Por Fernando Castilho
Sumire
e Kiyo, duas moças recém-formadas no ensino médio em Aomori, norte do Japão,
decidem se mudar para Kyoto onde a Casa Saku, tradicional escola de maikos (aprendizes de gueixas)
as aguarda.
Chegando
lá, a primeira coisa que aprendem é o cumprimento especial utilizado pelas
maikos, proferido com extrema delicadeza. Sumire tira de letra, mas Kiyo, por
mais que repita, não consegue a entonação correta.
As aulas
de dança e expressão corporal se iniciam e, mais uma vez Sumire se destaca, mas
Kiyo simplesmente não consegue. Embora carregue sempre um sorriso, ela percebe
aos poucos que ser maiko não é sua praia.
É aí
que a senhora Sachiko, a makanai da casa, devido a dores na coluna, fica
impossibilitada de cozinhar. Kiyo, então, se aventura na cozinha preparando
alguns pratos típicos de Aomori. A dona da casa e as demais moças que lá vivem,
gostam tanto que ela acaba assumindo o posto de makanai. Makanai é algo parecido
com chefe de cozinha, porém, os pratos que prepara não se destinam a clientes,
mas somente às pessoas que vivem na casa.
A
direção desse J-dorama está a cargo de Hirokazu Koreeda, vencedor do Palma
de Ouro no Festival de Cinema de Cannes pelo filme Assunto de Família, em
2018. Koreeda consegue segurar a atenção de todos, mesmo que a série não tenha
grandes conflitos nem reviravoltas.
O
único acontecimento mais tenso é quando o pai de Sumire aparece para levá-la de
volta para casa. A dona da casa, acompanhada pela maiko mais velha, tenta
convencê-lo de que Sumire tem realmente grande talento e precisa continuar seus
estudos. Não há um único tom de voz elevado na conversa. É através da
delicadeza que o pai é convencido de que ser maiko é realmente o melhor futuro
para a filha.
Enquanto
isso, Kiyo vai se aperfeiçoando cada vez mais na cozinha e ganhando a simpatia
e admiração de todas as moças que lá vivem. Kiyo descobre seu lugar no Universo
e, assim como Sumire, encontra a felicidade naquilo que faz. Aristóteles, que
afirmava que, para atingir a felicidade é preciso que encontremos nosso lugar
no Cosmos, ficaria feliz com esses exemplos.
Aliás,
a série de 9 episódios é pródiga em mostrar como, aos poucos, todas as moças,
embora com algumas decepções, vão encontrando seu caminho para alcançar a
felicidade.
O
dorama é uma bela adaptação do mangá Kiyo in Kyoto: From the Maiko
House (Maiko-san chi no Makanai-san), de Aiko Koyama, publicado desde
2016 na revista Weekly Shonen Sunday, da editora Shogakukan.
Os
cenários são os típicos das casas de gueixas do bairro Gion em Kyoto, cidade
que não foi atingida pelos bombardeios americanos durante a Segunda Guerra e
que, por isso, se mantém quase original, como era há alguns séculos.
É
interessante ver que As duas Irmãs de Gion (1936) e Os Músicos de Gion (1953), dois
filmes de Kenji Mizoguchi, mostram, quase que exatamente os mesmos cenários e a
mesma temática Nada mudou muito de lá para cá, sinal de que as tradições ainda
são muito fortes no Japão.
Enfim,
Makanai: cozinhando para a Casa Maiko, é sobre o caminho da delicadeza e da
sutileza e da tolerância para se chegar à felicidade. Algo que precisamos muito
nos dias de hoje.
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