Por Fernando Castilho
O plano de Bolsonaro, Daniel Silveira, Braga Netto e Augusto Heleno para dar um golpe mais se assemelha a um dos inúmeros planos infalíveis do Cebolinha.
Todo
mundo sabe que a Mônica é a dona da rua e que o Cebolinha está sempre
engendrando um golpe para conquistar esse poder.
Como
não consegue fazer isso sozinho, sempre busca a ajuda do amigo, Cascão.
Para
este último plano, Cascão achou melhor procurar o apoio logístico do Louco.
Como todos sabem, o Louco é um personagem com personalidade conturbada e cheio
de maluquices. O ideal para a missão.
Como
era de se esperar, mais um plano que não deu certo. O Louco acabou revelando-o
à Mônica e os três acabaram sendo surrados por ela, que continua a ser a dona
da rua.
Fim
da história infantil. Vamos para o assunto que é muito sério. Ou infantil, como
veremos mais adiante.
Dois
outros planos infalíveis cujos mentores provavelmente foram Jair Bolsonaro,
Augusto Heleno e Braga Netto, também não deram certo: os atentados à bomba antes
da diplomação de Lula e a depredação dos edifícios dos três poderes em 08/01.
Não
vou gastar linhas aqui contando toda a história na cronologia apresentada pelo
senador Marcos Do Val, por demais já conhecida de todos, mas comentarei algumas
possíveis incongruências e esquisitices.
A
história contada pelo senador à Veja colocava o ex-presidente Jair Bolsonaro na
chefia direta do golpe, como o autor da coação que teria sofrido para
participar da “missão”, como Do Val chama a incumbência que lhe foi dada.
Após
ter sido pressionado pelo senador Flávio Bolsonaro, Do Val mudou a versão. O
capitão não o teria coagido, limitando-se a ficar calado durante a reunião de
planejamento do plano que o recolocaria no poder. Só no final teria dito que
aguardaria sua decisão em ser o protagonista principal da “missão”.
Foi
essa a versão apresentada à coletiva de imprensa e ao depoimento à Polícia
Federal.
O
ministro do STF, Alexandre de Moraes, confirmou a veracidade do que Do Val
apresentou à PF na conversa que tiveram.
O
senador, ao ser procurado pelo então deputado Daniel Silveira para participar
de uma reunião com ele e o presidente, segundo suas palavras, optou por
primeiro consultar Alexandre de Moraes se deveria ou não comparecer ao
encontro. Moraes teria dito que sim.
Ora,
o senador ainda não tinha conhecimento da proposta que lhe fariam. Poderiam
conversar sobre qualquer assunto. Então, por que consultar o ministro?
Do
Val se diz especialista em inteligência e repetiu isso várias vezes durante sua
coletiva. Mas, nessa condição, não seria ele uma pessoa mais apropriada que Silveira
a propor um método para tentar captar alguma fala que pudesse ser usada contra
Moraes?
Por
que, passados quase dois meses, só agora decidiu levar o caso a público?
Não
resta dúvida de que a reunião golpista existiu. Se foi Bolsonaro que a convocou
e a conduziu, como foi afirmado à Veja, já há motivos claros para sua prisão.
Na
nova versão, o capitão teria deixado Silveira conduzir a reunião e propor a
“missão”, mas é óbvio que isso não o isenta de responsabilidade, uma vez que,
pelo seu cargo, deveria ter encerrado a conversa logo no início e ter dado voz
de prisão ao então deputado.
Não
há como Bolsonaro se safar desse planejamento golpista. Ele não pode dizer que
foi chamado ao encontro sem saber do que se tratava. Seria uma reunião secreta
para conversar sobre futebol?
Felizmente,
Do Val, em depoimento à PF, não negou a presença do capitão na reunião. Se o
fizesse, uma simples convocação do motorista do carro presidencial e dos
funcionários presentes no palácio (estranhamente o senador disse que não sabe
se o evento ocorreu na Granja do Torto ou no Alvorada) bastariam para confirmar
sua presença.
A
partir da revelação de Marcos Do Val, fica mais fácil ligar essa reunião à
minuta de golpe descoberta na casa do ex-ministro da Segurança, Anderson Torres.
Uma pisada na bola de Moraes, segundo o raciocínio de Bolsonaro e Silveira,
serviria para tornar a minuta, oficial e dar o golpe.
Só
que as coisas não funcionam assim. E, por isso, o plano é infantil.
Mesmo
que Moraes confidenciasse alguma impropriedade, não seria suficiente para um
golpe. E sabemos muito bem como o ministro é cuidadoso. Ele não cairia numa
armadilha ridícula, como ele mesmo se referiu à tentativa de golpe.
Resta
considerar a participação de Augusto Heleno e Braga Netto, já que Silveira, em
mensagem, citou 5 partícipes. E ainda soltou uma frase enigmática: “cinco
estrelas”. Provavelmente em alusão aos 2 generais da reserva.
Moraes
precisa pedir que a PF convoque Silveira e Bolsonaro para depor, mesmo que a
fala do capitão seja tomada por vídeo conferência.
O
ministro chamou o plano de golpe Tabajara e Gilmar Mendes afirmou que
“estávamos sendo governados por gente do porão”.
Nada
mais apropriado para descrever mais um plano infalível frustrado do Cebolinha.
Cebolinha
não pode ser preso, mas Bolsonaro, sim.