Por Fernando Castilho
O céu se tornara escuro como veludo negro. Relâmpagos rasgavam a atmosfera densa iluminando brevemente a capital como a anunciar o mal que acabava de ser expelido.
Enigmas
de um passado recente, hoje já se conhece muito acerca da existência dos astros
denominados buracos negros, previstos por Albert Einstein.
Eles
existem em vários tamanhos, mas o que é comum a todos eles é a enorme força
gravitacional que atrai tudo para seu núcleo, inclusive a luz.
O
astrofísico Stephen Hawking propôs que, embora nada escape de sua atração
gravitacional os buracos negros podem emitir radiações. Essa teoria já foi
confirmada por observações da Nasa.
A
especulação que corre em nossos dias é se podem existir buracos negros muito
pequenos cuja origem data da formação de nosso planeta e se encontram em seu
interior.
Se
isso for verdade, é possível que eles funcionem como portais para outras
dimensões e, quem sabe, para outros lugares inimagináveis.
Um
desses buracos, que se encontra justamente nas camadas profundas do magma sob a
superfície de onde hoje se localiza a cidade de Brasília, logo após a
construção da capital na década de 1950, começou um processo de atração
gravitacional de gente com pretensões políticas e de poder.
Devido
à agregação de massas ávidas por poder ao longo das décadas subsequentes, o
buraco foi inflando até um ponto em que precisava expelir radiação, justamente
a mais tóxica.
Foi
em 2018 que a perigosa fenda do buraco negro sob Brasília se abriu. De lá de
dentro, do Hades vermelho-sangue, uma radiação inicialmente amorfa e sem
expressão começou a tomar forma e a rastejar de dentro daquele inferno.
O
céu se tornara escuro como veludo negro. Relâmpagos rasgavam a atmosfera densa
iluminando brevemente a capital como a anunciar o mal que acabava de ser
expelido.
Enfim,
o processo de antropomorfismo se completara e a radiação se colocou sob duas
pernas.
Multidões
contemplavam e se agregavam ao novo ser que se apresentava como enviado de Deus
e que sugeria que estava acima de todos os homens.
Um
novo mito se apresentava como uma nova consubstanciação, desta vez, não do
vinho e do pão, mas de uma nova ordem que corromperia a civilização, o
meio-ambiente, as instituições, a democracia e a verdade.
Logo
em seguida uma desgraça se abateu sobre os homens de todo o planeta. Um vírus
poderoso que avançava matando impiedosamente muito mais pobres do que ricos.
O
ser oriundo das profundezas do inferno aproveitou a oportunidade para impedir
que a Ciência buscasse meios de combater a doença e salvar vidas. E contemplou
satisfeito sua obra.
Mais
de 600 mil almas pereceram sob a espada do mito infernal.
Como
um Satã tresloucado, um Leviatã doidivanas, o ser emitiu radiações malignas
para os cérebros de seus seguidores que não hesitaram em replicar suas maldades
e em expor a si mesmos e às suas famílias às consequências de seus atos.
Tentáculos nojentos emergiram do corpo do ser para grudar em humanos predispostos corrompendo toda a carne.
Assim
foi que homens que haviam jurado seguir as leis e prender criminosos confinaram
um inocente em uma viatura e o assassinaram por asfixia causada por gases
tóxicos.
Assim
é, também, que duas pessoas que lutavam pela preservação do meio-ambiente foram
assassinadas por seguidores dessa nova seita.
O
ser maligno se ocupava em emanar forças que causavam a desgraça do povo. Não
demorou para a fome, o desemprego e a desesperança entrarem nos lares das
famílias. Milhões perderam suas casas e foram morar nas ruas.
Felizmente
a maior parte das pessoas se indignava e aguardava que forças do bem surgissem
para combater o mal.
Contra
a crueldade do mito dos infernos ergueu-se, enfim, uma voz que espalhava
esperança, pregava a volta da civilização, da democracia e do bem-estar.
A
reação contra essa voz não demorou a surgir.
Querubins
do mal, cegos de ódio e possuídos pela vontade do mito, foram enviados para a
batalha que iniciava.
Um
deles, mesmo tendo esposa e filha de três meses, não hesitou em, em nome de seu
mito, tentar matar um homem que se aliava às forças do bem no dia de seu
aniversário. Sabia que, com certeza, no mínimo sairia preso e teria sua
carreira arruinada, o que prejudicaria seriamente sua família. Mas, com seu
cérebro dominado pelas ordens de seu superior, prosseguiu em seu intento.
Inesperadamente
houve reação por parte da vítima, mas o querubim conseguiu cumprir sua missão,
matando o homem, mesmo quase pagando com a própria vida por isso.
Como
o caso causou muita repercussão, o ser maligno, viu-se desesperado por se ver
perdendo uma das batalhas da guerra que travava contra as forças do bem.
Por
onde passa ele murcha as flores, apodrece as carnes, polui o solo e os rios e
corrompe as pessoas.
Foi
essa característica que o fez procurar dois irmãos da vítima e corrompê-los. Os
dois Cains já tinham sido há muito tempo influenciados pelos fluídos malignos
que o mito exalava e, por isso, não cederam à corrupção. Decidiram trair seu
irmão, um Abel, em nome do ser do mal.
A
radiação do mal, consubstanciada em ser humano, agora se desespera em tentar
convencer o povo que se chocou com o assassinato, de que a vítima foi a culpada
por seu assassinato, mas não conseguirá.
A
cada dia que passa o povo mais e mais se convence de que o demônio que entrou
em nosso mundo por uma fenda do Hades não é um enviado de Deus e essa tragédia
servirá para explicitar isso.
A
guerra ainda vai levar muitos dias para acabar e virão ainda mais
acontecimentos terríveis, mas as forças do bem a vencerão e o ser acabará por
ser novamente atraído, engolido, triturado e, por fim, completamente incinerado
pelas gigantescas forças gravitacionais que atuam no buraco negro do qual nunca
deveria ter saído.
Após
isso, a fenda se fechará, mas a semente do mal foi plantada e continuará ase
espalhar feito erva daninha.
Será
preciso que todos os cidadãos que amam a liberdade, a democracia, a
civilização, a Ciência, a solidariedade, a justiça e a empatia se unam para
extirpá-la.
Após
isso, tempos virão em que voltaremos a ter esperança no futuro de nossos
descendentes.
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