Por Fernando Castilho
Passou também a escrever livros e um deles, O Que Você Precisa Aprender Para Não Ser Um Idiota, foi best-seller. Muitos compraram, mas poucos leram, pois como ele mesmo afirmava, seus seguidores eram todos idiotas
O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche se autointitulava um
homem póstumo. Sabia que seus escritos só seriam valorizados após sua morte.
Olavo de Carvalho se autointitulava filósofo. Mas em pouco
tempo será esquecido não totalmente porque sempre haverá quem insista em
continuar sendo enganado.
Há muito tempo atrás assisti a um debate entre ele e o
filósofo Mário Sérgio Cortella. Lembro-me que foi um debate com bom nível, mas
Cortella o dominou. O que, então, de lá pra cá?
Olavo percebeu que era perda de tempo continuar a tentar ser
filósofo e não ganhar dinheiro. Era hora de mudar de vida e faturar.
Descobriu que há muita gente disposta a ouvir bobagens sem
contestar. Então, criou um curso pela Internet e passou a angariar suas
vítimas.
Quem são as pessoas que se inscrevem em seus cursos?
Há empresários endinheirados, gente estudada como o
ex-chanceler, Ernesto Araújo e os irmãos, Weintraub e políticos como os filhos
do presidente. Mas o grosso mesmo é de jovens que precisam de um rumo a seguir
e coisas estranhas em que acreditar, como a terra plana, por exemplo.
O que há em comum a todos eles? Eles não vão ler Kant para
conferir se o que Olavo falou é verdade. Desta forma, a grana vinha fácil.
Porém, uma vez um de seus alunos, um estudante de filosofia,
percebeu que o que Olavo falava sobre Kant numa de suas aulas não batia com o
que seu professor na USP ensinava. Procurou o professor, um especialista no
filósofo alemão e lhe relatou sua inquietação. O professor, então, acessou a
aula de Olavo e descobriu que o que ele falava era para enganar incautos.
Esse professor, cujo nome já não me lembro, entrou em
contato com Olavo e o convidou para um debate sobre Kant.
Qual foi a resposta do “filósofo”?
Sim, mandou-o tomar naquele lugar.
Essa era invariavelmente a resposta dele a qualquer
questionamento.
Passou também a escrever livros e um deles, O Que Você Precisa Aprender Para Não Ser Um Idiota, foi best-seller. Muitos compraram, mas
poucos leram, pois como ele mesmo afirmava, seus seguidores eram todos idiotas.
Em 2013 um desses exemplares chegou às mãos de Carlos e
Eduardo Bolsonaro que ficaram muito impressionados com o escritor.
Durante a campanha presidencial de 2018, os filhos de
Bolsonaro tentaram demonstrar ao pai a importância de ter uma base teórica
anticomunista e de extrema-direita. E ainda por cima, era Trumpista roxo! O Capitão Morte a princípio não gostou da
ideia porque jamais lhe passaria pela cabeça ler um livro daquele tamanho, mas
foi convencido por Carlos.
Ao montar sua equipe de governo, lógico, o filho 02 impôs ao
pai a necessidade de escalar a elite dos seguidores de Olavo para alguns
ministérios. Assim, o governo Bolsonaro teria um pilar olavista e outro
militar. Um nortearia as ideias de extrema-direita em que se destacariam nomes
como Ernesto Araújo e Abraham Weintraub e outro as ações autoritárias.
O fato é que o capitão acabou, pressionado pela necessidade
de se reeleger, abandonando a ala ideológica de Olavo e mantendo os militares
porque estes jamais largariam o osso de seus altos salários acumulados com os
das Forças Armadas. Foi preciso dar um cavalo de pau e se juntar aos políticos
do centrão que evitariam que processos de impeachment fosse levados a cabo.
Olavo acusou o golpe e, numa live em que participaram
Ernesto, Weintraub e Ricardo Salles, desabafou dizendo que Bolsonaro nunca leu
sequer um livro seu e que seu governo agora pertencia ao centrão.
Após essa live Weintraub, já de olho no governo de São
Paulo, entrou em rota de colisão com os filhos do capitão.
As últimas teses de Olavo que Bolsonaro seguiu fielmente foram
a de que a pandemia não existia e que as vacinas eram ineficazes contra a Covid-19.
Mas Olavo viu que o capitão, embora corroborasse
ardentemente de suas teses, não conseguia impor seu pensamento ao governo e,
mesmo com Marcelo Queiroga como ministro da Saúde, não pode impedir a compra de
vacinas e a imunização de 70% dos brasileiros porque estes eram majoritariamente
favoráveis aos imunizantes. Para Olavo, Bolsonaro era um fraco.
O que Olavo não conseguiu prever, mesmo sendo astrólogo, era
que viria uma variante extremamente contagiante, a Ômicron que nem ele
conseguiria vencer.
Como, ao contrário do fraco Bolsonaro (este afirma que não
se vacinou, mas mantém sua caderneta de vacinação sob sigilo de estado por cem
anos), Olavo se manteve fiel às suas teses, não se vacinando nem com uma
primeira dose, contraiu o vírus com seus anticorpos totalmente despreparados
para isso e faleceu.
Assim, a terra plana dá seu adeus a um enganador,
negacionista, mentiroso, assassino de ursos, uma fraude e um dos responsáveis
pelas mais de 400 mil mortes que poderiam ser evitadas se Bolsonaro abraçasse
desde o início a política de vacinar rapidamente a população do país.
O imperativo categórico que se impõe agora é extirpar do
poder essa gente que tanto mal fez ao povo brasileiro.