Por Fernando Castilho
Bolsonarismo a todo vapor em São Paulo!
Para
quê insistir na profissão de professor?
O
professor da rede estadual do Estado de São Paulo sempre foi tratado pelos governos
do PSDB como um semicidadão e agora, talvez nem com semi.
Os
baixos salários do professor são um problemão na hora de pagar as contas, mas
não são o único, já que ele é desvalorizado e humilhado o tempo todo, não só
por alunos que não querem aprender, mas sobretudo pela estrutura imposta pelo
governo do estado às escolas.
Se o
professor vai aplicar uma prova, que não conte que a escola vá imprimi-la. Ou
ele dita as questões para os alunos, o que toma um tempo considerável, ou ele usa
sua própria impressora e depois paga a impressão das cópias com seu próprio
bolso numa copiadora qualquer.
Se o
professor deseja dar uma aula mais atrativa utilizando o aparelho de televisão
da sala de aula, que não conte com Internet porque ela dificilmente chega a
essa sala. Alguns usam a Internet de seu próprio celular. Outros utilizam seu computador
em casa para gravar o conteúdo em pen-drive para depois passá-lo na sala de
aula. Trabalhar com simuladores, então nem pensar.
As antigas
lousas de giz foram substituídas por lousas brancas em que é preciso se
escrever com canetinhas com tinta hidrocor especial que permitem que o conteúdo
seja apagado. O estado se orgulha desse “avanço” tecnológico, mas se “esquece”
de fornecer as canetinhas e os refiz. Então, se quiser dar aula, o professor
precisa comprar as canetinhas ou os refiz. Lembro que em países desenvolvidos,
a louça de giz continua a ser utilizada, mas aqui é Brasil.
O
professor, quando precisa preparar uma aula, corrigir provas e trabalhos, ou
atribuir notas aos alunos, tem que fazê-lo dentro da escola, não sendo permitido
que o faça em sua casa. Há casos em que o professor comparece à escola num
determinado período só para fazer essas atividades chamadas de APD (atividades
pedagógicas diversificadas).
Quando
há um feriado numa quinta-feira, a escola emenda, pois os alunos não comparecem
na sexta. Daí, a escola obriga o professor a repor as horas num sábado, mesmo
que não haja alunos e mesmo que não haja nenhum tipo de atividade.
Esqueça
apostilas. O ano letivo começa, mas elas não vêm. Talvez cheguem somente no
segundo semestre. Então o professor tem que se virar com apostilas antigas ou
seus próprios livros.
Para
matérias como Projeto de Vida, por exemplo, nem apostilas há. Cada professor
fica “livre” para perder seu tempo precioso para buscar conteúdo na Internet. E
como não há uma metodologia pedagógica unificada para isso, vai valer o feeling
do professor, que nem sempre é bom.
Os
dias de calor são insuportáveis, pois não há aparelhos de ar-condicionado, as
salas de aula, apesar de serem varridas, acumulam muita poeira, causando dificuldades
respiratórias não só para o professor, mas também para os alunos. As salas dos
professores e os banheiros são sofríveis.
Grande
parte, talvez a maioria dos professores, leciona em mais de uma escola. Por
isso, há uma correria para chegar de uma escola a outra a tempo. Mas, na
maioria das escolas, não há tolerância quanto a atrasos. Nem um minuto!
Simplesmente não abrem a porta.
Além
disso tudo, o professor tem que tomar muitos cuidados em sala de aula. Não pode
tocar o aluno. Em caso de briga, deve tentar apartar com palavras para que não
seja acusado de ferir o aluno. Tem que medir muito bem suas palavras para não
ser mal interpretado. Deve evitar a todo custo falar sobre religião, política
ou sexo, pois é possível que o aluno o entregue aos pais.
Numa
pendenga com algum aluno, quase sempre quem sai perdendo é o professor, já que
os pais via de regra se colocam ao lado de seu filho. E nos tempos de bolsonarismo
isso tem sido particularmente comum.
O
governador carioca, Tarcísio de Freitas, é contra as câmeras nas fardas dos
policiais militares, mas é a favor de que os professores sejam vigiados por
câmeras nas salas de aula. O secretário de educação acaba de determinar que os diretores
assistam às aulas dos professores duas vezes por semana e elaborem relatórios
para as diretorias de ensino. Ou seja, além de tudo, os professores passarão a
ser vigiados, o que fere a autonomia e a Constituição! Além disso, todos sabemos o quanto os diretores já são sobrecarregados.
Enfim,
a vida do professor da rede estadual de São Paulo é muito diferente da vida de
um profissional numa empresa qualquer. Mais um pouco de precarização do trabalho
e ele se tornará escravo.
Mas,
São Paulo escolheu um governador carioca para mudar tudo isso, não?
O
que os professores esperavam de Tarcísio não era que ele fosse diferente de Alckmin,
mas ele começa a ser.
Tarcísio
escolheu para secretário da educação um paranaense ligado ao ensino privado e a
empresas de tecnologia.
Dessa
forma, implementando mudanças na estrutura das escolas paulistas, para
economizar, os livros didáticos físicos serão abolidos dando lugar aos
digitais.
Como
relatado acima, obter os livros didáticos já não era tarefa fácil. Agora, sem Internet
nas salas de aula, como será possível dar aulas?
A
Secretaria de Educação comprou milhares de tablets, mas em número muito insuficiente
para suprir todos os alunos da rede pública. Cabe notar que esses tablets são
da marca Multilaser, empresa da qual Renato Feder, o secretário de educação,
era CEO até o ano passado. Claro que se a licitação não foi direcionada, não
haverá nada de errado nisso, porém, é estranho.
A
falta do livro didático não afetará somente o professor, mas também o aluno que
não mais terá um material físico para suas atividades, lições de casa e estudo.
Quem não possui computador em casa, celular e Internet, sai em grande
desvantagem para disputar um lugar no mercado de trabalho quando se formar ou terá
enormes dificuldades se ousar disputar um vestibular para a faculdade. E talvez
seja essa a intenção para privilegiar os estudantes de escolas privadas num
primeiro momento e em outro momento, com as escolas já sucateadas, promover a privatização
do ensino público.
Assim
caminha a educação no estado que mais arrecada no Brasil.
Tarcísio,
definitivamente, vem fazendo a diferença em São Paulo. Para pior.