Ao
assistir à Copa das copas, foi inevitável recordar-me de outras
copas, ainda do tempo em que a seleção brasileira jogava o chamado
futebol-arte. Um pouco de saudosismo é bom quando as recordações são boas.
Quem
nunca não viu Garrincha dando aquele famoso drible em que, depois
que deixa o adversário quase sentado, volta e aplica mais outro
desconcertante drible, talvez não saiba o que era o futebol arte. E não saiba o que perdeu.
Ou Pelé, Tostão, Paulo César Caju, da Copa de 70? Gérson com lançamentos precisos para Jairzinho?
Ou Pelé, Tostão, Paulo César Caju, da Copa de 70? Gérson com lançamentos precisos para Jairzinho?
Ou
ainda Zico com seus dribles curtos e rápidos, Rivelino com o
elástico?
Sócrates
jogando com o calcanhar?
Romário
no lugar exato que um dia seria de Fred? Com a diferença de que o
baixinho, se pegasse a bola já garantia meio gol.
Na
contra-partida, quem se lembra dos adversários duros de corpo, sem a
habilidade para os dribles individuais, usando somente a força
física e a capacidade de correr?
Pois
é. Os tempos mudaram, e os jogadores brasileiros, justamente pelo
diferencial da habilidade, foram sendo contratados por equipes da
Europa. Zico, Romário, Ronaldinho, Ronaldo, etc..
Os
europeus também passaram a treinar mais a habilidade com a bola,
talvez influenciados pelos brasileiros, que lhes mostravam como
fazer. Fizemos transferência de tecnologia sem nenhum retorno para o país.
Passadas
algumas gerações, o que observamos?
Os
brasileiros aprenderam com os europeus. Reparem, eles agora são mais
altos, mais encorpados, mais rápidos. Fazem faltas como se jogassem
rugby. Tem o corpo duro. Perderam o domínio de bola.
Se
alguém viu Pelé jogar, sabe que ele era capaz de matar um
lançamento no peito e baixar a bola para os pés, sem que ela lhe
escapasse nem meio palmo.
Quem
viu os jogos da seleção brasileira, agora em 2014, percebeu que,
embora Neymar seja reconhecidamente um craque, falta-lhe essa
capacidade de domínio pleno da bola. Quanto aos outros nem se fala.
Hulk e Fred e Jô que o digam. Tentam matar a bola, mas esta teima em
lhes fugir ao controle. Falta a intimidade com a gorduchinha.
E
quanto aos passes e lançamentos?
Gérson
olhava de relance a posição do companheiro, Jairzinho, e lhe
lançava a bola à frente, de grande distância. E a bola chegava
açucarada para o ponta direita.
Hoje
nenhum dos jogadores da seleção consegue repetir esse fundamento. E
o número de passes errados é um absurdo.
Quando
você vê um Robinho, que no Santos era jogador muito habilidoso
jogando a bolinha que joga hoje no Milan, e que sequer foi convocado
para a Copa do Mundo, percebe o mal que a Europa lhe fez em termos de
qualidade (não em termos financeiros).
Isso
para não falar dos que voltam ao Brasil, como Pato ou os que estão
em fim de carreira. Parece que desaprenderam? Desaprenderam mesmo.
Tostão
dentro da área fazia tanto salseiro, que ninguém lhe conseguia
tirar a bola. Se não conseguia chutar, passava prontinha,
arrumadinha para Pelé, que não perdia.
E
os europeus?
Deu
para perceber que os alemães, por exemplo, passaram a aliar a
estatura, o vigor físico, rapidez com a habilidade com a bola. Sim,
eles agora driblam, tem domínio de bola, e a passam de pé em pé
direitinho. O índice de erros é baixo. Aprenderam muito com os
brasileiros.
Terminada a Copa das copas, esfriados os ânimos, com este blogueiro quase recuperado da derrota de 7 a 1, (aliás mais uma das esquisitices desta Copa de que tratou este outro post Muito estranha esta Copa) já dá para analisar mais friamente os motivos pelos quais o Brasil perdeu o torneio.
Estamos
nos tornando os europeus de antigamente, enquanto os europeus aliam o
melhor de seu estilo com o que aprenderam conosco: a habilidade.
É
hora de uma reformulação completa no futebol brasileiro.
Isso
implica em que haja pressão popular para que a CBF seja reformulada,
que expurguem-se os corruptos que se apoderaram dela, que seja dada
voz ao Bom Senso F. C., que o poder da Rede Globo que hoje manda nos
campeonatos, seja limitado, etc..
Mas não vão adiantar todas essas mudanças se forem convocados em sua grande maioria os atletas que jogam no exterior. Há que se investir nos que jogam no Brasil e ainda não foram contaminados pelo estilo europeu. Há que se investir nos meninos que chegam todos os dias à peneiras dos clubes, vindos de comunidades pobres, com um sonho na cabeça, e um coração a sair-lhes pela boca, se lhes for dada uma oportunidade.
E
para com essa história de mandar meninos de 13, 14, 15 anos para a
Europa. Pra que? Pra se tornarem europeus?
Que
hoje em dia há a necessidade de se jogar com velocidade, ninguém
duvida. Alguns dirão que não dá mais.
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