terça-feira, 18 de agosto de 2015

Ângelo Cavalcanti: O diploma de Lula

Por Ângelo Cavalcanti
Agora ficou fácil! Todo idiota com um diplomazinho de curso superior se vê no direito de atacar o Lula; e o ataca com uma ferocidade impiedosa que vai do "analfabeto", "burro" a cretinices similares. Todo bobão preconceituoso e cheio de ódios interiores e que cursou "nas coxas" uma graduaçãozinha de quinta categoria se vê na legitimidade de atacar pessoas mais simples e que, pelas mais diversas razões não puderam estudar e mesmo seguir seus estudos.

Não raro, vemos por aí um "formado" esperneando em meio a uma contenda com alguém mais simples: "Sabe com quem você está falando?" ou "Ponha-se no seu lugar!" ou "Eu sou parente do fulano de tal e você está ferrado!". São frases que se inscrevem naquilo que a sociologia irá definir como "discurso da ordem". E que "ordem" é essa? A do mandonismo, da hierarquia social, das assimetrias sociais que deitam raízes na predação sobre a vida indígena, negra ou popular. Na ordem social e política, toda ela elitista e segregacionista, e que prega direitos sem-fim aos brancos e bem-nascidos e deveres eternos e somente deveres aos do "andar de baixo".

Fico impressionado com as reações de uns e outros com a possibilidade de efetiva igualdade nesse país. A grita vai da lacrimação pura e simples ao ordenamento de organizações paramilitares supostamente "defensoras" da pátria brasileira. E conforme atestamos, todas as armas são utilizadas. Da ofensa mais sútil e simbólica ao golpismo bananeiro e militar de novidade alguma.

Nem vou mais dizer pra essa gente preguiçosa, alienada ou cheia de privilégios descabidos estudar porque já não se trata mais disso. Não estudam e jamais irão estudar. Aliás, odeiam o estudo porque estudar é se pôr diante da história, dos seus protagonistas, do feito e do não-feito, de erros, acertos e possibilidades e mais do que isso, estudar é se permitir a rupturas internas, ao aperfeiçoamento de olhares, perspectivas e de maneira livre, autônoma, desapegada e profunda o que, conforme bem sabemos, essa gente nunca e jamais irá fazer.

Mas, vamos lá... O regime militar que rompeu com um ordenamento democrático frágil, delicado, contudo, promissor foi uma ampla tragédia social; uma aberração econômica que aprofundou endividamentos e nossa muito definidora dependência e sob a perspectiva dos direitos humanos... Melhor nem comentar.

Aliás, o vão democrático, o amplo hiato para o aperfeiçoamento da nossa brejeira democracia, as fissuras comportamentais criadas e sofisticadamente desenvolvidas nos comportamentos individuais e coletivos do país por meio da ideologia de governo, da propaganda oficial e pelo alinhamento das instituições nacionais à batuta dos generais é que permite, ainda hoje permite, que cretinismos e patuscadas como esses movimentos "sem pé e sem cabeça" aconteçam pelas ruas do Brasil.

O "Fora Dilma" é o fluxo derradeiro da ampla fissura democrática e que, como tinha que ser, reage por estar sendo vedada, eternamente vedada. É o último esperneio de 1964. A análise de Luís Nassif a esse respeito é bastante pertinente quando afirma que o "monstro se recolhe com suas panelas" e a vida nacional se reencontra.

Espero que a democracia seja aprofundada, que o governo federal continue tributando ricos, que amplie e garanta os direitos dos trabalhadores, que renuncie imediatamente a esse ajuste fiscal neoliberal, neocolonial e profundamente dependentista e que o tamanho dessa democracia se achegue, por fim, na fundamental lógica da distribuição das rendas, ou seja, democracia sem distribuição de rendas é uma piada de péssimo gosto.

E aos pedantes que se sentem melhor do que o Lula, do que o seu Francisco ou do que a dona Maria Rita pelo simples fato de possuírem um diploma de curso "superior" e que de superior não tem absolutamente nada digo que essa é uma das maiores corrupções éticas e morais que tornam o nosso cotidiano estratificado um campo muito minado.


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