Por Fernando Castilho
Com o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as joias trazidas para o Brasil ilegalmente.
Os
diretores de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Dan Kwan e Daniel
Scheinert teriam se inspirado no bolsonarismo para fazer o filme que transita
por multiversos? Poderiam ter utilizado o ex-presidente Jair Bolsonaro como
ator principal, em vez de Michelle Yeoh? Ganhariam o Oscar de melhor história e
roteiro com a temática bolsonarista? O senador Flávio Bolsonaro e seus irmãos
venceriam como melhores coadjuvantes? E se vencessem, trariam a estatueta para
o acervo privado de Jair?
Vejam
como o bolsonarismo se encontra num outro universo e numa outra dimensão.
Flávio,
o 01, concedeu rara entrevista à Folha de São Paulo nesta segunda (20).
Com
o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria
o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as
joias trazidas para o Brasil ilegalmente.
A
Folha inicia a entrevista perguntando por que os presentes não foram
declarados, ao que Flávio candidamente responde que não tem muito o que falar
porque os mimos vieram lacrados e que não houve má-fé em entrar com eles no
país sem declará-los. Se houvesse, não iriam passar pelo raio-x da Receita.
Ora,
senador, ficou claríssimo pelas imagens das câmeras de segurança que havia dois
pacotes, cada um em uma mala. Um passou sem ser incomodado e o outro, o de 16,5
milhões, foi pego na malha fina. Aliás, é justamente porque o ex-ministro Bento
Albuquerque não era nenhum mané nessa prática, que dividiu os presentes nas
duas malas. Se um é pego, o outro passa.
À
maioria das perguntas dos repórteres Júlia Chaib e Thiago Rezende, Flávio
respondia com um “não sei” ou “pergunta pra ele”. Parece mesmo que vive numa
realidade paralela que desconhece os fatos noticiados pelos jornais.
Sobre
as joias masculinas que ficaram em poder de seu pai e que deverão ser
devolvidas por determinação do TCU, o senador afirmou que Jair foi ao Comitê de
Ética da Presidência que o teria autorizado a manter o presente consigo. Só se
aconteceu num universo paralelo, pois o TCU já tinha uma decisão desde 2016 que
afirma que os presentes recebidos por presidentes passariam a integrar o acervo
da União e não o particular de Jair.
Flávio,
trazendo talvez de uma outra dimensão uma experiência de vida e de como as
coisas acontecem num arcabouço legal diferente do nosso, afirmou que ninguém
sabia o que estava dentro dos pacotes. Poderia ser simplesmente... água!
Lá
no outro universo, talvez. Aliás, lá poderia ser água, Baygon, urânio
enriquecido, míssil ou balas 7 Belo. Aqui na Terra, no Brasil, logicamente o
presenteador diria o que estaria dentro dos pacotes e certamente eles seriam
abertos antes do desembarque para que nosso ilustre ministro, segundo posto
mais alto do executivo, tivesse a responsabilidade de declarar o conteúdo à
Alfandega.
Não
posso esquecer de criticar os repórteres por não terem apertado Flávio
Bolsonaro em nenhum momento. É próprio da profissão contestar respostas do
entrevistado que não correspondem à realidade dos fatos, apresentando a
realidade daquilo que já se sabe. Teria sido por medo?
Perceberam
a oportunidade que Dan Kwan e Daniel Scheinert perderam de superar o filme
vencedor do Oscar?
E se
muita gente não gostou de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, aqui no Brasil,
pelo menos, o filme Os Bolsonaros em Todo Lugar ao Mesmo Tempo teria um público
fiel garantido de 44% da população, a mesma percentagem de pessoas que acreditam haver no país uma ameaça comunista.