segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Como fica a reputação da caserna após Bolsonaro?

Por Fernando Castilho



O pudor acabou. Tudo é feito a céu aberto. Ou quase, já que os 39 quilos de cocaína foram bem escondidos aqui, mas não passaram desapercebidos na Espanha que os apreendeu num avião da FAB


Durante a campanha presidencial de 2018, ficou definido que um dos pilares do governo Bolsonaro seria o amplo apoio dos militares.

Passados 33 anos da debacle da ditadura militar, desta vez nossos valorosos generais sonhavam com um governo sufragado pelas urnas, o que lhes concederia um verniz democrático.

Logo, figuras como os generais Heleno, Ramos, Mourão, Braga Netto e tantos outros cujos peitos não têm mais espaço para medalhas, começaram a ditar suas ordens no Palácio do Planalto, seu novo quartel.

Como se não bastasse, coronéis, majores e tenentes também se entrincheiraram pelos vários ministérios e autarquias. São 70 órgãos com mais de 6 mil milicos batendo continências alegremente a seu chefe, o capitão Jair Bolsonaro.

Porém, não contavam com a enorme influência que os filhos do presidente exercem sobre ele.

Muito rapidamente, ainda no início de 2019, o guru, Olavo de Carvalho, ídolo dos 4 filhos, começou o processo de esvaziamento do quartel. A primeira vítima de Carlos Bolsonaro foi o general Santos Cruz.

Veio a pandemia e o capitão optou pelo negacionismo. Não queria isolamento social, uso de máscaras ou vacinas. Mais, exigia que as pessoas infectadas se tratassem com cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra o coronavírus.

Como o ministro da Saúde Henrique Mandetta e depois, Nelson Teich, discordassem dele, deram lugar a outro general, o especialista em logística, Eduardo Pazuello.

Pazuello causou muito mal-estar na corporação, primeiro por ridicularizar a logística do exército, já que não conseguia ser eficiente na compra e na distribuição das vacinas e, segundo, ao se humilhar perante o capitão quando, desautorizado por Bolsonaro no episódio da compra das vacinas Coronavac, afirmou que “um manda, outro obedece”.

As Forças Armadas valorizam muito a hierarquia e, por isso, nada mais natural que se subalternem ao presidente, seu comandante supremo, mas um general se humilhar diante de um oficial pouco graduado como o Capitão Morte, não foi bem-visto.

Bolsonaro passou a tomar decisões cada vez mais ao largo dos generais, culminando com a entrega do governo ao centrão que hoje é quem manda mais.

Inevitavelmente, houve uma divisão entre aqueles que ainda estão com o chefe e outros que já se afastaram, como o comandante do exército e, mais recentemente, o da FAB.

Quem continua e por quê?

Ora, são os que continuam ministros e os que preenchem os mais de 6 mil cargos, já que acumulam os proventos da caserna com os do governo. Uma boa boquinha, vamos combinar.

Além disso, nossos generais, que nunca participaram de nenhuma guerra, recentemente foram promovidos a marechais (posto originariamente concedido a heróis em combate) com o consequente upgrade dos salários.

Já durante a reforma da previdência nossos militares haviam sido agraciados com benefícios bem superiores aos demais mortais, mas queriam mais.

Nunca antes do governo Bolsonaro, os quarteis consumiram tanta picanha (700 toneladas!), leite condensado, uísque 12 anos, refrigerantes, atum, bacalhau e vinho. É uma verdadeira festa para aqueles que deveriam estar defendendo a soberania do país, mas que todos os dias entregam uma fatia dele para o capital estrangeiro.

O pudor acabou. Tudo é feito a céu aberto. Ou quase, já que os 39 quilos de cocaína foram bem escondidos aqui, mas não passaram desapercebidos na Espanha que os apreendeu num avião da FAB.

Embora exista o Portal da Transparência, é grande a desconfiança de que muito dinheiro público esteja vazando para os bolsos dos 6 mil que mamam nas tetas do governo.

É só verificar as agendas dos ministros generais para constatar que praticamente não trabalham.

A obrigação de qualquer um que vença as eleições de 2022 é proceder a uma auditoria geral em todos os órgãos do governo e, caso constatadas irregularidades, que instaure processos contra nossos honrados e combativos militares.

 


sábado, 12 de fevereiro de 2022

A vã tentativa de humanizar Bolsonaro

Por Fernando Castilho




Já imaginaram Bolsonaro admitindo que errou ou dando uma de joão sem braço, indo às redes defender a vacinação como se nunca tivesse sido contrário a ela?

A Folha de hoje noticia que aliados do presidente Jair Bolsonaro tentam convencê-lo a abandonar o discurso antivacina.

A pesquisa que o PL, seu partido, encomendou, demonstra, sem sombra de dúvida, que ele estacionou nos 25% e que o Auxílio Brasil causou pouco ou nenhum efeito para que esse índice subisse. A tendência, na verdade, com a propaganda eleitoral e os debates, é a queda.

A tentativa é de “humanizar” o presidente, um homem que já cristalizou na mente dos brasileiros a personalidade desumana e sem empatia. Ou como explicar seu descaso para com a vacinação e a morte de mais de 650 mil pessoas?

Quando um presidente se manifesta dizendo que não vai vacinar sua filha de onze anos porque a vacina é insegura, certamente acaba influenciando muita gente que o segue. É um crime ao qual ele já deveria estar respondendo, mas nossas instituições parece que estão em contagem regressiva por sua saída e nada fazem.

Mas como 70% dos brasileiros já completou o esquema vacinal e cerca de 85% da população defende a vacinação infantil, os aliados acreditam ser possível convencer o Capitão Morte a mudar de posição.

Já imaginaram Bolsonaro admitindo que errou ou dando uma de joão sem braço, indo às redes defender a vacinação como se nunca tivesse sido contrário a ela?

Além disso, há uma tentativa de convencê-lo a se vacinar! Isso vai de encontro a seus seguidores do cercadinho. Será que ele vai arriscar?

O capitão impôs sigilo de 100 anos à sua caderneta de vacinação, o que faz supor que ele já está hipocritamente vacinado.

Mas já que estamos nesses dias a falar de nazismo, vamos lembrar a personalidade de um líder autoritário, um ditador, como Adolph Hitler.

Durante a Segunda Guerra mundial, o exército alemão já não estava tão forte assim, mas os mais próximos do fuhrer lhe traziam boas notícias do front.

Essa é uma característica típica dos líderes autoritários: há os bajuladores e os receosos de uma reprimenda, ou pior, uma punição severa.

Quando Hitler decidiu invadir a Rússia no inverno, seus generais, já antevendo que suas cabeças iriam rolar após a derrota e seriam julgados pelo Tribunal de Nuremberg, tentaram de todas as maneiras convencer o comandante de que a empreitada estava fadada ao fracasso, mas Hitler se manteve impávido, certo da vitória. O resto, já sabemos.

Bolsonaro é o típico líder autoritário que não tolera ser contrariado. Só seus filhos têm alguma aproximação com ele.

Os aliados, já antevendo a derrota nas eleições e, pior, tendo seus nomes agregados ao do presidente, tentaram convencê-lo a mudar, mas ele continua impassível e reage às investidas com irritação.

O capitão criou uma armadilha para si mesmo. Tem que manter sua imagem autoritária e agradar os 25% do cercadinho até o fim.

Se não renunciar para se candidatar ao Senado, caminhará inexoravelmente para a derrota.



Publicado também em Piauí Hoje
https://piauihoje.com/blogs/e-o-que-eu-acho/a-va-tentativa-de-humanizar-bolsonaro-391266.html

Sentado numa pedra, para respirar

Por Valter Moraes



Nessa semana, dois eventos do meu entorno me tiraram as forças. No primeiro, um amigo não entendeu uma ironia (em que eu depreciava a mim mesmo) e foi de uma grosseria doentia; noutro, uma pessoa querida demais me vem com um "nem Lula nem ... (aquilo lá).

Apesar de o primeiro caso ter me deixado bem chateado (é uma pessoa que admiro e respeito), aceitei com o tempo. Estamos todos meio malucos mesmo e é um erro falar com contatos virtuais como se estivéssemos num bar tomando chope. Vida que segue.

O segundo, porém, abriu um ralo sob meus pés e fez o ânimo escoar. Já é muito difícil para mim, aceitar que 1/4 da população ainda apoie esse inferno que vivemos, mas o flagelo aumenta quando vemos que há ainda pessoas - esclarecidas! - que ponham no mesmo nível um homem comum e um ser que representa o fascismo. "É pacabá!"

Eu sou petista, mas não tenho energia para militar do modo tradicional, tentando convencer quem quer que seja de uma obviedade desse tamanho.

Meu Deus, não se trata de gostar desse ou daquele líder, é uma questão de princípios, de História, de ciência. De um lado, a democracia; de outro, o Fascismo; de um lado, uma pessoa que pode não agradar; de outro, um verme que flerta com a morte desde o começo; de um lado, uma pessoa que perdeu várias eleições e respeitou o jogo democrático; de outro, uma escória que só se elegeu por meio de mentiras!

Eu nem gosto de pensar no vice do Lula, me dá náuseas, mas isso é política. Porém, se o Ciro - que eu detesto - fosse a opção contra esse pesadelo, seria ele a saída. Não se trataria de política, mas da manutenção de conquistas por que gerações antes da minha tanto lutaram. Muita gente foi torturada e morreu por isso!

O cara que se me mostrou arrogante e me destratou é mais velho do que eu; a pessoa que sugeriu se abster de escolher entre fascismo e democracia, mais jovem. Acho que isso também diz muito acerca do meu cansaço. Ele se soma ao medo do que pode vir: é só a ponta do iceberg.

O amigo nervoso deve ser ateu. Ao menos no caso dele, há uma possibilidade de tudo ficar bem e voltar ao normal. No outro cenário, o desalento: não sei até que ponto montagens de quinta categoria de Lula fazendo pacto com o demônio estão contaminando a mente dessa minha tão querida.

Mas já nem quero saber: nem de uma coisa, nem de outra. Preciso sentar numa pedra, respirar, tomar fôlego e ir deixando tudo para trás. Seguir adiante, sei que não estou só.

 


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O que Monark, Bolsonaro e o assassinato de Moïse tem em comum?

Por Fernando Castilho



Todos sabemos do assassinato violento do congolês Moïse Kabagambe.

Há uma polêmica se o crime envolveu racismo e xenofobia, mas talvez a resposta seja a pergunta: se Moïse fosse um suíço loiro de olhos azuis, a história seria outra?

Claro que não.

Portanto, houve racismo e xenofobia sim. E o caso só teve grande reação devido a uma grande comoção nacional. Observem que o crime só foi divulgado dias depois e três homens envolvidos foram presos somente oito dias após o ocorrido. Foi graças a indignação do povo que a imprensa começou a dar maior destaque, senão, talvez passasse batido. Mais um preto morto, apenas.

Apesar da grande comoção, o presidente Jair Bolsonaro não se manifestou sobre o episódio, mas aproveitou para fazer campanha eleitoral ao se manifestar no cercadinho contra militantes ligados a partidos de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Comunista Brasileiro (PCB), que entraram em uma igreja católica de Curitiba, no último final de semana: “É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o Comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis.”

Para o Capitão Morte, o assassinato violento de um imigrante negro não tem importância, mas a criminalização do Comunismo, sim.

É preciso agora estabelecer uma conexão com outro fato ocorrido na segunda-feira (07) para alinhavar o raciocínio.

Naquele dia o influencer Monark, em um podcast, entrevistou os deputados Tabata Amaral e Kim Kataguiri. À certa altura o rapaz afirmou que em sua opinião o nazismo deveria ser legalizado no Brasil: “Eu acho que tinha que ter um partido nazista reconhecido pela lei”, disse o apresentador. “Se o cara quiser ser um antijudeu, eu acho que ele tinha direito de ser”, acrescentou.

Kataguiri foi mais ou menos na linha dele ao afirmar que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo: “Qual é a melhor maneira de impedir que um discurso mate pessoas e que um grupo étnico racial morra? É criminalizar? Ou é deixar que a sociedade tenha uma rejeição social?”, perguntou o deputado.

Tabata se opôs aos dois evocando o holocausto dos judeus e ao final do podcast posou para uma foto ao lado deles, quando poderia ter-lhes dado voz de prisão.

A reação foi muito negativa, principalmente da comunidade judaica e suas associações, a ponto de Monark ser defenestrado da sociedade mantenedora do podcast e ainda, junto a Kataguiri, ter que prestar esclarecimentos à PGR.

Curioso é que ontem (09), Adrilles Jorge, comentarista da Jovem Pan, foi demitido por fazer uma saudação nazista, ao melhor estilo Hitler. É, o pessoal está saindo das sombras, estimulado por três anos de um governo autoritário, preconceituoso e intolerante com as minorias.

Agora, voltando a Bolsonaro.

Na sua fala ao cercadinho, o capitão aproveitou para nivelar o nazismo ao comunismo, ostentando aos seguidores sua mais completa ignorância (ou má-fé) sobre o assunto.

O Manifesto Comunista de Marx e Engels, publicado em 1848 não prega discriminação, perseguição ou execução de quaisquer minorias (embora Stalin tenha promovido execuções em massa de opositores), ao contrário, considera-as integrantes do proletariado, enquanto o nazismo faz exatamente o oposto, caracterizando-se como um partido de supremacistas brancos que se sentem destinados a dominar todo o resto da humanidade.

Mas, abraçar teses nazistas não é uma das características de Bolsonaro?

Não foi ele que, em campanha à presidência, conclamou, utilizando um tripé de fotógrafo para imitar um fuzil, o povo do Acre a metralhar os petralhas?

Não foi o capitão, ainda em campanha, que afirmou que, ou as minorias se subjugavam às maiorias, ou seriam exterminadas e que a ditadura deveria ter matado trinta mil pessoas?

Então, por que falou contra o nazismo no cercadinho?

Foi por medo da reação da comunidade judaica. Ele que sempre tem flertado com o governo de Israel e que tem entre seus seguidores, evangélicos que ostentam bandeiras daquele país nas manifestações pró volta da ditadura, imagina que seus votos irão pra ele.

Para finalizar a conexão, lembro que, ainda durante a campanha, Bolsonaro esteve num evento no Clube Hebraica no Rio de Janeiro. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”.

O desprezo não é exatamente pelos quilombolas, mas pelos negros, como Moïse.

E para concluir, é por isso que o capitão não deu nenhuma atenção para o assassinato de Moïse Kabagambe. Não tem a mínima empatia.

Mas tem de sobra oportunismo para utilizar o repúdio a uma defesa do nazismo para fazer campanha eleitoral antecipada.

O consolo é que essa coisa amarga, indigesta, esse astral negativo, essa nuvem escura está com os dias contados, vai passar e teremos a chance de redirecionarmos o Brasil de volta para a civilização.

 


 

 


Sobre a infame legalização do partido nazista: algumas perguntas simples para você...

Por Walter Falceta



Como seria, no horário de propaganda eleitoral gratuita, uma eventual propaganda do tão defendido Partido Nazista Brasileiro?

Qual seria o programa? Instituição do Bolsa Segrega, com guetos para negros, judeus, asiáticos, indígenas, ciganos, comunistas, anarquistas, LGBTs, feministas, religiosos de esquerda e deficientes?

O Programa Nova Empresa, em que as companhias dos grupos acima seriam expropriadas e entregues a representantes da "raça pura"?

Você que adora seu sobrenome italiano, não comemore. Eles, no fundo, também consideram você um representante de sub-raça.

A aliança com o assassino Mussolini foi tolerável por motivos estratégicos. Mas a turma de Karl Wolff saiu da Itália, na II Guerra Mundial, deixando centenas de milhares de cadáveres como agradecimento pela estadia.

Programa "O Trabalho Liberta", com a construção de campos de concentração em Rondônia, Acre, Mato Grosso e Amazonas?

A fundação da Empresa de Fornos Nacionais, em Angra dos Reis, para a cremação industrial de inimigos da Pátria?

O Prêmio Nacional Harro Schacht, em homenagem ao comandante do submarino U-507 que, em 1942, afundou quatro navios brasileiros, provocando mais de seiscentas mortes, inclusive de mulheres e crianças, contribuindo para a "purificação da raça"?

Conversão do Exército em Wehrmacht dos Trópicos? Transformação das milícias do genocida em Sturmabteilung Verde e Amarela? Mudança das PMs para destacamentos da SS Brazuka?

Transformação das AMAs e UBSs em centro de esterilização em massa para ciganos, adictos, negros, deficientes, indígenas e outros grupos considerados um estorvo pelo sistema?

Transformação das Universidades de Medicina em Unidades Mengele, com laboratórios de testes para crianças deficientes ou "inferiores" vivas?

Se você considera que um nefando partido com essas características merece ser legalizado, respeitado e agregado ao rito eleitoral democrático, pega o seu lugar na fila.


Walter Falceta é jornalista


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Vem renúncia por aí?

Por Fernando Castilho



Já cogitei neste blog a possibilidade de Bolsonaro optar por uma candidatura ao Senado, mas na época era pura especulação.

Curiosamente, agora, meses depois, essa hipótese volta a circular como um rumor que vaza de dentro do Palácio do Planalto.

Ciro Nogueira, o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência, e outras vozes fortes do Centrão, parece que têm tentado aconselhar o Capitão Morte sobre essa saída para que não seja preso pouco tempo depois do final de seu mandato.

À vista das últimas pesquisas de opinião e de uma em particular, encomendada pelo PL, o partido do presidente, a distância de Lula para Bolsonaro é muito grande e muito difícil de ser reduzida. Ainda por cima, o capitão não ajuda, fazendo motociatas pequenas pelo país, falando para poucas dezenas de pessoas que o bajulam no cercadinho e, no mais, contrariando o senso comum das pessoas que querem se vacinar e aos seus filhos, o mais rápido possível.

A verdade é que o capitão fala só para o seu curral de cerca de 20 a 25% de seguidores, enquanto Lula se dirige a cerca de 45% da população.

Parte das raposas do Centrão e também de outros partidos de direita é candidata à reeleição ou disputará o governo de seu estado.

Quando se tem dois planetas com massas muito diferentes, o maior, por ter mais atração gravitacional, puxa para si todos os corpos menores que passam perto dos dois.

Assim é Lula.

O PSD de Kassab já se dispõe a apoiar o ex-presidente no primeiro turno para liquidar logo a fatura. E assim vai acontecer com outros partidos também.

Nenhum parlamentar do Centrão, vai querer, principalmente no Nordeste, ter sua imagem associada a Bolsonaro, aquele que negou a pandemia e depois a vacina, contribuindo para a morte de centenas de milhares de entes queridos, Brasil afora. Eles vão desembarcar da canoa furada do capitão muito em breve.

Outro fator que contribui para que isso aconteça são as verbas advindas do orçamento secreto e das emendas que já foram entregues aos deputados. Centrão, sabe como é, recebeu a grana, tchau.

O Auxílio Brasil, o vale-gás e o reajuste de professores não bastarão para alavancar a popularidade de Bolsonaro.

Sendo assim, assistiremos logo mais o esvaziamento de sua candidatura.

A estratégia para salvar o capitão já está delineada por Ciro Nogueira e seus próximos: o presidente aguardaria até 2 de abril, quando se esgota o prazo para sua desincompatibilização do cargo, renunciaria ao mandato e, numa operação casada, o novo presidente, Hamilton Mourão o nomearia embaixador em algum país, mantendo seu foro privilegiado. Tem que ser embaixador e não ministro.

Dessa forma, Bolsonaro disputaria o Senado por algum estado (dizem que seria por Santa Catarina onde possui muitos eleitores), venceria e ficaria oito anos no cargo com direito à reeleição por mais oito anos. No total, 16 anos para exercer seu esporte predileto que praticou durante 28 anos na Câmara dos Deputados, vagabundear e xingar mulheres, gays e esquerdistas, além de homenagear torturadores e milicianos.

Quer mamata maior que essa?

Mas o ex-milico possui aquele perfil autoritário que não lhe permite seguir conselhos que não sejam de seus filhos. Bolsonaro resiste, talvez por medo de desagradar o cercadinho.

Claro que não estou aqui tentando achar uma saída para o Capitão Morte.

O que mais espero é que num futuro próximo ele pague por seus crimes contra o povo brasileiro e pelas centenas de mortes pelas quais é responsável direto.

Até as proximidades de abril veremos se os rumores se confirmarão.

 


terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Get Back - The Rooftop Concert

Por Fernando Castilho



Eles tocam Get Back, Don’t Let Me Down e daí começa um jogo de imagens para dividir a tela e mostrar simultaneamente o show e o que acontece na rua


Há 10 câmeras espalhadas por toda parte! Todas analógicas! Cinco no telhado, uma na cobertura de um prédio em frente, três na rua (uma delas nas mãos de um repórter que entrevista as pessoas) e uma última escondida na recepção do prédio da Apple. Michael Lindsay-Hogg parece que desconfiou que policiais poderiam tentar entrar no edifício e quis filmá-los.

Ringo usa uma capa de chuva vermelha, George um casaco preto grosso sobre uma calça verde, Paul vai de blazer preto e um par de old brown shoes. John veste um casaco de pele emprestado de Yoko que lhe fica curto nos braços.

O show enfim começa e mostra os Beatles com uma desenvoltura surpreendente para um grupo que se mostrava inseguro apenas alguns dias atrás. Mas é revelado que até a hora de subir, eles resistiam a ideia.

Eles tocam Get Back, Don’t Let Me Down e daí começa um jogo de imagens para dividir a tela e mostrar simultaneamente o show e o que acontece na rua.

À certa altura John reclama que seus dedos estão doendo por causa do frio.

As pessoas começam a chegar na hora do almoço. Há muitos funcionários de escritório, mas também senhoras aposentadas.

O repórter pergunta se sabem quem está tocando. Claro que todos sabem.

O que estão achando? A grande maioria está gostando muito, mas um homem, possivelmente um empresário ou chefe de departamento diz que naquele horário o show atrapalha os negócios.

Outro senhor mais idoso diz que gostaria que sua filha namorasse com um dos Beatles porque eles eram ricos.

Dois policiais chegam ao prédio da Apple e dizem na recepção que o barulho está incomodando e que era preciso parar sob pena de começarem a fazer prisões. Não sabem que estão sendo filmados. A recepcionista diz que os Beatles estão gravando um filme. Um funcionário aparece para dizer que vai ver como resolver o caso.

John reclama que seus dedos doem por causa do frio.

Passa-se algum tempo e aparece na recepção Mal Evans, o faz-tudo do grupo. Conversa com os policiais para enrolá-los ao máximo. Sai para ver como pode resolver a situação enquanto os policiais aguardam na recepção. Mais tarde, já com o show no fim, os leva para o telhado.

Um sargento. muito educadamente, pede para entrar.

Com os policiais já no telhado, Mal desliga os amplificadores, mas George os religa.

O show, enfim, termina.

Uma coisa que não sabia é que algumas músicas foram repetidas algumas vezes, como Get Back (3 vezes) e Don’t Let Me Down (2 vezes), o que acaba sendo um tanto cansativo para quem vê o documentário, mas já para quem está na rua, as músicas são novidade. Em Don't Let Me Down, John errou a letra e todos riram, menos Paul. Dali em diante um dos auxiliares se ajoelha segurando as letras das músicas.

Algumas delas receberam também a legenda “esta é a versão que aparece no  álbum Let it Be”, cumprindo assim o propósito de um álbum gravado ao vivo, ou quase. É por isso que as músicas eram repetidas. Precisavam encontrar a melhor performance.

Terminado o concerto, restava ainda gravar no estúdio as faixas que não foram tocadas no telhado. George perguntou se havia uma lei que proibisse shows como aquele e profetizou que dali pra frente todos os grupos de rock de Londres iriam fazer shows em telhados. Certo, U2?

Por fim, depois que Glyn falou que ficou tudo muito bom, Paul convoca todos a tentar mais uma gravação.

Só o Paul mesmo.

A ideia do concerto foi genial e agitou a sisuda e cinzenta Londres na hora do almoço.

O intuito de promover o novo álbum funcionou, mas o projeto de gravá-lo integralmente no terraço foi frustrada, pois os Beatles precisavam de mais tempo para tocar, impedidos que foram pelos policiais.

A imagem em 4K permite uma definição muito boa não parecendo que o show foi gravado há 53 anos!

É preciso falar também do som, excelente, mesmo se tratando sda tecnologia analógica de apenas oito canais da época. Logicamente Peter Jackson trabalhou também para digitalizar as músicas.

Não sei se Michael Lindsay-Hogg teve a intenção ou não de “esconder” Billy Preston durante o concerto, mas o fato é que o espectador desavisado dificilmente o notará. Billy deveria naquele momento aparecer como um quinto beatle pois foi ele quem motivou o grupo a continuar e emprestou seu talento para que as músicas ficassem realmente boas.

Enfim, para encerrar, fica um documento com sabor de quero mais. Surpreende quem é fã desde aquela época e pode empolgar novas gerações que não conheceram os Beatles e sua obra fantástica.

Não há como, para alguém como eu, que vivenciou o auge e o fim do quarteto de Liverpool e que tinha assistido ao filme Let It Be algumas vezes, tentando decifrar como se dava a criação de suas músicas, não se emocionar com os detalhes que Michael Lindsay-Hogg captou tão bem e que Peter Jackson condensou nassas quase oito horas de documentário.

Que venha mais!

Agradeço a todos por acompanhar esta série de análises e comentários. É graças a isso que me sinto motivado a escrever cada vez mais.



           

 

 

 


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

20 aforismos contemporâneos de equivalência, redução ou circunstância

Por Walter Falceta 


1) Nem todo idiota é bolsonarista, mas todo bolsonarista pratica a idiotia.

2) A maioria dos esportes competitivos é um tipo de arte; mas o inverso nunca é uma verdade.

3) A vacina tem muitos inimigos; ela, no entanto, é sempre generosa, mesmo com eles.

4) Se a magnânima Amazônia trocasse de lugar com o presidente, ela certamente não o escalpelaria.

5) Sem educação, o sonho do oprimido é se tornar um opressor; enquanto o inverso, obviamente, nunca é uma verdade.

6) A argumentação clara, precisa e fundamentada é bem necessária, ainda que seja o pé de cabra que abre a caixa de pandora da inveja.

7) Tornar-se vítima do maldizer popular pode, em última instância, representar o elogio do bom senso.

8 ) Todo moralista, em última análise, quer proibir os outros de fazerem o que ele deseja, mas não pode ou não consegue.

9) O que mais enfurece o conservador não é a demanda do trabalhador, mas o sucesso do filho deste.

10) Preste atenção: os impacientes que te apressam são, em geral, lentos e preguiçosos no momento de retribuir teu zelo.

11) Os maiores imbecis do mundo têm grandes chances de arrebanhar multidões de seguidores; os grandes sábios, na mesma proporção, de receber um tiro, um laço no pescoço ou uma cruz.

12) Todo racista berra que a bronca do oprimido seja mimimi; enquanto, na verdade, o verdadeiro mimimi é o berro.

13) Alguns amigos somente existem para que você se lembre da falta que faz a verdadeira amizade.

14) Um copo meio cheio ou meio vazio? Sofisma. Do lado de fora, é sempre vazio.

15) Se toda nudez será castigada, por que não desnudar todas as formas de castigo?

16) Todo fariseu tem por perto outro fariseu, que o aplaude. O farisaísmo é um vício de grupo.

19) É preciso separar a obra de seu artista; tá ok; quem vai levar a 6a. Série B para a exposição com as pinturas de Hitler?

20) Se a morte de Teori foi acidente, quem tramou para acidentá-lo?


Imagem: "Filósofo em Meditação", 1632, Museu do Louvre,
Rembrandt Harmenszoon van Rijn (Leida, 15 de julho de 1606
Amsterdam, 4 de outubro de 1669)



Adeus, Rayan

Por Fernando Castilho



Rayan tinha apenas cinco anos e, por isso, eu gostaria que o leitor fizesse um esforço de empatia para tentar sentir o que o menino sentia ali, num lugar escuro, apertado, a 32 metros da superfície, longe dos pais e com muito frio


O acidente sofrido por Rayan Awran gerou comoção e solidariedade nas redes sociais em todo o mundo. "Resista pequeno Rayan, por favor, resista", implorou um internauta no Twitter.

"Nossos corações estão com a família e oramos a Deus para que ele se reúna com seus parentes o mais rápido possível", disse o porta-voz do governo Mustapha Baitas.

Rayan caiu num poço de 32 metros de profundidade na terça-feira passada. A família custou um pouco a encontrar o local, mas logo em seguida as tentativas de resgatá-lo começaram.

Por mais que água e alimento tenham sido baixados para o fundo do poço, não se sabe se a criança chegou a usufruir disso.

Rayan tinha apenas cinco anos e, por isso, eu gostaria que o leitor fizesse um esforço de empatia para tentar sentir o que o menino sentia ali, muito machucado pela queda, no escuro da noite, num lugar apertado, a 32 metros da superfície, longe dos pais e com muito frio.

Se você conseguiu sentir a dor e o desespero, parabéns. Eu não consegui. Porque devem ter sido indescritíveis.

Ontem fiquei prostrado após saber da notícia. O choro foi inevitável.

Comparo Rayan com minha netinha quando tinha essa idade. Tão frágil, tão dependente dos pais, tão cheia de vida.

Mas ela leva uma vida boa, tendo acesso a comida boa e farta, brinquedos e celular, além de escola.

Mas, e Rayan? O pequeno Rayan nascido em uma família muito pobre. Rayan, o menino cujo brinquedo era o quintal de sua casa, que se alegrava com o pouco que tinha para brincar e que não teria na vida as mesmas oportunidades de quem nasceu em berços mais privilegiados.

Rayan sofreu uma das piores torturas que uma criança já pode ter sofrido.

Mustapha Baitas orou a Deus, mas não foi atendido. O mesmo a família deve ter feito, mas também não foi atendida.

Sofrerei críticas por minha indignação, é certo, mas não há como aceitar que um Criador, também chamado de Pai, que tudo pode e tudo vê, não tenha tido a sensibilidade de salvar esse menino. Seria um milagre? Ora, não dizem que milagres em condições menos desfavoráveis e até menos importantes, acontecem todos os dias?

Que mal fez essa criança de apenas cinco anos para não ser salvo?

A mãe disse que essa foi a vontade de Deus.


domingo, 6 de fevereiro de 2022

Get Back, o filme - episódio 3

Por Fernando Castilho



Billy continua a fazer a diferença nos teclados. Inova em Let it Be e Paul lhe faz uma revelação em tom de elogio: “vir do norte da Inglaterra não facilita nada essa pegada mais soul”


Após ter analisado e comentado os episódios 1 e 2 de Get Back, decidi separar a análise e os comentários do episódio 3 em duas partes para que o texto não ficasse longo demais.

Desta forma, vai aqui o episódio 3 sem o concerto no rooftop, pois este será tratado à parte, pois demandará mais descrições de como ele se deu.

No fim do episódio 2 a câmera capta o exato momento e não deixa dúvidas. A ideia de fazer o show no telhado da Apple foi apresentada a Paul por Michael Lindsay-Hogg e Glyn Johns. A expressão de Paul mostra o quanto ele se surpreendeu e gostou logo de cara.

Michael Lindsay-Hogg

O terceiro episódio começa com Ringo tocando uma parte de Octopus’s Garden ao piano. O pessoal gosta e John vai à bateria para marcar o ritmo. Ringo revela que só tem a primeira parte. A música não fará parte de Let It Be, mas será incluída em Abbey Road.

George agora parece bem à vontade no grupo. Apresenta ao grupo Old Brown Shoe bem mais elaborada e Paul se empolga com a música. Parece que George percebeu que precisava trazer músicas em estágio um pouco mais avançado para mostrar aos companheiros. Agora temos um grupo coeso novamente.

Billy continua a fazer a diferença nos teclados. Inova em Let it Be e Paul lhe faz uma revelação em tom de elogio: “vir do norte da Inglaterra não facilita nada essa pegada mais soul”. Realmente essa pegada de Billy dá um tempero bem melhor às músicas.

Os Beatles trabalham como nunca. Get Back fica praticamente pronta e Don’t Let me Down ainda é um problema para John, principalmente na letra.

I’ve Got a Feeling fica pronta.

George insiste em Something e revela que não sai do lugar há seis meses. Apesar de John voltar ao “me atrai como uma couve-flor”, agora eles gostam da música. Ela também fará parte de Abbey Road.

Interessante ver nesse episódio o grande consumo de champanhe, sei lá por quê. George também aparece tomando uísque enquanto compõe.

Os Beatles sempre se ressentiram da morte de Brian Epstein, o paizão que mantinha o grupo coeso e, por isso buscam um novo empresário já que não admitem a liderança de Paul como foi demonstrado no episódio 1. John fala pela primeira vez de Allan Klein e elogia suas qualidades para se tornar o novo empresário do grupo. “Impressionante como conhece todos, sabe tudo de cada um”.

Paul vira a cara. Mais tarde saberemos que ele preferia que seu sogro empresariasse os Beatles.

George expõe a John seu projeto de um álbum solo. Este fica um pouco surpreso, mas o primeiro se justifica dizendo que todos poderiam enveredar por esse caminho para dar vazão aos seus projetos próprios. Sabemos que o resultado, Wonderwall Music não foi tão bom assim.

Uma das passagens mais engraçadas é quando Jonh e Paul cantam Two of Us entre os dentes, sem mover a boca. Hilário. Eles se divertem muito e, por incrível que pareça, conseguem, mesmo quando tem que cantar trechos como “Not arriving on our way back home” que tem a palavra “back” que começa com “B”, muito difícil de falar dessa forma. Nada indica que eles se desentenderão e se separarão.

Algo que chama a atenção é como John se desconcentra o tempo todo. Faz piadas sem muita graça, imita outras pessoas cantando (Well you can imitate ev'ryone you know) e faz caretas de todo tipo. O grupo precisava focar nas músicas devido ao prazo curtíssimo, mas John atrapalhava. Nem por isso os demais o repreenderam, muito menos Paul, que até parece que curtia. He just let it be.

Diz-se por aí que Yoko era a mala que John carregava (she’s so heavy), mas talvez fosse o contrário, pelo menos durante as filmagens. In that respect he let me down.

Sem querer defender que Paul era realmente o mais profícuo criador dos quatro, fica patente que John não está em seus melhores momentos criativos, apesar de Don’t Let Me Down ser realmente uma grande música, mas que não fará parte de Le It Be.

No documentário aparecem legendas do tipo “esta é a versão que aparece no álbum” quando algumas músicas já tiveram suas gravações concluídas por Glyn Johns.

Glyn Johns

Enfim chega a véspera do concerto no telhado da Apple e todos estão apreensivos. Fará frio, mas não choverá. De qualquer forma, Ringo vestirá uma capa vermelha impermeável. One of us will wear a raincoat.

Peter Jackson tem um valiosíssimo tesouro em mãos e só compartilhou conosco cerca de 15% dele.

Pode ser que a maior parte seja entediante e sem importância, mas ficou claro que houve um hiato no documentário, já que, de uma hora para outra, as músicas que ainda estavam muito embrionárias, aparecem já quase prontas no episódio 2, quando surge Billy Preston.

Além disso, há trechos que poderiam ser cortados, principalmente no episódio 2.

Portanto, não há como, sem ver o restante das quase 45 horas de gravação, avaliar se a edição feita por Jackson foi a melhor possível.

Podemos dizer que Michael Lindsay-Hogg, o diretor que gravou as 53 horas, foi visionário e que Glyn Johns fez um grande trabalho de mixagem e gravação numa mesa de oito canais, como George queria.

Bem, espero que todos tenham gostado.

Acompanhe a análise do concerto no telhado da Apple, The Rooftop Concert, o último dos Beatles.



sábado, 5 de fevereiro de 2022

O país dos elegantes

Por Flávio de Castro



Eu confesso que não sei a verdade: não sei se Lula é ou não dono de um triplex no Guarujá como não sei se FHC é ou não dono de um apartamento na Avenue Foch, em Paris.

Sei apenas que a presunção de ser dono de um tríplex no Guarujá é inequivocamente associada à corrupção e a presunção de ser dono de um apartamento em Paris não tem nada a ver, obviamente, com corrupção.

Especialmente se o apê do Guarujá for um tanto novo-rico e o apê de Paris, um tanto elegante.

A questão é estética.

Lula carregando uma caixa de isopor e sendo dono de um barco de lata é uma cômica farofa. Se FHC carregasse uma caixa de isopor e fosse dono de um barco de lata seria uma concessão à humildade.

A questão é classista.

Um Odebrecht sentado à mesa com FHC é um empresário rico. O mesmo Odebrecht sentado à mesa com Lula é um pagador de propina.

Nada disso tem a ver com corrupção. Nada disso revela qualquer preocupação com o país.

A cada dia que passa, é mais evidente que o que está em discussão é quem são os verdadeiros donos do poder.

E os donos legítimos do poder são os elegantes. Aqueles com relação aos quais não interessa saber como amealharam riqueza porque, simplesmente, a riqueza lhes cai bem.

A casa grande tem um perfume que inebria toda a lavoura arcaica e sensibiliza até a senzala. É o que estamos assistindo.

Tudo o mais, tudo o que não é casa grande é Lula e os amigos de Lula!

A questão é preconceito.

Vejam como um fraque cai naturalmente bem em FHC. Um fraque assim em Lula, certamente, deveria ter sido roubado.

O Brasil é o país dos elegantes. De uma elegância classista, racista e preconceituosa deitada eternamente no berço esplêndido do aristocrático século XIX.

[FHC, por favor, levante a gravata do seu lado direito, está um pouco torta, isso, perfeito!]