Laerte |
Após
os protestos de março, ao ver algumas fotos de cartazes e faixas,
comentei dizendo que parecia que abriram a porta do hospício.
Fui
criticado por isso. Alegaram a tal liberdade de expressão. Alegaram
que todos tem o direito de protestar. Alegaram, enfim, que é preciso
defender o pluralismo de ideias. Claro que é preciso.
Porém
ao ver as fotos dos cartazes e faixas, além de vídeos dos
manifestantes do dia 16 último, não há como não dizer que estão
loucos.
Uma
pessoa com quem comentei alegou que os fotógrafos e videomakers
estavam justamente atrás das figuras folclóricas e que estas seriam
não mais que 10% dos manifestantes. Os outros seriam pessoas sérias.
Bem,
fazendo as contas, se havia mesmo 700 mil pessoas protestando contra
Dilma no país todo, então 10% dariam 70 mil pessoas, o que serviria
para encher um estádio em decisão do Brasileirão, entre
Corínthians e Palmeiras ou Flamengo e Fluminense. E certamente todos
ao final estariam mortos após uma batalha campal movida a ódio.
Se
o número de pessoas diminuiu em relação ao último protesto, deve
ser porque já há uma percepção por parte de algumas pessoas mais
sensatas de que Dilma não está envolvida em corrupção, mas o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha e o candidato derrotado Aécio
Neves, sim. Os que compareceram não estão nem aí com a corrupção,
uma vez que até defenderam o Eduardo Cunha, corrupto-mor da
República. Querem mesmo é acabar com Dilma, Lula e o PT.
Pode-se
concluir de lá para cá houve uma decantação. Alguns pularam fora,
restando o fundo, o lodo, o volume morto dos protestos. Aqueles que
não servem para nada, que não estão entendendo nada do que
acontece, aqueles que não tem referências históricas para comparar
o presente com o terrível passado que vivemos, aqueles que não
conseguem estabelecer um diálogo sem levantar a voz (podem ver nos
vídeos), xingar e ofender. O lumpen do pensamento político tão bem
trabalhado por Olavo de Carvalho.
Houve
de tudo, uma fauna completa.
Além
dos costumeiros nus em manifestações que defendem a tradicional
família brasileira, tivemos um grande aumento dos que pregam a volta
da ditadura justamente para combater a ''ditadura comunista'' de
Dilma que permitiu a eles protestarem no domingo sem levarem paulada.
Fosse no Paraná, protestando contra Beto Richa (PSDB), o pau ia
comer feio e teríamos muitos feridos e presos como quando da
manifestação legítima dos professores há dois meses atrás. Fosse
em São Paulo, num hipotético protesto pela falta d'água (imagine,
sem chance), Geraldo Alckmin (PSDB) iria botar sua polícia (que
cometeu a chacina contra 18 jovens de Osasco) na rua pra descer o
cacete.
Houve
também uma novidade: gente pedindo a volta da monarquia! No próximo
protesto deve aparecer gente pedindo o feudalismo, a Inquisição e a
Idade Média, já que não tivemos essa experiência.
Parece
que a maioria dessa vez era de idosos. Idosos e velhos, (coisas
diferente, já que nem sempre o idoso é velho). Havia também alguns
jovens já velhos de cabeça, que defendem uma volta ao passado que
não viveram e do qual já são saudosistas.
A
gente convive com algumas dessas mesmas pessoas. Elas comparecem à
churrascos em fins de semana, convidadas pelo amigo do amigo, e entre
uma cerveja ou outra começam a falar sobre política. Mas por não
terem argumentos e não estragar o ambiente, acabam sugerindo: ah,
vamos mudar de assunto que política não se discute, vamos falar de
futebol ou carros. Pode crer, ali estava um monstro oculto nas
trevas que resolveu sair à luz do sol no domingo e se revelou por
completo.
Fiquei
particularmente indignado ao ver fotos de crianças que nem sabiam o
que estavam fazendo lá. Crianças essas que, ao seguirem o ódio de
seus pais, se tornarão cidadãos perigosos para o país no futuro. E
se não seguirem seus país, sentirão vergonha deles quando se
tornarem adultos.
Velhinhas
doces, daquelas que assistem à novela enquanto fazem crochê,
diziam-se revoltadas pelo Doi-Codi não ter enforcado Dilma.
E
Capitães Brasil, América, Batman, sei lá mais o que. A legião
completa dos super-bobos estava lá. Não sei se o cara do raio
privatizador compareceu, não ví.
E
pra fechar com chave de ouro, FHC, mais um dos loucos, afirmando que
Dilma não tem mais legitimidade para governar e que deve ter a
grandeza de renunciar. Grandeza que ele não teve quando atingiu 56%
de rejeição quando da desvalorização do real em 1999. Também se
esqueceu de que deixou a presidência com a mais baixa aprovação da
História: 26%.
Aos
83 anos, FHC prova definitivamente que a idade nem sempre é garantia
de sabedoria. Tocar fogo no país e sair de perto não é atitude de
ex-presidente, mas sim de terrorista.
Bem,
passou, o impeachment não tem chance de ocorrer, a renúncia jamais
vai acontecer e nem a deposição de Dilma.
A
mídia está avaliando que não será bom para ela uma crise
econômica, política e social, pela situação de debilidade
financeira pela qual está passando e a Fiesp e a Firjan já
declararam que não desejam a instabilidade, muito menos uma grande
convulsão no país, portanto esqueçamos o golpe.
O
monstro insano que vimos ontem sair às ruas se recolherá às trevas
de onde saiu.
As
manifestações pela democracia da esquerda no dia 20 quinta-feira
(que dia, não? Dia de trabalho, bem que Frei Betto avisou) tem de
ser pacíficas.
Porém,
estejamos certos que haverá inúmeros provocadores. Que não se
respondam às provocações. Não pode neste momento aparecer um
mártir, desejo maior do revoltadão online.
Depois
é só aguardar os nomes que Janor divulgará para abertura de
investigações na sexta-feira.
Aí
pode estar a grande reviravolta de Dilma.
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