Por
Josué Rodrigues Silva Machado
“A ignorância não duvida porque desconhece que ignora”.
O
homem continua tentando responder à pergunta fundamental de Pôncio Pilatos ao
bom Jesus: "O que é a verdade?"
Em
página inteira, o jornal publicou o seguinte título:
“Enganar
jornalistas é fácil, diz cientista.”
E
abaixo, no subtítulo:
“Americano
publica artigo falso para mostrar que imprensa não avalia robustez estatística
antes de divulgar estudos.”
Pois
é, “americano publica artigo falso...”, diz o subtítulo da notícia sobre a
“descoberta” do doutor em biologia molecular John Bohannon de que é fácil enganar
jornalistas.
Claro
que Bohannon espera que o jornalista competente submeta a informação técnica
recebida a outros especialistas da área. Ou confirme de algum modo se os dados
inusitados que recebeu têm fundamento – coisa essencial, principalmente em
questões científicas.
Mas
essas questões básicas em jornalismo não importam aqui e, sim, a afirmação do
subtítulo de que “americano publica artigo falso”.
Por
que artigo falso?
Tolice
das grandes!
Claro
que o artigo não é falso. Ele existe, e o Bohannon o gerou e publicou. Se o
escreveu e publicou, é verdadeiro, coisa óbvia. Falsa foi a premissa do
texto-pegadinha: ele baseou o artigo em fundamentos falsos, usou argumentação
fictícia para enganar os distraídos jornalistas.
Fez
o que fazem os hackers, os mistificadores e muitos políticos. (Aliás,
mistificador não fica bem como sinônimo de político? Pelo menos da maioria do
nível de Boçalnato, Arthur Lira e muitos outros.)
Outro
texto verdadeiro, mas baseado em premissa falsa, foi o publicado já faz tempo em
“Veja” com a acusação de que o senador Romário tinha 7,5 milhões de reais não
declarados no Banco BSI suíço. A reportagem foi chamada de falsa.
Por
que falsa?
Romário
foi à Suíça comprovou a falsidade do extrato bancário e passou a exigir uma
gorda bufunfa dos responsáveis pela revista como indenização por danos morais.
Foi,
portanto – para ser bem óbvio --, um texto verdadeiro, porque alguém o escreveu
e publicou, mas baseado em documento falso – coisinha das mais feias.
Onde
está a verdade? Que é a verdade?
E
daí? Daí que é fácil se enganar com a certeza fácil, porque, como disse o
Marquês de Maricá abraçado a Sócrates:
“A
ignorância não duvida porque desconhece que ignora”.
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(Para
a revista "Língua Portuguesa")