Foto: Nilton Fukuda |
Serão os dependentes internados num estabelecimento, à semelhança dos antigos manicômios, destinados somente a retirar de circulação e da vista de todos pessoas, feias, sujas e miseráveis?
João
Doria Jr. foi eleito prefeito da cidade de São Paulo com a promessa
de, ao invés de fazer política, ser um gestor.
Obviamente,
Doria, como todo empreendedor de visão, captou que o mercado de
eleitores estava cansado de seus governantes metidos em negócios
escusos com denúncias e delações surgindo a todo instante e que
havia um nicho importante que não devia ser desprezado. Bingo! Foi
eleito.
Uma
vez na prefeitura, Doria começou a fazer exatamente aquilo que
alguém faz quando compra uma padaria, um açougue ou qualquer outro
negócio: coloca uma faixa de “SOB NOVA DIREÇÃO”, simbolizada
nos adesivos de “CIDADE LINDA” e tratou de pintar a fachada do
estabelecimento, cheia de pichações, varrer e lavar tudo.
Isso
deu muita visibilidade ao estabelecimento e ao seu novo gerente.
Ações de marketing que impactaram.
Porém,
Doria se deparou com aquilo que ele considerou tralhas e que estavam
num setor pouco utilizado do estabelecimento só para atrapalhar e
enfeiar: os dependentes químicos. E ele queria muito passar a ganhar
mais dinheiro com esse setor.
Então
o gestor resolveu começar uma reforma mesmo sem antes ter tirado a
tralha e jogado fora.
A
tralha então foi espalhada pelas calçadas e chamou a atenção dos
vizinhos que começaram a reclamar.
A
metáfora pode ser meio esquisita mas não é muito forçada.
A
cidade de São Paulo não é uma padaria e não pode ser administrada
como se fora.
A
difícil questão dos dependentes químicos da Cracolândia já teve
várias abordagens pelo poder público. Devemos lembrar que Gilberto
Kassab criou a denominada Operação Sufoco, descrita pelo
coordenador de políticas de drogas da cidade como uma tentativa de
cortar o fornecimento de drogas aos usuários. O objetivo seria
"causar "dor e sofrimento" o suficiente para forçá-los
a procurar tratamento.
Antes
dele, José Serra em sua curta passagem pela prefeitura, também
tratou o problema como uma simples questão de polícia com resultados
pífios.
Após
tantos anos de falta de vontade política, chegamos ao Programa
Braços Abertos de Fernando Haddad que, se não chegou a resolver o
problema, conseguiu o feito de recuperar uma parte dos dependentes,
tratando-os com a dignidade que precisavam para começar a mudar de
vida.
Inspirado
pelo sucesso de programas similares na Holanda e Canadá, os cerca de
400 participantes da Braços Abertos recebiam US $ 6,50 por dia em
troca de quatro horas de trabalho na limpeza de parques e outros
locais públicos. Todos recebiam ainda refeições regulares e
habitação em hotéis locais.
Quem
teve forças conseguiu sair da Cracolândia. Quem não teve voltou ou
nem saiu.
Mas
o programa foi encerrado por Doria que achou que demolindo hotéis na
Cracolândia, mesmo com pessoas dentro, fechando bares que não
tinham autorização de funcionamento sem aviso prévio e expulsando
os dependentes com força policial, resolveria o problema.
Ledo
engano. E ele, se fosse um homem preparado, não deveria errar.
Agora
o gestor decide internar, usando um eufemismo, compulsoriamente os
dependentes.
Para
surpresa do alcaide, não há estabelecimentos com vagas suficientes
para internação, o que só demonstra que ele trabalha sem
planejamento algum.
Além
disso, o que esperar de uma internação compulsória?
Serão
os dependentes internados num estabelecimento, à semelhança dos
antigos manicômios, destinados somente a retirar de circulação e
da vista de todos pessoas, feias, sujas e miseráveis?
A
isso chamamos higienização social e até mesmo eugenia.
Já
vimos isso acontecer antes e os resultados não foram nada bons.
O
pior de tudo é que Doria jamais mudará sua maneira de pensar e
agir. Não nasceu pra coisa pública.
Doria
é um estranho no ninho na prefeitura. Achou que administraria a
cidade como se fosse uma de suas empresas. Não teve nem tato para
demitir sua Secretária Soninha Francini. Sua vocação mesmo é ser
empresário. Em suas empresas ele pode mandar e desmandar à vontade.
Mas
na cidade de São Paulo, não.
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