Por Fernando Castilho
É preciso levarmos à sério o perigo que Salles representa para o país.
A
frase, dita naquela tenebrosa reunião ministerial conduzida pelo então presidente
Jair Bolsonaro em 20 de abril de 2020 não pode jamais ser esquecida. Seu autor, como sabemos, foi o então
ministro do meio-ambiente, Ricardo Salles.
Mais
tarde, Salles não conseguiu se sustentar no cargo devido à pressão exercida
contra ele devido à tentativa de venda de madeira ilegal para os EUA abortada
por aquele país.
Mas
ele não morreu politicamente. Ao contrário, um homem que se entregou de corpo e
alma para facilitar o garimpo ilegal na Amazônia, facilitar desmatamento e
destruir todos os marcos regulatórios ambientais, conseguiu se eleger deputado
federal com incríveis 640 mil votos obtidos dos paulistas!
Salles
volta à carga agora como relator da CPMI do MST que visa não somente
criminalizar o movimento, mas também atacar o MTST e, por conseguinte, tentar
abalar Guilherme Boulos, tido como favorito à eleição para a prefeitura de São
Paulo em 2024. Quem sabe, prendê-lo. O ex-ministro vem com sangue nos olhos
para a disputa pelo governo da capital. E é aí que mora o perigo.
Se
Ricardo Salles conseguir seu intento, a prefeitura será seu trampolim para a
disputa presidencial de 2026, aproveitando o possível vácuo deixado por Jair
Bolsonaro que provavelmente será declarado inelegível por 8 anos e
possivelmente, preso.
É
preciso levarmos à sério o perigo que isso representa para o país.
Hoje,
tem-se como quase certo que o nome para a sucessão de Bolsonaro como líder com
potenciais chances de representar a extrema-direita no Planalto é o governador
de São Paulo, Tarcísio Freitas, afinal, ele comanda o maior orçamento da União
e certamente ambiciona chegar lá.
É
natural que o governo do presidente Lula veja com especial atenção qualquer
possibilidade de ascensão de Tarcísio que até agora tem se comportado quase que
um sucessor da maneira tucana de governar com uns toques aqui e ali de bolsonarismo.
Digamos que seja um Bolsonaro um tanto mais light, um pouco mais preparado e
menos afoito a fazer e falar asneiras.
Outro
nome que até chegou a sonhar com o Planalto é o de Sergio Moro que está vendo seu
futuro político sendo destruído. Nas próximas semanas ou meses, o TSE poderá
cassar seu cargo de senador e a denúncia de Tacla Duran pode mandá-lo para a prisão.
Pode-se
falar em Romeu Zema também, mas ainda não se vê uma sinalização clara de que disputará
o Planalto com grandes chances de se eleger.
Claro
que não se pode desprezar políticos que à princípio podem parecer seres apenas
ridículos e inofensivos como Nicolas Ferreira, afinal o que era Bolsonaro antes
de vencer as eleições de 2018 se não um falastrão desprezado até por seus pares
na Câmara?
É a
atenção a esse possíveis postulantes que nos distrai do azarão, Salles.
Salles
é um Bolsonaro muito mais perigoso que seu ex-chefe. Embora não seja mérito algum
ser mais inteligente que o capitão, Salles é também esperto e costuma vir pra
cima com a faca nos dentes em sua fúria destruidora. Esse sim, se não for
contido, tem o potencial de surpreender e chegar lá.
Embora
não haja à princípio como criminalizar legalmente tanto o MST como o MTST, já
que os movimentos se notabilizam por se ater ao cumprimento das leis, o apoio
da grande mídia, já praticamente declarado ou implícito à CPMI, servirá para
que esta cause não só estrago ao governo federal, mas também alavanque a candidatura
de Ricardo Salles.
Por isso,
ainda que os movimentos sejam independentes e não atrelados, é fundamental que
o governo mobilize todas as suas forças, através dos deputados e senadores da
base, para que vença esta batalha, sob pena de vermos mais uma serpente saindo
do ovo do fascismo.