Por Fernando Castilho
Em setembro de 1977, a Agência Espacial norte-americana, NASA, lançou uma espaçonave não tripulada chamada Voyager 1, irmã da Voyager 2, com a missão de estudar o Sistema Solar exterior e, caso tudo desse certo, numa ousadia sem precedentes, deixar nosso sistema e se lançar ao espaço desconhecido. Embora desprovida da tecnologia digital atual, a Voyager 1 foi a primeira sonda espacial a fornecer imagens detalhadas de Júpiter, Saturno e suas principais luas.
Os cientistas inicialmente esperavam somente que a Voyager 1 alcançasse Saturno, mas Carl Sagan, uma das mentes mais brilhantes de nosso planeta, sugeriu que a nave voltasse suas câmeras para a distante Terra e a fotografasse, num lance de ousadia que deixou os astrônomos da NASA surpresos e, ao mesmo tempo, curiosos.
Logicamente, tanto os cientistas quanto Carl Sagan sabiam que o tamanho com o qual a Terra apareceria na foto seria praticamente insignificante, mas mesmo assim, prosseguiram no feito, pois nós humanos poderíamos ter uma ideia das dimensões dos planetas e de nossa pequenez diante do nosso sistema solar.
Havia o risco de que, ao assestar suas câmeras para trás, todo o sistema da nave fosse comprometido, por isso a decisão demorou a ser tomada.
Mas somos humanos e nossa curiosidade vence nossa prudência muitas vezes, por isso, a autorização foi dada e pudemos ver, enfim, uma das grandes obras da humanidade e de Carl Sagan que batizou a foto de Pálido Ponto Azul.
Quando olhamos para aquele pequeníssimo pixel solto no espaço negro não conseguimos enxergar que dentro dele cabem impérios que cometeram inúmeros genocídios, duas guerras mundiais que mataram milhões de pessoas, duas bombas atômicas que destruíram duas cidades, a luta incessante pelo poder, milhões de pessoas morrendo de fome, a desigualdade social, a discriminação entre os seres humanos, uma imensa floresta sendo desmatada, o clima sendo alterado pela ação de uma espécie...
Nesse pontinho azulado cabem também uma flora e uma fauna exuberantes com toda sua diversidade, culturas ricas de povos diferentes, invenções humanas como a matemática e a poesia, a arte em todas as suas formas, o amor, a paixão, a curiosidade que impulsiona uma espécie para sua evolução e a Ciência.
Sem perspectivas imediatas para prosseguir na construção da saga humana em outro planeta que não seja o nosso, esse pequenino pálido ponto azul é nossa morada e dele devemos cuidar. Essa é a responsabilidade que a evolução nos delegou.