sábado, 19 de março de 2022

O depoimento de Lucas Coelho sobre o transe geracional

Por Lucas Coelho




Sabe, sou de outra geração. Hoje com 40, em 2013, nos arrogantes 30, me peguei a querer entender política.

Geraçãozinha cu essa minha. Doutrinada pelo neoliberalismo paterno - no meu circulo - daqueles que fizeram dinheiro na ditadura.

Aí o choque: o empreendedorismo que me foi vendido não se sustentava como diziam. Muitos, eu entre eles, quebraram e se colocaram a culpar os que dissessem serem os culpados.

Nos achamos o máximo e marchamos de modo errático pelas ruas, gados hipsters, antes de ser modinha.

Um erro enorme. A educação que nos foi dada era enviezada, numa doutrinação que nada tinha de comunista.

Ficamos perdidos em meio ao mar de opiniões de nossa imatura imersão transitória pro universo digital das redes e opiniões inflamadas. Achávamos que tinha valor o que dizíamos. Daí as bolhas que nos fechamos.

Aos poucos, emergimos ou submergimos ao que nos era dito.

Por sorte, ou acaso, calhou de eu ser jornalista nesses tempos. Me envolvi com gente que minha mãe não gostava e achei que algo de errado não estava certo.

Tarde, é claro. Dos amigos de colégio, sofreguidão. Dos pares ideológicos, utopia que brilhava os olhos.

Dessa minha geração que hoje inunda as redes com opiniões irresponsáveis, salvam-se poucos ou nenhum.

Mas hoje somos o que chamamos de geração vigente, nos cargos relevantes para decisões relevantes pautadas em opiniões irrelevantes.

Eu, que sempre fui amigo do tempo, optei pelo caminho difícil: ouvir e pensar “mas e se?”.

Descobrimos um país paralelo que existe aqui ao lado, na rua, no boteco. Primeiro romantizamos e construímos longos textos compartilhados que nos inflou o ego.

Alguns, de tão inflados, foram alçados a comentaristas políticos.

Essa geração frágil, medrosa e infantilizada que é a minha, surgiu de boas intenções e nenhuma teoria.

Desembocou na próxima, que nem boas intenções promove como artigo de fé.

A gente fodeu o rolê. Fodeu bonito.

E serão poucos os que irão assumir responsabilidade por ter dado voz ao reflexo de nossa própria vaidade ignorante.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar, mas ao contrário do Renato - hoje memeticamente ucraniano - consegui.

Resta pedir desculpas, ouvir a voz mais velhos e contar aos de menor idade.

Mas essa resignação também leva tempo.

 


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