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quarta-feira, 22 de março de 2023

Os Bolsonaros em todo lugar ao mesmo tempo

Por Fernando Castilho



Com o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as joias trazidas para o Brasil ilegalmente.


Os diretores de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Dan Kwan e Daniel Scheinert teriam se inspirado no bolsonarismo para fazer o filme que transita por multiversos? Poderiam ter utilizado o ex-presidente Jair Bolsonaro como ator principal, em vez de Michelle Yeoh? Ganhariam o Oscar de melhor história e roteiro com a temática bolsonarista? O senador Flávio Bolsonaro e seus irmãos venceriam como melhores coadjuvantes? E se vencessem, trariam a estatueta para o acervo privado de Jair?

Vejam como o bolsonarismo se encontra num outro universo e numa outra dimensão.

Flávio, o 01, concedeu rara entrevista à Folha de São Paulo nesta segunda (20).

Com o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as joias trazidas para o Brasil ilegalmente.

A Folha inicia a entrevista perguntando por que os presentes não foram declarados, ao que Flávio candidamente responde que não tem muito o que falar porque os mimos vieram lacrados e que não houve má-fé em entrar com eles no país sem declará-los. Se houvesse, não iriam passar pelo raio-x da Receita.

Ora, senador, ficou claríssimo pelas imagens das câmeras de segurança que havia dois pacotes, cada um em uma mala. Um passou sem ser incomodado e o outro, o de 16,5 milhões, foi pego na malha fina. Aliás, é justamente porque o ex-ministro Bento Albuquerque não era nenhum mané nessa prática, que dividiu os presentes nas duas malas. Se um é pego, o outro passa.

À maioria das perguntas dos repórteres Júlia Chaib e Thiago Rezende, Flávio respondia com um “não sei” ou “pergunta pra ele”. Parece mesmo que vive numa realidade paralela que desconhece os fatos noticiados pelos jornais.

Sobre as joias masculinas que ficaram em poder de seu pai e que deverão ser devolvidas por determinação do TCU, o senador afirmou que Jair foi ao Comitê de Ética da Presidência que o teria autorizado a manter o presente consigo. Só se aconteceu num universo paralelo, pois o TCU já tinha uma decisão desde 2016 que afirma que os presentes recebidos por presidentes passariam a integrar o acervo da União e não o particular de Jair.

Flávio, trazendo talvez de uma outra dimensão uma experiência de vida e de como as coisas acontecem num arcabouço legal diferente do nosso, afirmou que ninguém sabia o que estava dentro dos pacotes. Poderia ser simplesmente... água!

Lá no outro universo, talvez. Aliás, lá poderia ser água, Baygon, urânio enriquecido, míssil ou balas 7 Belo. Aqui na Terra, no Brasil, logicamente o presenteador diria o que estaria dentro dos pacotes e certamente eles seriam abertos antes do desembarque para que nosso ilustre ministro, segundo posto mais alto do executivo, tivesse a responsabilidade de declarar o conteúdo à Alfandega.

Não posso esquecer de criticar os repórteres por não terem apertado Flávio Bolsonaro em nenhum momento. É próprio da profissão contestar respostas do entrevistado que não correspondem à realidade dos fatos, apresentando a realidade daquilo que já se sabe. Teria sido por medo?

Perceberam a oportunidade que Dan Kwan e Daniel Scheinert perderam de superar o filme vencedor do Oscar?

E se muita gente não gostou de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, aqui no Brasil, pelo menos, o filme Os Bolsonaros em Todo Lugar ao Mesmo Tempo teria um público fiel garantido de 44% da população, a mesma percentagem de pessoas que acreditam haver no país uma ameaça comunista.