sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Moraes foi correto e corajoso, mas não esperemos mais que isso dele

Por Fernando Castilho


Foto: Ricardo Stuckert


Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Tendo a seu lado o atual, Jair Bolsonaro e à sua frente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Alexandre de Moraes, empossado como novo mandatário do Tribunal Superior Eleitoral, foi autor de um discurso forte em defesa das urnas eletrônicas, da Democracia, do Estado de Direito e da punição a quem divulgar fake news durante a campanha eleitoral que ora se inicia.

O capitão acusou o golpe recusando-se a aplaudir a corajosa fala enquanto que Lula, encerrada a cerimônia, recebeu efusivo cumprimento do novo presidente do TSE.

Imediatamente nas redes sociais, petistas utilizaram novamente o apelido de Xandão para manifestarem sua alegria, carinho e confiança pelo mais novo herói nacional.

Ao ler as postagens, me senti pequeno.

É claro que a atitude de Moraes foi corretíssima e muito importante para pulverizar qualquer tentativa de golpe por parte do capitão, mas ela não se deve porque ele esteja querendo contribuir para a eleição de Lula. Ele fez apenas seu papel, ou seja, o que se espera dele enquanto defensor da Constituição e da legislação eleitoral, embora, repito, de maneira corajosa.

Outros petistas preferiram lembrar de maus posicionamentos de Moraes com relação a Lula e ao PT, como se valesse cobrar dele um broche com a estrelinha vermelha no peito. Ele foi colocado no STF por Temer, lembram-se?

Nós, que desejamos Lula mais uma vez na presidência do país, não o fazemos se não pela confiança que temos nele como o único motor que sinceramente vai trabalhar 24 horas por dia para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se tornou após mais de 3,5 anos de desgoverno do capitão.

Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Devemos compreender que existem dois passos fundamentais para que o povo brasileiro volte a experimentar o bem-estar social a partir do próximo ano.

Primeiro passo: a realização das eleições, ainda ameaçadas por golpe. Sem elas, Lula não se elege;

Segundo passo: a consagração de Lula como vitorioso.

Para que o primeiro passo seja dado, toda e qualquer força que se disponha a se engajar nessa luta, é muito bem-vinda. É aí que entra Alexandre de Moraes, dentro dessa perspectiva histórica, sem paixões ou emoções.

Se Moraes se apresentou como essa força poderosa, afinal, é presidente do TSE, que a utilizemos a nosso favor.

Sejamos realistas no dia em que ele se posicionar contrariamente a medidas do governo Lula porque esse dia virá, com certeza.

No mais, tenhamos consciência de nossa força, demonstrada no comício de Belo Horizonte.

E que a demonstremos mais uma vez em São Paulo, 20 de agosto!

 


domingo, 14 de agosto de 2022

Nada de MUITA calma nesta hora!

Por Fernando Castilho


Pintura de Stasys Eidrigevicius


Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.


Fernando Brito, a quem tenho muito respeito como jornalista, escreveu em seu blog, Tijolaço, um artigo com o título, MUITA CALMA COM OS ALARMISTAS DA ELEIÇÃO.

Poderia concordar com ele, já que não devemos ficar desesperados com a, até agora, pequenina melhora de Bolsonaro nas pesquisas. Porém, não acho que o fato deva ser negligenciado pela campanha de Lula. Vejam que ele não pediu calma, que pode ter como sinônimo cautela, mas MUITA calma, o que é um exagero.

Brito chega a citar alguns fatores que contribuíram para esse respiro do Capitão, como a queda do preço da gasolina e, principalmente, a grana distribuída aos mais pobres de maneira inconsequente e ilegal às vésperas da eleição.

Mas são esses justamente os fatores que podem alavancar mais ainda a campanha do homem que desdenha da morte e que ocupa temporiamente a cadeira presidencial.

Podemos juntar a isso a ofensiva que a primeira-dama, Michelle tem feito para tentar recuperar a imagem de seu marido junto às mulheres, aqueles seres que ele desde sempre os dois consideram inferiores. E vem conseguindo, vamos combinar.

Além disso, a campanha do inominável avança muito entre os evangélicos. Essa população com tendências fundamentalistas é sua aliada ideal numa absurda guerra entre o bem, do qual ele diz ser o representante, e o mal.

Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.

Faltam longuíssimos 50 dias até o pleito e os efeitos da ousadia do ser que ocupa a cadeira têm muito tempo para serem sentidos.

Essa postura de não se deixar se alarmar e de tratar tudo com MUITA calma, de certa forma, custou o impeachment de Dilma Rousseff, até porque ela própria confiou nas instituições, já que não havia cometido crime algum.

Quase que exatamente um ano antes da prisão de Lula, obtive a informação de que ele seria condenado e detido. A fonte, hoje membro do grupo Prerrogativas, que pediu à época para que não mencionasse seu nome, me garantiu que isso seria líquido e certo. Cheguei a duvidar, até porque não havia nenhuma prova de crime cometido pelo ex-presidente. Mesmo assim, a fonte me garantiu que a prisão ocorreria e mais, que a segunda instância também estava comprometida com o então juiz, Sérgio Moro.

Publiquei isso em meu blog e fui atacado por muita gente, simplesmente porque ninguém aceitava o “absurdo” da prisão de um ex-presidente inocente. E aconteceu.

Outra coisa que Brito escreveu diz respeito à crítica que André Janones fez aos termos técnicos e complicados de economês que a campanha de Lula utiliza e que o povo mais simples não consegue compreender. O articulista tem razão ao afirmar que o ex-presidente sabe como ninguém se comunicar com as pessoas, mas a coordenação precisa realmente se comunicar melhor. Quem anda fazendo isso é justamente o Capitão Morte.

Estamos em uma guerra entre a civilização e a barbárie e precisamos vencer.

Artigos que contribuem para que baixemos a guarda de nada nos servem agora.

Lula sabe disso e até colocou Alckmin de vice e vem construindo alianças por todo o país.

Ele sabe que não é permitido cochilar até a vitória.

É preciso pressão total e contínua até 2 de outubro e para isso, é necessário que se organizem cada vez mais atos, não só pela defesa da democracia, mas por aquele em que depositamos nossa confiança para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se transformou.

Nada de MUITA calma.

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

De volta a junho de 2013

Por Fernando Castilho


Imagem: Mídia Ninja


Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.


Nunca houve desmonte tão grande de nossos institutos de pesquisa como no atual governo.

Em 2019 o diretor do Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Ricardo Galvão, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por divulgar imagens dos desmatamentos ilegais na Amazônia.

De lá para cá vários outros pesquisadores deixaram o órgão, mas alguns outros continuaram a trabalhar em seus projetos.

Um deles, altamente secreto, propunha a construção de um dispositivo capaz de anular a 2ª Lei da Termodinâmica através do entrelaçamento quântico, ideia descoberta graças a um feliz acaso, como costuma acontecer na Ciência. Dessa forma, seria possível reverter a entropia e retornar a estados da matéria que já ficaram no passado.

Simplificando, utilizando certa quantidade limitada de energia, seria possível que uma pessoa voltasse a uma época não muito longínqua por curto intervalo de tempo.

Pois bem, como nossos cientistas aprenderam ao longo de muitos anos a trabalhar com parcos recursos, o projeto não sofreu descontinuidade e revelou-se possível de ser executado.

Assim, no começo desta semana, um dos cientistas serviu como cobaia retornando ao dia 8 de junho de 2013.

Como o protótipo ainda não possuía sintonia fina, não foi possível determinar com exatidão o local onde o cientista se materializaria. Por isso, ele tomou forma a partir do nada na mesa de um bar onde um grupo de petistas comemorava o resultado da então última pesquisa Datafolha que dava 65% de aprovação ao governo Dilma Rousseff.

Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.

Os integrantes da mesa, incrédulos, tomaram uma dose de cachaça e começaram uma espécie de sabatina ao cientista para se certificarem de que não se tratava de uma fraude.

A primeira pergunta feita por um militante barbudo e de cara redonda foi: quem é o presidente em 2022?

- Jair Bolsonaro.

- Como, aquele deputado do Rio, ligado às milícias e que defende a ditadura?

- Ele mesmo.

- Fraude!, exclamou um homem magro e cabeludo entornando um copo de cerveja.

A gargalhada foi geral.

Então, uma moça de cabelos cacheados, com um chale no pescoço, resolve perguntar: e a Dilma, o que aconteceu com ela depois que concluiu seu governo?

- Err... não concluiu, disse o cientista. Foi cassada por impeachment. Alegaram que cometeu crime de responsabilidade, mas que apesar disso é muito honesta, viu?

- Hua, hua, hahaha! Conta outra, riram todos. Mais um gole.

- É verdade, porra!, bradou o pesquisador. Desculpem o palavrão.

À essa altura, todos já estavam cochichando uns com os outros.

- Olha, mais uma, disse o homem do futuro. Lula era o favorito nas pesquisas em 2018, mas foi preso para não poder concorrer. Não havia nenhuma prova de crime contra ele, mas mesmo assim, um juiz até então desconhecido e irrelevante o condenou.

- Ah, vá!, bradou um companheiro já bem mais velho. Mais cachaça!

- Esse cara é um mentiroso contumaz! Ou então é louco! Imagine prender Lula sem provas!

- Bem, mas o povo deve ter reagido à essa injustiça, né? Todo mundo saiu às ruas pra protestar, né?, perguntou outra mulher, um pouco mais velha que a anterior.

- Pior que não, disse o pesquisador. Houve um início de resistência no início no sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo, mas depois o país voltou ao normal como se nada tivesse acontecido.

- Carácoles!, exclamaram dois em uníssono.

- Ah, e teve uma pandemia que matou quase 700 mil pessoas no Brasil!, disse o cientista.

Todos se entreolharam, assustados e incrédulos.

- E o presidente desdenhou da pandemia e boicotou a compra de vacinas...

- Agora já chega!, bradou o petista gordinho e barbudo. Chega de mentiras! Quer enganar a quem? Seu infiltrado!

- Não, não quero enganar ninguém! É a pura verdade! A inflação voltou, a fome voltou e não há emprego! Trouxe até um jornal pra mostrar!

Todos se juntaram em torno das manchetes do dia.

- Não é possível! Esse jornal deve ser falso!

- As eleições estão próximas, não estão? Acontecem em outubro, não? Então ele não se reelege, certo? Simples assim, disse o magrinho. Quem concorre com ele?

- Bem, não é bem assim. Lula está em primeiro lugar nas pesquisas e pode vencer já no primeiro turno!

- Ôpa! Aí sim! Mas, quem é o vice do Lula?, perguntou a jovem de cabelos cacheados.

- Err, bem... é, é o Alckmin...

- Não, não e não! Não é possível! Mentiroso! Vá enganar outros, seu tucano!

- Gente, é isso mesmo. Lula precisou colocar o Alckmin de vice para poder dialogar com a elite e os empresários. Ao mesmo tempo o afastou da candidatura a governador de São Paulo para abrir caminho ao Haddad que já está em primeiro lugar nas pesquisas.

À essa altura, todos já tinham bebido muito e permaneciam calados, taciturnos, talvez por medo de novas revelações do cientista.

Mas ele não desistiu.

- Tem mais! O presidente está armando um golpe para o 7 de setembro. Não pretende entregar o poder para Lula, caso este vença. Está afirmando que as urnas eletrônicas são fraudáveis.

- Mas ele não se elegeu várias vezes deputado através das urnas eletrônicas? Ele quer a volta do voto de papel?

- Isso!

- Olha, chega! Volte pro lugar de onde você veio, disse o mais velho com voz trêmula. Mais uma dessas e eu tenho um enfarte fulminante.

Percebendo que precisava exorcizar os demônios que dele se apoderaram durante 3 anos e meio de desgoverno, prosseguiu:

- O presidente quer filmar as pessoas votando nas cabines.

O petista mais velho caiu morto da cadeira.

A bateria do dispositivo já estava na reserva obrigando o cientista a voltar.

Os companheiros chamaram a ambulância, mas já era tarde.

Todos voltaram em silêncio para suas casas.