Por Ada
Colau Ballano, Prefeita de Barcelona
Antes
de ontem 50 pessoas morreram por asfixia no porão de um barco.
Hoje,
mais de 70 pessoas dentro de um caminhão.
Hoje
acordamos com dois naufrágios: pode ser mais uma centena de mortos.
Temos
um mar que está cheio de mortos. Limites que são preenchidos com
fios, pregos, lâminas ... e pessoas mortas.
Homens,
mulheres e crianças, mortos. E uma parte da Europa chora, grita,
quer que sejam salvos, quer que eles não morram, mas ... mas que não
venham, que se vão, que vão embora, que não existam e que parem de
vê-los na TV, e menos ainda em nossas ruas, com seus cobertores, no
metrô, ou nos degraus de nossas casas.
Alguns,
de forma irresponsável promovem o medo ao "outro", ao
"ilegal", "àqueles que vêm para vender sem licença",
"gastar a nossa saúde", "ficar com nossos recursos",
"para ocupar o nosso lugar nas escolas" , "vão
pedir", "vão mendigar" "vão delinquir" ...
Mas
o medo é apenas isso: medo.
Nosso
medo de viver um pouco pior contra o seu medo de não sobreviver.
Nosso
medo de ter de compartilhar uma pequena parte do bem-estar contra o
seu medo da fome e da morte, tão profundo que lhes deu a coragem de
arriscar tudo, para vir com outra equipagem do que o próprio medo
ele mesmo.
Medo
contra medo. E o deles é mais forte.
Então,
Europa, europeus: devemos abrir nossos olhos. Não haverão muros ou
arames farpados suficientes para parar isso. Nem bombas de gás
lacrimogêneo ou balas de borracha.
Ou
assumimos o drama humano desde a capacidade de amar que nos torna
humanos, ou acabaremos todos desumanizados. E haverá mais mortes,
muitas mais.
Esta
não é uma batalha para proteger-nos "dos outros".
Agora
mesmo esta é uma guerra contra a vida. Que os governos parem de
ameaçar com o "Efeito chamada". O que a Europa precisa
urgentemente é de uma "Chamada ao afeto", uma chamada para
a empatia.
Poderiam
ser nossos filhos, irmãs ou mães. Poderia ser nós mesmos, como
também foram exilados muitos dos nossos avós.
Embora
esta seja uma questão de competência nacional e europeia, a partir
de Barcelona, vamos fazer tudo que pudermos para participar de uma
rede de cidades-refúgio.
Queremos
cidades comprometidas com os direitos humanos e com a vida, cidades
de que se orgulhar.
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