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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Centrão: o grande camaleão da politica brasileira

Por Fernando Castilho



Nos últimos tempos, o Centrão, essa entidade política que sempre sabe onde fica a cozinha, esteve confortavelmente abraçado à extrema direita bolsonarista. A parceria, claro, não foi por afinidade ideológica, mas por conveniência. Prova disso foram os mimos trocados, como a PEC da Blindagem, uma tentativa quase poética de escapar das investigações sobre o destino das emendas parlamentares. Afinal, ninguém quer acabar atrás das grades por falta de zelo orçamentário.

Outro ponto de união foi a resistência à taxação dos super-ricos. Nada mais natural: muitos dos parlamentares do Centrão fazem parte desse seleto grupo e, como bons representantes (deles mesmos), defenderam com unhas e dentes seus próprios bolsos.

Mas eis que o roteiro saiu do controle. O povo, elemento imprevisível da democracia, resolveu sair às ruas contra os abusos. A mobilização popular pegou os parlamentares de surpresa. Com as eleições se aproximando, a má fama do Centrão começou a ameaçar a reeleição de seus membros, que até então acreditavam que bastava distribuir emendas e selfies para garantir votos.

A onda de protestos também deu um empurrãozinho nas pesquisas para o presidente. Lula foi beneficiado por episódios dignos de série. Eduardo Bolsonaro, ao agir contra os interesses nacionais, acabou presenteando Lula com o papel de defensor da soberania. É preciso lembrar que, uma vez iniciadas as campanhas eleitorais na TV, os vídeos em que Eduardo pede que os Estados Unidos imponham sanções ao Brasil, joguem uma bomba atômica ou enviem um porta-aviões para cá, serão enormemente explorados. Quem do Centrão, em juízo perfeito, vai querer ter seu nome ligado a alguém tão tóxico ao país?

Além do tiro no pé que Eduardo deu, Donald Trump, num giro inesperado, buscou diálogo com Lula para tentar consertar os estragos do tarifaço. Sim, até Trump percebeu que talvez seja melhor conversar com quem manda de verdade e não com dois patetas.

Outro dado importante é o destino de Jair Bolsonaro. Preso, ele iniciará uma nova trajetória rumo ao... ostracismo. Rei morto, rei posto. Adeus.

Enquanto o cenário se inverte, dois ministros de Lula, mesmo sob ameaças de expulsão partidária, ignoraram os caciques e permaneceram no governo. Um gesto raro de convicção política, ou talvez apenas de cálculo mais refinado.

Diante desse novo cenário, o Centrão, sempre com o dedo no vento, começa a recalibrar sua bússola. Alguns membros já se aproximam do governo, conscientes de que dividir o palanque com Lula, favorito em todos os cenários eleitorais, e não com um possível Tarcísio ou Ratinho Jr., pode render bons frutos. Afinal, quem quer ficar do lado que só oferece desgaste e memes ruins?

A debandada tem uma consequência direta: o isolamento dos bolsonaristas, agora desmascarados por seu apoio explícito aos bilionários, às casas de apostas e aos bancos. Nada como defender esse povo... rico. E há vídeos mais que suficientes de Sóstenes e outros, que serão explorados durante a campanha.

A aproximação do Centrão com Lula pode redesenhar completamente o jogo político. Governadores e prefeitos ligados ao grupo já ensaiam passos rumo ao governo federal, em busca de apoio, recursos e, claro, emendas. A dança das cadeiras começou, e os palanques bolsonaristas em estados-chave correm o risco de ficarem vazios ou, pior, com plateia hostil.

No Nordeste, onde Lula nada de braçada, a migração partidária deve ser ainda mais intensa. Não será surpresa se deputados e senadores trocarem de sigla como quem troca de gravata, buscando abrigo em partidos mais alinhados ao governo, como PSB, MDB ou até o próprio PT. Afinal, a coerência para eles é ditada pelo momento.

Essa disputa por espaço no campo governista pode gerar tensões internas. Partidos que sempre estiveram com Lula vão exigir contrapartidas: mais ministérios, mais apoio, mais tudo. E o bolsonarismo? Deve se restringir aos núcleos ideológicos mais radicais, com menos capilaridade eleitoral e orçamento digno de vaquinha online.

Com o Centrão recalculando sua rota, a dinâmica legislativa também muda. Lula pode conquistar uma base mais ampla e estável, suficiente para aprovar projetos estratégicos, especialmente nas áreas de economia, justiça tributária e reformas sociais e ambientais. O isolamento dos bolsonaristas, por sua vez, tende a reduzir a obstrução nas votações. O plenário, palco de gritaria e memes, pode finalmente virar espaço de debate (ou pelo menos de silêncio constrangedor). A negociação com o Centrão, embora pragmática e baseada em cargos e verbas, pode garantir avanços em pautas populares. Afinal, até o fisiologismo tem seu lado útil.

O Centrão, como sempre, não decepciona. Atento à direção dos ventos, recalculou sua rota com a precisão de um GPS político. A combinação entre pressão popular, desgaste bolsonarista e ascensão de Lula criou um novo campo gravitacional no Congresso. E como bons satélites da sobrevivência eleitoral, os parlamentares estão sendo atraídos para o lado do governo.

Se isso vai redefinir os rumos do país? Provavelmente. Se vai ser por convicção? Pouco provável. Mas no Brasil, até a conveniência pode ser revolucionária, desde que venha com cargo, verba e uma boa foto no palanque.

domingo, 19 de outubro de 2025

Procurando o procurador Gonet. Cadê você?

Por Fernando Castilho



O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, foi impecável ao oferecer denúncia contra Jair Bolsonaro no caso da tentativa de golpe de Estado. Palmas. Aplausos. Medalha de mérito jurídico. Mas agora, parece que resolveu dar uma pausa estratégica, e está deixando Alexandre de Moraes com um abacaxi institucional para descascar.

Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 18 de julho, no inquérito que investiga seu filho Eduardo e o sempre performático e traidor da pátria Paulo Figueiredo, por obstrução da ação penal relacionada ao golpe. Entre os motivos da prisão preventiva está o risco de fuga e, convenhamos, não seria exatamente surpreendente se o ex-presidente fugisse.

Só que os advogados de Bolsonaro, percebendo que Gonet sumiu da cena, pediram a revogação das medidas cautelares. Moraes, claro, negou. Mas, ironicamente, os advogados têm um ponto: sem denúncia formal, a prisão preventiva começa a parecer uma peça de teatro jurídico sem roteiro. E isso coloca Moraes numa sinuca de bico: se revogar, Bolsonaro pode fugir e o caos estará armado. Se mantiver, será acusado de manter uma prisão ilegal. E lá vem o discurso de perseguição política.

A situação de Bolsonaro hoje é bem diferente daquela de três meses atrás, quando muita gente estourou champanhe acreditando que ele iria direto para a Papuda. Hoje, essa certeza evaporou. Além dos problemas de saúde alegados (com boletins médicos dignos de novela), há uma tendência crescente e preocupante de normalizar a ideia de que ele cumpra pena em prisão domiciliar. Afinal, já está lá.

Essa normalização vem sendo empurrada por setores da grande imprensa e por políticos de vários naipes. É claro que Bolsonaro não vai cumprir pena pelo genocídio durante a pandemia, nem pelo desfile de joias desviadas. Mas, para quem acompanhou a trajetória do traste por quatro longos anos, a condenação de 27 anos soa como uma espécie de acerto simbólico, uma tentativa de justiça acumulada.

Agora, se essa pena virar prisão domiciliar num condomínio de luxo em Brasília, com aluguel bancado pelo Fundo Partidário do PL, ou seja, com o nosso dinheiro, então não é punição, é prêmio. E ainda há o projeto que reduz a dosimetria da pena, podendo colocar Bolsonaro de volta à sociedade em cerca de três anos. Três curtos anos. Depois voltará a sua habitual sandice provocando nossa sanidade mental.

Não. Paulo Gonet precisa oferecer a denúncia ao STF, para que Bolsonaro se torne réu também por obstrução de justiça. Isso aliviaria a pressão que os advogados estão jogando sobre Moraes e, quem sabe, evitaria mais uma reviravolta digna de série política.

Vamos lá, Gonet. É pra ontem. Antes que a Papuda vire só mais uma miragem institucional.

sábado, 11 de outubro de 2025

O grão-vizir e o ex-sultão manipulável – uma fábula da verdade

Por Fernando Castilho




A Polícia Federal, em um raro momento de dramaturgia institucional, revelou o áudio de uma conversa nada republicana entre o empresário da fé, Silas Malafaia, e o ex-presidente que muitos já chamam de Deve Jair Preso. O conteúdo, digno de um conto oriental, evoca imediatamente a fábula de O Rei Yunan e o Médico Ruyán — onde a gratidão é vencida pela intriga, e a razão, pela manipulação.

Yunan Bolsonaro, ex-sultão de uma terra outrora próspera, sofre de uma doença incurável – talvez erisipela, talvez ego inflamado. Os generais-médicos do reino, com suas fardas engomadas e diagnósticos patrióticos, são convocados para resolver o problema. Fracassam, claro.

Surge então Duduh Também Deve Ser Preso, o filho estrangeiro, que propõe uma cura sem bisturis nem poções – apenas conversas ao pé de ouvido com o rei maior para tentar que ele intervenha. O ex-sultão, isolado em seu palácio, aguarda ansioso uma solução. Ela não vem.

Mas eis que o grão-vizir, tomado pela inveja e pelo instinto de sobrevivência política, sussurra ao ex-sultão:

— Majestade, quem cura com facilidade também pode matar com facilidade. E se ele estiver tramando algo contra ti?

O ex-sultão, antes grato, agora é paranoico. E como toda fábula que se preze, a ingratidão vence: o filho estrangeiro é chamado de imaturo. Este, inconformado com a traição, manda um recado para o pai, digno de um trovador moderno:

— VAI TOMAR NO CU, SEU INGRATO DO CARALHO!

O grão-vizir Silas Mau Lafaia, então, em várias conversas, resolve conduzir Deve Jair Preso como quem leva um camelo teimoso pelo deserto: com firmeza, paciência e um chicote verbal disfarçado de elogio. Chama-o de “homem muito inteligente” — um elogio tão deslocado que nem o destinatário parece entender.

Deve Jair Preso, fiel à fama de manipulável, obedece a uma ordem de Silas Mau-Lafaia: Dá bronca no filho Duduh. Depois, perdoa. Porque o grão-vizir manda. Mau-Lafaia também ordena que o ex-sultão negue qualquer intenção de aumentar tarifas contra seu país. Ele escreve um texto, mas o grão-vizir ordena que ele grave um vídeo. É um ex-sultão sem vontade própria – governado por seu grão-vizir.

Os áudios sugerem que Malafaia talvez seja a mente por trás da tentativa de golpe. E o ministro Alexandre de Moraes, com a elegância de um gato brincando com o rato antes do bote, deixa o grão-vizir da fé à vontade para esbravejar. Cada palavra dita é uma corda a mais no laço que se aperta.

Se a fábula seguir seu curso, veremos o empresário da fé – outrora intocável – conhecer o lado menos celestial da justiça. E quando isso acontecer, não será apenas um desfecho jurídico. Será uma catarse narrativa.

Aleluia.

A banalidade do mal quando se morre atirando

Por Fernando Castilho



Há muitos anos, assisti a um filme que me deixou inquieto — não apenas pela brutalidade dos fatos históricos, mas pela revelação de uma verdade sombria: o ser humano pode persistir na maldade mesmo quando tudo está perdido, mesmo quando não há mais salvação possível.

O filme era Downfall (A Queda!), um drama histórico devastador que retrata os últimos dias de Adolf Hitler em seu bunker, em Berlim, abril de 1945.
A cidade estava em ruínas, bombardeada sem cessar. O fim do ditador era inevitável. Mas, em vez de recuar, ele se afundou ainda mais em sua loucura.
A iminência da derrota não o fez renunciar à crueldade — a intensificou.

Um dos atos mais insanos foi o Decreto Nero (o nome é muito apropriado) , assinado em 19 de março de 1945.
Hitler ordenou a destruição total da infraestrutura alemã — fábricas, pontes, ferrovias, depósitos — para que nada de valor caísse nas mãos dos Aliados.
Não era uma estratégia militar. Era vingança. A Alemanha, já destruída pela derrota, pagaria um preço ainda mais terrível.
Hitler acreditava que o povo alemão, por tê-lo “traído” ao perder a guerra, não merecia sobreviver.
Felizmente, muitos generais ignoraram a ordem, percebendo que não havia mais nada a salvar — nem o regime, nem o líder.

Uso esse filme como analogia para o que está acontecendo agora com Jair Bolsonaro.

O ex-presidente está condenado e será, sem sobra de dúvidas, preso por muitos anos. Já cumpre prisão domiciliar.
Mas, mesmo encurralado, não abandona o rancor, nem a sede de revanche.
Seu filho, com seu aval, permanece nos Estados Unidos articulando sanções contra o Brasil.
Sanções que não atingem apenas ministros do STF — atingem o povo brasileiro.
Empregos serão perdidos. Famílias serão prejudicadas. A economia será ferida.

Então, cabe perguntar:

De que valem essas ações, se não têm o poder de salvá-lo da prisão?
Por que insistir na maldade?
Por que Bolsonaro não ordena que seu filho pare com essa traição à Pátria?
Por que não pede a algum aliado — Malafaia, Tarcísio, Valdemar Costa Neto — que redija um discurso pedindo a Trump que cancele as sanções contra o Brasil?

Mesmo que não surta efeito, não seria um gesto digno?
Não pareceria, aos olhos do povo, um estadista preocupado com o país?

Mas não.
Mesmo diante da ruína — e sem qualquer perspectiva de reversão — o ódio, o rancor e o desejo de vingança são mais fortes. Seu caráter foi forjado nessas características.
Bolsonaro é aquele que morre, mas leva muita gente inocente junto.

Que ser humano é esse?