segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Peixinhos dourados num aquário lindamente decorado

Por Fernando Castilho




Sim, o risco de uma ruptura institucional, caso Bolsonaro seja reeleito, é muito grande e muitas pessoas, principalmente os gratiluz, não estão percebendo, confortáveis em seu mundo particular criado exatamente como uma redoma que lhes traz segurança.


Inicio reproduzindo um trecho de uma postagem que o amigo Jarbas Capusso compartilhou no Facebook. Depois explico.

“Esse ser é constituído de: 10% tofú, 10% de beringela orgânica e 80 de Ky. Ou seja, o gratiluz é um vaselina existencial. Não quer saber de conflito, muito menos embate, então vive de fazer vínculo do jacaré com a lontra. Esta foi minha versão lúdica. Ok. Vou meter o Datena: o gratiluz quer azeitar o convívio da barbárie com o civilizatório. Da bala com o discurso. Estivesse na Alemanha nazista, transitaria, fácil, fácil, entre Auschwitz e o quartel da SS.”

Vamos à explicação.

Capusso vai direto ao ponto, sem meias palavras, para falar de pessoas, às vezes chamadas de nem nem. Para elas, a quem ele chama de seres gratiluz, não há no país nenhuma disputa entre a civilização e a barbárie. Não há nenhum embate entre a verdade e a mentira ou a tolerância e o preconceito para com o outro. Parecem transitar ao largo dos graves acontecimentos que afligem o país.

Serei menos incisivo e usarei mais eufemismo para falar da mesma coisa.

Algumas, de acordo com sua religião (e não há aqui nenhuma intenção de criticar a crença de ninguém), acreditam que é normal passarmos por tempos atribulados para mais tarde experimentarmos a bonança. É sério.

Conversei há algum tempo com uma dessas pessoas. Perguntei sobre os horrores da Segunda Guerra e ela me respondeu que foi necessária, pois em seguida, com o fim dos conflitos, a humanidade pode desfrutar de um longo período de bem-estar.

Esse tipo de visão nos remete ao pensamento aristotélico.

Aristóteles imaginava o Universo, a que ele chamava de Cosmos, como algo perfeito e ordenado.

Cada coisa e cada um de nós temos um lugar determinado dentro dele. Somos peças que o compõem.

Desta forma, tudo o que acontece já está determinado, sejam as grandes catástrofes, sejam os períodos de felicidade.

Não há como o ser humano intervir criar sua própria história ou mudar o estado das coisas.

Consequentemente, não existe também o livre arbítrio. Tudo está escrito nas estrelas.

Mas isso foi escrito há mais de 1400 anos!

A Ciência, já há cerca de 500 anos, sabe que o Universo não é ordenado, pelo contrário, é caótico, não só pelas observações, mas também pela Segunda Lei da Termodinâmica que traz em seu bojo o conceito de entropia. Graças a Boyle, Hooke e Carnot!

À título de ilustração, neste exato momento em que escrevo, bem acomodado em uma cadeira, um asteroide pode se dirigir à Terra ou um terremoto de grandes proporções pode dar fim a esse conforto. É a imprevisibilidade. É a tendência ao caos.

Em minha vida passei por pelo menos três grandes momentos históricos de definição do futuro de nosso país: o movimento das Diretas Já em 1983, a eleição de Lula em 2002 e agora, o segundo turno do mais importante pleito nacional que definirá se voltaremos a retomar o processo civilizatório e a democracia ou iniciaremos um longo período de ditadura.

Sim, o risco de uma ruptura institucional, caso Bolsonaro seja reeleito, é muito grande e muitas pessoas, principalmente os gratiluz, não estão percebendo, confortáveis em seu mundo particular criado exatamente como uma redoma que lhes traz segurança. Pelo menos é o que eles imaginam.

O peixinho dourado dentro do aquário nada pra lá e pra cá observando a paisagem de plantas e pedras dentro do aquário, alimentando-se de vez em quando, tomando um pouquinho do Sol que entra pela janela da sala, alheio ao mundo conturbado lá fora.

Nada o tira do sossego de seu mundo particular.

 

 

 

 

 

 

 


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