Por Fernando Castilho
Texto de Nilson Lage
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Abro
os jornais e leio a notícia que assustou toda nação dando conta de
que as ações da Petrobrás haviam despencado, induzindo os leitores
a crer que a empresa estava falida, principalmente devido aos desvios
que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato. Pesquiso
sobre o assunto e descubro que as ações de todas as grandes
petrolíferas caíram praticamente na mesma proporção que as da
Petrobrás.
Evidente
a má intenção da mídia, principalmente a Rede Globo que prega o
fim do regime de partilha do pré-sal e é a favor da privatização
da companhia, motivo pelo qual Dilma Rousseff falou de ''predadores
internos e externos'' em seu discurso de posse.
Pior
é em seguida ler os colunistas opinarem a respeito da notícia. Hoje
em dia 90% dos que escrevem nos jornalões, o fazem em consonância
com o pensamento de seus donos (interpretem como donos dos jornais ou
donos dos colunistas, tanto faz, é a mesma coisa).
O
mesmo acontece quando se trata de comentar sobre a regulação da
mídia, horror dos horrores dos donos dos jornais e dos colunistas,
que atacam a ideia com todas as forças, sem ao menos ''saber'' do
que se trata. Claro que sabem.
É
triste ver como pessoas que se formaram no ofício de jornalista, que
possuem décadas de vivência e experiência, abdicam de suas ideias
ou até ideais, para repetir a opinião do patrão.
Por
isso, bem oportuno o texto de Nilson Lage, que reproduzo a seguir:
Oração
do carreirista bem sucedido na grande mídia brasileira
Meu
companheiro Patrão, eu Te amo.
Por
Ti, companheiro, abdico de todos os meus sonhos.
Apoiado
nos mais renomados teóricos, abandonarei a impossível objetividade
por Ti, Patrão, que me sustentas e me dás oportunidade única de
conviver em glória com o poder dos oráculos.
Se,
por bondade, me deres a graça de um salário melhor e me honrares
colocando-me no aquário onde mora o poder, juro perante Ti, apagarei
todos os pensamentos que possam ofender Tuas sensibilíssimas e
nobres Alma e Bolso. E mais:
Vigiarei
aqueles que intentarem matérias desviantes e pautas inconvenientes.
Se
persistirem, os acrescerei à listagem do próximo passaralho, que
submeterei à Tua augusta e sábia decisão.
Como
perdigueiro, caçarei Teus inimigos camuflados de repórteres e
chargistas.
Se
me deres a honra de participar das reuniões que iluminas, farei,
conTigo, o contraponto certo, discordando sempre em detalhes e até
mesmo dando espaço para que me corrijas e, assim, se amplie Teu
amor-próprio e confirme-se a correta intuição que flui de Tua
superior inteligência.
Se,
para meu delírio supremo, concederes-me espaço para emitir opinião
própria, buscarei alguma que Te agrade, ó Nobre Senhor, e o farei
com criatividade enorme, em nome da paixão que me une a Ti.
Mentirei,
se preciso for.
Caluniarei,
se perceber que isso Te serve.
Espero,
assim, alcançar o sucesso – talvez um acento na Academia de Letras
ou um lugar à Tua direita em algum de Teus memoráveis
jantares.
Serás sempre o alvo de minha dedicação, até que me despeças
Serás sempre o alvo de minha dedicação, até que me despeças
E,
se por acaso isso ocorrer, sairei de cabeça erguida, ciente do dever
cumprido e disposto a a outro patrão servir, como Te sirvo.
Com a mesma dedicação e empenho.
Com a mesma dedicação e empenho.
Nilson
Lage é jornalista, professor universitário (UFSC e UFRJ) aposentado
compulsoriamente em 2006 e doutor em Linguística, com ênfase em
semântica.
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