sábado, 26 de julho de 2014

A vergonha de ser de direita

Por Fernando Castilho


Julgamento de Jesus, condenado por fazer bem aos pobres
O grande escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, falecido no último 23 de julho, escreveu sobre esquerda e direita.

Diz que, pela sua visão religiosa, constata que Herodes e Pilatos eram de direita, e que Cristo e São João Batista eram de esquerda.

Herodes, o grande, foi um edomita judeu romano, rei de Israel entre 37 a.C. E 4 a.C. Assassinou sua própria família e inúmeros rabinos, sendo também conhecido por seus colossais projetos de construção em Jerusalém e outras partes do mundo antigo, em especial a reconstrução que patrocinou do Segundo Templo, naquela cidade, por vezes chamado de Templo de Herodes.


Pôncio Pilatos foi governador da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36 d.C.. Foi o juiz que, de acordo com a Bíblia, condenou Jesus à morte na cruz, apesar de não ter nele encontrado nenhuma culpa.

Tanto Herodes quanto Pilatos, se hoje vivessem, seriam considerados de direita. Autoritários, antidemocráticos e despóticos, jamais em seus governos preocuparam-se com o bem-estar dos pobres, com o combate à desigualdade, com saúde ou educação. Tudo o que faziam era sugar Jerusalém com altos impostos enviados rapidamente à Roma. Imperialistas.

Sobre Jesus, São João Batista e os demais apóstolos, Suassuna afirma: “Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade”.

Num mundo muito anterior à Revolução Industrial, que viria a definir com maior resolução o que é ser de esquerda e de direita, Jesus já dava a pista.

Quando um homem rico lhe perguntou o que era preciso fazer para entrar no céu, Jesus lhe respondeu que ele deveria se desfazer de toda a sua riqueza, pois seria mais fácil passar um camelo (aqui a palavra deve ser entendida pelo seu significado verdadeiro, e não pelo erro de tradução: camelo era uma corda bem grossa) por um buraco de agulha do que um rico ir para o céu.

Jesus também demonstrou seu lado revolucionário ativista quando expulsou os comerciantes do templo. Enfurecido pelo fato de que, durante os preparativos para a Páscoa judaica, comerciantes vendiam seus produtos com preços abusivos, dentro dos limites do templo, e ainda mais, pagando vultosas comissões ao Sinédrio (o poder político-religioso da época), Jesus agiu como o que hoje classificaríamos como um vândalo, derrubando as barracas e expulsando os comerciantes aos gritos.

Jesus cometendo vandalismo contra aqueles que ganahvam dinheiro com a religião 

Se hoje vivesse, Jesus certamente seria considerado de esquerda. E certamente execrado por muitos que lhe seguem.

Portanto, o mestre Ariano Suassuna, na sua visão simplista, porém genial, de um tema tão complexo tem razão. Esquerda e direita, de uma forma ou de outra, sempre existiram.

E ainda existem, apesar de muita gente dizer que isso não faz mais sentido nos dias de hoje, após a queda do muro de Berlim.

É comum que se responda à frase “nem esquerda, nem direita” com o adágio: “mostre-me alguém que não acredita em esquerda e direita, e eu lhe mostrarei alguém de direita”. Leia mais no pragmatismo político.

Apesar de haver nuances entre uma coisa e outra, sim, o sujeito de direita quase sempre dirá que não é de esquerda nem de direita.

É estranho.
Hoje em dia, quando alguém se assume como sendo de esquerda, como sendo socialista, é comum que se lhe taxe de comunista, de vermelho, comedor de criancinha, etc.. São resquícios que persistem tanto da guerra fria como da ditadura pela qual o Brasil passou.

Mas, e a vergonha de se assumir como sendo de direita?
Alguns o fazem, como Reinaldo Azevedo ou o menino maluquinho da Veja, Rodrigo Constantino. Recentemente o roqueiro Lobão também se assumiu como tal. Mas a classe média reluta.

E vemos que até certos partidos políticos não tem coragem de se dizer de direita.
Vejamos:
PSDB. A sigla significa Partido da Social Democracia Brasileira. Leiam o estatuto: ''O PSDB tem como base a democracia interna e a disciplina e, como objetivos programáticos, a consolidação dos direitos individuais e coletivos; o exercício democrático participativo e representativo; a soberania nacional; a construção de uma ordem social justa e garantida pela igualdade de oportunidades; o respeito ao pluralismo de ideias, culturas e etnias; e a realização do desenvolvimento de forma harmoniosa, com a prevalência do trabalho sobre o capital, buscando a distribuição equilibrada da riqueza nacional entre todas as regiões e classes sociais.''
Percebem? É quase a definição de um partido com viés socialista.
Mas o PSDB não pratica o que diz sua sigla e nem seu estatuto. Sempre foi de oposição a todo e qualquer programa social, chegando a chamar o Bolsa Família, de bolsa esmola. Somente agora, seu candidato a presidente, Aécio Neves fala em manter o programa, a contragosto, pois se continuar a se opor, daí é que não se elege mesmo.

PSB. Significa Partido Socialista Brasileiro. Em seu programa, o PSB defende a "transformação da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos meios de produção".
Mais claro ainda que o PSDB. Deveria agir como tal. Em Pernambuco, por exemplo, onde Eduardo Campos governou, deveria ter implementado programas de caráter social, segundo seu estatuto.

PRP. Partido Republicano Progressista. Em seu estatuto, capítulo 2, Artigo 5°, inciso I, está escrito: ''Construção de uma Ordem Social justa que busque a realização do desenvolvimento de forma harmônica, sempre a serviço do homem, conciliando os interesses do Estado, do Capital e do Trabalho, eliminando as desigualdades sociais.''
Se é progressista, teria que ser de esquerda, mas não é. É de direita.

PP. Partido progressista. Outro caso de partido que carrega uma característica forte de esquerda no nome. Mas é tudo menos isso. Aliás, uma de suas maiores expressões é o deputado federal Jair Bolsonaro, que defende abertamente a volta da ditadura. Uma grande piada.
Jair Hitler Bolsonaro

PPS. Partido Popular Socialista. Tem socialista no nome, mas se arrepia ao ouvir a palavra, embora tenha origem no antigo PCB, de Roberto Freire.

Além destes, embora não carregue o nome de socialista, há outra grande piada: o DEM, Democratas, que tem origem no PFL, e mais longinquamente ainda, na Arena, partido de sustentação da ditadura, portanto, anti-democrático. Se mudasse para DEMO, ornaria melhor.

Por tudo isso, o blogueiro é de opinião que as siglas passem a se assumir como tal.
Que o PSDB passe a ser PCDB, Partido de Centro Direita Brasileiro, ou PLDB, Partido Liberal de Direita Brasileiro.

Que o PSB passe a se chamar PB, Partido Brasileiro, ou ainda, POB, Partido Oportunista Brasileiro, haja visto o que seu presidente e candidato a presidente Eduardo Campos vem fazendo para vencer o pleito.

Que o PPS mude para PGCDB, Partido Genérico de Centro Direita Brasileiro, já que se porta como uma cópia mal feita do PSDB.

Que o PP feche sua sede, como fecharia o Congresso, se pudesse.

Que o DEM mude para ADEM, Partido da Antidemocracia Brasileira, ou siga o mesmo caminho do PP.

Que todos saiam o armário e se assumam como o que verdadeiramente são.

E que a obra de Ariano Suassuna nunca seja esquecida.

Ariano Suasssuna






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