prêmios sob critérios bem duvidosos.
Enquanto
escrevia essa sequência de tweets, só três músicas entre as vinte mais tocadas
do Spotify não eram de sertanejo universitário.
Enquanto
esses artistas distantes politicamente da realidade do Brasil ganham dinheiro
como clones um dos outros, artistas independentes são sufocados pela ausência
de espaço e investimento.
A
música "batom de cereja" da dupla Israel e Rodolfo concorreu a
prêmios na Globo, enquanto trabalhos incríveis foram sumariamente ignorados.
E
o público? Ah, o público...
O
público jamais admite que seu gosto está sendo guiado. Que estamos em um mar de
monocultura onde a variedade é tirada, consequentemente o poder de escolha.
A
ilusão que o sertanejo universitário representa o Brasil serve aos interesses
de homens por trás dessas duplas parecidas.
É
coincidência que a classe sertaneja que apoiou Collor hoje apoia Bolsonaro, que
por sua vez serve ao lobby dos grandes pecuaristas?
Pois
é. A indústria cultural controla a gente como marionete e a gente engole
bonitinho sem nem questionar"
Aquiles
Marchel Argolo é jornalista
Título por Fernando Castilho