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domingo, 6 de fevereiro de 2022

Get Back, o filme - episódio 3

Por Fernando Castilho



Billy continua a fazer a diferença nos teclados. Inova em Let it Be e Paul lhe faz uma revelação em tom de elogio: “vir do norte da Inglaterra não facilita nada essa pegada mais soul”


Após ter analisado e comentado os episódios 1 e 2 de Get Back, decidi separar a análise e os comentários do episódio 3 em duas partes para que o texto não ficasse longo demais.

Desta forma, vai aqui o episódio 3 sem o concerto no rooftop, pois este será tratado à parte, pois demandará mais descrições de como ele se deu.

No fim do episódio 2 a câmera capta o exato momento e não deixa dúvidas. A ideia de fazer o show no telhado da Apple foi apresentada a Paul por Michael Lindsay-Hogg e Glyn Johns. A expressão de Paul mostra o quanto ele se surpreendeu e gostou logo de cara.

Michael Lindsay-Hogg

O terceiro episódio começa com Ringo tocando uma parte de Octopus’s Garden ao piano. O pessoal gosta e John vai à bateria para marcar o ritmo. Ringo revela que só tem a primeira parte. A música não fará parte de Let It Be, mas será incluída em Abbey Road.

George agora parece bem à vontade no grupo. Apresenta ao grupo Old Brown Shoe bem mais elaborada e Paul se empolga com a música. Parece que George percebeu que precisava trazer músicas em estágio um pouco mais avançado para mostrar aos companheiros. Agora temos um grupo coeso novamente.

Billy continua a fazer a diferença nos teclados. Inova em Let it Be e Paul lhe faz uma revelação em tom de elogio: “vir do norte da Inglaterra não facilita nada essa pegada mais soul”. Realmente essa pegada de Billy dá um tempero bem melhor às músicas.

Os Beatles trabalham como nunca. Get Back fica praticamente pronta e Don’t Let me Down ainda é um problema para John, principalmente na letra.

I’ve Got a Feeling fica pronta.

George insiste em Something e revela que não sai do lugar há seis meses. Apesar de John voltar ao “me atrai como uma couve-flor”, agora eles gostam da música. Ela também fará parte de Abbey Road.

Interessante ver nesse episódio o grande consumo de champanhe, sei lá por quê. George também aparece tomando uísque enquanto compõe.

Os Beatles sempre se ressentiram da morte de Brian Epstein, o paizão que mantinha o grupo coeso e, por isso buscam um novo empresário já que não admitem a liderança de Paul como foi demonstrado no episódio 1. John fala pela primeira vez de Allan Klein e elogia suas qualidades para se tornar o novo empresário do grupo. “Impressionante como conhece todos, sabe tudo de cada um”.

Paul vira a cara. Mais tarde saberemos que ele preferia que seu sogro empresariasse os Beatles.

George expõe a John seu projeto de um álbum solo. Este fica um pouco surpreso, mas o primeiro se justifica dizendo que todos poderiam enveredar por esse caminho para dar vazão aos seus projetos próprios. Sabemos que o resultado, Wonderwall Music não foi tão bom assim.

Uma das passagens mais engraçadas é quando Jonh e Paul cantam Two of Us entre os dentes, sem mover a boca. Hilário. Eles se divertem muito e, por incrível que pareça, conseguem, mesmo quando tem que cantar trechos como “Not arriving on our way back home” que tem a palavra “back” que começa com “B”, muito difícil de falar dessa forma. Nada indica que eles se desentenderão e se separarão.

Algo que chama a atenção é como John se desconcentra o tempo todo. Faz piadas sem muita graça, imita outras pessoas cantando (Well you can imitate ev'ryone you know) e faz caretas de todo tipo. O grupo precisava focar nas músicas devido ao prazo curtíssimo, mas John atrapalhava. Nem por isso os demais o repreenderam, muito menos Paul, que até parece que curtia. He just let it be.

Diz-se por aí que Yoko era a mala que John carregava (she’s so heavy), mas talvez fosse o contrário, pelo menos durante as filmagens. In that respect he let me down.

Sem querer defender que Paul era realmente o mais profícuo criador dos quatro, fica patente que John não está em seus melhores momentos criativos, apesar de Don’t Let Me Down ser realmente uma grande música, mas que não fará parte de Le It Be.

No documentário aparecem legendas do tipo “esta é a versão que aparece no álbum” quando algumas músicas já tiveram suas gravações concluídas por Glyn Johns.

Glyn Johns

Enfim chega a véspera do concerto no telhado da Apple e todos estão apreensivos. Fará frio, mas não choverá. De qualquer forma, Ringo vestirá uma capa vermelha impermeável. One of us will wear a raincoat.

Peter Jackson tem um valiosíssimo tesouro em mãos e só compartilhou conosco cerca de 15% dele.

Pode ser que a maior parte seja entediante e sem importância, mas ficou claro que houve um hiato no documentário, já que, de uma hora para outra, as músicas que ainda estavam muito embrionárias, aparecem já quase prontas no episódio 2, quando surge Billy Preston.

Além disso, há trechos que poderiam ser cortados, principalmente no episódio 2.

Portanto, não há como, sem ver o restante das quase 45 horas de gravação, avaliar se a edição feita por Jackson foi a melhor possível.

Podemos dizer que Michael Lindsay-Hogg, o diretor que gravou as 53 horas, foi visionário e que Glyn Johns fez um grande trabalho de mixagem e gravação numa mesa de oito canais, como George queria.

Bem, espero que todos tenham gostado.

Acompanhe a análise do concerto no telhado da Apple, The Rooftop Concert, o último dos Beatles.



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Get Back, o filme (episódio 1)

Por Fernando Castilho



Bem, terminei de assistir a Get Back dos Beatles e resolvi escrever aqui o que achei do episódio 1. Mais tarde escreverei sobre os demais.

Alerto que é inevitável que haja spoilers, pois sem eles seria impossível escrever uma análise e opinião.

Não poderia ter sido escolhido título melhor. Voltar àquela época, uma viagem no tempo há 53 anos atrás é uma experiência única. Ainda mais com som perfeito e imagens que parece que foram gravadas agora (aliás, o concerto no rooftop foi convertido para 4K!). O resultado são 3 episódios que somam cerca de sete horas e meia de duração.

Ver os quatro de Liverpool no convívio do trabalho, da criação, da arte, é algo maravilhoso e serve muito para as gerações que não viveram a época, verem como as coisas aconteciam analogicamente, sem os requintes de uma tecnologia avançada como a de hoje.

Peter Jackson, o diretor do filme teve um trabalhão para escolher as cenas que mais representassem o ânimo do quarteto em 1969, entre 56 horas de imagens e 150 de áudios, mas o resultado foi excelente, embora haja trechos sem grande importância que poderiam ter sido excluídos.

No primeiro episódio fica bem claro que os Beatles não estavam a fim de produzirem nada naquele momento. Talvez a exceção fosse Paul McCartney que já demonstrava estar se tornando o workaholic que conhecemos hoje, mesmo aos 79 anos.

O diretor Michael Lindsay-Hogg, responsável pelo filme Let It Be (uma edição baixo astral que mostrava os Beatles se desentendendo o tempo todo) que aproveita cenas das muitas horas de fitas que resultaram em Get Back, tinha como meta original gravar um show ao vivo (hoje seria um DVD) em um local remoto no Saara para onde seriam levadas muitas pessoas em um navio e depois, sabe-se lá como) para servir de público. Uma loucura.

O fato é que o quarteto precisava compor e gravar músicas suficientes para um álbum em apenas três semanas. Ringo tinha compromisso para estrelar o filme The Magic Christian (que aqui se chamou Um Beatle no Paraíso), junto com Peter Sellers. George não estava a fim de se apresentar e John parecia absorto em outras coisas. Mas durante todo esse primeiro episódio Michael Lindsay-Hogg insiste num show distante da Inglaterra.

O estúdio para compor as músicas era o de Twickenham, um grande galpão sem nenhuma mobília localizado em uma área muito fria de Londres, o que influenciava o humor dos quatro.

Foi justamente em Twickenham que Paul teve uma discussão com George em que até a separação do grupo foi cogitada. Paul queria que George tocasse de uma certa forma e este parecia não estar conseguindo. John e Ringo permaneceram inertes só observando. Aliás, o tempo todo Ringo fica solitário em sua bateria só observando os movimento dos companheiros e tocando sua bateria.

Paul ficava irritado porque John sempre chegava muito atrasado, visivelmente anulado pela heroína da noite anterior, o que comprometia o prazo exíguo.

Não achei que a presença de Yoko, sempre junto a Lennon, fosse algo que atrapalhasse ou determinante para o mau humor ou constrangimento dos demais. Ela fica quieta e não dá palpite nenhum. Acho que houve muita injustiça com ela. Peter Jackson também acha.

Um belo dia acontece uma mágica. Paul chega antes dos outros e começa a tocar sua guitarra com um esboço muito cru de uma possível música. A ele se juntam um George bocejante e Ringo.

Aos poucos surge o embrião do que viria a ser Get Back. Note-se que George e Ringo percebem isso e se juntam a Paul nos instrumentos.

Reparei em algo que me chamou muito a atenção. John já tinha as linhas gerais de Gimme Some Truth que só seria lançada no álbum Imagine com crédito só para ele. Mas o que se vê é Paul ajudando John, inclusive na letra. Deveria ser Lennon/McCartney.

George estava sempre irritado. Talvez porque suas composições não emplacassem. Mas o que percebi é que, ao contrário de Lennon/McCartney, que traziam composições já mais ou menos delineadas, Harrison trazia suas músicas ainda cruas demais. É por isso que John brinca com ele sobre a letra de Something (atracts me like a cauliflower). All Things Must Pass não tinha nada a ver com o grande sucesso que integrou o álbum de mesmo nome.

Aliás, é meio estranho ver George tentando convencer os demais que ele já conseguia tocar tão bem quanto Eric Clapton. Este ainda seria melhor que ele pela sua capacidade de improvisação, mas mesmo isso seria fruto de padrões já desenvolvidos e estabelecidos. Os outros só olharam.

Os demais brincavam com George pelo fato de ter agredido um fotógrafo. Não esperava isso dele.

Também se nota que os Beatles gostavam muito de tocar composições de outros autores como Chuck Berry e Carl Perkins, além de músicas antigas de Lennon/McCartney que nunca foram aproveitadas.

O fato é que o estúdio de Twickenham quase foi responsável pelo fim mais precoce ainda da banda. Lá quase nada deu certo.

George sai do grupo, Ringo não se manifesta, John está anulado e Paul tenta puxar a banda para trabalhar.

Assim termina o episódio 1.

Aguardem a análise e a opinião sobre os demais episódios.