Por Fernando Castilho
O contra-almirante Barra Torres participou da campanha que elegeu Jair
Bolsonaro, obtendo por isso a indicação para ser o presidente da Anvisa. Como o
capitão nunca escondeu de ninguém seu caráter canalha, é certo que naquela
época o militar da marinha comungava das mesmas ideias.
Em março de 2020 Barra Torres participou, de livre e espontânea vontade, junto com o Capitão Morte, de uma manifestação em Brasília que pedia a volta do AI-5 e o fechamento do Congresso e do STF. Ele estava lá num momento em que a Covid-19 se alastrava fortemente pelo país. Mais tarde, em depoimento à CPI da Covid, declarou que se tivesse refletido por cinco minutos não teria participado da manifestação.
Naquele mesmo ano a Rússia desenvolveu a vacina Sputinik V e uma farmacêutica brasileira requereu junto a Anvisa sua aprovação para uso emergencial, o que foi negado pelos técnicos uma vez que faltavam documentos importantes. Imediatamente muita gente questionou a decisão alegando que a agência discriminava a vacina por ser ela de origem russa. Uma bobagem que eu mesmo refutei em um texto. Os técnicos estavam certos em não aprovar o imunizante, como se constatou mais tarde.
Pois bem, de lá pra cá a Anvisa tem agido de forma muito profissional e independente. Seu presidente, Barra Torres chegou a depor na CPI da Covid defendendo seus técnicos e criticando duramente o presidente e o ministro da saúde à época, general Pazuello, que colocavam todo tipo de obstáculos para vacinar as pessoas.
Como a Anvisa, de maneira muito responsável, aprovou a vacina da Pfizer para uso em crianças de 5 a 11 anos, o atual ministro Queiroga e o Capitão Morte passaram a criticar a agência.
Bolsonaro chegou a exigir que os nomes dos técnicos fossem divulgados para que as redes de apoio bolsonaristas pudessem iniciar seus ataques e promover ameaças, inclusive de morte, fato gravíssimo que as instituições somente observaram de longe.
Em sua live semanal recheada de mentiras e fake news que não sabemos porquê ainda está no ar, o capitão novamente atacou a Anvisa e a questionou sobre o interesse em aprovar a vacina infantil, insinuando que os técnicos e seu presidente estariam ganhando dinheiro com isso.
Barra Torres, abandonando de vez o bolsonarismo e abraçando seus técnicos como uma mãe defende seus filhos, redigiu uma nota cuja característica é ímpar.
Escrita de forma elegante, altiva e objetiva, a nota traça uma brevíssima biografia do almirante realçando sua dignidade na carreira da marinha para fazer contraste com a vida pregressa do capitão expulso do exército. Uma bofetada.
A nota ainda busca amarrar as mãos e amordaçar a boca do presidente ao solicitar que se ele tiver informações contra ele, que determine abertura de investigações, pois, se não o fizer, poderá incorrer em crime de prevaricação. Vai ser difícil o Capitão Morte responder a isso.
Não sabemos se Barra Torres é mais um dos arrependidos, mas está claro que Bolsonaro perde dentro das Forças Armadas um apoio de peso que poderá influenciar outros militares, a exemplo talvez do comandante do exército, general Paulo Sérgio, que determinou que toda a tropa se vacinasse, contrariando o capitão.
Bolsonaro, perdendo, apoio de Olavo de Carvalho e seus seguidores, das Forças Armadas (menos os que estão mamando nas tetas do governo) e dos deputados do centrão que já iniciam suas campanhas eleitorais em seus estados tentando desvincular seus nomes do presidente que fazia estrepolias enquanto a Bahia mergulhava em sua maior catástrofe climática, caminha para a impossibilidade de sua reeleição.
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