quinta-feira, 10 de março de 2016

Como um homem de bem conseguiu sobreviver à era Lula-Dilma

Por Fernando Castilho





Ficou surpreso ao passar a receber nos finais do ano visita de vários parentes que não via há anos, vindos do Nordeste, de avião. Veio até a vovozinha com quase 90 anos. Esse povo tá ficando abusado!


Para que ninguém que eu conheça se sinta atingido pelo nome, o personagem em questão se chamará Jurecélio.

Todo o resto poderá atingir em cheio um monte de candidatos possíveis a Jurecélio.

Ele ingressou cedo no Bradesco.

Inspirado em seu fundador, Juracélio pretendia seguir o exemplo de meritocracia dado por Amador Aguiar que, de simples contínuo, chegou a ser banqueiro.

Jerecélio não sabia, em seus 16 anos de, que Aguiar havia aplicado um desfalque no banco em que trabalhara e, com o dinheiro, fundado seu próprio banco.

Decidi não destruir seus sonhos.

Quando eclodiu em 1985 a maior greve dos bancários, Jerucélio furou todas e se apresentou orgulhoso ao trabalho, certo de que vestindo a camisa, sua almejada promoção seria alcançada.

Não deu.

Jarecélio furou não só essa, mas todas as greves, pois isso era coisa de comunista vagabundo. Vão trabalhar que seu suor será recompensado, bradava.

Mas Jaracélio não recusou os aumentos de salário conquistados pelos grevistas.

Pelo contrário, sua vida com isso melhorou e logo ele pode comprar seu primeiro carrinho.

Veio a campanha de Collor e Juricélio foi um dos primeiros a se definir a favor do moço bonito, caçador de marajás que, claro, era infinitamente superior àquele sapo barbudo de meia furada e analfabeto chamado Lula.

Jucerélio tinha uma graninha depositada na caderneta de poupança do próprio banco. Perdeu. Sua economia fora confiscada por Collor, porém ele nunca admitiu que a diretoria do banco já havia sido avisada antes da medida e sacou tudo que tinha. Ele amava o patrão.

O tempo passou e veio Fernando Henrique.

Jecerélio se sentiu em sua zona de conforto, afinal o ''príncipe'' estava seguindo o conselho do capital e, numa fúria louca, vinha privatizando tudo quanto era estatal.

Os bancos alegaram dificuldade financeira.

Ôpa! Para Jecerílio isso era mortal. Se o patrão estava em dificuldades, teria que ser auxiliado pois disso dependia seu emprego.

Jacecélio respirou aliviado e soltou até fogos para comemorar o socorro que FHC deu aos bancos com recursos do BNDES.

Veio a era Lula, o que Jucecélio mais temia.

O Brasil iria para o fundo do poço guiado por um analfabeto e, como ele, nordestino. Tudo o que conquistara seria perdido. Esse governo não podia dar certo.

E não deu. Pelo menos para ele.

Embora nesse período a vida de Jaricélio melhorasse bastante, afinal ele conseguira comprar sua casinha e o segundo carro financiado, nunca admitiu que seriam as políticas de governo acertadas que lhe propiciaram essas conquistas. Tudo fora fruto unicamente de seu esforço, enfim recompensado.

Dilma foi eleita e Jurecélio enfim foi promovido a gerente de agência.

Ficou surpreso ao passar a receber nos finais do ano visita de vários parentes que não via há anos, vindos do Nordeste, de avião. Veio até a vovozinha com quase 90 anos. Esse povo tá ficando abusado!

Jucerélio se aposentou como gerente.

Não conseguiu, apesar de seu esforço, nada além disso. Não conseguiu ser banqueiro.

Recebeu, à saída, um cartão de agradecimento impresso com assinatura também impressa de um diretor de RH do banco, que nunca vira. Mas tava bom. Fora reconhecido. Bastava.

Sentiu-se realizado.

Com muito esforço, segundo ele, acaba de formar um filho pelo PROUNI e tem a mais velha no Ciências sem Fronteiras. Muito orgulhoso.

Enfim, Jurecélio, agora sem ter muito o que fazer na vida, resolveu fazer política.

Passou a comparecer à todas as manifestações a favor do impeachment de Dilma e da volta da ditadura militar. Ele acha que o melhor período do Brasil foi sob a ditadura, embora ainda fosse uma criança quando se deu o golpe.

E em 13 de março estará na Paulista, vestindo uma camisa da seleção brasileira novinha em folha e exigindo a prisão do odiado sapo barbudo.

Boa sorte, Jurecélio.


2 comentários:

  1. Conheço uma multidão assim, que nem sequer chegaram a ser bancários, aposentaram-se pelo FUNRURAL, sem nunca terem pago um centavo ao INSS, nem chegaram a ter filhos na faculdade, pois esperam se aposentar, também, pelo FUNRURAL, recebem bolsa família e rangem os dentes contra o governo Dilma. Dizem que esse governo é comunista, coisa que o padre da cidade disse ser do demo (não o partido, mas o capeta mesmo). Esse povo conseguiu, no máximo, uma televisão de 32 polegadas e vê, claro, a rede globo.

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  2. Eu conheço exatamente o Jurucélio, é um profissional que me atendia há anos mas nunca havíamos falado de política e um dia ao saber que eu havia votado no Lula, ficou vermelho, soltou espuma pela boca e disse que a turma dele já tem o destino certo para o Lula: se não for preso, será assassinado. Disse ainda que com os ânimos do jeito que estão, eu corria o risco de apanhar na rua. Na semana anterior tinha comentado que estava vendo o Ciências sem Fronteira para a filha, "antes que a Dilma caia" e o programa acabe.

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