quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O golpe, com o Supremo, com Barroso, com tudo

Por Fernando Castilho



Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período

Domingo, 17 de abril de 2016, um dos dias mais vergonhosos da história do Brasil.

Foi nesse dia que a Câmara, abarrotada de deputados, votou o impeachment de Dilma Rousseff.

Vimos com indignação e horror, parlamentares citarem a família, a esposa, os filhos, o cachorro, o papagaio para darem seus votos a favor da derrubada da presidenta.

Não faltou, claro, o voto do então deputado Jair Bolsonaro que prestou homenagem ao maior torturador do país, aquele mesmo que torturou Dilma barbaramente, o coronel Brilhante Ustra.

Voltando mais ainda no passado, uma conversa telefônica gravada do então senador Romero Jucá com um empresário expunha como as coisas eram tramadas nas sombras. Jucá afirmava que era preciso tirar Dilma e por Temer. Que era preciso estancar a sangria. Que tinha que ser com o Supremo, com tudo, embora poupasse o então ministro Teori Zavascki que, segundo ele, não compactuaria do golpe.

Ou seja, o ministro Luís Roberto Barroso, indicado pela própria Dilma, estaria no bolso do colete de Jucá.

Quem acompanhou todo o processo que começou bem lá atrás em 2013 quando inicialmente pessoas ligadas ao Movimento Passe Livre saíram às ruas para protestar contra o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus e metrô em São Paulo. O movimento cresceu, impulsionado pela mídia e tomou as ruas de todo o Brasil. Agora não seria mais o preço das passagens, mas um descontentamento com a presidenta que viu sua aprovação cair de 60 para 30% em apenas um mês.

A partir daquele ano, os ataques contra Dilma começaram a aumentar e tornaram sua reeleição bem mais difícil do que se pensava.

Uma vez reeleita, Dilma viu não só aumentarem os ataques, mas também os boicotes a sua administração. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha trabalho para que nenhum projeto fosse aprovado, amarrando as mãos do governo e criando o clima favorável para o impeachment.

Dilma seria defenestrada pelo poder devido a um crime de responsabilidade inventado de última hora, as tais pedaladas fiscais que não significaram apropriação indébita de recursos, ou seja, sem corrupção.

Mas o que deputados e senadores queriam de fato era espaço para corrupção, já que Dilma fechara as comportas do dinheiro ilegal.

Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período.

Agora a Folha de São Paulo publicou um artigo que reaviva aqueles tempos.

O ministro Barroso resolveu escrever um artigo para a revista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) em que defende que o motivo real para o impeachment não foram as pedaladas, mas sim, a falta de apoio político.

“Creio que não deve haver dúvida razoável de que ela não foi afastada por crimes de responsabilidade ou corrupção, mas, sim, foi afastada por falta de sustentação política. Até porque afastá-la por corrupção depois do que seguiu seria uma ironia da história”.

Em artigo publicado em 2019 no livro Estado, Democracia e Direito no Brasil, Barroso já tinha defendido essa mesma tese. 

Ora, se não houve crime de responsabilidade nem corrupção, houve motivo razoável para o impeachment? Por que essa gente insiste em não usar o termo “golpe”? Pior, ele sustenta que não houve golpe!

Essa reflexão de Barroso acontece somente agora porque só agora ele tem um termo de comparação com Jair Bolsonaro, perto de quem, Dilma é uma madre Tereza?

Ou Barroso já tinha essa opinião em 2016, mas guardou para si, mesmo tendo sido indicado por Dilma?

Ele não poderia pelo menos declarar que não havia crime de responsabilidade?

Realmente Romero Jucá tinha razão. O golpe seria com o Supremo, com tudo.

Com cinismo, com tudo.

 


Um comentário:

  1. Eu não posso acreditar - E a compra da sucata de refinaria de Passadena ? É apenas uma delas, Isso fora os negócios com as empreiteiras.
    Jeitão de quem quer vender a imagem da Dilma como vice do Lula .. Tem-se que rever esse sistema de governo - Avaliem a posição do STF.....







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