Sérgio Buarque de Holanda em sua grande obra Raízes do Brasil, nos ensina que os colonizadores portugueses impuseram ao povo brasileiro, como herança, um enorme senso personalista.
É assim que, nós, brasileiros, somos fadados a um comportamento bastante diferente dos povos do resto do mundo.
Somos,
principalmente, incapazes de pensar coletivamente, sempre descambando
para o mais completo individualismo.
Pensar
individualmente significa negar qualquer possibilidade de ajuda ao
próximo, de trabalho em equipe, de cooperativismo, enfim, de tudo
aquilo que seja para o bem de uma coletividade.
Antes
da abolição, os escravos eram discriminados menos por sua cor e
mais pela sua pequena importância enquanto simples trabalhadores
braçais, incapazes de colocar em sua obra sua assinatura.
Após
a libertação dos escravos, os pobres é que passaram a ser
discriminados pela elite e continuam assim até hoje.
Vou
chamar aqui de brasileiro aquele pobre que se julga capitalista e de
direita, a classe média e a elite mais rica que manda no Brasil,
incluindo a classe política, o Judiciário e a mídia. Que me
desculpem os outros brasileiros.
Peço também que não se interprete o texto como uma simples manifestação de viralatice. Não é isso.
Peço também que não se interprete o texto como uma simples manifestação de viralatice. Não é isso.
Assim
é que:
o
brasileiro odeia o bolsa família porque não suporta que uma migalha
seja retirada de seus impostos para matar a fome de crianças que
nada têm a ver com ele;
o
brasileiro não suporta a ascensão das classes menos favorecidas que
realizam trabalhos sem importância;
o
brasileiro odeia ver pobre viajando de avião porque não tem mérito
para isso;
o
médico brasileiro se recusa totalmente a clinicar nos grotões mas
também odeia que outros médicos mais altruístas o façam;
o
brasileiro esperneia ao ver que dinheiro de seu imposto está sendo
aplicado na construção da transposição do Rio São Francisco,
revoltando-se com o fato de que milhões de pessoas que não fizeram
nada para adquirir o direito à água, serão beneficiadas;
o
brasileiro não gosta da Democracia porque esta pressupõe direitos
iguais para todos, ou seja, de maneira coletiva e não
individualmente, onde ele pudesse ser privilegiado;
o
brasileiro não gosta da Democracia também, pelo fato de que ela
pressupõe que o poder seja emanado do povo e seja exercido pelo povo
e para o povo. Ele não é povo, ele é ele;
o
brasileiro gosta de ser manipulado, afinal, a liberdade de pensamento
pressupõe um certo grau de organização coletiva que ele odeia;
o
brasileiro também gosta da ditadura pois esta vai contra a
Democracia que ele odeia. Os ditadores e também seus heróis
passageiros como Cunha, Moro, Bolsonaro, Frota, são homens que se
afirmam com pensamento individualista, egoísta e autoritário. Suas
decisões nunca serão tomadas dentro de um coletivo, respeitando as
opiniões divergentes e acatando a maioria;
o
brasileiro adora a meritocracia embora ele a persiga e nunca a
alcance. A meritocracia é o símbolo máximo de que o trabalho
individual, e não em equipe, eleva o homem ao seu patamar mais alto;
o
brasileiro adora Miami pois a cidade é o símbolo de que as ações
individuais e egoístas do capitalismo deram certo. Cada um brigou
pelo seu e todos prosperaram. Só se recusa a ser informado de que na
mesma cidade há uma enorme favela onde moram aqueles que foram
destruídos pelo sistema;
o
brasileiro adora pagar planos de saúde. Assim ele evita o SUS, que
embora tenha algumas unidades que funcionam muito bem, é coisa para
pobre. E muitas vezes quando necessita de algum procedimento
cirúrgico, escolhe médicos e hospitais fora da rede conveniada e
paga do próprio bolso. Afinal, por que se utilizar de um plano de
saúde que atende um grande número de pessoas se ele pode ser
atendido de maneira diferenciada?
O
brasileiro não sai às ruas para reivindicar segurança pública.
Ele prefere individualmente se mudar para um condomínio fechado, com
segurança privada e blindar seus carros;
o
brasileiro detesta reuniões onde vários pontos de vista são
discutidos para se chegar a uma decisão. Prefere que alguém dê um
soco na mesa e decida, mesmo que ele tenha argumentos contrários;
o
brasileiro entra nas redes sociais para mandar nelas, afinal, elas
lhe garantem esse espaço e esse direito. Ele revelará, ainda que
anonimamente, que segue fielmente seus instintos mais selvagens sem
se preocupar com qualquer reflexão sobre o que seja certo ou errado.
No Facebook o brasileiro, enfim é rei;
o
brasileiro viu seu time que só tinha Neymar perder de 7 a 1 para uma
Alemanha que praticou o futebol coletivo. Mas sonha em dar o troco
justamente utilizando-se do mesmo futebol baseado em jogadas
individuais de um único jogador;
o
brasileiro quer ser VIP, mesmo que em sua própria casa seu cachorro
tenha mais importância que ele;
o
brasileiro quer as leis a seu favor, afinal, ele é egoísta e
individualista. Às favas com as leis que servem para todos. É por
isso que o brasileiro idolatra o juiz Moro que pune somente as
pessoas ligadas ao PT e poupa todos os outros que são a grande
maioria no escândalo investigado pela Operação Lava Jato;
O
brasileiro não suporta um governo de esquerda, mesmo que seja
esquerda meia boca como foram os do PT, e mesmo que ele ganhe
dinheiro com isso, como realmente ganhou. Governo de esquerda está
ligado a Socialismo.
E
Socialismo lhe causa arrepios, não porque seus bens tivessem que ser
expropriados, mas sim porque os pobres iriam melhorar de vida com
isso.
E,
egoísta como é, ele não suporta isso.
Pode o socialismo ser implantado em todo o mundo, um dia. O Brasil será o último a aderir.
Se aderir...
Pode o socialismo ser implantado em todo o mundo, um dia. O Brasil será o último a aderir.
Se aderir...
Parabéns pelo artigo, Fernando Castilho. Peço licença de compartilhar no facebook.
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