sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Moraes foi correto e corajoso, mas não esperemos mais que isso dele

Por Fernando Castilho


Foto: Ricardo Stuckert


Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Tendo a seu lado o atual, Jair Bolsonaro e à sua frente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Alexandre de Moraes, empossado como novo mandatário do Tribunal Superior Eleitoral, foi autor de um discurso forte em defesa das urnas eletrônicas, da Democracia, do Estado de Direito e da punição a quem divulgar fake news durante a campanha eleitoral que ora se inicia.

O capitão acusou o golpe recusando-se a aplaudir a corajosa fala enquanto que Lula, encerrada a cerimônia, recebeu efusivo cumprimento do novo presidente do TSE.

Imediatamente nas redes sociais, petistas utilizaram novamente o apelido de Xandão para manifestarem sua alegria, carinho e confiança pelo mais novo herói nacional.

Ao ler as postagens, me senti pequeno.

É claro que a atitude de Moraes foi corretíssima e muito importante para pulverizar qualquer tentativa de golpe por parte do capitão, mas ela não se deve porque ele esteja querendo contribuir para a eleição de Lula. Ele fez apenas seu papel, ou seja, o que se espera dele enquanto defensor da Constituição e da legislação eleitoral, embora, repito, de maneira corajosa.

Outros petistas preferiram lembrar de maus posicionamentos de Moraes com relação a Lula e ao PT, como se valesse cobrar dele um broche com a estrelinha vermelha no peito. Ele foi colocado no STF por Temer, lembram-se?

Nós, que desejamos Lula mais uma vez na presidência do país, não o fazemos se não pela confiança que temos nele como o único motor que sinceramente vai trabalhar 24 horas por dia para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se tornou após mais de 3,5 anos de desgoverno do capitão.

Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Devemos compreender que existem dois passos fundamentais para que o povo brasileiro volte a experimentar o bem-estar social a partir do próximo ano.

Primeiro passo: a realização das eleições, ainda ameaçadas por golpe. Sem elas, Lula não se elege;

Segundo passo: a consagração de Lula como vitorioso.

Para que o primeiro passo seja dado, toda e qualquer força que se disponha a se engajar nessa luta, é muito bem-vinda. É aí que entra Alexandre de Moraes, dentro dessa perspectiva histórica, sem paixões ou emoções.

Se Moraes se apresentou como essa força poderosa, afinal, é presidente do TSE, que a utilizemos a nosso favor.

Sejamos realistas no dia em que ele se posicionar contrariamente a medidas do governo Lula porque esse dia virá, com certeza.

No mais, tenhamos consciência de nossa força, demonstrada no comício de Belo Horizonte.

E que a demonstremos mais uma vez em São Paulo, 20 de agosto!

 


domingo, 14 de agosto de 2022

Nada de MUITA calma nesta hora!

Por Fernando Castilho


Pintura de Stasys Eidrigevicius


Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.


Fernando Brito, a quem tenho muito respeito como jornalista, escreveu em seu blog, Tijolaço, um artigo com o título, MUITA CALMA COM OS ALARMISTAS DA ELEIÇÃO.

Poderia concordar com ele, já que não devemos ficar desesperados com a, até agora, pequenina melhora de Bolsonaro nas pesquisas. Porém, não acho que o fato deva ser negligenciado pela campanha de Lula. Vejam que ele não pediu calma, que pode ter como sinônimo cautela, mas MUITA calma, o que é um exagero.

Brito chega a citar alguns fatores que contribuíram para esse respiro do Capitão, como a queda do preço da gasolina e, principalmente, a grana distribuída aos mais pobres de maneira inconsequente e ilegal às vésperas da eleição.

Mas são esses justamente os fatores que podem alavancar mais ainda a campanha do homem que desdenha da morte e que ocupa temporiamente a cadeira presidencial.

Podemos juntar a isso a ofensiva que a primeira-dama, Michelle tem feito para tentar recuperar a imagem de seu marido junto às mulheres, aqueles seres que ele desde sempre os dois consideram inferiores. E vem conseguindo, vamos combinar.

Além disso, a campanha do inominável avança muito entre os evangélicos. Essa população com tendências fundamentalistas é sua aliada ideal numa absurda guerra entre o bem, do qual ele diz ser o representante, e o mal.

Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.

Faltam longuíssimos 50 dias até o pleito e os efeitos da ousadia do ser que ocupa a cadeira têm muito tempo para serem sentidos.

Essa postura de não se deixar se alarmar e de tratar tudo com MUITA calma, de certa forma, custou o impeachment de Dilma Rousseff, até porque ela própria confiou nas instituições, já que não havia cometido crime algum.

Quase que exatamente um ano antes da prisão de Lula, obtive a informação de que ele seria condenado e detido. A fonte, hoje membro do grupo Prerrogativas, que pediu à época para que não mencionasse seu nome, me garantiu que isso seria líquido e certo. Cheguei a duvidar, até porque não havia nenhuma prova de crime cometido pelo ex-presidente. Mesmo assim, a fonte me garantiu que a prisão ocorreria e mais, que a segunda instância também estava comprometida com o então juiz, Sérgio Moro.

Publiquei isso em meu blog e fui atacado por muita gente, simplesmente porque ninguém aceitava o “absurdo” da prisão de um ex-presidente inocente. E aconteceu.

Outra coisa que Brito escreveu diz respeito à crítica que André Janones fez aos termos técnicos e complicados de economês que a campanha de Lula utiliza e que o povo mais simples não consegue compreender. O articulista tem razão ao afirmar que o ex-presidente sabe como ninguém se comunicar com as pessoas, mas a coordenação precisa realmente se comunicar melhor. Quem anda fazendo isso é justamente o Capitão Morte.

Estamos em uma guerra entre a civilização e a barbárie e precisamos vencer.

Artigos que contribuem para que baixemos a guarda de nada nos servem agora.

Lula sabe disso e até colocou Alckmin de vice e vem construindo alianças por todo o país.

Ele sabe que não é permitido cochilar até a vitória.

É preciso pressão total e contínua até 2 de outubro e para isso, é necessário que se organizem cada vez mais atos, não só pela defesa da democracia, mas por aquele em que depositamos nossa confiança para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se transformou.

Nada de MUITA calma.

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

De volta a junho de 2013

Por Fernando Castilho


Imagem: Mídia Ninja


Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.


Nunca houve desmonte tão grande de nossos institutos de pesquisa como no atual governo.

Em 2019 o diretor do Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Ricardo Galvão, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por divulgar imagens dos desmatamentos ilegais na Amazônia.

De lá para cá vários outros pesquisadores deixaram o órgão, mas alguns outros continuaram a trabalhar em seus projetos.

Um deles, altamente secreto, propunha a construção de um dispositivo capaz de anular a 2ª Lei da Termodinâmica através do entrelaçamento quântico, ideia descoberta graças a um feliz acaso, como costuma acontecer na Ciência. Dessa forma, seria possível reverter a entropia e retornar a estados da matéria que já ficaram no passado.

Simplificando, utilizando certa quantidade limitada de energia, seria possível que uma pessoa voltasse a uma época não muito longínqua por curto intervalo de tempo.

Pois bem, como nossos cientistas aprenderam ao longo de muitos anos a trabalhar com parcos recursos, o projeto não sofreu descontinuidade e revelou-se possível de ser executado.

Assim, no começo desta semana, um dos cientistas serviu como cobaia retornando ao dia 8 de junho de 2013.

Como o protótipo ainda não possuía sintonia fina, não foi possível determinar com exatidão o local onde o cientista se materializaria. Por isso, ele tomou forma a partir do nada na mesa de um bar onde um grupo de petistas comemorava o resultado da então última pesquisa Datafolha que dava 65% de aprovação ao governo Dilma Rousseff.

Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.

Os integrantes da mesa, incrédulos, tomaram uma dose de cachaça e começaram uma espécie de sabatina ao cientista para se certificarem de que não se tratava de uma fraude.

A primeira pergunta feita por um militante barbudo e de cara redonda foi: quem é o presidente em 2022?

- Jair Bolsonaro.

- Como, aquele deputado do Rio, ligado às milícias e que defende a ditadura?

- Ele mesmo.

- Fraude!, exclamou um homem magro e cabeludo entornando um copo de cerveja.

A gargalhada foi geral.

Então, uma moça de cabelos cacheados, com um chale no pescoço, resolve perguntar: e a Dilma, o que aconteceu com ela depois que concluiu seu governo?

- Err... não concluiu, disse o cientista. Foi cassada por impeachment. Alegaram que cometeu crime de responsabilidade, mas que apesar disso é muito honesta, viu?

- Hua, hua, hahaha! Conta outra, riram todos. Mais um gole.

- É verdade, porra!, bradou o pesquisador. Desculpem o palavrão.

À essa altura, todos já estavam cochichando uns com os outros.

- Olha, mais uma, disse o homem do futuro. Lula era o favorito nas pesquisas em 2018, mas foi preso para não poder concorrer. Não havia nenhuma prova de crime contra ele, mas mesmo assim, um juiz até então desconhecido e irrelevante o condenou.

- Ah, vá!, bradou um companheiro já bem mais velho. Mais cachaça!

- Esse cara é um mentiroso contumaz! Ou então é louco! Imagine prender Lula sem provas!

- Bem, mas o povo deve ter reagido à essa injustiça, né? Todo mundo saiu às ruas pra protestar, né?, perguntou outra mulher, um pouco mais velha que a anterior.

- Pior que não, disse o pesquisador. Houve um início de resistência no início no sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo, mas depois o país voltou ao normal como se nada tivesse acontecido.

- Carácoles!, exclamaram dois em uníssono.

- Ah, e teve uma pandemia que matou quase 700 mil pessoas no Brasil!, disse o cientista.

Todos se entreolharam, assustados e incrédulos.

- E o presidente desdenhou da pandemia e boicotou a compra de vacinas...

- Agora já chega!, bradou o petista gordinho e barbudo. Chega de mentiras! Quer enganar a quem? Seu infiltrado!

- Não, não quero enganar ninguém! É a pura verdade! A inflação voltou, a fome voltou e não há emprego! Trouxe até um jornal pra mostrar!

Todos se juntaram em torno das manchetes do dia.

- Não é possível! Esse jornal deve ser falso!

- As eleições estão próximas, não estão? Acontecem em outubro, não? Então ele não se reelege, certo? Simples assim, disse o magrinho. Quem concorre com ele?

- Bem, não é bem assim. Lula está em primeiro lugar nas pesquisas e pode vencer já no primeiro turno!

- Ôpa! Aí sim! Mas, quem é o vice do Lula?, perguntou a jovem de cabelos cacheados.

- Err, bem... é, é o Alckmin...

- Não, não e não! Não é possível! Mentiroso! Vá enganar outros, seu tucano!

- Gente, é isso mesmo. Lula precisou colocar o Alckmin de vice para poder dialogar com a elite e os empresários. Ao mesmo tempo o afastou da candidatura a governador de São Paulo para abrir caminho ao Haddad que já está em primeiro lugar nas pesquisas.

À essa altura, todos já tinham bebido muito e permaneciam calados, taciturnos, talvez por medo de novas revelações do cientista.

Mas ele não desistiu.

- Tem mais! O presidente está armando um golpe para o 7 de setembro. Não pretende entregar o poder para Lula, caso este vença. Está afirmando que as urnas eletrônicas são fraudáveis.

- Mas ele não se elegeu várias vezes deputado através das urnas eletrônicas? Ele quer a volta do voto de papel?

- Isso!

- Olha, chega! Volte pro lugar de onde você veio, disse o mais velho com voz trêmula. Mais uma dessas e eu tenho um enfarte fulminante.

Percebendo que precisava exorcizar os demônios que dele se apoderaram durante 3 anos e meio de desgoverno, prosseguiu:

- O presidente quer filmar as pessoas votando nas cabines.

O petista mais velho caiu morto da cadeira.

A bateria do dispositivo já estava na reserva obrigando o cientista a voltar.

Os companheiros chamaram a ambulância, mas já era tarde.

Todos voltaram em silêncio para suas casas.


sábado, 30 de julho de 2022

Mudanças repentinas no xadrez eleitoral

Por Fernando Castilho

 

Gustave Doré - Nono círculo do Inferno, reservado aos traidores


Quando os prazos para a eleição vão ficando próximos de se esgotarem, mudanças repentinas sempre ocorrem. E os traidores, como ratos, vão saindo de suas tocas.

 

Escrevi em meu último texto sobre a relatividade do tempo.

Muito curto para alguns, muito longo para outros.

Pois é, 24 horas depois desses escritos, grandes mudanças no cenário eleitoral da disputa para a presidência da República.

Não havia saída possível para o capitão poder escapar de uma enxurrada de processos que viriam a partir do início do próximo ano, já que sua candidatura está fadada a um retumbante fracasso e a tentativa de golpe se mostrará inócua.

Mas, segundo a coluna de Mônica Bergamo, articula-se nos bastidores possível perdão ao criminoso que ocupa por enquanto a cadeira presidencial, condicionado à sua desistência em criticar as urnas eletrônicas, o TSE, o STF e seus ministros.

Acho muito difícil o sucesso dessas negociações, já que o capitão tem muito pouco a oferecer para se livrar de crimes muito graves. O nome de nosso judiciário ficaria manchado para todo o sempre. A ver.

Outra notícia que surgiu após meu texto é a tentativa do Aliança Brasil e seu cacique, Luciano Bivar, apoiar Lula já no primeiro turno.

Esse apoio, se se concretizar, seria determinante para a vitória antecipada do ex-presidente, em que pese a contrapartida do PT que pode vir a ser uma carga muito pesada. Porém, se Lula precisa de maioria no Congresso para garantir-lhe governabilidade, esta estaria praticamente assegurada.

E é claro, teremos que dar boas risadas do ex-juiz Sergio Moro, arqui-inimigo de Lula, que disputa o Senado no Paraná pelo mesmo partido.

Outra grande novidade é o twitter de André Janones sinalizando sua desistência da disputa para apoiar Lula já no primeiro turno.

Detentor de 8 milhões de seguidores e forte junto aos caminhoneiros, Janones havia procurado Ciro e Tabet para conversar, mas não foi recebido. O único que se dispôs a com ele dialogar foi o ex-presidente.

Como havia adiantado em meu último texto, já há muitos candidatos ligados ao presidente que estão evitando colar sua imagem à dele. Alguns já desembarcaram e outros, como Arthur Lira e Ciro Nogueira, escondem a figura do capitão em sua campanhas. Essa é a gente que iria para o nono círculo do Inferno, caso ele existisse.

A política é assim. Dinâmica e, quando os prazos para a eleição vão ficando próximos de se esgotarem, mudanças repentinas sempre ocorrem.

Por isso, é necessário aguardar, ficar antenado a novas ocorrências e ser ágil na escrita.

 


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dois longuíssimos meses até a volta da esperança

Por Fernando Castilho




O que resta ao ocupante da cadeira presidencial nesses próximos dois longuíssimos meses?


O tempo é relativo.

Para quem, em frente ao coqueiro verde, já tinha fumado um cigarro e meio e nada de Narinha chegar, o tempo parece uma eternidade.

Para quem está desenganado pelos médicos, dois meses passam num piscar de olhos.

Para Lula, que tem a real possibilidade de vencer as eleições presidenciais em 2 de outubro, dois meses é tempo longo demais, pois nesse período relativamente curto, reviravoltas são possíveis, mas não prováveis.

Considerando que já há mais de dez meses as posições de primeiro e segundo colocados permanecem praticamente inalteradas, somente um acontecimento totalmente fora da curva pode arrancar a vitória de Lula.

Além disso, há um empenho pessoal do capitão em ser derrotado. Até seus aliados mais próximos perceberam, ainda que tardiamente e já se desesperam.

O discurso golpista durante o lançamento de sua campanha assustou a elite que correu a assinar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito! (assine aqui)

O capitão não falou de controle da inlação, recuperação da economia e do emprego ou de crescimento do país.

Por isso, até Febraban e Fiesp, dois dos alicerces que congregam o filé do empresariado brasileiro, se fizeram presentes.

Restou ao mandatário da nação, apressadamente, desdenhar da iniciativa e, mais tarde, escrever ele próprio um manifesto com as únicas ferramentas que tem à mão: 27 palavras e o Twitter.

Se em 2018 essa elite apoiou decisivamente sua campanha, agora, preocupada com as consequências econômicas de um golpe, desembarca solenemente dela. O que será que o capitão imaginava? Que dariam apoio a essa aventura?

Além disso, o secretário de defesa norte-americano, Lloyd J. Austin III, em reunião com o ministro da defesa brasileiro, general Paulo Sérgio, manifestou sua confiança nas urnas eletrônicas, sugerindo que nenhuma ousadia golpista teria o apoio de seu país.

Com isso, as Forças Armadas, enquanto instituição, não deverão apoiar uma ruptura, embora haja alguns focos que permanecerão isolados, mas sem muita força.

O resultado é que o capitão está ficando só.

Não vence no voto e não consegue dar um golpe, embora continue a seguir na tentativa.

O que resta a ele, afinal?

Se Lula vencer em primeiro turno, imediatamente o capitão se transformará em cachorro morto.

As traições, que já estão acontecendo principalmente no Nordeste, aumentarão exponencialmente, afinal, para que ficar do lado de quem já não distribui mais recursos de orçamentos secretos?

A partir de janeiro próximo as denúncias de crimes de responsabilidade, que já somam mais de 40, começarão a gerar enxurradas de processos na primeira instância, já que o capitão perderá o foro privilegiado.

Na grande maioria deles, o então ex-presidente será condenado e, dependendo da celeridade das instâncias superiores, será preso daqui a pouco tempo, quando se esgotarem os recursos em terceira instância e não em segunda, como ele sempre defendeu.

É o futuro de quem desde cedo se propôs a entrar para a lata de lixo da história.

Enquanto isso, seguimos aguardando esses longuíssimos próximos dois meses.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

É urgente abafar o ensaio golpista de 7 de setembro!

Por Fernando Castilho


Pintura: Evandro Prado


A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Mesmo esperando que não, a lógica impõe que sim.


Às vezes fico na dúvida se escrevo ou não algumas linhas que podem ferir suscetibilidades. Felizmente, crio coragem.

A sociedade civil, finalmente, caiu na real e já assina um manifesto, a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!

Até agora são mais de 180 mil assinaturas, incluindo a minha. Isso não é pouco.

Porém, parece que ainda falta algo. O povo.

Precisamos sair às ruas antes do 7 de setembro e em número muito maior que o evento golpista.

Temos a real possibilidade de abafar qualquer ensaio que esteja sendo tramado.

Outra coisa é uma crítica à parte da esquerda que parece ter dificuldade de assimilar o que está por vir.

Leio aqui e ali que podemos dormir sossegados porque não haverá golpe.

Concordo que uma ruptura como deseja freneticamente o presidente da República está num horizonte que só ele enxerga porque não consegue aglutinar as forças necessárias para o feito.

Mas, se não haverá golpe, haverá a tentativa de golpe, pois o crápula que ora ocupa o Palácio do Planalto já convocou. Isso ficou claríssimo quando, durante o lançamento de sua candidatura, em que normalmente se faz discurso sobre programas de governo, o crápula preferiu chamar seus seguidores para o ato do Dia da Independência. E ainda disse que será a última vez que o cercadinho sairá às ruas.

O bandido não quer eleições porque já sabe que será derrotado. Ao tomar conhecimento da mais recente pesquisa Datafolha que crava 47% para Lula e apenas 29% para ele, resta apenas tentar virar a mesa.

E é esse o perigo.

A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Espero que não, mas a lógica impõe que sim.

O país pode ser virado de cabeça pra baixo!

É isso que precisa ser combatido agora.

Leio também análises ingênuas que tentam explicar a blindagem que o PGR, Augusto Aras oferece ao mandatário do país.

Dizem que Aras persegue um posto de ministro do STF e que por isso arrisca todas suas fichas no capitão.

O inominável perderá a eleição! Portanto, Aras se arrisca inutilmente a ser cúmplice de seus crimes por prevaricação.

A menos que também deseje um golpe.

Ou, o que me parece muito mais lógico, tem grana envolvida para que ele se exponha dessa forma blindando o capitão contra qualquer acusação. Vamos acordar!

Muita grana, até porque ninguém mais está controlando nada. Dinheiro sai secretamente e entra secretamente em contas secretas.

Enquanto isso, permanecemos aguardando uma convocação às ruas pela resistência, que deveria já estar sendo articulada pelos partidos que compõem a chapa Lula/Alckmin.

Enquanto isso, produzimos e compartilhamos uma infinidade de memes engraçados, imaginando que com isso estaremos furando a bolha da esquerda e atingindo os bolsonaristas.

Enquanto isso, textos como este, de alerta, não são lidos. Talvez nem pelos sites em que publico. Porque não têm legitimidade.

Enquanto isso, a vida segue.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

O Capitão Morte e a inexorabilidade do matadouro

Por Fernando Castilho


 

Hieronymus Bosch



(...) percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. 


Sou uma pessoa guiada fortemente pela razão e, por isso, tenho como hábito estranhar certos comportamentos que fogem da lógica mais elementar.

Todos vimos o presidente da República pagar pra ver, se arriscando a passar por um vexame internacional cujas consequências à sua campanha pela reeleição seriam logicamente danosas. A imprensa, dois dias antes, já alertava para o desastre.

A apresentação a 40 embaixadores foi, mesmo assim, posta em prática e não deu outra. A grande maioria dos diplomatas presentes conhece muito bem nosso sistema de apuração de 

A mídia internacional condenou a fala de Bolsonaro e o Departamento de Estado norte-americano deu-lhe um puxão de orelhas ao afirmar que as urnas eletrônicas são um exemplo para o mundo.

Mas a tresloucada aventura do capitão não foi um coelho retirado da cartola somente por ele. Os cupinchas presentes no evento compartilham das mesmas ideias e das mesmas estratégias que, aos poucos, vão minando sua candidatura frente um adversário que vem ostentando até agora uma sólida campanha.

Os generais Braga Netto e Augusto Heleno estavam presentes, o que indica apoio à estratégia suicida.

Mas não é só isso.

Embora não presentes, observa-se, por declarações em redes sociais, que os filhos do presidente também compartilham de sua jornada em direção à derrota.

É aí que precisamos parar para pensar no que pode estar por trás disso.

Estamos assistindo quase todos os dias Bolsonaro participando de motociatas e fazendo discursos direcionados à parcela da população que o apoia cegamente, em que, invariavelmente ataca o TSE e as urnas eletrônicas. Para o senso comum, esse comportamento parece campanha eleitoral, mas, na verdade, não é. Se fosse mesmo campanha eleitoral, ele estaria falando em reduzir a inflação, anunciando medidas econômicas para gerar empregos, etc.

O mais lógico parece ser a intenção de Bolsonaro de não chegar a 2 de outubro, dia da eleição, porque percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. O que ele está fazendo, na realidade, é campanha para preparar seus seguidores para se insurgirem contra o processo eleitoral. Preparando para um confronto.

O capitão está tentando aglutinar forças entre seus seguidores, as polícias, federal, dos estados e municípios, setores das Forças Armadas e parlamentares de sua base de apoio para melar as eleições, já em 7 de setembro.

Temendo a enxurrada de processos e consequente prisão por mais de 40 crimes de responsabilidade que estão elencados em mais de 150 pedidos de impeachment sobre os quais o presidente da Câmara, Arthur Lira olimpicamente se senta, não resta ao capitão outra alternativa que não um golpe.

É por isso que os cupinchas mais próximos e seus filhos parecem marchar resolutamente em direção ao precipício. Não são bobos. Sabem que não podem vencer as eleições.

Porém, as Forças Armadas, em sua grande maioria, não estão interessadas nessa aventura. Isso já foi demonstrado pela falta de adesão dos principais comandantes militares, ainda mais depois da declaração do Departamento de Estado norte-americano.

A grande imprensa, que até outro dia vinha sendo reticente, agora, talvez já percebendo a real possibilidade de tentativa de golpe, já se posiciona contrariamente a Bolsonaro, principalmente depois dos assassinatos do jornalista britânico Dom Philips, do indigenista Bruno Pereira e do petista Marcelo Arruda, além da apresentação vexatória aos embaixadores.

Os movimentos sociais, a sociedade civil, os artistas, os intelectuais e, mais recentemente, os procuradores do ministério público, já se organizam para rechaçar qualquer tentativa de golpe.

Bolsonaro a cada dia mais parece um touro inconformado em direção a um inevitável matadouro.

Vai mugir, soprar forte pelas ventas, se sacudir e espernear inutilmente até seu destino implacável que será a prisão por tentativa de golpe.

 


terça-feira, 19 de julho de 2022

O Capitão entrou em modo golpe

Por Fernando Castilho


“Torrente de Loucos”: ilustração de Candido Portinari - 1948


O insano já está em modo golpe, por isso, a resistência tem que iniciar agora.


O presidente Jair Bolsonaro fez uma apresentação a cerca de 40 diplomatas estrangeiros defendendo que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que as eleições de outubro podem ser fraudadas.

O fato pode ser classificado como inusitado porque não é papel de um presidente se reunir com diplomatas, pois essa função cabe ao ministro das Relações Exteriores.

Mas, para lá de inusitado, há uma atitude desesperada e incrivelmente insana.

Como é possível um presidente expor a outros países que o sistema eleitoral do Brasil pode ser fraudado?

Por acaso, mandatários de outros países poderiam interferir nesse sistema? Por acaso, os diplomatas já não sabem das intenções do capitão? Por acaso, ele imaginou que são todos pessoas ingênuas que se deixariam convencer por suas mentiras?

Não, há muita, muita loucura. Bolsonaro deveria ser afastado por total incapacidade porque, além de não governar, está completamente louco.

O capitão usou os diplomatas para dar um recado a seus seguidores que puderam acompanhá-lo pelas redes sociais. Ele precisa dar um golpe e, para isso, necessita do apoio do cercadinho.

Há um outro perigo rondando o país. Se a horda que segue cegamente o presidente conseguir desestabilizar o sistema eleitoral, todos os candidatos a cargos eletivos se sua base de apoio Brasil afora, se sentirão à vontade para questionar suas derrotas. Vejam o perigo.

De qualquer forma, por mais que a esquerda – que costuma ignorar sinais – não dê a devida atenção ao ato e insista em que não há condições mínimas para uma ruptura, é preciso sim iniciar um projeto de contragolpe.

O capitão consegue manter cerca de 30% da população fiel a seus desvarios e parte das Forças Armadas comprometidas com ele. Além disso, há as outras polícias, militares, civis e federal. Some-se a isso, setores das instituições e de parlamentares do Congresso.

Essa turma pode não conseguir seu intento, mas certamente causará muito barulho e ousará colocar o país contra a parede já em 7 de setembro, o que pode ser o estopim de grandes confrontos e instabilidades.

Bolsonaro já está em modo golpe, por isso, a resistência tem que iniciar agora.

Lula e os partidos que lhe dão apoio precisam abandonar a estratégia de deixar o capitão falar suas sandices à vontade. É necessário que se inicie o combate às falas golpistas em nome da democracia.

Urge que Lula e Alckmin iniciem conversas com setores das Forças Armadas, defendam publicamente o STF e o TSE, busquem aparecer mais na mídia com propostas para o país e mobilizem os sindicatos, o MST, a OAB, a ABI, as demais representações da sociedade civil e, sobretudo, a população para saírem às ruas em defesa do sistema eleitoral e contra o golpe.

Além da reação da base de apoio de Lula, é urgente que o STF e o TSE sintam que têm o respaldo da maioria da população que confia nas urnas eletrônicas, criem coragem e adotem as medidas legais para impedir e punir atitudes meramente eleitoreiras como a PEC kamizase e o próprio discurso do presidente aos diplomatas, que ferem gravemente a Constituição e a legislação eleitoral.

Está mais que na hora de reagir.

 

 


sábado, 16 de julho de 2022

Inquietações filosóficas para uma noite de sábado

Por Fernando Castilho


 



Já conseguimos recuar no tempo para quando o Universo era apenas um bebê recém-nascido, mas o calor extremo daqueles tempos iniciais nos impede de prosseguir na observação.


O super telescópio espacial James Webb foi lançado no início do ano e já começa a mostrar serviço através das maravilhosas fotos, principalmente do espaço profundo. Deposito muita esperança em que ele possa ser nosso olho no Universo pronto, a enxergar estrelas se formando ou morrendo, buracos negros e exoplanetas que possam abrigar vida.

A formação do Universo se iniciou com matéria extremamente concentrada num único ponto que se expandiu em gigantesca velocidade há cerca de 13,8 bilhões de anos, num fenômeno que a Ciência, de maneira tímida e hesitante, chama de Teoria do Big Bang.

Por que a timidez?

Cientistas são extremamente cuidadosos para não cravar essa teoria como verdade antes que se esgotem todas as outras possibilidades que possam vir a surgir para tentar explicar o nascimento do Universo, afinal, há muito ciúme envolvido na comunidade científica, mas, amparado pela Segunda Lei da Termodinâmica e a Entropia, e, claro, estudos e cursos que minha curiosidade me obrigou a fazer, principalmente os cursos online Do Big Bang à Energia Escura, (Universidade de Tóquio e Astronomia e Astronáutica da Universidade Federal de Santa Catarina, posso afirmar que o Big Bang é realmente a única explicação possível.

Isso não quer dizer que sejam invalidadas teorias sobre o que existia antes do fenômeno (embora, se o próprio tempo iniciou com o Big Bang, ele não poderia existir antes com sinal negativo) ou se há outros universos paralelos coexistindo, nascendo ou morrendo neste exato momento. Mas isso são coisas que talvez nunca venhamos a saber.

Já conseguimos recuar no tempo para quando o Universo era apenas um bebê recém-nascido, mas o calor extremo daqueles tempos iniciais nos impede de prosseguir na observação. Porém, a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, resultante da época em que o Universo era extremamente quente e denso, apenas 380 mil anos após o Big Bang, nos indica a certeza da correção da teoria.

Embora já saibamos de muita coisa, há algo que me inquieta demais por não encontrar respostas convincentes e, muito menos, preocupação dos cientistas em explicar.

Edwin Hubble, o cientista que deu nome ao histórico telescópio espacial anterior ao James Webb, observando as estrelas, concluiu que o Universo está em expansão e, mais que isso, está em expansão acelerada.

Essa conclusão veio da utilização genial do Efeito Doppler. Quando uma estrela se afasta, seus comprimentos de onda sofrem um desvio na direção espectral para o vermelho, fenômeno chamado de redshift. Em contrapartida, quando uma estrela se aproxima, esse desvio ocorre para o azul, o blueshift.

Ora, computando o número de estrelas que se afastam e o número de estrelas que se aproximam, verifica-se facilmente que o primeiro caso é muito maior que o segundo.

Hubble foi além, calculando essa velocidade de afastamento das estrelas, chegando a 73,04 quilômetros por segundo por megaparsec e concluiu que esse movimento é acelerado, ou seja, o Universo está se expandindo de maneira acelerada.

Bem, já que o Universo se expande, para onde ele se expande, se fora dele não há nada, nem espaço?

O que ele está forçando para aumentar seu volume?

O exemplo que costumo dar em minhas aulas para a expansão do Universo e o consequente afastamento das estrelas e das galáxias é o clássico exemplo do balão ou bexiga de ar.

Vamos colar algumas pequenas figuras numa bexiga vazia e soprar. Quanto mais sopramos, mais a bexiga se enche e as figuras se afastam umas das outras.

Porém, esse exemplo não explica totalmente essa inquietação, já que quando a bexiga se enche, pressiona o ar em volta dela.

No caso do Universo não há ar nem nada a ser pressionado, afinal, fora dele não pode existir nada.

Se o Universo é infinito, é lógico que ele estaria se expandindo, até porque, em analogia com a Matemática, os números inteiros são infinitos porque sempre podemos somar mais um ao último. Ou seja, sempre será possível aumentar o Universo.

Sobre a teoria do Big Crunch que imagina que ele um dia cesse sua expansão e comece a diminuir de tamanho até voltar ao ponto inicial, pode-se dizer que contraria a Segunda Lei da Termodinâmica e a Entropia. Seria como voltar ao passado, coisa que essa lei impede porque não se pode voltar do caos à ordem. Seria o mesmo que fazer com que uma xícara que acabou de se esfacelar no chão pudesse voltar à sua forma original.

Bem, são inquietações científicas e filosóficas que muito provavelmente não verei serem respondidas neste curto período de vida.

E olha que nem falei da Energia e da Matéria Escuras.

Fica pra próxima.


quinta-feira, 14 de julho de 2022

Que o hálito do demônio nunca mais volte a soprar

Por Fernando Castilho




O céu se tornara escuro como veludo negro. Relâmpagos rasgavam a atmosfera densa iluminando brevemente a capital como a anunciar o mal que acabava de ser expelido.


Enigmas de um passado recente, hoje já se conhece muito acerca da existência dos astros denominados buracos negros, previstos por Albert Einstein.

Eles existem em vários tamanhos, mas o que é comum a todos eles é a enorme força gravitacional que atrai tudo para seu núcleo, inclusive a luz.

O astrofísico Stephen Hawking propôs que, embora nada escape de sua atração gravitacional os buracos negros podem emitir radiações. Essa teoria já foi confirmada por observações da Nasa.

A especulação que corre em nossos dias é se podem existir buracos negros muito pequenos cuja origem data da formação de nosso planeta e se encontram em seu interior.

Se isso for verdade, é possível que eles funcionem como portais para outras dimensões e, quem sabe, para outros lugares inimagináveis.

Um desses buracos, que se encontra justamente nas camadas profundas do magma sob a superfície de onde hoje se localiza a cidade de Brasília, logo após a construção da capital na década de 1950, começou um processo de atração gravitacional de gente com pretensões políticas e de poder.

Devido à agregação de massas ávidas por poder ao longo das décadas subsequentes, o buraco foi inflando até um ponto em que precisava expelir radiação, justamente a mais tóxica.

Foi em 2018 que a perigosa fenda do buraco negro sob Brasília se abriu. De lá de dentro, do Hades vermelho-sangue, uma radiação inicialmente amorfa e sem expressão começou a tomar forma e a rastejar de dentro daquele inferno.

O céu se tornara escuro como veludo negro. Relâmpagos rasgavam a atmosfera densa iluminando brevemente a capital como a anunciar o mal que acabava de ser expelido.

Enfim, o processo de antropomorfismo se completara e a radiação se colocou sob duas pernas.

Multidões contemplavam e se agregavam ao novo ser que se apresentava como enviado de Deus e que sugeria que estava acima de todos os homens.

Um novo mito se apresentava como uma nova consubstanciação, desta vez, não do vinho e do pão, mas de uma nova ordem que corromperia a civilização, o meio-ambiente, as instituições, a democracia e a verdade.

Logo em seguida uma desgraça se abateu sobre os homens de todo o planeta. Um vírus poderoso que avançava matando impiedosamente muito mais pobres do que ricos.

O ser oriundo das profundezas do inferno aproveitou a oportunidade para impedir que a Ciência buscasse meios de combater a doença e salvar vidas. E contemplou satisfeito sua obra.

Mais de 600 mil almas pereceram sob a espada do mito infernal.

Como um Satã tresloucado, um Leviatã doidivanas, o ser emitiu radiações malignas para os cérebros de seus seguidores que não hesitaram em replicar suas maldades e em expor a si mesmos e às suas famílias às consequências de seus atos.

Tentáculos nojentos emergiram do corpo do ser para grudar em humanos predispostos corrompendo toda a carne.

Assim foi que homens que haviam jurado seguir as leis e prender criminosos confinaram um inocente em uma viatura e o assassinaram por asfixia causada por gases tóxicos.

Assim é, também, que duas pessoas que lutavam pela preservação do meio-ambiente foram assassinadas por seguidores dessa nova seita.

O ser maligno se ocupava em emanar forças que causavam a desgraça do povo. Não demorou para a fome, o desemprego e a desesperança entrarem nos lares das famílias. Milhões perderam suas casas e foram morar nas ruas.

Felizmente a maior parte das pessoas se indignava e aguardava que forças do bem surgissem para combater o mal.

Contra a crueldade do mito dos infernos ergueu-se, enfim, uma voz que espalhava esperança, pregava a volta da civilização, da democracia e do bem-estar.

A reação contra essa voz não demorou a surgir.

Querubins do mal, cegos de ódio e possuídos pela vontade do mito, foram enviados para a batalha que iniciava.

Um deles, mesmo tendo esposa e filha de três meses, não hesitou em, em nome de seu mito, tentar matar um homem que se aliava às forças do bem no dia de seu aniversário. Sabia que, com certeza, no mínimo sairia preso e teria sua carreira arruinada, o que prejudicaria seriamente sua família. Mas, com seu cérebro dominado pelas ordens de seu superior, prosseguiu em seu intento.

Inesperadamente houve reação por parte da vítima, mas o querubim conseguiu cumprir sua missão, matando o homem, mesmo quase pagando com a própria vida por isso.

Como o caso causou muita repercussão, o ser maligno, viu-se desesperado por se ver perdendo uma das batalhas da guerra que travava contra as forças do bem.

Por onde passa ele murcha as flores, apodrece as carnes, polui o solo e os rios e corrompe as pessoas.

Foi essa característica que o fez procurar dois irmãos da vítima e corrompê-los. Os dois Cains já tinham sido há muito tempo influenciados pelos fluídos malignos que o mito exalava e, por isso, não cederam à corrupção. Decidiram trair seu irmão, um Abel, em nome do ser do mal.

A radiação do mal, consubstanciada em ser humano, agora se desespera em tentar convencer o povo que se chocou com o assassinato, de que a vítima foi a culpada por seu assassinato, mas não conseguirá.

A cada dia que passa o povo mais e mais se convence de que o demônio que entrou em nosso mundo por uma fenda do Hades não é um enviado de Deus e essa tragédia servirá para explicitar isso.

A guerra ainda vai levar muitos dias para acabar e virão ainda mais acontecimentos terríveis, mas as forças do bem a vencerão e o ser acabará por ser novamente atraído, engolido, triturado e, por fim, completamente incinerado pelas gigantescas forças gravitacionais que atuam no buraco negro do qual nunca deveria ter saído.

Após isso, a fenda se fechará, mas a semente do mal foi plantada e continuará ase espalhar feito erva daninha.

Será preciso que todos os cidadãos que amam a liberdade, a democracia, a civilização, a Ciência, a solidariedade, a justiça e a empatia se unam para extirpá-la.

Após isso, tempos virão em que voltaremos a ter esperança no futuro de nossos descendentes.


quarta-feira, 13 de julho de 2022

Era uma vez em Marte

Por Fernando Castilho




Foi durante a chegada da Perseverance que a civilização avançada que vivia harmoniosamente de maneira sustentável começou seu processo de extinção.


O rover Perseverance, uma espécie de laboratório móvel que lembra um grande jipe, desenvolvido pela NASA, foi lançado em 30 de julho de 2020 com destino a Marte. Até 2022, atuando em parceria com seu antecessor, Curiosity, não havia encontrado sinal de vida no planeta vermelho.

Porém, entre alarmes falsos e muita pareidolia, enfim, no ano 2025 o aparato ambulante constatou evidências incontestáveis de que uma forma de vida subsistia e sobrevivia em meio a ruínas do que em um passado recente fora uma civilização.

A notícia encheu os cientistas da Nasa de júbilo e, ao se espalhar pelos quatro cantos de nosso planeta, trouxe muita curiosidade, especulação, negacionismo, mas, sobretudo, esperança. Afinal, não estávamos sozinhos no Universo.

Era então chegada a hora de uma missão tripulada a Marte!

Um programa da Nasa permitiu que cientistas de todo o mundo pudessem participar da jornada, afinal, hoje em dia a diversidade produz frutos mais qualitativos do que a mesmice. E entre eles, brasileiros tiveram sua oportunidade.

Os preparativos foram concluídos no prazo recorde de dois anos e, enfim, uma nave tripulada chamada Hope foi lançada para procurar estabelecer contato com os seres e a cultura recém-descobertos.

Após dez meses de viagem, o módulo da Hope pousou suavemente na borda de Mare Erythraeum, uma vasta região escura onde os restos da civilização foram encontrados.

Passados alguns dias de instalação e estruturação dos módulos de sobrevivência e de laboratório, a equipe composta de três homens de três nacionalidades diferentes e três mulheres brasileiras, todos cientistas de alto nível, adentrou Mare Erythraeum.

O que se via era destruição por todos os lados. Havia edifícios desmoronados, uma grande extensão de um antigo lago já seco, veículos sobre rodas abandonados e cobertos de areia vermelha, troncos de uma estranha vegetação caídos pelo solo e muitos, muitos esqueletos de várias formas de vida desconhecidas.

O que teria acontecido a essa civilização no prazo de apenas dois anos?

A equipe avançava lentamente pelas ruas anotando e fotografando tudo que via, quando alguns sobreviventes cambaleantes se aproximaram parecendo a princípio hostis por causa da fome e da sede. Eram seres humanoides porque possuíam pernas com as quais caminhavam eretos e mãos, mas no mais eram totalmente estranhos aos humanos. Os cientistas carregavam água e proteínas em pó e isso foi suficiente para acalmar os ânimos.

Estabelecida a paz, era hora de tentar o diálogo.

A equipe procurou com gestos e desenhos no solo perguntar o que causou a hecatombe, mas não foi necessário um grande esforço de compreensão porque os sobreviventes logo adivinharam quais eram as indagações.

O ser aparentemente mais idoso grunhiu alguns sons e logo outro com aspecto de criança trouxe fotos, desenhos e um estranho projetor holográfico por meio do qual foi possível estabelecer uma linha do tempo dos terríveis fatos ocorridos.

Foi durante a chegada da Perseverance que a civilização avançada que vivia harmoniosamente de maneira sustentável começou seu processo de extinção.

Até antes da Perseverance, Mare Erythraeum vinha sendo governada de maneira sábia, previdente e civilizada. Claro que havia alguns problemas na produção e distribuição de alimentos e água, mas, de maneira geral vivia-se bem.

A sociedade era composta de 6 grupos principais: a diminuta, mas poderosa classe dos muito abastados, a pequena classe dos governantes e das instituições, a também pequena classe dos intelectuais, artistas e cientistas, a dos sacerdotes, a grande classe do povo simples e, por fim a pequena e barulhenta congregação dos pategos, aqueles que  renegavam a civilização e seus avanços, desprezavam os intelectuais e os cientistas, conspiravam contra o governo e as instituições e se consideravam orgulhosos de sua ignorância e de suas ideias retrógradas.

Os pategos já haviam dominado Mare Erythraeum no passado, causando enorme estrago à civilização, mas estavam recolhidos há décadas e ninguém mais levava a sério a possibilidade de eles voltarem ao poder.

Porém, havia surgido em 2020, pelo calendário terráqueo, uma certa movimentação deles a que ninguém deu grande importância.

Os pategos alçaram um dos seus à sua liderança. Justamente um dos mais obscurantistas e que há anos dava mostras de não se encaixar no sistema vigente, preferindo o regime que dominou a região no passado.

Passaram a fazer muito barulho, conseguiram que os órgãos informativos da população fizessem vistas grossas e até, em alguns casos aderissem disfarçadamente ao que pregava o novo líder.

Boa parte da classe política e instituições desdenharam da possibilidade da ascensão ao poder desse patego, achando que ele não levava perigo.

Também, boa parte da população aos poucos se convencia de que ele apenas era um marciano simples e sincero, e que o que pregava, preconceito, discriminação, autoritarismo, armamento, ódio, era apenas para impressionar.

Pois bem, o líder patego conseguiu chegar ao poder e o processo de deterioração da civilização de Mare Erythraeum teve início.

À princípio os políticos de oposição e as instituições ficaram apenas estarrecidos e inertes diante dos discursos cruéis e infames. Seguiram-se atos de destruição do meio-ambiente, dos direitos da classe pobre e de fechamento das instituições. Quando uma terrível doença advinda provavelmente de vírus que foram trazidos inadvertidamente pela Perseverance e sobrevivido à longa viagem pelo espaço, começou a dizimar a população, o líder patego lhe negou remédio.

Embora as classes dos políticos e instituições e dos intelectuais, artistas e cientistas esboçassem uma reação, esta não foi possível se concretizar devido às ameaças violentas do líder patego e seus asseclas. Ademais, a classe dos muito abastados e boa parte da dos sacerdotes perceberam que poderiam se aproveitar e lhe deram apoio.

As ameaças passaram a ser constantes e a aumentar em grau de violência.

Os pategos, agora armados por seu líder, intimidavam a todas as classes.

Registros históricos da civilização foram queimados em nome de uma nova ordem.

Certos da impunidade, os que lhe eram mais próximos começaram a praticar todo tipo de corrupção.

Mare Erythraeum começou então a viver períodos de grande fome e sede, além de desastres naturais como imensas tempestades de areia. O líder patego não se importava com isso, preferindo se exibir de gnorkyiwh, uma espécie de veículo que flutuava sobre o solo em grande velocidade, sempre acompanhado de outros pategos.

Por fim, o colapso econômico e a deblaque da sociedade.

Terminada a exposição holográfica, o ancião gesticulou que era chegada a hora de todos se esconderem porque os pategos sobreviventes, junto com seu líder, sairiam a qualquer momento de seu bunker onde se refugiavam e gozavam da boa vida, para saquear o pouco que restara da civilização e calar com armas qualquer esboço de reação. Tornara-se uma prática diária.

Para terminar, o ancião demonstrou toda sua tristeza com o fato de que Mare Erythraeum deixara passar o turning point, o ponto de inflexão, porque todos se acovardaram e já não era possível nenhuma reação.

Contribuiu para isso a ausência de um líder que fizesse forte oposição ao patego. Os colaboracionistas, comprados por minerais preciosos do planeta, não se importaram com sua destruição.

As cientistas se entreolharam várias vezes. Impossível não relacionar o relato ao que havia acontecido na Terra entre 2016 e 2022.

Um arrepio percorreu a espinha das cientistas brasileiras ao imaginar o destino do Brasil nas mãos de um patego. Foi justamente um patego que tentara vencer as eleições em 2022, mas fracassou.

Felizmente, ao contrário de Mare Erythraeum, o Brasil tinha um líder de oposição que enterrou de vez o terrível pesadelo de mais quatro anos de dominação dos pategos.

Infelizmente, por não ter uma liderança que se contrapusesse ao patego, a civilização de Mare Erythraeum estava irremediavelmente condenada.

Restaria apenas a barbárie.

Os cientistas decidiram voltar à Terra no dia seguinte.