Por Fernando Castilho
Não precisamos perder tempo relembrando os últimos espetáculos grotescos de Hugo Motta na Câmara dos Deputados. O que importa é ir direto ao ponto.
O famigerado PL da Dosimetria
já passou pela Câmara e agora segue para o Senado. Lá, o presidente Davi
Alcolumbre, sempre ávido por protagonismo, anunciou que pretende votar ainda
este ano. O detalhe é que vários senadores como Renan Calheiros e Otto Alencar já
se insurgiram de forma áspera contra o atropelo e disseram que não vão engolir
a pressa. Veremos.
O relator escolhido é ninguém menos
que Esperidião Amin, do PL. Um homem que guarda no coração sua velha
paixão: a Arena, partido que sustentou a ditadura militar. Pois bem, Amin já
avisou que vai “mexer” no projeto para incluir a anistia. Ou seja, o que será
votado não é o PL original, mas um Frankenstein jurídico feito sob
medida para reduzir as penas do totem Jair Bolsonaro e seus generais de
estimação.
Vale lembrar: quando a PEC da
Bandidagem chegou ao Senado, Alcolumbre correu para enterrá-la, tentando
agradar Lula para emplacar Rodrigo Pacheco no STF. Ganhou pontos, mas não
ganhou o prêmio. Agora, ressentido, decidiu se vingar. E a vingança vem
embalada no PL da Dosimetria.
Se esse monstrengo passar no Senado,
seguirá para sanção de Lula, que obviamente vetará. A Câmara, previsivelmente,
derrubará o veto. E então algum partido baterá às portas do STF com uma ADI ou
ADPF. É aí que mora o perigo. Explico.
Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e
Dias Toffoli são simpáticos a Rodrigo Pacheco. Já Nunes Marques e André
Mendonça preferem Jorge Messias, por afinidade evangélica. Lula sabe que o
projeto tem chances reais de ser chancelado pelo Supremo. Bastam seis votos. E
Alcolumbre também sabe. Portanto, há um conluio descarado entre parte
dos ministros do STF e o presidente do Senado.
No meio disso tudo, Jorge Messias
virou moeda de troca. O assalto é cristalino: “Lula, não indique Messias.
Indique Pacheco e o PL da Dosimetria será enterrado no Senado.” É chantagem
pura e simples. E, como toda chantagem, tende a funcionar. Lula será empurrado
a indicar Rodrigo Pacheco.
Eis a atmosfera em que os poderes
convivem “harmoniosamente” hoje: um teatro de pressões, vinganças e chantagens.
Harmonia, aqui, é apenas o nome pomposo dado ao caos institucional.