sábado, 17 de maio de 2014

Gushiken, um troféu de caça

Por Fernando Castilho

Pra variar saiu na Folha mais uma notícia relacionada ao mensalão.

É todo dia. 

Desta vez, ela dá conta de que a defesa de José Dirceu, cujo número de citações no jornal, de seis meses para cá, deve ter batido todos os recordes, acaba de recorrer ao Plenário do STF contra ao veto a seu trabalho externo.

Em que pese tudo aquilo que já foi publicado sobre o caso de Dirceu, o que dá um volume bem grande, haverei de em breve, escrever um pouco mais sobre o assunto.

Mas agora não é esse o caso.


Desde o começo do escândalo que se transformou na AP 470, vulgo julgamento do mensalão, a Folha de São Paulo publica acima de qualquer notícia sobre o assunto (e olha que tem material diário, mesmo após os veredictos terem sido confirmados já faz tempo) uma galeria de fotos do réus.

Como aqueles bustos de animais empalhados que frequentam paredes de caçadores, lá estão os 49 réus do processo.

Mas péra! Lá está a foto de Luiz Gushiken!



Gushiken, desde o início do processo do mensalão, manteve-se convicto de que não havia dinheiro da comunicação no dito mensalão. Dizia que a única maneira de algum valor substancial da área ir parar nas mãos dos partidos seria se os veículos estivessem remetendo os recursos de publicidade para campanhas eleitorais. A quase totalidade do dinheiro da publicidade é gasto justamente na veiculação de comerciais. Não fazia sentido.

Com essa certeza em mãos, Gushiken foi para uma das comissões parlamentares de inquérito montadas no Congresso e enfrentou gente como Eduardo Paes e Gustavo Fruet. Ambos eram estrelas do PSDB no espetáculo midiático do mensalão e diziam estar enfrentando o governo mais corrupto de toda a história do Brasil. Paes e Fruet, hoje no PDMB e no PDT, respectivamente, iriam depois se desculpar pessoalmente com Lula e pedir de joelhos o apoio às suas campanhas às prefeituras do Rio de Janeiro e de Curitiba, em 2012.

Acusado injustamente, Gushiken foi inocentado na peça elaborada pelo procurador-geral da República, no relatório de Joaquim Barbosa e pelo voto de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal. As manchetes do dia seguinte de forma alguma lhe fizeram justiça. Dizem, ainda hoje, após sua morte, que ele foi inocentado por “falta de provas”, como se fosse possível haver provas de algo que não existiu.

Uma nota da seção Radar, da Veja, acusou Gushiken de ter pagado com dinheiro público um jantar com um interlocutor que saiu por mais de 3 000 reais. A nota descia a detalhes nos vinhos e nos charutos “cubanos”.

Gushiken processou a revista. Ele forneceu evidências – a começar pela nota e por testemunho de um garçom – de que a conta era na verdade um décimo da alegada, que o vinho fora levado de casa, e os charutos eram brasileiros.

Mais uma vez, uma demora enorme na justiça, graças a chicanas jurídicas da Abril.

Em junho passado, Gushiken enfim venceu a causa. A justiça condenou a Veja a pagar uma indenização de 20 mil reais, valor que mais tarde, após recurso, foi reajustado para 100 mil reais.

Sua família, antes, durante e mesmo após já ter sido inocentado, sofreu na pele o ''julgamento'' que as pessoas comuns lhe faziam cotidianamente. No elevador do prédio, ao passar pelo porteiro, ao cumprimentar um vizinho, ao ir à padaria, ao supermercado, à banca de jornais, à um restaurante, cinema, lá estavam as pessoas com olhar perscrutador e pensamento carcereiro.

Nenhum dos detratores jamais pediu desculpas a Gushiken.

E a Folha ainda mantém na parede seu troféu de caça.


Nenhum comentário:

Postar um comentário