sábado, 30 de julho de 2022

Mudanças repentinas no xadrez eleitoral

Por Fernando Castilho

 

Gustave Doré - Nono círculo do Inferno, reservado aos traidores


Quando os prazos para a eleição vão ficando próximos de se esgotarem, mudanças repentinas sempre ocorrem. E os traidores, como ratos, vão saindo de suas tocas.

 

Escrevi em meu último texto sobre a relatividade do tempo.

Muito curto para alguns, muito longo para outros.

Pois é, 24 horas depois desses escritos, grandes mudanças no cenário eleitoral da disputa para a presidência da República.

Não havia saída possível para o capitão poder escapar de uma enxurrada de processos que viriam a partir do início do próximo ano, já que sua candidatura está fadada a um retumbante fracasso e a tentativa de golpe se mostrará inócua.

Mas, segundo a coluna de Mônica Bergamo, articula-se nos bastidores possível perdão ao criminoso que ocupa por enquanto a cadeira presidencial, condicionado à sua desistência em criticar as urnas eletrônicas, o TSE, o STF e seus ministros.

Acho muito difícil o sucesso dessas negociações, já que o capitão tem muito pouco a oferecer para se livrar de crimes muito graves. O nome de nosso judiciário ficaria manchado para todo o sempre. A ver.

Outra notícia que surgiu após meu texto é a tentativa do Aliança Brasil e seu cacique, Luciano Bivar, apoiar Lula já no primeiro turno.

Esse apoio, se se concretizar, seria determinante para a vitória antecipada do ex-presidente, em que pese a contrapartida do PT que pode vir a ser uma carga muito pesada. Porém, se Lula precisa de maioria no Congresso para garantir-lhe governabilidade, esta estaria praticamente assegurada.

E é claro, teremos que dar boas risadas do ex-juiz Sergio Moro, arqui-inimigo de Lula, que disputa o Senado no Paraná pelo mesmo partido.

Outra grande novidade é o twitter de André Janones sinalizando sua desistência da disputa para apoiar Lula já no primeiro turno.

Detentor de 8 milhões de seguidores e forte junto aos caminhoneiros, Janones havia procurado Ciro e Tabet para conversar, mas não foi recebido. O único que se dispôs a com ele dialogar foi o ex-presidente.

Como havia adiantado em meu último texto, já há muitos candidatos ligados ao presidente que estão evitando colar sua imagem à dele. Alguns já desembarcaram e outros, como Arthur Lira e Ciro Nogueira, escondem a figura do capitão em sua campanhas. Essa é a gente que iria para o nono círculo do Inferno, caso ele existisse.

A política é assim. Dinâmica e, quando os prazos para a eleição vão ficando próximos de se esgotarem, mudanças repentinas sempre ocorrem.

Por isso, é necessário aguardar, ficar antenado a novas ocorrências e ser ágil na escrita.

 


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dois longuíssimos meses até a volta da esperança

Por Fernando Castilho




O que resta ao ocupante da cadeira presidencial nesses próximos dois longuíssimos meses?


O tempo é relativo.

Para quem, em frente ao coqueiro verde, já tinha fumado um cigarro e meio e nada de Narinha chegar, o tempo parece uma eternidade.

Para quem está desenganado pelos médicos, dois meses passam num piscar de olhos.

Para Lula, que tem a real possibilidade de vencer as eleições presidenciais em 2 de outubro, dois meses é tempo longo demais, pois nesse período relativamente curto, reviravoltas são possíveis, mas não prováveis.

Considerando que já há mais de dez meses as posições de primeiro e segundo colocados permanecem praticamente inalteradas, somente um acontecimento totalmente fora da curva pode arrancar a vitória de Lula.

Além disso, há um empenho pessoal do capitão em ser derrotado. Até seus aliados mais próximos perceberam, ainda que tardiamente e já se desesperam.

O discurso golpista durante o lançamento de sua campanha assustou a elite que correu a assinar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito! (assine aqui)

O capitão não falou de controle da inlação, recuperação da economia e do emprego ou de crescimento do país.

Por isso, até Febraban e Fiesp, dois dos alicerces que congregam o filé do empresariado brasileiro, se fizeram presentes.

Restou ao mandatário da nação, apressadamente, desdenhar da iniciativa e, mais tarde, escrever ele próprio um manifesto com as únicas ferramentas que tem à mão: 27 palavras e o Twitter.

Se em 2018 essa elite apoiou decisivamente sua campanha, agora, preocupada com as consequências econômicas de um golpe, desembarca solenemente dela. O que será que o capitão imaginava? Que dariam apoio a essa aventura?

Além disso, o secretário de defesa norte-americano, Lloyd J. Austin III, em reunião com o ministro da defesa brasileiro, general Paulo Sérgio, manifestou sua confiança nas urnas eletrônicas, sugerindo que nenhuma ousadia golpista teria o apoio de seu país.

Com isso, as Forças Armadas, enquanto instituição, não deverão apoiar uma ruptura, embora haja alguns focos que permanecerão isolados, mas sem muita força.

O resultado é que o capitão está ficando só.

Não vence no voto e não consegue dar um golpe, embora continue a seguir na tentativa.

O que resta a ele, afinal?

Se Lula vencer em primeiro turno, imediatamente o capitão se transformará em cachorro morto.

As traições, que já estão acontecendo principalmente no Nordeste, aumentarão exponencialmente, afinal, para que ficar do lado de quem já não distribui mais recursos de orçamentos secretos?

A partir de janeiro próximo as denúncias de crimes de responsabilidade, que já somam mais de 40, começarão a gerar enxurradas de processos na primeira instância, já que o capitão perderá o foro privilegiado.

Na grande maioria deles, o então ex-presidente será condenado e, dependendo da celeridade das instâncias superiores, será preso daqui a pouco tempo, quando se esgotarem os recursos em terceira instância e não em segunda, como ele sempre defendeu.

É o futuro de quem desde cedo se propôs a entrar para a lata de lixo da história.

Enquanto isso, seguimos aguardando esses longuíssimos próximos dois meses.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

É urgente abafar o ensaio golpista de 7 de setembro!

Por Fernando Castilho


Pintura: Evandro Prado


A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Mesmo esperando que não, a lógica impõe que sim.


Às vezes fico na dúvida se escrevo ou não algumas linhas que podem ferir suscetibilidades. Felizmente, crio coragem.

A sociedade civil, finalmente, caiu na real e já assina um manifesto, a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!

Até agora são mais de 180 mil assinaturas, incluindo a minha. Isso não é pouco.

Porém, parece que ainda falta algo. O povo.

Precisamos sair às ruas antes do 7 de setembro e em número muito maior que o evento golpista.

Temos a real possibilidade de abafar qualquer ensaio que esteja sendo tramado.

Outra coisa é uma crítica à parte da esquerda que parece ter dificuldade de assimilar o que está por vir.

Leio aqui e ali que podemos dormir sossegados porque não haverá golpe.

Concordo que uma ruptura como deseja freneticamente o presidente da República está num horizonte que só ele enxerga porque não consegue aglutinar as forças necessárias para o feito.

Mas, se não haverá golpe, haverá a tentativa de golpe, pois o crápula que ora ocupa o Palácio do Planalto já convocou. Isso ficou claríssimo quando, durante o lançamento de sua candidatura, em que normalmente se faz discurso sobre programas de governo, o crápula preferiu chamar seus seguidores para o ato do Dia da Independência. E ainda disse que será a última vez que o cercadinho sairá às ruas.

O bandido não quer eleições porque já sabe que será derrotado. Ao tomar conhecimento da mais recente pesquisa Datafolha que crava 47% para Lula e apenas 29% para ele, resta apenas tentar virar a mesa.

E é esse o perigo.

A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Espero que não, mas a lógica impõe que sim.

O país pode ser virado de cabeça pra baixo!

É isso que precisa ser combatido agora.

Leio também análises ingênuas que tentam explicar a blindagem que o PGR, Augusto Aras oferece ao mandatário do país.

Dizem que Aras persegue um posto de ministro do STF e que por isso arrisca todas suas fichas no capitão.

O inominável perderá a eleição! Portanto, Aras se arrisca inutilmente a ser cúmplice de seus crimes por prevaricação.

A menos que também deseje um golpe.

Ou, o que me parece muito mais lógico, tem grana envolvida para que ele se exponha dessa forma blindando o capitão contra qualquer acusação. Vamos acordar!

Muita grana, até porque ninguém mais está controlando nada. Dinheiro sai secretamente e entra secretamente em contas secretas.

Enquanto isso, permanecemos aguardando uma convocação às ruas pela resistência, que deveria já estar sendo articulada pelos partidos que compõem a chapa Lula/Alckmin.

Enquanto isso, produzimos e compartilhamos uma infinidade de memes engraçados, imaginando que com isso estaremos furando a bolha da esquerda e atingindo os bolsonaristas.

Enquanto isso, textos como este, de alerta, não são lidos. Talvez nem pelos sites em que publico. Porque não têm legitimidade.

Enquanto isso, a vida segue.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

O Capitão Morte e a inexorabilidade do matadouro

Por Fernando Castilho


 

Hieronymus Bosch



(...) percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. 


Sou uma pessoa guiada fortemente pela razão e, por isso, tenho como hábito estranhar certos comportamentos que fogem da lógica mais elementar.

Todos vimos o presidente da República pagar pra ver, se arriscando a passar por um vexame internacional cujas consequências à sua campanha pela reeleição seriam logicamente danosas. A imprensa, dois dias antes, já alertava para o desastre.

A apresentação a 40 embaixadores foi, mesmo assim, posta em prática e não deu outra. A grande maioria dos diplomatas presentes conhece muito bem nosso sistema de apuração de 

A mídia internacional condenou a fala de Bolsonaro e o Departamento de Estado norte-americano deu-lhe um puxão de orelhas ao afirmar que as urnas eletrônicas são um exemplo para o mundo.

Mas a tresloucada aventura do capitão não foi um coelho retirado da cartola somente por ele. Os cupinchas presentes no evento compartilham das mesmas ideias e das mesmas estratégias que, aos poucos, vão minando sua candidatura frente um adversário que vem ostentando até agora uma sólida campanha.

Os generais Braga Netto e Augusto Heleno estavam presentes, o que indica apoio à estratégia suicida.

Mas não é só isso.

Embora não presentes, observa-se, por declarações em redes sociais, que os filhos do presidente também compartilham de sua jornada em direção à derrota.

É aí que precisamos parar para pensar no que pode estar por trás disso.

Estamos assistindo quase todos os dias Bolsonaro participando de motociatas e fazendo discursos direcionados à parcela da população que o apoia cegamente, em que, invariavelmente ataca o TSE e as urnas eletrônicas. Para o senso comum, esse comportamento parece campanha eleitoral, mas, na verdade, não é. Se fosse mesmo campanha eleitoral, ele estaria falando em reduzir a inflação, anunciando medidas econômicas para gerar empregos, etc.

O mais lógico parece ser a intenção de Bolsonaro de não chegar a 2 de outubro, dia da eleição, porque percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. O que ele está fazendo, na realidade, é campanha para preparar seus seguidores para se insurgirem contra o processo eleitoral. Preparando para um confronto.

O capitão está tentando aglutinar forças entre seus seguidores, as polícias, federal, dos estados e municípios, setores das Forças Armadas e parlamentares de sua base de apoio para melar as eleições, já em 7 de setembro.

Temendo a enxurrada de processos e consequente prisão por mais de 40 crimes de responsabilidade que estão elencados em mais de 150 pedidos de impeachment sobre os quais o presidente da Câmara, Arthur Lira olimpicamente se senta, não resta ao capitão outra alternativa que não um golpe.

É por isso que os cupinchas mais próximos e seus filhos parecem marchar resolutamente em direção ao precipício. Não são bobos. Sabem que não podem vencer as eleições.

Porém, as Forças Armadas, em sua grande maioria, não estão interessadas nessa aventura. Isso já foi demonstrado pela falta de adesão dos principais comandantes militares, ainda mais depois da declaração do Departamento de Estado norte-americano.

A grande imprensa, que até outro dia vinha sendo reticente, agora, talvez já percebendo a real possibilidade de tentativa de golpe, já se posiciona contrariamente a Bolsonaro, principalmente depois dos assassinatos do jornalista britânico Dom Philips, do indigenista Bruno Pereira e do petista Marcelo Arruda, além da apresentação vexatória aos embaixadores.

Os movimentos sociais, a sociedade civil, os artistas, os intelectuais e, mais recentemente, os procuradores do ministério público, já se organizam para rechaçar qualquer tentativa de golpe.

Bolsonaro a cada dia mais parece um touro inconformado em direção a um inevitável matadouro.

Vai mugir, soprar forte pelas ventas, se sacudir e espernear inutilmente até seu destino implacável que será a prisão por tentativa de golpe.

 


terça-feira, 19 de julho de 2022

O Capitão entrou em modo golpe

Por Fernando Castilho


“Torrente de Loucos”: ilustração de Candido Portinari - 1948


O insano já está em modo golpe, por isso, a resistência tem que iniciar agora.


O presidente Jair Bolsonaro fez uma apresentação a cerca de 40 diplomatas estrangeiros defendendo que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que as eleições de outubro podem ser fraudadas.

O fato pode ser classificado como inusitado porque não é papel de um presidente se reunir com diplomatas, pois essa função cabe ao ministro das Relações Exteriores.

Mas, para lá de inusitado, há uma atitude desesperada e incrivelmente insana.

Como é possível um presidente expor a outros países que o sistema eleitoral do Brasil pode ser fraudado?

Por acaso, mandatários de outros países poderiam interferir nesse sistema? Por acaso, os diplomatas já não sabem das intenções do capitão? Por acaso, ele imaginou que são todos pessoas ingênuas que se deixariam convencer por suas mentiras?

Não, há muita, muita loucura. Bolsonaro deveria ser afastado por total incapacidade porque, além de não governar, está completamente louco.

O capitão usou os diplomatas para dar um recado a seus seguidores que puderam acompanhá-lo pelas redes sociais. Ele precisa dar um golpe e, para isso, necessita do apoio do cercadinho.

Há um outro perigo rondando o país. Se a horda que segue cegamente o presidente conseguir desestabilizar o sistema eleitoral, todos os candidatos a cargos eletivos se sua base de apoio Brasil afora, se sentirão à vontade para questionar suas derrotas. Vejam o perigo.

De qualquer forma, por mais que a esquerda – que costuma ignorar sinais – não dê a devida atenção ao ato e insista em que não há condições mínimas para uma ruptura, é preciso sim iniciar um projeto de contragolpe.

O capitão consegue manter cerca de 30% da população fiel a seus desvarios e parte das Forças Armadas comprometidas com ele. Além disso, há as outras polícias, militares, civis e federal. Some-se a isso, setores das instituições e de parlamentares do Congresso.

Essa turma pode não conseguir seu intento, mas certamente causará muito barulho e ousará colocar o país contra a parede já em 7 de setembro, o que pode ser o estopim de grandes confrontos e instabilidades.

Bolsonaro já está em modo golpe, por isso, a resistência tem que iniciar agora.

Lula e os partidos que lhe dão apoio precisam abandonar a estratégia de deixar o capitão falar suas sandices à vontade. É necessário que se inicie o combate às falas golpistas em nome da democracia.

Urge que Lula e Alckmin iniciem conversas com setores das Forças Armadas, defendam publicamente o STF e o TSE, busquem aparecer mais na mídia com propostas para o país e mobilizem os sindicatos, o MST, a OAB, a ABI, as demais representações da sociedade civil e, sobretudo, a população para saírem às ruas em defesa do sistema eleitoral e contra o golpe.

Além da reação da base de apoio de Lula, é urgente que o STF e o TSE sintam que têm o respaldo da maioria da população que confia nas urnas eletrônicas, criem coragem e adotem as medidas legais para impedir e punir atitudes meramente eleitoreiras como a PEC kamizase e o próprio discurso do presidente aos diplomatas, que ferem gravemente a Constituição e a legislação eleitoral.

Está mais que na hora de reagir.

 

 


sábado, 16 de julho de 2022

Inquietações filosóficas para uma noite de sábado

Por Fernando Castilho


 



Já conseguimos recuar no tempo para quando o Universo era apenas um bebê recém-nascido, mas o calor extremo daqueles tempos iniciais nos impede de prosseguir na observação.


O super telescópio espacial James Webb foi lançado no início do ano e já começa a mostrar serviço através das maravilhosas fotos, principalmente do espaço profundo. Deposito muita esperança em que ele possa ser nosso olho no Universo pronto, a enxergar estrelas se formando ou morrendo, buracos negros e exoplanetas que possam abrigar vida.

A formação do Universo se iniciou com matéria extremamente concentrada num único ponto que se expandiu em gigantesca velocidade há cerca de 13,8 bilhões de anos, num fenômeno que a Ciência, de maneira tímida e hesitante, chama de Teoria do Big Bang.

Por que a timidez?

Cientistas são extremamente cuidadosos para não cravar essa teoria como verdade antes que se esgotem todas as outras possibilidades que possam vir a surgir para tentar explicar o nascimento do Universo, afinal, há muito ciúme envolvido na comunidade científica, mas, amparado pela Segunda Lei da Termodinâmica e a Entropia, e, claro, estudos e cursos que minha curiosidade me obrigou a fazer, principalmente os cursos online Do Big Bang à Energia Escura, (Universidade de Tóquio e Astronomia e Astronáutica da Universidade Federal de Santa Catarina, posso afirmar que o Big Bang é realmente a única explicação possível.

Isso não quer dizer que sejam invalidadas teorias sobre o que existia antes do fenômeno (embora, se o próprio tempo iniciou com o Big Bang, ele não poderia existir antes com sinal negativo) ou se há outros universos paralelos coexistindo, nascendo ou morrendo neste exato momento. Mas isso são coisas que talvez nunca venhamos a saber.

Já conseguimos recuar no tempo para quando o Universo era apenas um bebê recém-nascido, mas o calor extremo daqueles tempos iniciais nos impede de prosseguir na observação. Porém, a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, resultante da época em que o Universo era extremamente quente e denso, apenas 380 mil anos após o Big Bang, nos indica a certeza da correção da teoria.

Embora já saibamos de muita coisa, há algo que me inquieta demais por não encontrar respostas convincentes e, muito menos, preocupação dos cientistas em explicar.

Edwin Hubble, o cientista que deu nome ao histórico telescópio espacial anterior ao James Webb, observando as estrelas, concluiu que o Universo está em expansão e, mais que isso, está em expansão acelerada.

Essa conclusão veio da utilização genial do Efeito Doppler. Quando uma estrela se afasta, seus comprimentos de onda sofrem um desvio na direção espectral para o vermelho, fenômeno chamado de redshift. Em contrapartida, quando uma estrela se aproxima, esse desvio ocorre para o azul, o blueshift.

Ora, computando o número de estrelas que se afastam e o número de estrelas que se aproximam, verifica-se facilmente que o primeiro caso é muito maior que o segundo.

Hubble foi além, calculando essa velocidade de afastamento das estrelas, chegando a 73,04 quilômetros por segundo por megaparsec e concluiu que esse movimento é acelerado, ou seja, o Universo está se expandindo de maneira acelerada.

Bem, já que o Universo se expande, para onde ele se expande, se fora dele não há nada, nem espaço?

O que ele está forçando para aumentar seu volume?

O exemplo que costumo dar em minhas aulas para a expansão do Universo e o consequente afastamento das estrelas e das galáxias é o clássico exemplo do balão ou bexiga de ar.

Vamos colar algumas pequenas figuras numa bexiga vazia e soprar. Quanto mais sopramos, mais a bexiga se enche e as figuras se afastam umas das outras.

Porém, esse exemplo não explica totalmente essa inquietação, já que quando a bexiga se enche, pressiona o ar em volta dela.

No caso do Universo não há ar nem nada a ser pressionado, afinal, fora dele não pode existir nada.

Se o Universo é infinito, é lógico que ele estaria se expandindo, até porque, em analogia com a Matemática, os números inteiros são infinitos porque sempre podemos somar mais um ao último. Ou seja, sempre será possível aumentar o Universo.

Sobre a teoria do Big Crunch que imagina que ele um dia cesse sua expansão e comece a diminuir de tamanho até voltar ao ponto inicial, pode-se dizer que contraria a Segunda Lei da Termodinâmica e a Entropia. Seria como voltar ao passado, coisa que essa lei impede porque não se pode voltar do caos à ordem. Seria o mesmo que fazer com que uma xícara que acabou de se esfacelar no chão pudesse voltar à sua forma original.

Bem, são inquietações científicas e filosóficas que muito provavelmente não verei serem respondidas neste curto período de vida.

E olha que nem falei da Energia e da Matéria Escuras.

Fica pra próxima.


quinta-feira, 14 de julho de 2022

Que o hálito do demônio nunca mais volte a soprar

Por Fernando Castilho




O céu se tornara escuro como veludo negro. Relâmpagos rasgavam a atmosfera densa iluminando brevemente a capital como a anunciar o mal que acabava de ser expelido.


Enigmas de um passado recente, hoje já se conhece muito acerca da existência dos astros denominados buracos negros, previstos por Albert Einstein.

Eles existem em vários tamanhos, mas o que é comum a todos eles é a enorme força gravitacional que atrai tudo para seu núcleo, inclusive a luz.

O astrofísico Stephen Hawking propôs que, embora nada escape de sua atração gravitacional os buracos negros podem emitir radiações. Essa teoria já foi confirmada por observações da Nasa.

A especulação que corre em nossos dias é se podem existir buracos negros muito pequenos cuja origem data da formação de nosso planeta e se encontram em seu interior.

Se isso for verdade, é possível que eles funcionem como portais para outras dimensões e, quem sabe, para outros lugares inimagináveis.

Um desses buracos, que se encontra justamente nas camadas profundas do magma sob a superfície de onde hoje se localiza a cidade de Brasília, logo após a construção da capital na década de 1950, começou um processo de atração gravitacional de gente com pretensões políticas e de poder.

Devido à agregação de massas ávidas por poder ao longo das décadas subsequentes, o buraco foi inflando até um ponto em que precisava expelir radiação, justamente a mais tóxica.

Foi em 2018 que a perigosa fenda do buraco negro sob Brasília se abriu. De lá de dentro, do Hades vermelho-sangue, uma radiação inicialmente amorfa e sem expressão começou a tomar forma e a rastejar de dentro daquele inferno.

O céu se tornara escuro como veludo negro. Relâmpagos rasgavam a atmosfera densa iluminando brevemente a capital como a anunciar o mal que acabava de ser expelido.

Enfim, o processo de antropomorfismo se completara e a radiação se colocou sob duas pernas.

Multidões contemplavam e se agregavam ao novo ser que se apresentava como enviado de Deus e que sugeria que estava acima de todos os homens.

Um novo mito se apresentava como uma nova consubstanciação, desta vez, não do vinho e do pão, mas de uma nova ordem que corromperia a civilização, o meio-ambiente, as instituições, a democracia e a verdade.

Logo em seguida uma desgraça se abateu sobre os homens de todo o planeta. Um vírus poderoso que avançava matando impiedosamente muito mais pobres do que ricos.

O ser oriundo das profundezas do inferno aproveitou a oportunidade para impedir que a Ciência buscasse meios de combater a doença e salvar vidas. E contemplou satisfeito sua obra.

Mais de 600 mil almas pereceram sob a espada do mito infernal.

Como um Satã tresloucado, um Leviatã doidivanas, o ser emitiu radiações malignas para os cérebros de seus seguidores que não hesitaram em replicar suas maldades e em expor a si mesmos e às suas famílias às consequências de seus atos.

Tentáculos nojentos emergiram do corpo do ser para grudar em humanos predispostos corrompendo toda a carne.

Assim foi que homens que haviam jurado seguir as leis e prender criminosos confinaram um inocente em uma viatura e o assassinaram por asfixia causada por gases tóxicos.

Assim é, também, que duas pessoas que lutavam pela preservação do meio-ambiente foram assassinadas por seguidores dessa nova seita.

O ser maligno se ocupava em emanar forças que causavam a desgraça do povo. Não demorou para a fome, o desemprego e a desesperança entrarem nos lares das famílias. Milhões perderam suas casas e foram morar nas ruas.

Felizmente a maior parte das pessoas se indignava e aguardava que forças do bem surgissem para combater o mal.

Contra a crueldade do mito dos infernos ergueu-se, enfim, uma voz que espalhava esperança, pregava a volta da civilização, da democracia e do bem-estar.

A reação contra essa voz não demorou a surgir.

Querubins do mal, cegos de ódio e possuídos pela vontade do mito, foram enviados para a batalha que iniciava.

Um deles, mesmo tendo esposa e filha de três meses, não hesitou em, em nome de seu mito, tentar matar um homem que se aliava às forças do bem no dia de seu aniversário. Sabia que, com certeza, no mínimo sairia preso e teria sua carreira arruinada, o que prejudicaria seriamente sua família. Mas, com seu cérebro dominado pelas ordens de seu superior, prosseguiu em seu intento.

Inesperadamente houve reação por parte da vítima, mas o querubim conseguiu cumprir sua missão, matando o homem, mesmo quase pagando com a própria vida por isso.

Como o caso causou muita repercussão, o ser maligno, viu-se desesperado por se ver perdendo uma das batalhas da guerra que travava contra as forças do bem.

Por onde passa ele murcha as flores, apodrece as carnes, polui o solo e os rios e corrompe as pessoas.

Foi essa característica que o fez procurar dois irmãos da vítima e corrompê-los. Os dois Cains já tinham sido há muito tempo influenciados pelos fluídos malignos que o mito exalava e, por isso, não cederam à corrupção. Decidiram trair seu irmão, um Abel, em nome do ser do mal.

A radiação do mal, consubstanciada em ser humano, agora se desespera em tentar convencer o povo que se chocou com o assassinato, de que a vítima foi a culpada por seu assassinato, mas não conseguirá.

A cada dia que passa o povo mais e mais se convence de que o demônio que entrou em nosso mundo por uma fenda do Hades não é um enviado de Deus e essa tragédia servirá para explicitar isso.

A guerra ainda vai levar muitos dias para acabar e virão ainda mais acontecimentos terríveis, mas as forças do bem a vencerão e o ser acabará por ser novamente atraído, engolido, triturado e, por fim, completamente incinerado pelas gigantescas forças gravitacionais que atuam no buraco negro do qual nunca deveria ter saído.

Após isso, a fenda se fechará, mas a semente do mal foi plantada e continuará ase espalhar feito erva daninha.

Será preciso que todos os cidadãos que amam a liberdade, a democracia, a civilização, a Ciência, a solidariedade, a justiça e a empatia se unam para extirpá-la.

Após isso, tempos virão em que voltaremos a ter esperança no futuro de nossos descendentes.


quarta-feira, 13 de julho de 2022

Era uma vez em Marte

Por Fernando Castilho




Foi durante a chegada da Perseverance que a civilização avançada que vivia harmoniosamente de maneira sustentável começou seu processo de extinção.


O rover Perseverance, uma espécie de laboratório móvel que lembra um grande jipe, desenvolvido pela NASA, foi lançado em 30 de julho de 2020 com destino a Marte. Até 2022, atuando em parceria com seu antecessor, Curiosity, não havia encontrado sinal de vida no planeta vermelho.

Porém, entre alarmes falsos e muita pareidolia, enfim, no ano 2025 o aparato ambulante constatou evidências incontestáveis de que uma forma de vida subsistia e sobrevivia em meio a ruínas do que em um passado recente fora uma civilização.

A notícia encheu os cientistas da Nasa de júbilo e, ao se espalhar pelos quatro cantos de nosso planeta, trouxe muita curiosidade, especulação, negacionismo, mas, sobretudo, esperança. Afinal, não estávamos sozinhos no Universo.

Era então chegada a hora de uma missão tripulada a Marte!

Um programa da Nasa permitiu que cientistas de todo o mundo pudessem participar da jornada, afinal, hoje em dia a diversidade produz frutos mais qualitativos do que a mesmice. E entre eles, brasileiros tiveram sua oportunidade.

Os preparativos foram concluídos no prazo recorde de dois anos e, enfim, uma nave tripulada chamada Hope foi lançada para procurar estabelecer contato com os seres e a cultura recém-descobertos.

Após dez meses de viagem, o módulo da Hope pousou suavemente na borda de Mare Erythraeum, uma vasta região escura onde os restos da civilização foram encontrados.

Passados alguns dias de instalação e estruturação dos módulos de sobrevivência e de laboratório, a equipe composta de três homens de três nacionalidades diferentes e três mulheres brasileiras, todos cientistas de alto nível, adentrou Mare Erythraeum.

O que se via era destruição por todos os lados. Havia edifícios desmoronados, uma grande extensão de um antigo lago já seco, veículos sobre rodas abandonados e cobertos de areia vermelha, troncos de uma estranha vegetação caídos pelo solo e muitos, muitos esqueletos de várias formas de vida desconhecidas.

O que teria acontecido a essa civilização no prazo de apenas dois anos?

A equipe avançava lentamente pelas ruas anotando e fotografando tudo que via, quando alguns sobreviventes cambaleantes se aproximaram parecendo a princípio hostis por causa da fome e da sede. Eram seres humanoides porque possuíam pernas com as quais caminhavam eretos e mãos, mas no mais eram totalmente estranhos aos humanos. Os cientistas carregavam água e proteínas em pó e isso foi suficiente para acalmar os ânimos.

Estabelecida a paz, era hora de tentar o diálogo.

A equipe procurou com gestos e desenhos no solo perguntar o que causou a hecatombe, mas não foi necessário um grande esforço de compreensão porque os sobreviventes logo adivinharam quais eram as indagações.

O ser aparentemente mais idoso grunhiu alguns sons e logo outro com aspecto de criança trouxe fotos, desenhos e um estranho projetor holográfico por meio do qual foi possível estabelecer uma linha do tempo dos terríveis fatos ocorridos.

Foi durante a chegada da Perseverance que a civilização avançada que vivia harmoniosamente de maneira sustentável começou seu processo de extinção.

Até antes da Perseverance, Mare Erythraeum vinha sendo governada de maneira sábia, previdente e civilizada. Claro que havia alguns problemas na produção e distribuição de alimentos e água, mas, de maneira geral vivia-se bem.

A sociedade era composta de 6 grupos principais: a diminuta, mas poderosa classe dos muito abastados, a pequena classe dos governantes e das instituições, a também pequena classe dos intelectuais, artistas e cientistas, a dos sacerdotes, a grande classe do povo simples e, por fim a pequena e barulhenta congregação dos pategos, aqueles que  renegavam a civilização e seus avanços, desprezavam os intelectuais e os cientistas, conspiravam contra o governo e as instituições e se consideravam orgulhosos de sua ignorância e de suas ideias retrógradas.

Os pategos já haviam dominado Mare Erythraeum no passado, causando enorme estrago à civilização, mas estavam recolhidos há décadas e ninguém mais levava a sério a possibilidade de eles voltarem ao poder.

Porém, havia surgido em 2020, pelo calendário terráqueo, uma certa movimentação deles a que ninguém deu grande importância.

Os pategos alçaram um dos seus à sua liderança. Justamente um dos mais obscurantistas e que há anos dava mostras de não se encaixar no sistema vigente, preferindo o regime que dominou a região no passado.

Passaram a fazer muito barulho, conseguiram que os órgãos informativos da população fizessem vistas grossas e até, em alguns casos aderissem disfarçadamente ao que pregava o novo líder.

Boa parte da classe política e instituições desdenharam da possibilidade da ascensão ao poder desse patego, achando que ele não levava perigo.

Também, boa parte da população aos poucos se convencia de que ele apenas era um marciano simples e sincero, e que o que pregava, preconceito, discriminação, autoritarismo, armamento, ódio, era apenas para impressionar.

Pois bem, o líder patego conseguiu chegar ao poder e o processo de deterioração da civilização de Mare Erythraeum teve início.

À princípio os políticos de oposição e as instituições ficaram apenas estarrecidos e inertes diante dos discursos cruéis e infames. Seguiram-se atos de destruição do meio-ambiente, dos direitos da classe pobre e de fechamento das instituições. Quando uma terrível doença advinda provavelmente de vírus que foram trazidos inadvertidamente pela Perseverance e sobrevivido à longa viagem pelo espaço, começou a dizimar a população, o líder patego lhe negou remédio.

Embora as classes dos políticos e instituições e dos intelectuais, artistas e cientistas esboçassem uma reação, esta não foi possível se concretizar devido às ameaças violentas do líder patego e seus asseclas. Ademais, a classe dos muito abastados e boa parte da dos sacerdotes perceberam que poderiam se aproveitar e lhe deram apoio.

As ameaças passaram a ser constantes e a aumentar em grau de violência.

Os pategos, agora armados por seu líder, intimidavam a todas as classes.

Registros históricos da civilização foram queimados em nome de uma nova ordem.

Certos da impunidade, os que lhe eram mais próximos começaram a praticar todo tipo de corrupção.

Mare Erythraeum começou então a viver períodos de grande fome e sede, além de desastres naturais como imensas tempestades de areia. O líder patego não se importava com isso, preferindo se exibir de gnorkyiwh, uma espécie de veículo que flutuava sobre o solo em grande velocidade, sempre acompanhado de outros pategos.

Por fim, o colapso econômico e a deblaque da sociedade.

Terminada a exposição holográfica, o ancião gesticulou que era chegada a hora de todos se esconderem porque os pategos sobreviventes, junto com seu líder, sairiam a qualquer momento de seu bunker onde se refugiavam e gozavam da boa vida, para saquear o pouco que restara da civilização e calar com armas qualquer esboço de reação. Tornara-se uma prática diária.

Para terminar, o ancião demonstrou toda sua tristeza com o fato de que Mare Erythraeum deixara passar o turning point, o ponto de inflexão, porque todos se acovardaram e já não era possível nenhuma reação.

Contribuiu para isso a ausência de um líder que fizesse forte oposição ao patego. Os colaboracionistas, comprados por minerais preciosos do planeta, não se importaram com sua destruição.

As cientistas se entreolharam várias vezes. Impossível não relacionar o relato ao que havia acontecido na Terra entre 2016 e 2022.

Um arrepio percorreu a espinha das cientistas brasileiras ao imaginar o destino do Brasil nas mãos de um patego. Foi justamente um patego que tentara vencer as eleições em 2022, mas fracassou.

Felizmente, ao contrário de Mare Erythraeum, o Brasil tinha um líder de oposição que enterrou de vez o terrível pesadelo de mais quatro anos de dominação dos pategos.

Infelizmente, por não ter uma liderança que se contrapusesse ao patego, a civilização de Mare Erythraeum estava irremediavelmente condenada.

Restaria apenas a barbárie.

Os cientistas decidiram voltar à Terra no dia seguinte.


sábado, 2 de julho de 2022

O estulto do crime

Por Fernando Castilho


Imagem: Gladson Targa


 
Hitler, Mussolini, Stalin, Salazar, Franco, Pinochet, Idi Amin Dada, César, Gengis Khan, os presidentes-ditadores do regime militar do Brasil...  a lista é gigantesca.


Em 1940 foi lançado no gibi do Capitão Marvel, um gênio do crime, o cientista louco, Dr. Silvana, aquele que queria destruir o mundo para depois dominá-lo como um grande ditador.

Invariavelmente, nas páginas do gibi, o Herói, Capitão Marvel, o derrotava, mas, como tiririca (a erva daninha e não o deputado), o vilão sempre ressurgia.

No mesmo ano, outro supervilão surgiu, desta vez nas páginas do gibi do Super-Homem. Lex Luthor, um engenheiro perito em biologia e genética, se empenhava em descobrir formas de aniquilar o Super-Homem, o alienígena vulnerável apenas à Kriptonita, mineral somente existente em seu planeta natal. Luthor, como Dr. Silvana, era um gênio da tecnologia e do crime e também queria dominar o planeta.

Bem mais tarde, surgiria o satânico Dr. No, também um gênio da Física e do crime, que buscava, adivinhe, se tornar um ditador do mundo. Um agente secreto britânico chamado Bond, James Bond, cuja alcunha era 007, foi escalado para combatê-lo.

A ficção é recorrente e fértil para o surgimento de inúmeros supervilões.

Na vida real existiram vários nomes reais que sonharam em dominar o planeta ou, pelo menos, seus países. Curiosamente, nenhum deles era gênio e nenhum deles prezava a Ciência. A realidade se distancia totalmente da ficção.

Hitler, Mussolini, Stalin, Salazar, Franco, Pinochet, Idi Amin Dada, César, Gengis Khan, os presidentes-ditadores do regime militar do Brasil...  a lista é gigantesca.

Mas, se nenhum deles era gênio da Ciência, como puderam chegar ao poder?

A ousadia, a estratégia, o senso de oportunismo, o egocentrismo sem limites, o autoritarismo, a truculência, o desrespeito total às minorias, a total falta de empatia, o pragmatismo, a inclemência e a crueldade os conduziram ao poder diante de populações tolerantes, passivas, enganadas, indignadas e impotentes diante da tirania. Entre essas “qualidades”, a estratégia e o senso de oportunismo, de longe, são as mais importantes.

Em comum, o que todos eles têm é o destino a que foram relegados. Suicídios, golpes violentos, prisões, assassinatos, vinganças e, por fim, a lata de lixo da História.

No Brasil de 2022, o ambiente é fertilmente propício a uma ditadura novamente, porém, o contexto e a própria figura do candidato a ditador são diametralmente diferentes dos ditadores convencionais.

Bolsonaro, com certeza, não é nenhum gênio da estratégia e do oportunismo, embora possua as outras características comuns aos ditadores da vida real. É zero empático e muito cruel, como demonstrou durante a pandemia, e alimenta sonhos ditatoriais.

Pela maneira como vem conduzindo o governo, cuja linha de tempo se assemelha mais à trajetória de um bêbado de madrugada pela calçada, pelas inúmeras bobagens que fala e pelas ações ilógicas que empreende, o Capitão Morte (não Marvel) poderia ser classificado como um estulto do crime (já que seus crimes se acumulam) e, agravado pela sua total negação, um obtuso da Ciência.

Mas, o que faz com que uma súcia de quase 30% da população brasileira siga um estulto criminoso?

Precisam de alguém que os represente. Só isso. Não diferem dele.

Os autores das histórias do Capitão Marvel, do Super-Homem e do James Bond jamais pensaram em colocar em seus argumentos o elemento povo seguidor, talvez porque os vilões não eram políticos.

Talvez os heróis da ficção não conseguissem derrotar vilões com representação na população, como o Capitão Morte.

Para esse tipo de vilão precisamos de um herói com muito mais votos que ele, com propostas que ampliem a democracia e que garantam uma vida melhor ao povo. Enfim, sua antítese.

Precisamos de um gênio do bem, de alguém que, embora não tenha tido acesso ao que a Ciência afirma, não a trata com desdém, mas a respeita.

Lula!

 


quinta-feira, 30 de junho de 2022

Uma premonição me revelou

Por Fernando Castilho




O capitão começa a ser espremido, moído, triturado, até restar um bagaço inútil cujo fim será a prisão e a lata de lixo da história.


Observo na feira. O vendedor de caldo de cana passa o caule uma vez por entre as engrenagens e o suco escorre generoso para a vasilha. 

Não satisfeito, o homem decide dobrar o que sobrou e passar mais uma vez. Agora sai menos, mas ainda sai.

Pela terceira vez o caule é espremido até sobrar só um bagaço que é jogado no lixo.

Recentemente o presidente Jair Bolsonaro (PL) começou a ser espremido pelo surgimento de denúncias de corrupção em seu governo.

Veio o vazamento do discurso do então ministro da educação, Milton Ribeiro em que afirma que recursos do MEC eram repassados a dois pastores para que eles os ofertassem a prefeituras, segundo critérios próprios, por orientação do presidente. Em troca de propina.

O fato gerou investigação da Polícia Federal, que culminou na prisão preventiva de Milton Ribeiro. Então apareceu o delegado Bruno Calandrini, indignado com os privilégios recebidos pelo ex-ministro enquanto preso.

Outro áudio que veio a público revela, antes da prisão, uma conversa telefônica entre Ribeiro e sua filha. Nesse diálogo, o ex-ministro diz que Bolsonaro lhe telefonou dizendo que havia tido uma premonição sobre a prisão preventiva, revelando o medo que sentia de que a ação também o atingisse.

Imediatamente senadores da oposição se mobilizaram e conseguiram assinaturas suficientes para a abertura de uma CPI do MEC.

O defunto ainda não estava frio, quando cinco servidoras da Caixa Econômica Federal vieram a público denunciar que o presidente do órgão, Pedro Guimarães era especialista em assédio sexual dentro e fora do ambiente de trabalho durante viagens.

Um grupo maior de servidoras fez protesto em frente à sede da Caixa exigindo a saída de Pedro.

O fiel seguidor de Bolsonaro, teve que deixar a presidência.

As denúncias contra um governo que vinha enchendo o peito para bradar que nele não havia corrupção, agora o desnudam.

O capitão começa a ser espremido, moído, triturado, até restar um bagaço inútil cujo fim será a prisão e a lata de lixo da história.

E isso, faltando três meses para as eleições, em um ambiente desfavorável devido à larga vantagem de Lula nas pesquisas.

Se servidores – no caso, da PF – e servidoras – no caso da Caixa - tomaram coragem para mostrar que o presidente está envolvido em escândalos e que um dos homens fortes do governo é um assediador sexual, podemos esperar que mais gente da máquina tome atitudes semelhantes?

Foi a segurança da impunidade que fez a turba que governa o país se descuidar e não se preocupar com o que servidores veem todos os dias.

Há todo tipo de servidor. Existem os que têm preferência política por Bolsonaro e agem segundo essas convicções, mas também há os que estão descontentes com esse governo e votarão em Lula. Há um terceiro grupo menos político que se preocupa com a probidade administrativa e que deve estar indignado e revoltado, tamanho o desrespeito com a res publica.

O crescimento exponencial das revelações de corrupção poderá ter o efeito de encorajar cada vez mais servidores a denunciá-las. Seria o fim das pretensões eleitorais do capitão, se ficarmos somente na expectativa do respeito às urnas e ao estado de direito.

É o que uma premonição me revelou.


domingo, 26 de junho de 2022

Nunca fomos tão tolerantes com o intolerável

Por Fernando Castilho



O fato é que o país vive uma espécie de Síndrome de Estocolmo, acostumou-se e se adaptou ao tirano. E isso é ruim, muito ruim.


Houve época em que bastou uma presidenta falar que o Brasil ia estocar vento, para que o país desabasse sobre sua cabeça.

Pesquisa do antigo Ibope dava para Dilma Rousseff aprovação de 10% e rejeição de 69% em março de 2016. Na época os brasileiros tinham emprego, podiam fazer churrasco nos finais de semana, o gás custava 35 reais e a gasolina, 2,39 reais. Além disso, não havia escândalos de corrupção e nem crime de responsabilidade.

Pessoas saíam às ruas de verde e amarelo para exigir que ela deixasse o governo e a grande imprensa lhe fazia uma duríssima campanha.

Os brasileiros não gostavam de sua maneira de falar, de seu penteado e de suas roupas. E não suportavam o fato de ela ser mulher.

O país era intolerante.

Mas mudou.

Hoje temos um presidente que:

Ignorou e fez pouco caso da pandemia da covid -19, boicotou as vacinas e foi responsável por centenas de milhares de mortes;

Incapaz de governar, entregou o orçamento da União ao centrão que o utilizou para distribuí-lo secretamente entre seus apoiadores que se lambuzam com tanta grana e fazem a maior festa com dinheiro público de que se tem notícia;

Livre da tarefa para a qual foi eleito, o presidente pode, enfim, ter tempo para fazer o que realmente gosta, ou seja, se exibir com jet-skis e promover motociatas pagas com dinheiro público ao mesmo tempo em que faz campanha para sua reeleição;

Sem programas de governo, políticas públicas e vontade de governar para quem realmente precisa, o país, logicamente começou a afundar com o reaparecimento da inflação, a alta dos combustíveis, dos alimentos e da energia elétrica. Pessoas estão sendo despejadas de suas casas e indo morar nas ruas. Já são cerca de 35% os famélicos;

Incentivados pela postura autoritária, violenta, preconceituosa e sociopata do presidente, aqui e ali começaram a emergir das grelhas dos esgotos todos os tipos de animais peçonhentos, repugnantes e contagiosos. Testemunhamos um rapaz sendo asfixiado dentro de uma viatura policial, um indigenista e um jornalista sendo assassinados na Amazônia e uma juíza pressionando uma menina estuprada de 11 anos a prosseguir com uma gravidez indesejada e de alto risco;

Vemos todos os dias o presidente ameaçar dar um golpe de estado porque já tem certeza de que não vencerá as eleições e porque sabe que poderá ser preso assim que deixar o poder;

Numa conversa telefônica entre o ex-ministro da educação, Milton Ribeiro e sua filha, fica claríssimo que o presidente cometeu crime de obstrução de justiça ao avisá-lo de que poderia ser preso preventivamente. Enquanto desvios de dinheiro são promovidos por pastores sob o consentimento do mandatário da nação, todos os índices educacionais despencam e já não há futuro para grande parte de nossas crianças;

O governo entregou a preço de banana a Eletrobras, garantindo dinheiro para subsidiar parte dos combustíveis até o final do ano, somente. Ou seja, trocamos uma grande estatal por alguns litros de gasolina e óleo diesel. Agora o preço da energia elétrica vai aumentar cerca de 65%;

Como se tudo isso não bastasse, há mais de 100 pedidos de impeachment na Câmara Federal protegidos pelo seu presidente Arthur Lira, encantado com os milhões que recebe do orçamento secreto e distribui para seu filho e correligionários fazerem a festa em Alagoas.

Agora que Dilma deixou o governo, o Brasil se tornou tolerante. Extremamente tolerante, afinal, se ela tinha aprovação de 10%, o presidente tem de 28%!

Hoje não há uma só pessoa que saia às ruas contra a pilhagem praticada pelo presidente e seus asseclas.

A grande imprensa até critica o capitão, mas o faz com muito cuidado para não deixá-lo muito irritado, já que não quer Lula, e a terceira via se demonstrou um bolo sem fermento. Vai com o inominável mesmo e espera recompensa no ano que vem.

As instituições, como o TCU, o TSE e o STF, até procuram tentar agir de acordo com as missões para a quais foram criadas, mas sentem medo, muito medo, pois não é possível viver confortavelmente quando se é ameaçado diariamente por gente cuja capacidade de ação não se consegue aferir com precisão. As milícias se espalharam pelo país como uma rede que pode fazer sua primeira grande vítima a qualquer momento. Lula também corre perigo.

Boa parte da população, de tanto sofrer nas mãos do tirano e todos os dias vê-lo falar sandices e cometer crimes, parece agora aceitar resignada e placidamente seu destino, talvez porque veja o favoritismo de Lula nas pesquisas como um “já ganhou”, só esperando para comemorar o resultado e começar a viver novos tempos.

O fato é que o país vive uma espécie de Síndrome de Estocolmo, acostumou-se e se adaptou ao tirano. E isso é ruim, muito ruim.

A intolerância de boa parte de nossa população, afinal, era só contra uma presidenta, mulher, republicana e correta, incapaz de qualquer reação mais dura, fora das quatro linhas da Constituição.

Mas, contra Bolsonaro, total tolerância.