Por Fernando Castilho
Tínhamos dúvidas sobre se Jair Bolsonaro conseguiria manter
sua importância para o bolsonarismo, mas parece que ele já a perdeu.
Há apenas um ano, os parlamentares da oposição se diziam
“bolsonaristas” e de direita. Hoje, já admitem ser chamados de “extremistas de
direita”, porém, ainda reagem ao adjetivo “fascistas”, mas é uma questão de
tempo para aceitarem essa alcunha. Alguns, como o deputado Gilvan da Federal,
já se levantam de suas cadeiras para agredir frequentadores da Câmara.
Esses parlamentares vinham sendo constantemente criticados
por não apresentarem propostas em áreas muito importantes como economia, saúde
e educação, se notabilizando apenas em berrar, criticar o governo e defender
pautas moralistas de costume.
Porém, resolveram apresentar proposições. Uma delas, a PEC
das praias, de autoria do senador Flávio Bolsonaro, foi a primeira a conseguir
a proeza de descontentar até os bolsonaristas, pois estes também frequentam
praias. Tiro no pé.
Outra propositura, esta mais polêmica, foi o PL do aborto
que logo recebeu o apelido de PL do Estuprador, pois previa pena máxima de 20
anos a mulheres e meninas que abortassem após 22 semanas de gravidez.
O resultado foi que, não só a esquerda, mas, principalmente
ela, tem saído às ruas para protestar, ou seja, a questão conseguiu furar a
bolha.
No último final de semana, porém, surgiu um fenômeno novo: o
presidente da Câmara, Arthur Lira, que até então permanecia nas sombras do
projeto, ganhou protagonismo. Havia muitos cartazes “FORA LIRA” nas
manifestações. Isso, pra quem quer eleger seu sucessor é bastante perigoso.
A maioria da população brasileira já percebe que projetos
vindos da extrema-direita não lhe são favoráveis, muito pelo contrário. É
possível que outras proposituras prejudiciais ao povo sejam engavetadas, pelo
menos por enquanto.
Uma delas é a que diz respeito ao trabalho infantil a partir
dos 14 anos e outra que ainda está embrionária é a que reverte a lei do
divórcio. Esta última, certamente, mobilizaria ainda mais as massas nas ruas.
Alguém perguntaria: mas não há também pastores divorciados?
Sim, pastores e até um ex-presidente que está em seu terceiro casamento.
Porém, devemos lembrar que há um movimento de transformação
nas igrejas neopentecostais visando trocar sua figura máxima, Jesus Cristo,
pelo Rei Davi do Velho Testamento, o que livraria seus pastores do incômodo de
ter que conviver com a grande contradição de seu enriquecimento e a pregação do
filho de Deus que dizia que é mais fácil passar um camelo por um buraco de
agulha do que um rico ir para o Céu. É a chamada Teologia do Domínio que está
ganhando força.
Mas, voltando aos pastores, quando se fala no Rei Davi que
conquistou vários povos em guerras com derramamento de sangue, diz-se que
ninguém toca num ungido do Senhor, portanto, se os pastores são ungidos do
Senhor, podem se divorciar à vontade.
Havia uma dúvida se, com o PL 1904 postergado para o segundo
semestre, haveria protestos no último final de semana. E houve! O que se espera
é que o movimento cresça ainda mais, principalmente com o lema FORA LIRA.
Em minha opinião, embora tenha dado excelente entrevista à
CBN, em que partiu pra cima do PL 1904, Lula ainda está devendo um
pronunciamento à Nação, explorando temas como a ajuda ao Rio Grande do Sul, as
altas taxas de juros que impedem o povo de comprar usando crediário, a
necessidade de vacinação e esse projeto que penaliza as vítimas de estupro.