Por Fernando Castilho
Nos
anos 90 havia uma propaganda na TV com um jingle assim: ''Lojas
Marabrás, preço menor ninguém faz''. Lembram-se?
Era
protagonizada por Zezé di Camargo e Luciano lá pelo ano de 2002.
Os
sertanejos emprestavam suas vozes ao jingle enquanto sentavam-se em
sofás e poltronas da loja.
Destinados
a um público assim chamado de classes D e E, os móveis eram
simples, fabricados em aglomerado de madeira, tinham pouca
durabilidade, mas custavam ''barato''. Ainda por cima podiam ser
comprados por crediário.
Na
época, o que me chamou a atenção foi ter visto em uma revista
fotos das salas das residências de Zezé di Camargo e Luciano.
Verdadeiro luxo. Decoração contratada a profissionais, móveis de
madeira de lei importados, enfim, um primor. Tudo muiiiiiito caro.
E
eles recomendavam que a gente comprasse os móveis da Marabrás...
Mulheres
lindas e famosas também fazem propaganda de xampus e sabonetes, além
de outros produtos de beleza.
Mas
lembrei-me agora de outra campanha publicitária dos anos 70, se não
me engano, estrelada por outro famoso: o atleta do século passado,
Pelé.
Pelé
fazia propaganda para a vitamina Vitasay. Ele que era modelo de
vitalidade, agora revelava a todos seu segredo. A Vitasay deve ter
vendido muito comprimido com Pelé.
Mas
será que ele chegou a tomar algum? Ninguém sabe.
Recentemente
vimos outro rei fazendo propaganda. Desta vez, o rei Roberto Carlos.
Fazendo propaganda da carne Friboi.
A
campanha causou polêmica na imprensa, nos blogs, nas redes sociais.
Diferentemente
dos outros garotos-propaganda mencionados, o rei não toca no produto
que promove. Por que?
Roberto
mantém há anos a imagem de vegetariano que come peixe, ovo, queijo
e toma leite.
Os
vegetarianos desfilam perante pessoas como eu, carnívoras (com certo
sentimento de culpa), uma certa aura. A de pessoas com grande força
de vontade, que se libertaram de um alimento, que apesar de ser fonte
de proteínas, carrega certa dose de toxicidade. São pessoas que nos
passam uma imagem mais pacífica, mais tolerante, menos agressiva
perante a vida, ao contrário das carnívoras.
Um
dos militantes do vegetarianismo, outro famoso, porém muito mais
famoso que o rei, Paul McCartney, tem denunciado a crueldade da
criação e do abate de animais.
Noticiários
revelaram que Roberto Carlos, após 30 anos de vegetarianismo,
arrependeu-se, voltando a comer carne.
Mais
tarde, o cineasta Fernando Meirelles afirmou que o rei nunca teria
deixado de ser vegetariano.
Só
mais recentemente, seu empresário revelou que Roberto nunca o foi de
fato.
Foi
revelado também que o cachê pago pela Friboi teria sido de 25
milhões de reais. Nada mau. Nada mau para quem está há 11 anos sem
gravar um álbum.
Agora
analisando:
1º.
Se Roberto Carlos se arrependeu do vegetarianismo, ele poderia ter
cortado o bife e comido um pedaço, não? Mas não o fez. Faturou 25
milhões.
2º.
Se o rei não desistiu de ser vegetariano, arriscou-se a ter sua
imagem comparada a uma nota de três reais. Mas faturou 25 milhões.
3°.
Se Roberto nunca foi vegetariano, poderia ter comido a carne. Mas não
o fez. Mas faturou 25 milhões.
De
qualquer forma, com qual imagem você ficou do rei? É falso, arrisca
sua imagem por dinheiro?
E
da carne da Friboi? A carne é ruim a ponto do Roberto Carlos não
comê-la?
Outra
questão pode ser colocada: você compra determinados produtos
somente porque estão associados a imagem de alguém? Que não os
consome?
Mais
uma indagação: É ético alguém que possui milhares ou até
milhões de fãs, seguidores, admiradores, associar sua imagem a
determinado produto, sem conhecer sua cadeia produtiva? Sem saber se
o fabricante contrata e paga regularmente sua mão de obra? Se paga
impostos com regularidade? Se o produto tem realmente qualidade? Se
não vai prejudicar a saúde de quem o consome?
Só
por dinheiro?