Comentários de Fernando Castilho
Comentário inicial
Decidí
publicar este texto do Dep. Jean Wyllys porque vem de um homem que
está lá na casa, que vive e convive por muitas horas diariamente
com o que há de pior em matéria de ser humano eleito pelo povo...
Jean
Wyllys escreveu logo após o programa do PT na Tv, porém não falou
dele, talvez por ética.
Sobre
o programa, dou minha opinião: visualmente limpo, bonito, mas com
conteúdo que precisaria ser menos republicano nesta altura do
campeonato.
Está
certo que o executivo não pode criticar nenhum dos outros dois
poderes, mas o dono do programa é o PT e este poderia ter sido
brigador.
Deveria
instigar àqueles que estavam assistindo a pensar um pouco e analisar
como é que pode um juiz prender alguém do PT por delação
premiada, sem provas e deixar solto Eduardo Cunha, também delatado?
A
briga agora é com Eduardo Cunha. Não adianta poupá-lo imaginando
que ele vá arrefecer seu instinto de vingança. Aliás, precisava dizer que Cunha precisa que Dilma seja derrubada pois estaria salvo da Lava Jato.
A
briga agora também é com a oposição que trabalha em várias
frentes para derrubar o governo.
Lula
também poderia ser incisivo e comparar sua atuação em levar
empresas para o estrangeiro com a de Obama que leva empresas para
Cuba.
Enfim,
era hora de explorar seu tempo na Tv e desmoralizar a mídia. Não o
fez.
Sobre
o texto do Jean, o deputado dá um alerta importante. Caso o TCU
rejeite a defesa do governo quanto às pedaladas fiscais, cabe ao
Congresso julgar a presidenta. Pessoalmente eu contava que na Câmara
Dilma venceria pois ela teria que ser condenada por dois terços dos
parlamentares. Seria tranquilo para ela. Mas agora o PTB e o PSB
deixaram a base governista. Isso muda muito as coisas.
Resta
ressaltar que Jean Wyllys lembra que ele é do Psol, e portanto é
oposição à Dilma, porém por este texto percebe-se o quanto o
deputado está mais empenhado em defender a presidenta do impeachment
do que os deputados petistas que ficam postando fotos no facebook de
recepções com canapés.
Vamos
ao texto.
Os
homens sórdidos e o temporal que se avizinha
Por Jean Wyllys
Se
Dilma cair, PMDB e PSDB não terão a solução mágica para a crise
econômica que a população espera; esta reagirá violentamente e a
grande mídia não conseguirá conter o "estouro de boiada"
A
situação política em que estamos mergulhados é mesmo preocupante.
Aqui na Câmara Federal a tensão que está no ar devido às
conspirações, traições e acordos tardios é tão densa que pode
ser cortada a faca. A aliança entre Eduardo Cunha (e asseclas de
todos os partidos do baixo clero), PSDB e DEM já não é mais
mal-disfarçada.
O
caminho para o impeachment traçado por esta aliança envolve a
reprovação das contas da Dilma pelo Tribunal de Contas da União
(TCU) devido às tais "pedaladas fiscais" ("pedaladas"
semelhantes foram praticadas também por FHC quando presidente da
República sem que isto lhe causasse qualquer dano à época).
Comenta-se
pelos corredores da Câmara Federal que o TCU reprovará as contas da
presidenta por unanimidade, já que, entre os ministros do tribunal,
haveria pessoas ligadas a Renan Calheiros (PMDB-AL), simpatizantes
dos tucanos e outras que, embora originalmente aliadas do governo,
estariam pressionadas pelo clima antipetista que se instalou na
opinião pública graças às opiniões e matérias contrárias ao PT
publicadas exaustivamente na "grande mídia".
Com
essa estratégia, buscarão evitar o caminho do impeachment via
Tribunal Superior Eleitoral, já que, por este caminho, o
vice-presidente Michel Temer cairia junto com Dilma. Os frutos dessa
aliança seriam: 1) o PMDB deixar de ser o parasita do PT e assumir a
presidência da República; 2) o PSDB varrer a concorrência petista
(leia-se Lula) nas eleições de 2018.
Ontem,
PDT e PTB abandonaram a base governista, mas três ou quatro
deputados destes partidos votaram com o governo para poder garantir a
presença dos seus parceiros nos ministérios concedidos por Dilma -
e esta não pode, apesar disso, sequer tirar esses ministros nesse
momento como retaliação ao abandono do navio em vias de naufrágio.
Por
outro lado, todos os deputados do PSD (partido do Kassab, Ministro
das Cidades) votaram e votam contra o governo. É provável que o PP
- que tem mais de trinta deputados arrolados nas investigações da
Lava-Jato acerca do esquema de corrupção na Petrobras - também
deixe a base do governo entre hoje e a semana que vem.
Ontem
e hoje, alguns deputados petistas esboçaram alguma reação mais
contundente contra Cunha desde a tribuna do plenário. Porém, o
líder do governo, Zé Guimarães, e o líder do PT na Câmara, Sibá
Machado, por ainda apostarem numa recomposição da base governista
que preserve um mínimo de governabilidade, silenciam o resto da
bancada petista, que está a cada dia mais murcha, constrangida e
humilhada, seja pelos inegáveis fatos que comprovam o envolvimento
de lideranças do partido no esquema de corrupção da Petrobras,
seja pela ofensiva antipetista da grande mídia em relação a esses
fatos e a repercussão dessa ofensiva em muitos setores da população,
inclusive entre os que se beneficiaram bastante dos governos
petistas.
Com
esse engessamento, a bancada do PT na Câmara Federal caminha para a
câmara de gás com os próprios pés sem esboçar reação porque
seus líderes acreditam em algum surto de lealdade tardio por parte
do PMDB ou simplesmente em alguma intervenção divina que salve o
governo em crise profunda.
Há,
porém, um complicador para os planos da aliança entre o PMDB, o
PSDB e o DEM: Janot será reconduzido ao Ministério Público Federal
e certamente apresentará denúncia consistente contra Eduardo Cunha
et caterva - e isto poderá recolocá-lo nos noticiários, que, nesta
semana, ocuparam-se de expor, com sensacionalismo, o envolvimento de
Zé Dirceu com o "Petrolão". Porém, não há certeza de
que os noticiários se ocuparão dos crimes de Eduardo Cunha, dado o
grau de envolvimento da grande mídia na tarefa de destruir o PT
publicamente a partir de cobertura seletiva e, assim, impedir que
Lula se eleja em 2018.
Como
pisciano e baiano - portanto, alguém atento aos recados dos
mistérios do universo - pressinto o pior para todos e todas nós,
torcendo para que eu esteja enganado: se Dilma cair, PMDB e PSDB não
terão a solução mágica para a crise econômica que a maioria da
população espera; esta reagirá violentamente e a grande mídia que
agora insufla o antipetismo não conseguirá conter o chamado
"estouro de boiada".
Só
a dura repressão por parte das forças armadas e/ou polícias poderá
fazer isso, o que resultará em graves consequências para os diretos
humanos e instituições democráticas. A ultradireita se apresentará
como "a solução", e o resto dessa história vocês podem
inferir.
Nós,
parlamentares do PSOL, somos oposição ao governo Dilma (que é
também o governo do PMDB, não esqueçamos disso!): uma oposição à
esquerda contra o ajuste fiscal que beneficia banqueiros e
especuladores financeiros; contra os cortes nos recursos destinados à
Saúde e à Educação e contra os acordos com fundamentalistas
religiosos e latifundiários.
Mas
somos contra o impeachment da presidenta Dilma, pois não acreditamos
em nenhuma saída fora das regras democráticas, principalmente saída
construída por pessoas que traíram o governo de que faziam parte ou
que não se conformam de terem perdido as últimas quatro eleições;
não acreditamos especialmente naquelas saídas que têm potencial
para ampliar a crise política.
Não
quero ser catastrófico nem parecer sombrio (embora haja hoje
especialmente uma sombra em meu coração, não sei direito o porquê:
apenas fruto dessa intuição). Fiquemos atentos de qualquer forma
pra que não tenhamos que cantarolar aquela canção que diz "quando
eu falava dessas cores mórbidas, quando eu falava desses homens
sórdidos, quando eu falava desse temporal, você não escutou, você
não quis acreditar".
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