Por Fernando Castilho
Arrepia ver tantos colunistas de nossa esquerda crucificando o presidente por uma opinião ou um conselho, como ele mesmo disse.
“Se
eu pudesse dar um conselho, é o seguinte: a sociedade não tem que saber como é
que vota um ministro da Suprema Corte. Sabe, eu acho que o cara tem que votar e
ninguém precisa saber. Votou a maioria 5 a 4, 6 a 4, 3 a 2. Não precisa ninguém
saber foi o Uchôa que votou, foi o Camilo que votou. Aí cada um que perde fica
com raiva, cada um que ganha fica feliz”.
Essas
foram as frases proferidas por Lula em entrevista a Marcos Uchoa no Conversa com o Presidente.
Pronto!
Acabou o mundo! Lula falou besteira!
Me
arrepia ver tantos colunistas de nossa esquerda crucificando o presidente por
uma opinião ou um conselho, como ele mesmo disse.
Em
1993 Lula, para escândalo da mídia e de parlamentares, disse que na Câmara
havia 300 picaretas com anel de doutor. O tempo mostrou que ele só errou no
número. Para menos.
É sempre
preciso analisar com calma o que Lula quer dizer.
Foi
durante o julgamento do mensalão que o então presidente da corte, Joaquim
Barbosa, indicado por Lula, caprichou na pavonice ao transmitir as sessões pela
TV. Os demais ministros, todos vaidosos como ele, perceberam que estava erguido
ali o palco para que eles exibissem suas lustrosas togas.
De
lá para cá, o que tem acontecido?
Luís
Roberto Barroso, certa feita disse que o Judiciário deveria sentir o clamor do
povo. Traduzindo, deveria ceder às pressões quando estas fossem fortes e que dane-se
a Constituição.
Gilmar
Mendes, o mais pavão de todos, não perde a oportunidade de agradar uns e outros
quando lhe convém usando sempre sua erudição e hermenêutica para enganar quem
ainda pensa que ele está lá para defender a Carta Magna. Em questões sociais,
invariavelmente vota pelo lado do mais forte.
Será
que já esqueceram que em 7 de setembro de 2021, Bolsonaro tentou um golpe? E
que para insuflar as massas para isso, chamou o ministro Alexandre de Moraes de
canalha? E que disse que não iria cumprir decisões dele?
Sabem
por que Moraes e sua família são obrigados a manter um corpo de seguranças 24
horas por dia? Alguém sabe como é viver assim?
Sabemos
que a fala de Lula contraria a transparência prevista na Constituição, mas ele
não sugeriu mudança nenhuma na Carta.
Nos
Estados Unidos e em vários países da Europa, todos ditos democráticos, a
votação de cada ministro é secreta e só o resultado é divulgado.
Aqui
no Brasil temos o instituto do voto monocrático que é aquele em que determinado
ministro decide por si mesmo algo que deveria em tese ser decidido pela turma a
que ele pertence ou ao plenário. Por quê? Holofotes, minha gente.
Se não foi por holofotes, por que Dias Toffoli, outro indicado por Lula, não permitiu que Lula, então preso pela Lava Jato, apoiada por toda a grande mídia, comparecesse ao velório do irmão?
Moraes
não visou holofotes porque só ganhou dores de cabeças. Corajosamente, teve que carregar
muita coisa nas costas porque ele era o relator de vários processos,
principalmente contra Jair Bolsonaro. Os demais ministros permaneceram
quietinhos durante os anos do capitão por medo de que a súcia os ameaçasse como
faz com Moraes. Vejam o que faz uma forte pressão.
Dizem
que o novo ministro, Cristiano Zanin, andou votando como os reacionários Nunes
Marques e André Mendonça para agradar bolsonaristas e, depois que recebeu
críticas da esquerda, votou contra o Marco Temporal das terras indígenas para
limpar sua barra. Agora fica bem com a esquerda. Amanhã pode mudar de novo. Não
pode ser assim.
Se
os votos fossem secretos, logicamente a transparência seria menor, teríamos
menos textos a escrever sobre ministros da Suprema Corte e tudo pareceria mais
enfadonho.
Não
precisamos saber quem é o ministro que condenou o coitado por roubar um frango
e votou a favor do Marco Temporal que prejudicaria toda uma população de
indígenas que perderiam suas terras. Precisamos saber que, se o coitado foi
condenado pelo plenário e o Marco Temporal foi aprovado, o STF como um todo se
coloca do lado dos mais poderosos.
Se
Lula fizer uma boa indicação para a vaga de Rosa Weber que se aposenta em
outubro, a balança poderá pender para os mais desassistidos e é isso que
importa.
Lula, como todo ser humano, não é infalível, mas neste caso, precisa ser ouvido com ouvidos que o compreendam segundo uma perspectiva histórica e não imediatista.